top of page

Os Evangelistas - Parte 1/22

Foto do escritor: J. G. Bellett (1795-1864)J. G. Bellett (1795-1864)

Baixe esta parte do livro digital nos formatos:

 

ÍNDICE


 

Os Evangelistas - Meditações Sobre os Quatro Evangelhos

J. G. Bellett

Parte 1

 

Introdução 


Os quatro evangelhos são testemunhos coincidentes do Senhor Jesus Cristo, e valiosos como tais. Mas não devemos lê-los meramente como explicativos ou suplementares. Temos uma visão completa de nosso Senhor Jesus Cristo somente discernindo suas diferenças em caráter e propósito.

 

Mesmo nas histórias dos homens podemos perceber isso. Um biógrafo pode nos descrever um homem em sua vida doméstica, outro em sua vida política; mas para que o conheçamos plenamente, devemos vê-lo em ambas essas esferas e, talvez, em muitas outras conexões. E um desses biógrafos não apenas selecionará fatos específicos, mas notará circunstâncias distintas nos mesmos fatos. Vemos o mesmo nos quatro evangelhos. E se sabemos, se não a necessidade, pelo menos a desejabilidade disso, quando um mero homem é o tema, quanto mais podemos esperar encontrar isso quando tivermos detalhadamente relatados a nós os caminhos de Alguém que preenche uma variedade tão bendita de relacionamentos, tanto com Deus quanto com o homem, como o Senhor Jesus Cristo.

 

O Espírito Santo, que falou pelos profetas e outros antigos e santos escritores da Escritura, já tinha feito isso antes dos tempos dos evangelistas. No Primeiro Livro das Crônicas, por exemplo, vemos Davi sob uma luz diferente daquela em que o vemos nos Livros de Samuel. Nos Livros de Samuel, obtemos sua história em geral; mas no Primeiro Livro das Crônicas, o vemos não em todos os eventos de sua vida, como em Samuel, mas naquelas cenas e ações que o constituíram uma figura do Senhor que é o Filho de Davi. E assim acontece com Salomão no Segundo Livro das Crônicas. Não obtemos ali sua história completa, como no Primeiro Livro dos Reis. Todos os seus pecados são ignorados. Pois não era como historiador que o Espírito de Deus estava empregando a pena do escriba para traçar Salomão nas Crônicas. Porém, ele estava apresentando-o como a figura d’Aquele maior Filho de Davi e Rei de Israel, em Sua plena beleza, o orgulho de Seu próprio povo e o Objeto do desejo de toda a Terra.

 

Tudo isso é apenas plenitude e variedade, e não incongruência; e devemos ter graça para admirar a perfeição da sabedoria de Deus nisto, em Seus santos oráculos. E quanto aos caminhos do bendito Senhor que, nesta variedade, são dados a nós, não preciso dizer que tudo é perfeição. Seja este ou aquele caminho que Ele toma diante de nós – qualquer relacionamento que Ele mantenha – qualquer afeição que preencha Sua alma – embora diferente, tudo é perfeito. Ele pode passar diante de nós na grandeza consciente do Filho de Deus, ou nas compaixões do Filho do Homem; podemos vê-Lo na conexão Judaica, em Mateus; ou mais amplamente, como entre os homens, em Lucas; como o Servo da necessidade variada dos pecadores, em Marcos; ou como o solitário Estrangeiro vindo do céu, em João; ainda assim, tudo é perfeição. E discernir e traçar isso é ao mesmo tempo o proveito e o deleite do discípulo. “Maravilhosos são os Teus testemunhos; por isso, a minha alma os guarda”.

 

Introdução ao Evangelho de Mateus 


Neste Evangelho, nosso Senhor Jesus Cristo está eminentemente e caracteristicamente em conexão com o Judeu. É muito apropriado que isso seja assim; isto é, que o Novo Testamento comece com uma apresentação formal do Senhor a Israel. O caminho de Deus na Terra havia se restringido a essa nação; ou melhor, Ele havia separado essa nação para Si mesmo para ser Seu centro ao redor do qual reuniria todas as nações em luz, lealdade e adoração.

 

Pois este é o Seu caminho; brilhante e perfeito como tal deve ser. Há separação, e ainda assim largueza: separação porque Ele é santo; largueza porque Ele é gracioso.

 

O rio, na criação, tinha sua fonte no jardim do Éden; mas foi dividido dali, e se tornou quatro braços, para regar a face da Terra. Noé e seus filhos foram colocados no novo mundo, à eleição preservada de Deus; mas eles deveriam repovoar o mundo, e mantê-lo em governo e serviço sob Deus. Abraão, em um dia ainda mais distante, foi chamado sozinho das abominações que estavam se espalhando pela Terra; mas em sua semente todas as famílias dos homens seriam abençoadas. E assim Israel era o povo de Deus; Seu trono e Seu tabernáculo estavam entre eles; mas ainda assim eles deveriam ser o centro do governo divino e adoração para todas as nações.

 

Tais são o conselho e o caminho de Deus: separação para Si mesmo, mas largueza de propósito e graça em toda parte, por todo o mundo.

 

Sendo Israel esse povo separado, os conselhos divinos que tocavam a Terra ou as nações centralizavam-se nele. A luz que revelou Deus, os costumes e ordenanças que manifestavam Sua mente, e eram o testemunho que Ele dava de Si mesmo em um mundo sombrio e revoltado, estavam no meio deles. Eles eram o jardim do Éden em seus dias, onde o rio que deveria regar a face da Terra tinha sua nascente. O Salvador do mundo deveria ser o seu Messias. O Portador da vida para os homens mortos em pecados, deveria ser o Rei de Israel. De modo que, em Sua Aparição, Ele não poderia deixar de Se apresentar, com o fruto e a virtude de Sua presença, para a aceitação deste povo.

 

As Escrituras do Novo Testamento, portanto, abrem-se de uma forma muito apropriada com uma proposta completa e formal do Senhor Jesus aos Judeus. E, consequentemente, este é o assunto de Mateus; pois Mateus inicia este novo volume dos oráculos de Deus. Ele detalha sucintamente, e ainda assim solene e completamente, a apresentação das reivindicações de Jesus, Jeová-Messias, sobre Seu povo Israel.

 

É isso que este evangelho de Mateus nos dá. E, de acordo com isso, seus conteúdos são facilmente distinguidos e arranjados, como nas seguintes partes.

 

Primeira parte – Mateus 1-2. 

A primeira proposta do Senhor Jesus a Israel; isto é, como o Menino nascido em Belém, cidade de Davi; segundo o profeta Miqueias.

 

Segunda parte – Mateus 3-20. 

A segunda proposta de Si mesmo pelo Senhor Jesus ao Seu povo; isto é, como a Luz de Zebulom e Naftali; segundo o profeta Isaías.

 

Terceira parte – Mateus 21-25. 

A terceira proposta de Si mesmo pelo Senhor Jesus ao Seu povo; isto é, como Rei, justo e humilde, e trazendo salvação; segundo o profeta Zacarias.

 

Quarta parte – Mateus 26-28. 

O resultado da recusa de Israel ao Senhor; pois Israel O recusou – em cada uma dessas propostas de Si mesmo a eles.

 

Tal é o conteúdo deste evangelho, e tal é seu arranjo em sua forma mais simples. É o registro da prova da questão se Israel aceitaria ou não seu Messias. Outras coisas, como veremos ao longo dele, são consideradas de tempos em tempos; mas o Espírito no evangelista nunca perde de vista este grande assunto principal. E eu agora, com um cuidado adicional de coração e pensamento, considerarei este Evangelho em suas várias partes.

 

Mateus 1-2

 

Jesus nasce; mas Ele nasce para os Judeus, assim como nasce dos Judeus. Sua genealogia nos é dada a partir de Abraão e de Davi, cabeças e pais de Israel; e Seu nascimento é anunciado em caracteres que Israel poderia ler como sua própria língua. O Menino nascido é “Emanuel” e Jesus, Deus com Israel, e o Salvador de Israel. “A nós”, em um sentido em especial, Israel poderia agora dizer: “nos é nascido um Menino, e a nós nos é dado um Filho” (TB).

 

Jesus nasceu Rei dos Judeus, e na cidade de Davi. Filho e Herdeiro de Davi; como lemos, “da semente de Davi segundo a carne” embora, em toda a Sua Pessoa, Ele fosse o Senhor de Davi.

 

Os direitos da família de Davi eram Seus; e esses direitos estavam fundamentados em título divino e cheios de majestade e honra na Terra.

 

Em 1 Crônicas 17, o concerto feito com Davi, a promessa feita a ele a respeito de sua casa e trono, é anunciada por Natã. A misericórdia será de Davi para sempre, a honra de seu trono e a estabilidade de sua casa também para sempre.

 

No Salmo 89, este concerto é citado; mas é adicionado a condição concernente aos filhos de Davi, que, se eles não fossem fiéis, eles deveriam conhecer o julgamento do Senhor. E sabemos como isso aconteceu. A promessa tornada condicional à fidelidade dos filhos de Davi foi perdida por eles e para eles, como foi testemunhado, geração após geração, na história do reino de Judá,.

 

Mas disciplina não é esquecimento. A promessa é suspensa por causa de condições quebradas por um Salomão infiel, ou por um Zedequias rebelde; mas ela permanece firme na fidelidade de Deus, e na mão do Senhor Cristo. N’Ele todas as promessas são Sim e Amém.

 

Assim, quando Jesus nasceu, o Espírito, por anjos e profetas, relembra, depois de tantas eras, o concerto anunciado a princípio por Natã. Isso é feito, se não em termos, em espírito e realidade, pela palavra de Gabriel a Maria, e então pela palavra de Zacarias (Lucas 1). Jesus é apresentado como a Semente de Davi, de Quem os oráculos de Deus, em 1 Crônicas 17 e Salmo 89, falaram; Hebreus 1:5 identifica Jesus com a Semente de Davi de 1 Crônicas 17.

 

Isto é simples e seguro, embora seja outro testemunho maravilhoso das unidades divinas que são encontradas nas Escrituras. E abençoado é ver a luz assim brilhando após séculos de trevas, quando a mão dos gentios estava em primeiro plano, e a honra de Davi estava no pó. A Semente de Davi é apresentada em Lucas 2; e agora, em Mateus 2, esta Semente é apresentada em plena forma e caráter, o Belemita do profeta Miqueias. E sendo assim colocado em Seu lugar (o Belemita, a Semente de Davi e Rei dos Judeus), os gentios vêm a Ele. Isto era necessário para dar ao momento sua plena solenidade. Todos os profetas o haviam investido assim. Siló seria de Judá; mas para o Siló de Judá seria a reunião dos povos. O Rei de Israel seria o Deus de toda a Terra. Os Judeus eram o povo de Deus, mas os gentios se alegrariam com eles. A Raiz de Jessé representaria um estandarte de Israel, mas os gentios deveriam buscá-la. E nossa profecia de Miqueias fala a mesma linguagem; pois, depois de contar sobre o Governante de Israel que nasceria em Belém, continua dizendo sobre Ele: “Porque agora será Ele engrandecido até aos fins da Terra” (Mq 5:2-4). Portanto, recebemos a visita dos sábios do Oriente distante, quando este Menino nasce em Belém. Eles vêm, embora seja para Aquele que nasceu Rei dos Judeus, ainda assim para adorá-Lo eles mesmos.

 

Assim, os gentios aparecem como diante de Deus em Sião, e as coisas por um momento – um momento cheio de beleza típica ou misteriosa – são colocadas em ordem divina. Israel é a cabeça. O primeiro domínio veio para a filha de Sião. Os gentios dão lugar, e Jerusalém é procurada pelos confins da Terra.

 

Tudo, dessa maneira, é feito em plena solenidade. Nada falta para tornar completa esta apresentação do Menino de Belém, de acordo com a profecia de Miqueias. Se os homens de Judá e os habitantes de Jerusalém não O receberem, eles não terão desculpa.

 

A rejeição, no entanto, foi imediata e decisiva, selada por mãos homicidas que o espírito do mundo, no coração, havia movido, mas que buscava se encobrir com mentiras e hipocrisia. Nada pode exceder a iniquidade de Herodes. O trono em Jerusalém estava, naquela época, em sua posse, e ele não se separará dele, ainda que o título de Outro seja divino. Se ele puder mantê-lo, ele não o entregará nem mesmo ao próprio Deus. Esta é a linguagem de seus atos. E, assim como o homicida, assim é o povo. Jerusalém, tanto quanto Herodes, está perturbada com a palavra dos homens do Oriente, e prontos executores da obra da morte são encontrados a seu comando. Os sacerdotes do Senhor já tinham sido uma vez mortos, porque ajudaram Davi; os meninos de Belém perecerão agora, porque o Senhor de Davi pode estar entre eles. A voz de choro é ouvida em Ramá. O Messias, o Belemita, é recusado. Israel não será reunido, e Herodes ainda será rei, embora Jesus seja primeiro um Exilado no Egito e depois um Nazareno na Terra.

 

Assim é feita, e assim termina, a primeira apresentação de Cristo a Israel. Tudo isso é peculiar a Mateus; e não preciso acrescentar quão característico é daquilo que sugeri ser o propósito de seu evangelho.

 

Reflexões adicionais sobre Mateus 1-2

 

Ao revisitar esses capítulos, algumas coisas podem nos levar a uma reflexão mais aprofundada.

 

Que força e autoridade, eu posso dizer, há naquela única palavra “Emanuel”. Se a alma apenas a acolhesse devidamente, que poder para deslocar todas as outras coisas seria encontrado nela! Deus conosco é um pensamento, ou um fato, ou um mistério, que bem poderia reivindicar autoridade para abrir espaço para si mesmo, qualquer que fosse a outra coisa que tivesse de ceder. E isso pode testemunhar a cada um de nós quão pouco temos conhecido a força sublime e dominante daquela única frase: “E chamá-Lo-ão pelo nome de EMANUEL” (ACF).

 

O miserável homem que compartilha parte da principal ação do capítulo 2, e a quem já nos referimos, nada sabia desse nome. O desesperado e vitorioso amor pelo mundo estava assentado em seu coração. Coisas invisíveis tinham sido trazidas para perto dele. O mundo dos espíritos e das glórias, o mundo com o qual a fé trata, o mundo de Deus e Seus anjos, tinha sido apresentado a seus olhos e ouvidos. A estrela, pelo relato dos sábios, e o oráculo do profeta, pela interpretação dos escribas, estavam pressionando esse mundo contra ele; mas aquele mundo era um invasor. O coração de Herodes se recusou a entrar nele; pois não tinha aprendido nada sobre a autoridade suprema daquela única palavra “Emanuel” que deslocava tudo.

 

Os sábios, ao contrário, abençoadamente aprenderam isso. A estrela os comandou. A seu comando, eles se levantaram e fizeram uma longa e inesperada jornada, que não conheceu fim até que “Emanuel” foi alcançado. A alma deles encontrou autoridade na revelação de Deus. Ela havia operado efetivamente neles. A inteligência e a decisão, as vitórias e as consolações da fé são ilustradas nesta visão passageira que temos deles. É uma história que, em sua medida, pode reivindicar um lugar com a de Estêvão em Atos 7. Ambas são breves, mas brilhantes.

 

O José desses capítulos nos mostra a vida de fé também; não de fato no mesmo fervoroso caráter, mas naquele princípio dela que diz: "Apressei-me e não me detive a observar os Teus mandamentos". Pode haver medo e fraqueza em José; mas o Senhor enfrentará isso com Suas provisões, assim como Ele enfrentou a fé decisiva e vitoriosa dos homens do Oriente com Suas consolações. José, ouvindo que Arquelau reinava na Judeia, em lugar de seu pai Herodes, temeu ir para lá; e Deus, em consideração aos seus temores, o direciona, por um sonho, a se desviar para as regiões da Galileia. E, suponho, muitos de nós, em nossas pequenas histórias, temos experimentado a mesma ternura e consideração de nossa fraqueza; quando, por falta de fé ou coração por Jesus, não conseguimos alcançar Sua elevação, Ele, por Sua providência, nos encontra em nosso nível.

 

Os escribas de Mateus 2, da mesma forma, podem nos ensinar uma lição tão proveitosa quanto qualquer outra. A lição, no entanto, é dolorosa e humilhante. Eles manifestam a insensibilidade da mera informação bíblica. Com base na Bíblia, eles ensinam aos pobres viajantes seu caminho; mas eles não dão um passo sequer com eles, ainda que fosse para a Belém de seu Profeta. Aqueles homens viajantes de Deus podem ir sozinhos, pois não se importavam com isso. Oh, a visão terrível que isso proporciona, amados, e a solene advertência que tem para nós!

 

Mateus 3

 

Anos já se passaram desde o dia do Menino de Belém. O longo período de sujeição a Seus pais em Nazaré terminou, Seu tempo de obediência sob a lei, como Aquele que foi circuncidado; e agora, tendo trinta anos de idade, Ele está surgindo como a Luz da terra de Zebulom e da terra de Naftali, de acordo com o profeta Isaías.

 

Há, no entanto, uma introdução a esta segunda apresentação de Cristo a Israel, como houve à primeira. O Menino nascido teve Sua genealogia registrada a partir de Abraão e de Davi, Sua genealogia legal, Herdeiro e Representante, como Ele era, dos direitos assegurados àqueles cabeças da nação pelos concertos de Deus; e então Ele surgiu, em forma solene apresentado como o Belemita de Miqueias.

 

Da mesma forma, esta Luz do profeta Isaías é agora introduzida.

 

O ministério de João, o preparador do caminho do Senhor, como Isaías havia dito, vem antes disso.

 

O batismo do Senhor pela mão de João então acontece; pois Jesus cumpriria toda a justiça. Aquele que, como circuncidado, havia honrado completamente a Deus em Moisés, ou sob a lei, cumprindo a justiça naquele momento, agora (como Deus, em dispensação, estava passando de Moisés para João) seguiria obedientemente, e cumpriria toda a justiça, a justiça anunciada pelo Batista, assim como aquela exigida pelo Legislador.

 

Então temos Sua comissão ou ordenação, sob a voz do Pai e pela capacitação do Espírito.

 

Mateus 4

 

E então a tentação; uma parte necessária desta grande solenidade também, e necessária para a introdução do Senhor em Seu ministério.

 

Se a obra que agora estava diante d’Ele era a redenção; se Ele está prestes a reparar, sim, mais do que reparar, o mal que o primeiro homem havia causado, e que outros homens tinham apenas testemunhado e perpetuado até então, Ele precisava estar pessoalmente onde o primeiro homem, e todos os outros, falharam. Daí a tentação. Ele foi levado pelo Espírito ao deserto, para ser tentado pelo diabo. O Espírito, que havia descido e pousado sobre Ele em Seu batismo, em uma forma corpórea como uma pomba, agora O coloca para resistir à serpente, que também é o leão que ruge; pois o ministério da graça semelhante ao da pomba para os pecadores é um só com a derrota completa do destruidor do homem. Jesus veio para salvar pecadores e destruir as obras do diabo.

 

Assim, Jesus, logo no início, e ao Se introduzir em Sua obra, resiste a Satanás. Ele prova ser inabalável. Eva renunciou à Palavra de Deus diante da serpente; Jesus lhe resiste pela Palavra. Nenhuma tentativa do inimigo prevalece. O Santo que havia nascido ainda é tão santo em plena humanidade quanto Ele havia sido no ventre da virgem. Ele prova a Si mesmo não estar na derrota e cativeiro comuns.

 

Ele deixa Satanás sem qualquer título contra Ele; e assim Ele o amarra. E esta amarração de Satanás é a primeira grande ação do nosso Libertador contra o nosso destruidor. Ele então sai imediatamente para entrar em sua casa e saquear seus bens.

 

No devido momento, Ele será seu Esmagador, assim como seu Amarrador e Saqueador.

 

·     Ele ferirá a sua cabeça no Calvário;

·     Então, de longe, Ele o lançará do céu (Ap 12);

·     Depois Ele o lançará no abismo (Ap 20);

·     E finalmente, Ele o lançará no lago de fogo (Ap 20).

    

Estes são os caminhos do nosso grande Libertador com o nosso adversário; e estes caminhos Ele começa aqui no deserto da tentação. Quão simples, e ainda assim quão glorioso! Quão perfeito em ordem, assim como poderoso em ação, do começo ao fim! Ninguém amarra ou fere Satanás, a não ser Jesus, o Filho de Deus. Sansão É figura d’Ele como o Homem Mais Valente entrando na casa do homem valente, para roubar seus bens; e todos os santos terão Satanás ferido sob seus pés no devido momento; mas Jesus, o Filho de Deus, amarrou o valente, e esmagou a cabeça da serpente. Estas obras eram todas Suas, e somente Suas.

 

E tudo isso foi introdutório ao Seu ministério. Como tendo cumprido toda a justiça, seja sob a lei de Moisés, ou sob o batismo de João; como reconhecido e ordenado pelo Pai, a cujos olhos os pés deste Mensageiro seriam mais do que belos, como Dotado pelo Espírito Santo, e como o Amarrador do valente, o Filho sai para cumprir Seu curso. João agora havia sido lançado na prisão, e seu serviço estava assim encerrado. E, para que a Escritura pudesse obter, em tudo, sua resposta completa vinda d’Ele, o Senhor parte para a Galileia, e vem e habita em Cafarnaum, na costa do mar, nas fronteiras de Zebulom e Naftali; porque assim havia sido escrito pelo profeta: “a terra de Zebulom e a terra de Naftali... junto ao caminho do mar, além do Jordão, a Galileia dos gentios. O povo que andava em trevas viu uma grande luz, e sobre os que habitavam na região da sombra de morte resplandeceu a luz”. Essa grande luz irrompeu em regiões que faziam fronteira com o grande mundo gentio, destinada como estava, em seu poder total e final, a iluminar todas as terras.

 

Tudo isso é precioso, assim como perfeito. E essa grande luz era a Luz da vida. Ela se levantou como na sombra da morte; pois as trevas as quais ela veio dispersar eram as trevas da morte. Se a ignorância está no homem, é a ignorância que é a perda da vida de Deus. O homem está alienado da vida de Deus, em razão da ignorância que está nele, por causa da dureza de seu coração (Ef 4:18). A Luz que agora estava surgindo era, portanto, uma Luz vivificante. O Senhor cura. Ele andou fazendo o bem. Ele prega e ensina; mas Ele cura também. Alma e corpo, toda a necessidade e miséria do homem caído, eram Sua preocupação. Ele deixaria para trás de Si mesmo, por onde quer que fosse, pelas cidades e aldeias de Israel, a voz da saúde e da ação de graças.

 

Mateus 5-9

 

Ele começa Seu serviço, como João havia começado o seu, chamando ao arrependimento; e isso, também, na garantia da mesma grande verdade. “Arrependei-vos, porque está próximo o reino dos céus” (ARA), era a voz de cada um deles. E como João havia feito exigências morais ao povo, adequadas ao arrependimento que tal ministério como o dele demandaria, assim o Filho, o Amado, agora ensina de acordo com o arrependimento ou novidade de mente que Alguém tal como Ele deve buscar. O Filho, em Seu ensino, deve necessariamente ir além do Legislador, Moisés; nem Ele pode conformar-se a João, que tinha vindo “no caminho da justiça”. E isso encontramos no Sermão da Montanha, a primeira e grande amostra do ensino do Senhor Jesus. Ali temos moral além da medida de Moisés, e uma largueza de graça, uma luz de pureza, uma força de vitória sobre o mundo, uma humildade e um sacrifício próprio, uma bondade de todos os tipos, e detalhes de mente, caráter e conduta, nos quais o Batista nunca entrou.

 

Isto, no entanto, não é pregar o evangelho. É a moral que se adequava à escola onde o Filho ensinava. E com tal ensinamento o Senhor encontra Seus discípulos no monte, e então desce para encontrar todo tipo de tristeza, necessidade e sofrimento entre o povo, ao pé dele. O leproso, o servo do centurião, a sogra de Pedro, e toda a multidão de pessoas doentes que vêm a Ele, são levados a conhecer a virtude que estava n’Ele, e que era um Médico divino que havia assumido o caso deles. Nenhum remédio era necessário. Era o próprio Senhor da vida que os estava curando.

 

E ainda assim era o Médico compassivo assim como divino. Aquele que agora estava a caminho do altar como o Cordeiro de Deus, para tirar o pecado do mundo, pelo caminho, ou na estrada, estava tomando nossas enfermidades, e carregando nossas doenças. Este era Jesus em Israel (Mt 8:17). Ele não tinha remédios, nem prescreveu nenhum cuidado ou tratamento. Ele falou, e foi feito. Ele tocou na febre, e ela fugiu; na lepra, e ela foi purificada. Havia toda essa personalidade intensa, por assim dizer, essa compaixão plena e profunda, esse contato como de olho com olho, boca com boca, mão com mão; e ainda assim nenhuma contaminação. Era o conhecimento de Deus do bem e do mal, e o tratamento de Deus com tais coisas. Jesus carregou todos os nossos fardos e enfermidades, seja em empatia ou expiação; mas Ele era imaculado no meio de todos eles. Ele estava na santidade de Deus, à parte deles, e na graça e no poder de Deus ao dispor dessas coisas.

 

E ainda assim Ele não era nada, e não tinha nada, na Terra. Se Ele é chamado de Mestre, Seus seguidores devem esperar não terem covis como as raposas ou ninhos como os pássaros; pois Ele mesmo não tinha onde reclinar a cabeça. Ele, ao assumir nossa redenção, entrou na perda de tudo; aquela perda na qual o homem, pelo pecado, havia incorrido. Por direito pessoal, este Filho do Homem possuía tudo, Ele nunca havia perdido o Éden, nem o lugar do homem na criação de Deus, em sua plenitude, ordem e beleza.

 

Mas com todo esse título pessoal, tendo mantido Seu primeiro estado onde Adão o havia perdido; com tudo isso, eu digo, Ele não tomou nada. Ele não havia perdido nada, mas ainda assim Ele não teria nada. Judicialmente, Ele não foi exposto a nenhuma privação ou tristeza. A Terra na qual Ele tinha o direito de andar não era de espinhos e cardos; mas voluntariamente Ele tomou toda tristeza e privação, e andou como familiarizado com a tristeza todos os Seus dias. Em breve Ele Se deixará nas mãos de homens perversos que vêm para comer Sua carne, embora Ele possa ter o exército do céu, doze legiões de anjos, para resgatá-Lo; então agora, com título para todas as coisas, Ele não toma nada “As raposas têm covis, e as aves do céu têm ninhos, mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça”.

 

E ainda assim, com todo esse esvaziamento de Si mesmo, Ele estava acima daquilo que estava ao Seu redor. Ele Se posiciona sobre a doença e a repreende. Ele fala aos ventos e às ondas, e eles O obedecem. Ele comanda os demônios, e a Seu comando eles deixam um lugar e entram em outro, embora sem Sua palavra eles pudessem se gabar de sua liberdade de rodear a Terra e passear por ela (Jó 1-2; 1 Pe 5). Ele perdoa pecados também. A sogra de Pedro em sua febre; o mar da Galileia com seus ventos e ondas; o pobre gadareno em sua fúria; o paralítico em Cafarnaum em seus pecados e doenças; todos estes contarão desta autoridade suprema e universal que estava n’Ele.

 

Ele tem permissão para fazer Sua obra por um curto espaço de tempo (como no período de Mateus 8), sem desafio ou impedimento. Foi, no entanto, apenas um breve tempo de alívio que o Senhor da glória teve neste mundo. O Menino de Belém, por um momento, recebe a homenagem dos gentios; mas, depois disso, rapidamente Ele está na estrada para o Egito. Então a Luz da Galileia lança um raio ou dois através das trevas; mas então seria apagada na obscuridade, se o homem pudesse ter prevalecido. O mundo, no Judeu, prova que ama suas próprias trevas, e lutará por ela, ressentindo-se da Luz que agora estava brilhando. Os principais do povo se escandalizam n’Ele, porque Ele era o Filho de José, como eles disseram, o carpinteiro de Nazaré. Eles O acusam de blasfêmia, quando Ele estava perdoando pecados; de ser o Amigo de publicanos e pecadores, quando Ele estava fazendo as obras da graça; de ser Belzebu, porque Ele expulsou demônios; de quebrar o sábado, porque Ele aliviou os necessitados e os tristes um dia e outro; eles pedem a Ele sinais, embora Ele estivesse enchendo cada momento e cada lugar com sinais que eram claros como o céu sem nuvens da manhã ou da noite; eles O acusam de quebrar tradições, quando Ele estava insistindo nos mandamentos de Deus! Que concórdia, podemos certamente perguntar, tem a luz com as trevas? A inimizade pode se dirigir a Ele um tanto timidamente no início, mas ela se alimenta à medida que vive e cresce, e logo se enfurece ferozmente e destemidamente. E como tinha sido com Herodes e Jerusalém, assim é agora com os mestres e as cidades. Jerusalém foi abalada, com Herodes, pela palavra dos sábios do Oriente; as cidades são agora uma com seus mestres, na rejeição da Luz que estava brilhando na terra. Jesus tem que lamentar sobre eles porque eles não se arrependeram. Há de fato uma multidão que O segue, mas verdadeiramente era uma multidão volúvel. Os discípulos são atraídos da massa da nação, mas em vez de Jesus encontrar refrigério neles teve que suportá-los; e sabemos como isso terminou entre Ele e eles.

 

Cheio de significado solene é para nós neste dia, que o Senhor naquele dia olhou para Israel como um rebanho sem cuidado e sem alimentação. “E, vendo a multidão, teve grande compaixão deles, porque andavam desgarrados e errantes como ovelhas que não têm pastor”. E ainda assim (embora este fosse o julgamento do Grande Pastor) havia muita religião naquele tempo. As seitas eram numerosas; dias de festa eram guardados; e havia uma grande agitação em tudo o que poderia ter caracterizado um dia de decência religiosa pública e devoção. Aquela geração logo daria testemunho de si mesma de que não entraria no tribunal dos gentios, para que não fossem contaminados e, assim, impedidos de celebrar a Páscoa. O dinheiro que logo compraria o sangue de um Homem inocente eles não colocariam no tesouro. A expulsão da sinagoga era temida, e Moisés era motivo de glória; o gentio era desprezado da mesma forma, e o samaritano era evitado. A limpeza cerimonial seria preservada. Os mestres e o zelo abundavam. E ainda assim, sob o olhar d’Aquele que os via como Deus os via, Israel estava sem pastor, um rebanho sem cuidado e sem alimentação. A terra era como um campo que precisava da lavoura da primavera. Não era tempo de colheita então, como deveria ter sido, onde toda essa religiosidade estava, e quando o Herdeiro da vinha tinha chegado. Nos pensamentos do Senhor da seara, era antes um tempo para “as primeiras obras” serem feitas novamente, um tempo de semeadura; e os servos tinham que ser enviados ao campo com o arado e a semente, e não com a foice.

 

Mateus 10-12

 

Mas assim como aconteceu com o Mestre, assim também os servos devem esperar que isso aconteça com eles. Ao enviar os doze, em Mateus 10, o Senhor lhes dá, como a Si mesmo, um ministério de cura. Mas Ele os adverte sobre o que estava diante deles, que eles seriam como ovelhas no meio de lobos; que seriam chamados perante magistrados e governantes por Sua causa, encontrariam inimigos em seus próprios parentes, teriam que perseverar até o fim e seriam chamados de Belzebu, como Ele havia sido. Ele sabia das circunstâncias que deveriam acompanhar o testemunho que davam de Deus em um mundo como este. O Sol com cura em Suas asas havia nascido, e Israel deveria ter cantado: “Bendize, ó minha alma, ao SENHOR, e não te esqueças de nenhum de Seus benefícios. É Ele que perdoa todas as tuas iniquidades e sara todas as tuas enfermidades”. Mas Israel não pôde aprender esse cântico (o Israel daquele dia); pois eles se recusaram a ser curados. Israel “não quis”.

 

Isso é estranho; pois o homem sabe como valorizar suas próprias vantagens. Ele conhece o gozo da natureza restaurada e como acolher o retorno de dias de saúde e atividade. Mas tal é a inimizade da mente carnal que se as bênçãos vêm acompanhadas das reivindicações e da presença de Deus, elas não são bem-vindas aqui. Amamos as coisas boas que nos lisonjeiam ou nos satisfazem, mas não aquelas coisas que trazem Deus para perto de nós. E ainda assim de Cristo não podemos obter outra coisa. Ele traz Deus a nós com a bênção. Certamente Ele faz. Este é o Seu bom e perfeito dom (Tiago 1:17), este é o Seu caminho e Sua obra no mundo. Ele glorifica a Deus ao aliviar o pecador. Se o homem foi arruinado, Deus foi desonrado; e Jesus faz uma obra perfeita, vindicando o nome e a verdade de Deus tão seguramente e tão completamente quanto Ele traz libertação, vida e bênção ao homem.

 

Isso sempre foi assim, e necessariamente deve ser assim, nos caminhos de Deus neste mundo. Suas reivindicações em justiça sempre foram reconhecidas, assim como a necessidade do pecador sempre foi atendida. Deus não renunciará Sua honra em favor da nossa bênção. Ele garantirá ambos; sendo justo, enquanto Ele é um Justificador. Mera misericórdia não é conhecida em Seus caminhos. É misericórdia para com o pecador fundada na satisfação dada a Deus. É sangue sobre o propiciatório; o sangue testemunhando que o resgate foi pago, e dando à misericórdia plena autorização para abrir todos os seus tesouros. Justiça e paz se beijam.

 

Este é o poder e o caráter da cruz; mas este também é o princípio do ministério, o ponto agora diante de nós neste evangelho. Quando o próprio Senhor saiu, como em Mateus 4, Ele curou todos os que tinham doenças e tormentos, Ele expulsou demônios e purificou os leprosos. Mas em meio a tudo isso Ele pregou, dizendo: “Arrependei-vos, porque o reino dos céus está próximo”. Ele proclamava as reivindicações de Deus enquanto atendia às necessidades do homem. E assim também agora, em Mateus 10. Enviando os doze apóstolos às ovelhas perdidas da casa de Israel, Ele os comissiona e os capacita a curar os doentes, a purificar os leprosos, a ressuscitar os mortos e a expulsar demônios; mas Ele lhes ordena, ao mesmo tempo, a pregar, dizendo: “está próximo o reino dos céus”. Os direitos de Deus, novamente eu posso dizer, deveriam ser publicados, enquanto a aflição do homem deveria ser aliviada.

 

É, no entanto, exatamente isso, essa obra plena e perfeita do Senhor que o coração do homem não está preparado para acolher. E ainda assim está aí sua glória. O homem é abençoado, mas Deus é trazido para perto. Isso não serve para o homem. O maná, se vier direto do céu, e isso continuamente, em pouco tempo não será desejado; embora seja branco como semente de coentro e doce como mel. E assim Jesus e Seus servos serão rejeitados e terão que sofrer, embora distribuam saúde por todas as aldeias da terra. Parece estranho, repito; mas a inimizade da mente carnal pode ser responsável por isso.

 

Ao olhar para o ministério do Senhor agora, como fizemos em Seu nascimento na primeira parte do nosso evangelho, ainda encontramos coisas que são peculiares. Todas as circunstâncias que acompanharam Seu nascimento como o Belemita, como vimos em Mateus 1-2, eram exclusivamente características de Mateus; e assim, nesta segunda parte, ele é o único evangelista que introduz o ministério do Senhor como a Luz vinda da Galileia, de acordo com o profeta Judeu; e ele é igualmente o único que nos fala da limitação imposta à missão dos Doze, “Não ireis pelo caminho das gentes, nem entrareis em cidade de samaritanos; mas ide, antes, às ovelhas perdidas da casa de Israel” (tão estritamente Judaico é ele); o único, também, que fala do reino como o reino dos céus, um título que fala do caráter dispensacional ou nacional do reino, em vez de seu caráter moral e abstrato, que nos é transmitido por seu outro título, o reino de Deus.

 

A missão de João Batista, com a indagação sobre quem era o Senhor, nosso evangelista tem juntamente com Lucas; e, ao considerar o evangelho de Lucas. Eu notei isso. A tristeza do Senhor sobre a descrença das cidades de Israel, eu também notei nas mesmas meditações sobre Lucas. Em Mateus, isso ocorre no final de Mateus 11. O Pai, o Filho, a liderança de todas as coisas em Si mesmo e a família ensinada e atraída pelo Pai, em graça soberana, e pela luz e poder eficazes de Seu Espírito, são os objetos presentes na mente de nosso Senhor ali. Ele entra no território, por assim dizer, que Ele ocupa em João. A ocasião naturalmente O chamou assim. Ele tinha acabado de inspecionar os resíduos morais de Israel; e dali Ele olha para o propósito e energia do Pai, em graça vivificando almas para o descanso que, um Filho que dá vida, sob comissão do Pai, tem para elas. E isso é mais característico do evangelho de João do que qualquer outra coisa que temos em Mateus. Eu acredito que isso seja cheio de interesse.

 

As narrativas ou casos em João se distinguem daqueles que temos nos outros evangelhos. Em Mateus e Marcos, posso dizer, não há ilustrações de poder vivificador; nenhum caso em que essa operação divina seja feita o assunto ou atividade principal. O chamado do próprio Mateus, em Mateus 9, é o exemplo que mais se parece com esta. Os casos são, falando de modo geral, ilustrações de fé exercida.

 

Em Lucas, temos ilustrações de cada um deles; mas, geralmente, como em Mateus e Marcos, de fé exercida. Ainda, como em Pedro, no leproso samaritano, em Zaqueu e no ladrão que estava morrendo, temos casos do poder vivificador de Deus, ou de almas começando a viver.

 

Em João, no entanto, pelo contrário, temos, posso dizer, apenas uma instância de fé exercida, mas muitas do início da vida. O oficial do rei em Cafarnaum ilustra a fé; mas, em todos os outros casos, é a vivificação que contemplamos. Visão abençoada! Em André, Pedro, Filipe e Natanael; na mulher samaritana, e então nos samaritanos a quem sua palavra despertou; no pecador de Mateus 8, no mendigo cego de Mateus 9, e no Nicodemos de João 3, 7 e 19, vemos o início da vida, ou instâncias do poder vivificador de Deus.

 

Esta distinção é notável; ainda que totalmente característica de cada um dos evangelistas. Em Mateus, como temos visto, o Senhor está no meio de Seu próprio povo Israel, dando testemunho de Si mesmo em graça e poder, e testando a condição de Israel. Assim, com alguma beleza distintiva, eu poderia dizer, em Marcos. Portanto, não esperaríamos instâncias de vivificação ali, mas casos de fé (onde foi encontrada como em um remanescente), ou o triste testemunho de descrença geral. Em Lucas, o Senhor está mais além, mais livre para agir como Aquele que veio ao homem, bem como a Israel; e consequentemente temos ali uma exposição maior de Sua obra, uma expressão mais variada de instâncias, tanto de fé exercida, quanto de poder vivificador. Mas, em João, o Senhor é o Filho que dá vida, o Verbo feito carne, cheio de graça e verdade, dando poder aos pecadores para se tornarem filhos de Deus. E isso O coloca imediatamente e sozinho com as almas, para fazer Sua obra abençoada de vivificação. Esta variedade é impressionante e maravilhosamente significativa.

 

Em nosso evangelho, o Senhor estava testando Israel. Mas Ele os achou em falta. A Luz havia feito novamente sua obra na terra. Ela teria despertado voluntariamente do sono, e então teria animado e guiado, de acordo com sua virtude própria; mas as trevas “não quiseram”. A Luz, portanto, expôs. Ela julgou expondo; isto é, julgou moralmente tudo o que estava ao seu redor; outro julgamento que a mão do Senhor realizou. Ele não lutou nem clamou, nem deixou Sua voz ser ouvida na rua. Ele não esmagaria a cana quebrada, nem apagaria o pavio fumegante. Ele saqueia os bens do valente; mas, como Sansão, Ele não tocará em Israel. Ele não veio para julgar, mas para salvar.

 

A figura do espírito imundo saindo, e então retornando, e encontrando a casa varrida e adornada, habitando lá novamente com outros sete espíritos piores do que ele, é Sua imagem da geração Judaica em seu último e pior estado. Israel havia se tornado gentio. Sua circuncisão pode ser considerada como incircuncisão. Ele havia vindo para os Seus, mas os Seus não O receberam. De modo que a mente do Mestre divino toma uma nova direção, e a Luz que havia surgido na Galileia, e teria iluminado toda a terra, tem agora (em espírito ou em antecipação) que lançar seus raios em outras e distantes partes da Terra.

J. G. Bellett

 



229 visualizações

Posts recentes

Ver tudo

Σχόλια


bottom of page