Os Evangelistas - Parte 10/22 (Lucas 14-18:8)
- J. G. Bellett (1795-1864)
- 25 de mar.
- 25 min de leitura

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ÍNDICE
Os Evangelistas - Meditações Sobre os Quatro Evangelhos
J. G. Bellett
Parte 10
Lucas 14-16
Nestes capítulos temos o modo característico do Senhor neste Evangelho muito fortemente marcado. Ao longo deles, Ele é o Mestre, o social Filho do Homem Se dirigindo a todos ao Seu redor, seja no poder de Alguém que estava convencendo a consciência ou na graça de Alguém que poderia prender o coração.
De uma forma geral, o conteúdo desses capítulos é muito peculiar a este Evangelho. Várias parábolas são apresentadas que não encontramos em nenhum outro lugar. E posso observar aqui que há mais parábolas em Lucas do que em qualquer outro evangelista; e isso ainda mostra a mente e a ação especiais do Senhor neste Evangelho.
À medida que percorremos as páginas da narrativa evangélica, ou os caminhos do Senhor Jesus Cristo neste mundo, que caráter vemos gradualmente se revelando. E que simples relato da verdade estamos ouvindo! Em cada página (para usar a linguagem de outro) somos impressionados por uma franqueza, uma simplicidade e uma naturalidade que não podem ser encontradas no mesmo grau em nenhum outro livro; e quanto ao seu grande Tema, Jesus, quem, exceto admitindo a inspiração da Escritura, poderia explicar o fato de que alguns pescadores teriam concebido a ideia de um caráter de tal perfeição como nenhum autor jamais igualou, mesmo na época ou no país mais esclarecido? “O evangelho traz uma marca de verdade tão grande, tão marcante, tão inimitável, que seu inventor teria sido mais maravilhoso do que o seu Herói é.” E, como tem sido dito frequentemente, não há descanso para a razão senão na fé; pois a existência da Bíblia não pode ser explicada sem trazer Deus à questão.
Não há momento ou passagem em Sua história em que não pudéssemos ter parado para ouvir tudo isso. Mas eu o observo aqui, ao entrarmos em uma parte do nosso Evangelho, em que o bendito Jesus trata com homens em grande variedade de caráter; e enquanto o evangelista O conduz ao longo da cena multiforme, a naturalidade da narrativa, e a perfeição d’Aquele que é o grande Assunto dela, podem ser facilmente notadas por todos nós.
A primeira cena se passa na casa de um fariseu, onde, como era Seu costume, Ele tinha vindo, a convite, para jantar. Os príncipes do grupo, como podemos julgá-los, observam-No para enredá-Lo assim que Ele entra na casa. Ele responde rapidamente aos pensamentos deles, tornando-os seus próprios juízes e testemunhas.
Estando Ele livre, se assim posso dizer, para olhar ao redor, depois de entrar, o primeiro objeto para o qual Ele olha são os convidados tomando seus lugares à mesa.
Ele está ofendido. A velha mente de Adão, e não a mente segundo Deus, formou essa circunstância, por mais simples que fosse. Eles escolheram os primeiros lugares. Isso era Adão. Isso estava de acordo com aquele desejo de ser algo, que, antigamente, se enxertou no coração do homem. Jesus não podia deixar de Se ofender. Nele, desde o começo até agora, e até a morte na cruz, havia, e haveria, a plena contradição disso. Adão não era nada – uma criatura do pó – e ele buscava ser tudo. Jesus era tudo, mas esvaziou-Se de tudo. Ele Se tornou um Homem e, nessa forma, humilhou-Se de todas as maneiras. Na Pessoa que Ele assumiu, ou na posição que Ele ocupou na vida – no testemunho que Ele deu de Si mesmo, ou na nuvem com a qual Ele velou Sua glória – em tudo isso Ele sempre ocupou o lugar mais baixo. Mas aqui, na casa do fariseu, Ele Se encontra no meio daqueles que estavam escolhendo os lugares mais elevados. Como Ele poderia deixar de Se ofender? Tais convidados não eram segundo a Sua mente.
Então o anfitrião que os convida se torna Seu objeto. Mas não havia alívio para Ele ali. O egoísmo, sob outra forma, se mostra a Ele. A mesa do anfitrião não era como a que Ele vinha preparando neste mundo, desde que entrou nele. Pois Ele estava alimentando multidões que não tinham nada para Lhe recompensar. O egoísmo do “velho homem” O entristecia agora, como seu orgulho o fizera pouco antes. O anfitrião não é segundo a mente desta Testemunha perfeita da mente de Deus, assim como não eram os convidados.
Então, depois que os convidados estão assentados e o banquete prossegue, a conversa à mesa leva Jesus a outras tristezas.
Acredito que foi um movimento gracioso que veio ao coração de um dos presentes, quando ele disse: “Bem-aventurado o que comer pão no reino de Deus”. Ele foi, não duvido, atraído pelo Senhor. Mas isso não importa. Isso direcionou a mente do Senhor a pensamentos tristes sobre toda a cena que estava sob Seus olhos naquele momento. Ele viu uma mesa bem farta. Convidados em grande número estavam lá – tantos quantos tinham sido convidados. Mas o pensamento parece surgir em Sua mente – Se Deus houvesse preparado essa mesa, Ele não teria reunido Seus convidados tão facilmente. E esta reflexão dá ocasião à parábola da Ceia das Bodas.
Foi um pensamento doloroso para Jesus – e assim será para aqueles que têm a mente d’Ele. Há alívio para isso certamente no conhecimento disto, que “o fundamento de Deus fica firme” – e que a incredulidade do homem nunca tocará os propósitos de Deus. Mas pensar que, quando o homem põe uma mesa, convidados serão encontrados ali, tantos quantos forem convidados; mas que quando o Deus vivo faz um banquete, nenhum dos que são meramente convidados come de Sua ceia! Uma porção de seu próprio caldo lhes é preferível. Um pedaço de terra, uma junta de bois ou uma esposa afastarão as afeições do melhor de nós – e o Senhor da vida e da glória não encontraria nenhum convidado em Sua custosa mesa, se Ele mesmo não os constrangesse e os trouxesse para dentro. Um simples convite nunca resolveria. Foi tentado, mas falhou – e Aquele que arcou com os custos de preparar a mesa teve de ter o trabalho de reunir os convidados. Seus bois e seus animais cevados encherão a mesa, e seus servos percorrerão as ruas e bairros, caminhos e atalhos, para conseguir alguns que deles comessem.
Alguma vez um banquete foi tratado assim? A cena presente responde a isso, enquanto o coração triste de Jesus refletia sobre isso.
Certamente Ele veio ao mundo para estar completamente fatigado, como alguém disse. Como que Ele poderia deixar de ser um Homem de dores em um lugar moldado e preenchido, em toda a sua ordem, pela soberba da vida e pela concupiscência dos olhos? Ele não esperou por Suas horas mais sombrias para que pudesse estar “experimentado nos sofrimentos”. Os momentos mais promissores, as horas sociais de amizade humana, trouxeram sua tristeza com eles para o coração deste bendito Estrangeiro. E esta parábola nos diz isso. (Em Mateus, esta parábola está em outra conexão, tendo referência mais direta ao que era Judaico - veja Mateus 22).
Não seguimos, no entanto, nosso Senhor por toda a jornada ainda. Nós O vimos aflito e ofendido ao entrar na casa, e enquanto estava na casa; mas agora temos que observá-Lo ao sair dela.
A multidão O segue. Mas isso não é suficiente. Isso era feito todos os dias. Milhares O seguiam continuamente, aglomerando-se e pressionando-O ao longo das ruas ou caminhos. Mas isso não alcançará o coração de Cristo (Lucas 8:45). Nem essa ação da multidão; pois não fala de sua necessidade consciente d’Ele como um Salvador. É antes sua adoção d’Ele como um Mestre ou um Exemplo. E isso, como a primeira coisa, não é suficiente. Ele Se volta para Se dirigir a essa multidão com palavras de solene advertência. Sua alma, no meio deles, não está com a tranquilidade que expressa uma total recepção d’Ele; pois eles não tinham vindo a Ele com o devido caráter. Nicodemos O teria honrado como um Rabino, ou um Erudito – o povo no lago da Galileia como um Rei – a multidão aqui como um Exemplo ou Precursor; mas Ele não está à vontade em tal companhia – não totalmente à vontade. Ele não está tão entristecido como talvez estivesse na casa que acabara de deixar, mas não havia descanso nem gozo para Seu espírito aqui. Ele deve seguir adiante antes de alcançar Seu descanso, como nos dizem Suas palavras à multidão.
Quando refletimos sobre isso por um momento, podemos muito bem dizer, não sabemos como bendizer suficientemente a Deus por isso. Dar a Ele da forma ou maneira que quisermos, não vai dar certo; precisamos receber d’Ele. O fariseu Lhe dá um banquete dentro da casa, e a multidão Lhe dá seu respeito e admiração do lado de fora; mas Ele está triste, ou, no mínimo, insatisfeito. Ele passa por tudo isso até que “publicanos e pecadores” se aproximam para ouvi-Lo. Eles não vêm para Lhe dar algo, mas para obter algo d’Ele (Lucas 15:1). Então Ele Se alegrou em espírito; Seu coração provou o fruto desejado da jornada deles, e ficou satisfeito.
O que pode superar isso em consolação para nós? Esses pobres publicanos, esses contaminados da cidade, não teriam lugar na casa do fariseu; nem fingiram seguir o Senhor com a multidão, pois são indignos e sabem que o são. Mas eles podem ir e tocar a orla de Sua vestimenta, ou levar seus cântaros à Fonte, e ali “em vergonha e pobreza se assentarem”. E assim o fazem; e assim são bem-vindos a fazer. Ele fica mais feliz em dar a eles do que eles em receber. Jesus agora havia viajado para longe – para longe no espírito, quero dizer. Ele tinha ido, permanecido e saído da casa do fariseu, e ao longo da estrada com multidões de admiradores; mas era cansativo para Ele. Ele não encontrava descanso, até que o pecador veio para obter d’Ele. Pois o gozo que preenche este capítulo nos diz que Seu cansaço agora havia acabado. O rebanho que acolheu a ovelha perdida, a casa que testemunhou a recuperação da moeda e o lar do pai que acolheu o filho pródigo que retornou, desencadearam, como em figuras, o gozo do Salvador agora no meio de publicanos e pecadores.
Isto está além de qualquer expressão – é maravilhoso dizer isto; mas para Jesus esta era a casa de Deus – para Ele esta era a porta do céu.
Ele havia sido acusado pelo fariseu de receber pecadores, como se Seu ministério não garantisse a justiça, mas desse liberdade ao mal. Claro que Ele poderia ter alegado várias respostas a isso. Ele poderia ter defendido Sua graça aos pecadores, com base na necessidade do caso, ou com base na glória de Deus. Mas neste capítulo, do começo ao fim, em cada uma das belas parábolas, Ele defende a graça simplesmente com base no gozo que Ele, que o Pai e que todo o próprio céu estavam encontrando nela.
Pense nisso, amado! Se o Senhor Deus for questionado sobre a razão de Seus caminhos de salvação para com você e para comigo, Ele diz que tem prazer neles – eles fazem com que Ele e Sua gloriosa habitação se regozijem. Que garantia, que consolo brotam disso! Você acha que Seus vizinhos murmurariam pelo gozo do pastor por ter ele agora encontrado sua ovelha perdida; ou os amigos da mulher ressentiriam da alegria dela, enquanto ela colocava sua moeda no colo? E assim é com Deus. É Seu próprio gozo na salvação dos pecadores que Jesus propõe como Sua garantia ou defesa. E por que o homem deveria murmurar ou desacreditar? Será que o Senhor não pode preparar gozo para Si mesmo, assim como para o pastor? Quem ousa negar ao nosso coração a garantia e o consolo disto! Vamos acalentar o pensamento profundamente em nossa alma de que o evangelho da nossa paz seja uma fonte de gozo para Aquele que o planejou e realizou; que nosso Deus não fez nada menos do que isso, preparou o cenário de Sua própria felicidade em nossa salvação, como essas parábolas nos testificam.
Este capítulo é, dessa forma, a porta dos céus para nós, assim como foi para os pés cansados de Jesus. Ele havia viajado, como vimos, passando por fariseus, convidados, anfitriões e multidões de ouvintes; e agora estava assentado com pecadores que sabiam que precisavam d’Ele e vinham para obter o que queriam. O céu, em certo sentido, é apenas este lugar estendido – a habitação de pecadores salvos e de um Salvador cheio de gozo.
O Senhor, como descobriremos agora enquanto ainda prosseguimos com Ele, tem, no entanto, outros com quem conversar ainda. Ele tem que encontrar discípulos, depois de toda essa variedade que temos observado. E, consequentemente, na abertura de Lucas 16, Ele os encontra. Ele lhes dá uma palavra para despertar sua diligência e encorajar suas esperanças. Ele lhes diz para almejarem alto em suas expectativas e para direcionarem suas energias no proveito certo e eterno. Sendo discípulos, eles devem ser considerados como tendo já retornado como pródigos, e o que cabe agora é valorizar as esperanças que a graça havia colocado diante deles e lhes diz: “granjeai amigos” de todo talento e oportunidade, sabendo que seu trabalho não seria em vão no Senhor.
Essa foi uma palavra oportuna aos discípulos, imposta a eles na parábola do mordomo infiel. Pois nosso grande Mestre havia escolhido palavras – palavras refinadas em fornalha de barro, purificadas sete vezes; e Ele as “maneja bem” entre todos. E isso podemos agora ver ainda mais; pois os fariseus devem fechar essas cenas, como as abriram.
Os princípios celestiais com os quais o Senhor acabara de exortar Seus discípulos, esses homens ridicularizam, pois eram cobiçosos. Eles eram tudo o que o mundo podia estimar – e essa estimativa eles buscavam e serviam; e, é claro, eles não podiam deixar de ridicularizar os princípios celestiais do Filho de Deus. Mas Ele expõe o estado moral deles; e então, em uma parábola, manifesta a condenação desse estado. Ele os convence de terem sido falsos àquela mesma lei na qual se gabavam; e também de terem recusado aquela palavra do reino que o Deus da lei havia enviado para sucedê-la. Toda a condição moral deles poderia, assim, em uma ou duas frases, ser exposta e repreendida. Mas isso não era nada para eles; eles eram servidos no mundo; seus princípios os alimentavam suntuosamente e os vestiam de linho fino e púrpura; e nisso eles estavam satisfeitos, embora sobre isso repousasse o julgamento de Deus.
Esta foi a palavra solene de encerramento, dirigida aos “religiosos perfeitos” (como os fariseus foram chamados) daquele dia. A mente do Senhor faz esta sua última revelação nesta grande ocasião moral. Ela havia lidado com convidados, e anfitrião, e multidões, e discípulos, e fariseus. Ela havia dividido a palavra da verdade entre eles. E se prezamos os pensamentos de Deus em tudo o que vemos ao nosso redor, estudaremos tais exercícios da mente de Cristo como esses. Sua lâmpada, desta forma, deveria brilhar em nossa cabeça, e por Sua luz deveríamos caminhar por todas as trevas que tão densa e variadamente nos cercam.
Não conheço nada como uma grande exibição de moral divina além disto. A alma, ao passar por estes capítulos, deve se perder em admiração. O estilo do Senhor aqui ilustra o que outro disse sobre Ele – “Ele observou Sua oportunidade de instruir; isso foi trazido à tona na ocasião adequada. Daí o perigo de sistematizar o Cristianismo; pois não foi assim introduzido. A lei era um sistema ordenado, mas a graça e a verdade eram incapazes de serem exibidas de uma só vez (exceto em Sua Pessoa), mas exigiam ser reveladas gradualmente, a medida que as necessidades do homem se revelavam.” Isto é muito justo. E disso se deduz, muito justamente também, “que não é de pouca importância notar atentamente, não apenas o assunto, mas a maneira, dos discursos do Senhor; aquilo que os levou a isso, bem como o ponto para o qual eles tendem.”
Mas há outra coisa a ser observada aqui, e ela se volta para nós para investigação e advertência. Jesus julgou com julgamento justo. Ele não deveria ser bajulado. Ele não julgava pessoas ou circunstâncias em relação a Si mesmo. É aí que falhamos tão comumente em todos os nossos julgamentos. Vemos objetos, sejam pessoas ou coisas, muito sob nossa própria luz. Como essas circunstâncias nos afetaram? Como essas pessoas nos trataram? Essas são as perguntas do coração; e, pela resposta que recebem, o julgamento é muito comumente formado. Somos bajulados em bons pensamentos sobre as pessoas e desprezados em pensamentos duros. Jesus não era assim. O elogio e a boa comida do fariseu não afetaram Seu julgamento sobre toda a cena em sua casa. A simpatia de uma hora social não poderia relaxar a retidão de Seu senso das coisas; como a recente confissão de Pedro, em outra ocasião, não impediu a repreensão que a mundanismo de Pedro merecia. Jesus não deveria ser bajulado. Como o Deus de Israel nos tempos antigos, Sua arca pode ser vangloriada e trazida para a batalha com um clamor; mas Ele não deve ser lisonjeado por isso. Israel cairá por sua injustiça (1 Sm 4).
Que lição para nós! Que razão temos para nos guardar contra os julgamentos do amor-próprio! Contra provar e comparar coisas ou pessoas em relação a nós mesmos! Esta mente firme e inabalável de Jesus pode ser nosso encorajamento, bem como nosso padrão, nisto; e podemos orar, para que nem “a bajulação nem o rancor deste mundo” nos movam de ter nossos pensamentos como diante do Senhor o dia todo!
No entanto, não podemos permitir que a percepção do caminho de Deus, como sendo tão acima do nosso, e das perfeições de Jesus como servindo apenas para expor nossos muitos erros, nos devorem de demasiada tristeza (2 Co 2:7). Estamos dispostos frequentemente a considerar e lamentar sobre experiências, a ponto de ficar abaixo do lugar onde a fé nos colocaria. Isso, no entanto, não deve ser permitido acontecer. A fé deve prevalecer. E a fé, assim como a convicção, tem um poder de separação. A convicção do pecado separa para o lugar da tristeza, como fez com Natanael para a sombra da figueira, e como fará com o arrependido Israel, aos poucos, “cada linhagem, à parte, e suas mulheres, à parte” (Zc 12:14). Mas assim é a fé. Ela concentra o poder de ver e ouvir em seu objeto, abrindo o ouvido de um filho pródigo para a música que o Pai havia ordenado, mas fechando-o até mesmo para a lembrança de loucuras passadas e para os murmúrios da presente e consciente frieza.
Fé preciosa! Ela tem a ver com Deus. O filho pródigo ficou em silêncio. Ele não deteve a mão do pai, como se estivesse fazendo muito por ele. Isso pode ter parecido modesto e humilde, mas não teria sido assim – pois a verdadeira humildade esquece a nós mesmos. Seu silêncio à mesa era fé. E tinha um rico banquete diante dele. Entre outras coisas, poderia ter se alimentado da verdade bem conhecida, de que as afeições ascendentes nunca são iguais às descendentes. Um filho nunca ama um pai com a intensidade com que um pai ama seu filho. Sim, e mais do que isso – o pai fica satisfeito em tê-lo assim. Um pai fica satisfeito em saber que seu amor nunca obterá sua “recompensa disso” vinda do seio do filho.
Esses pensamentos podem ter alimentado o coração do filho pródigo, enquanto ele comia em silêncio do bezerro cevado. E eles devem ser nossos pensamentos para com nosso Pai celestial. Não que Ele seja indiferente ao estado de nosso coração para com Ele. Isso não seria nem Sua glória nem nosso gozo. Mas Ele sabe que Seu amor será sempre o maior. Ele sempre será Aquele a sentir “muito mais” como Davi com Jônatas. Pois Ele está no lugar mais elevado; e esse lugar manterá Seus direitos e atributos. E está entre os atributos da afeição descendente (que sai do lugar mais elevado), como eu disse, fluir com a corrente mais rica e generosa; e tudo o que a fé tem a fazer é permitir isso e se regozijar que seja assim. A fé ascende a Deus e faz essa jornada em silêncio. Nem mesmo as queixas e confissões de um espírito justo e julgando a si mesmo devem ser ouvidas. Mas nada, exceto aquela “luz inacessível”, pode transcender a elevação daquele descanso e morada até a qual ela carrega o coração em triunfo. “Senhor: Aumenta-nos a fé”! (ARA)
Lucas 17:1-10
A reflexão com a qual o Senhor abre esses versículos parece ter sido sugerida à Sua mente por essas cenas de Lucas 14-16. Tudo o que estava passando sob Seus olhos e ouvidos O levou a pensamentos de ofensas; e tais pensamentos encontram suas declarações aqui, em segredo com Seus eleitos. Ele encontrou obstáculos para a manifestação e estabelecimento de Seu reino no lugar onde tudo deveria ter sido preparado para isso; e Ele é levado a pronunciar “ai” sobre o ofensor.
Ofensas são aqueles princípios que são inconsistentes com a natureza de Seu reino, e impedem sua exibição – “impedimentos e oposições feitas à fé e à santidade”. E para, talvez, proteger mais cuidadosamente Seus discípulos contra ofensas, o Senhor lhes dá duas admoestações, de acordo com as quais duas virtudes essenciais de Seu reino deveriam ser preservadas – sua pureza e sua graciosidade. Se houvesse transgressão, Ele requer repreensão; pois isso manteria Sua casa em ordem pura ou santa; se houvesse arrependimento, Ele ordena perdão; pois isso manteria Sua casa em ordem amorosa e graciosa.
Mas essas demandas que Ele faz ao coração de Seus discípulos eles descobrem estarem bem além deles, e os levam a saber que eles precisam obter força de Outro para eles. Sob essa consciência eles dizem, “Aumenta-nos a fé” – fé sendo aquilo que nos leva aos recursos de Um que é maior do que nós, e extrai virtude daquilo que foi divinamente ordenado para atender à nossa necessidade.
Pois, além de nossas meditações anteriores sobre fé, eu poderia dizer que, considerada como aquilo pelo qual um pecador é justificado, fé é simplesmente a crença em um testemunho, sendo esse testemunho o evangelho; nossa justificação sendo “pela fé, para que seja segundo a graça”. Isso sugere que a obra deve ser excluída. E isso o quarto capítulo de Romanos discute e ensina. Mas a Escritura também fala de fé como o princípio que anima a vida de um santo. Isso o décimo primeiro capítulo de Hebreus nos apresenta. E, nesse caráter, é uma virtude ou princípio crescente na alma. Pode ser fraco ou forte, grande ou pequeno. Como lemos aqui, “Senhor, aumenta-nos a fé”; e como lemos em outro lugar, “homens de pequena fé”; e novamente, “Se tivésseis fé como um grão de mostarda”; e novamente, “a vossa fé cresce muitíssimo”.
Neste sentido, a Escritura considera isso, como eu disse antes, um princípio crescente na alma. É nossa entrada no poder do testemunho que é crido; “o firme fundamento [confiança] das coisas que se esperam e a prova [convicção] das coisas que se não vêem”. É, podemos dizer, o poder da vida divina na alma, e pode estar ali saudável e com vigor, ou o contrário. Representa a energia do reino de Deus dentro de nós. A Escritura a menciona como aquilo que apreende Deus, espera por Ele, anda com Ele. De modo que se a fé é forte, essas e outras graças e ações semelhantes são novas e vivas. E sendo assim, deve ser com humilhação real e não fingida que falamos, quando confessamos que nossa fé é fraca; pois isso, se feito em inteligência espiritual, é uma confissão de quão pouco nossa alma está viva para Deus.
As Escrituras, não preciso dizer, abundam em avisos deste grande princípio. Elas o consideram em sua fonte, suas atuações, suas qualidades e seu valor com Deus, e coisas semelhantes. E o Senhor aqui, em resposta ao desejo de Seus apóstolos por um aumento dela, descreve-a a eles em seus dois principais atributos – sua soberania, por assim dizer, e sua renúncia do “eu” – sendo aquilo que pode comandar que a árvore se lance no mar, mas então voltará para Deus e dirá que tudo é nada. Estas são suas excelências necessárias. Ela toma toda a bênção de Deus, mas deixa toda a glória com Deus (Rm 4).
Lucas 17:11-19
Esses poucos versículos formam outra porção distinta do nosso Evangelho. O Senhor é novamente visto em Seu caminho para Jerusalém, passando por Samaria e Galileia; e nessa cena – simples em seus materiais como é – Ele toma um lugar diante de nós que pode muito bem encher nossa alma de regozijo e louvor – o lugar do altar, o lugar ordenado por Deus para sacrifício e adoração. Isso sugere um assunto de profundo interesse para nossa alma, que eu seguiria um pouco.
Todo conhecimento de Deus deve fluir da revelação, pois o homem pela sabedoria não conhece a Deus (1 Co 1:21). A verdadeira adoração tem a mesma fonte. Cada um destes – conhecimento de Deus e adoração – deve sempre estar de acordo com tal revelação que Ele tem no tempo, ou na dispensação, dado de Si mesmo.
Entendendo isso, eu poderia citar brevemente uma linha de verdadeiros adoradores desde o início.
Abel era um verdadeiro adorador; pois ele adorava em fé, ou de acordo com a revelação (Hb 11). O primogênito do rebanho era de acordo com a promessa da Semente ferida da mulher, e de acordo com as túnicas de pele, com as quais o Senhor Deus havia coberto seus pais.
Noé seguiu Abel e adorou na fé da Semente ferida da mulher. Ele tomou a nova herança somente em virtude do sangue (Gn 8:20). Ele era, portanto, um verdadeiro adorador também.
Abraão era um verdadeiro adorador, adorando a Deus como Ele Se revelou a ele (Gênesis 7:7).
Isaque, precisamente no caminho de Abraão, adorou o Deus que lhe havia aparecido; não fingindo ser sábio, mas, como Abraão, elevando seu altar ao Deus revelado (Gn 26:24-25).
Jacó era um verdadeiro adorador. O Senhor lhe aparece em sua tristeza e degradação, na miséria à qual seu próprio pecado o havia reduzido, revelando-Se como Aquele em Quem “a misericórdia triunfa sobre o juízo”; e ele imediatamente reconhece Deus como assim revelado a ele; e este Deus revelado de Betel foi seu Deus até o fim (Gn 28, 35). Aqui estava a revelação aumentada de Deus, e a adoração seguindo tal revelação; e esta é a verdadeira adoração.
A nação de Israel era uma verdadeira adoradora; pois Deus havia Se revelado àquela nação e estabelecido Seu memorial no meio deles. Eles sabiam o que adoravam – João 4:22. Mas no meio dessa nação adoradora ainda poderia haver verdadeiros adoradores que não se conformavam com a ordem divinamente estabelecida, desde que seu afastamento dela também fosse de acordo com a nova revelação de Deus. Como, por exemplo, Gideão, Manoá, Davi, que eram todos verdadeiros adoradores, embora oferecessem sacrifícios em pedras ou em eiras, e não no lugar nacional designado; apenas porque, por uma nova e especial revelação, o Senhor havia consagrado aqueles novos altares (veja Juízes 6, 13; 1 Crônicas 22). O leproso curado, nesta passagem do nosso Evangelho, exatamente neste princípio, era um verdadeiro adorador, embora, como Gideão, Manoá e Davi, ele se afastasse da ordem usual; apenas porque ele apreendeu Deus em uma nova revelação de Si mesmo. A cura que ele sentiu em seu corpo tinha uma voz no ouvido da fé, sendo somente Deus que poderia curar um leproso (2 Reis 5:7).
A Igreja de Deus é agora, nesta dispensação, uma verdadeira adoradora exatamente da mesma forma; adorando de acordo com a revelação ampliada, tendo comunhão com o Pai e com Seu Filho Jesus Cristo. E isso ainda é, como os outros casos, adoração “em verdade”, porque está de acordo com a revelação. Mas é “em espírito” também; porque o Espírito Santo agora foi dado como o poder de adorar, capacitando os santos a chamar Deus de “Pai” e Jesus Cristo de “Senhor” (1 Co 8:6). Agora há poder comunicado, bem como revelação, para o propósito de adoração.
Este assunto de adoração é de fato um assunto abençoado para meditação posterior para todos nós. A fé do leproso samaritano, que se afastou do sacerdote em Jerusalém para depositar sua oferta aos pés de Jesus, usando-O assim como altar ungido de Deus, sugeriu isso. Ele ouviu a voz da cura – ele reconheceu o Deus de Israel na misericórdia que o havia encontrado. Isso foi revelação para ele, e ele creu, e foi levado por isso ao santuário. E isso que aconteceu com ele é o único fundamento de adoração de criaturas como nós temos sido, independentemente da época ou da dispensação em que vivamos. Ele havia sido curado, e ele sabia que havia sido curado. Em que fundamento podemos ficar para adorar senão neste? Podemos clamar na amargura de uma consciência surpresa; mas isso não é adoração. Pode ser o caminho do atraído do Pai, e terminar no santuário; mas não é adoração. Apenas o sangue de Cristo, purificando a consciência de obras mortas, leva ao serviço ou adoração do Deus vivo (Hb 9:14). Como nos próprios céus, e assim para sempre, os santos, em suas glórias, adoram enquanto estão de pé neste chão, como o piso de seu templo (Ap 5:9). “Nosso chamado”, como alguém disse de forma tão bela, “é consagrar nossa vida como um sacrifício de ação de graças pela misericórdia da redenção de Deus – toda a nossa vida é para ser um sacerdócio contínuo, um serviço espiritual a Deus, procedendo das afeições de uma fé operando pelo amor, e um testemunho contínuo de nosso Redentor.” É a misericórdia, como o próprio Espírito ensina, que abre as portas do templo, e nos leva a exercer nosso sacerdócio diante de Deus (Rm 12:1). E essa misericórdia é nossa, sabemos, somente pelas mãos de nosso Redentor ferido e atingido. Como aquele hino fervoroso diz:
“Ouve como a hoste acima comprada pelo sangue
Converge para entoar o amor de Emanuel,
Em doces e harmoniosos acordes!
E ao dedilharem suas harpas douradas,
Este tema somente inflama seus peitos,
Que a graça triunfante reina!”
“Une-te, ó minha alma; pois tu podes contar
Como a graça soberana rompeu tua cadeia,
E quebrou teus grilhões nativos!
E desde aquele dia querido e abençoado,
Quantas vezes és constrangida a dizer,
Que a graça triunfante reina!”
Devemos, dessa maneira, tomar nossa própria parte na adoração. Como o salmista, depois de chamar toda a criação para louvar, diz: “Ó minha alma, louva ao SENHOR!
Lucas 17:20 – 18:8
Nesta porção, novamente obtemos outro assunto para nossos pensamentos, como discípulos do Grande Mestre, que estava ordenando tudo para nossa edificação. “O reino de Deus” é tratado aqui pelo Senhor, em resposta a uma pergunta dos fariseus. Não aprendemos as circunstâncias desta cena onde ela estava, ou quando ela estava; tais avisos estão além do propósito do Espírito em nosso evangelista, como eu disse; mas temos em grande parte o ensinamento de nosso Senhor sobre o assunto em si. (Lucas 18:1 deveria ser, “sobre o dever de eles orarem sempre”; e assim por diante; ligando assim esta parábola com o discurso anterior).
Sua maneira aqui ilustra o que eu já disse sobre Suas respostas a perguntas. Ele Se dirige à consciência, dando uma palavra adequada ao estado moral do inquiridor, em vez de à sua pergunta.
Com essa visão, Ele aqui maneja bem a palavra entre diferentes ouvintes; pois, no versículo 22, Ele Se volta dos fariseus para os discípulos, dando diferentes visões do reino de Deus a cada um: aquela dada ao fariseu era fiel à sua condição de alma; e aquela dada aos discípulos era alimento oportuno para a mente renovada, conforme sua crescente capacidade. Como Ele diz em outro lugar, “Ainda tenho muito que vos dizer, mas vós não o podeis suportar agora”. E assim, na sabedoria do Espírito de Cristo, quando Paulo foi recebido pelos curiosos atenienses, ele não lhes respondeu de acordo com sua curiosidade, mas declarou-lhes as solenes coisas de Deus, do julgamento e do arrependimento.
O assunto deste breve discurso é “o reino de Deus”. Essa expressão indica uma dispensação na qual o poder divino é introduzido. Como diz o apóstolo: “o reino de Deus consiste não em palavra, mas em poder” (ARA). É, julgo eu, como alguém disse, “o exercício ou manifestação do poder governante de Deus sob quaisquer circunstâncias”.
Ele tem manifestações diferentes; e é essa verdade que nosso Senhor nos revela neste lugar. Ele nos ensina que este reino de Deus não é “comida nem bebida, mas justiça, e paz, e alegria no Espírito Santo” – mas, em breve, será “os dias do Filho do Homem”, ou poder manifesto e glorioso. Em João também o Senhor fala dessas duas formas do reino, apenas sob expressões diferentes daquelas que temos aqui. Quero dizer em Sua confissão a Pilatos, onde Ele Se reconhece como “Rei dos Judeus”, mas deixa o romano saber também, que esse caráter de Seu poder não poderia então ser manifestado; mas que, no presente, deveria tomar outra forma sob Ele como a “testemunha da verdade” (João 18). Então aqui; agora é o reino “entre vós”; e, em breve, será o reino dos “dias do Filho do Homem”. As glórias pertencem ao mesmo Jesus, mas são diversas. É glória oculta agora – glória interior, no Espírito Santo, a glória de um santuário conhecido somente por Deus e pelos adoradores. Será glória manifestada em breve, ou glória no mundo, conhecida de uma extremidade do céu à outra.
Tendo assim testificado essas duas formas do reino, o Senhor continua ensinando o que aconteceria antes que ele pudesse passar para sua segunda forma. Ele diz aos discípulos que convém que Ele próprio “padeça muito”; que eles deveriam estar “desejosos”; orar sempre e não desfalecer; e habitar nos lugares separados, o telhado e o campo, os lugares de oração e desejo, como Isaque e Pedro testemunham (Gênesis 24, Atos 10). E então, quanto a tudo mais, Ele ainda lhes diz que, exatamente na véspera do reino tomar sua forma manifesta, ou quando “os dias do Filho do Homem” começassem, o mundo seria encontrado em todo o excesso e intoxicação dos tempos de Noé ou Ló; e que, consequentemente, aqueles “dias do Filho do Homem” irromperiam sobre eles com a surpresa de um relâmpago, mas também com um justo discernimento entre homem e homem – entre aqueles que estão no desejo e na oração designados, e aqueles que encontraram no plantio e na construção, na compra e na venda, o despojo de suas mãos, e estão satisfeitos.
Isaías parece ver aqueles dois na cama, no moinho e no campo, neste dia do Senhor (Is 3:10-11; 33:14-16). Malaquias também olha para eles no dia do discernimento, quando o mesmo Sol, que nasce com cura em Suas asas sobre um, abrasará como um forno o outro (Ml 3-4). Pois este dia do Senhor agirá com discernimento, ou em julgamento. Um será tomado, e o outro deixado.
Havia, no entanto, um terceiro objeto. Na história dos tempos de Ló, não havia apenas o próprio Ló e o povo de Sodoma, mas também a esposa de Ló. Ela não pereceu em Sodoma, mas entre Sodoma e Zoar. Para ela, a saída de Sodoma era exílio, não libertação. Muitos do arraial no deserto trataram a separação do Egito com o mesmo sentimento. E isso produz uma questão solene e prática para nós. Como nossa alma considera o pensamento da separação do mundo? Na estima de nosso coração, isso é exílio ou redenção? Estamos cantando sobre esse pensamento como Israel no Mar Vermelho ou, como Israel depois, estamos nos lembrando dos peixes do Egito, suas cebolas, seus alhos e seus pepinos? A esposa de Ló olhou para trás e se tornou uma estátua de sal. Ela suspirou como uma exilada de Sodoma. Cantamos, como os resgatados do Senhor, ao sairmos dela?
“Lembrai-vos da mulher de Ló”, foi a solene palavra do Salvador no meio deste discurso sobre o reino de Deus. E é uma palavra pesada e séria para entrar fundo em nosso coração.
E o Senhor nos ensina ainda que, em nenhuma das formas, este reino de Deus está sujeito ao “ei-lo aqui” ou ao “ei-lo ali” do homem. Ele se faz conhecido. É característica do poder fazer isso. Quer o reino esteja “entre vós” ou em “todo o mundo”, ele se fará conhecido. Como o Senhor diz do Consolador interior: “mas vós O conheceis, porque habita convosco e estará em vós”. E posso citar Paulo como estando assim consciente da presença do reino. Assim que isso encheu sua alma, assim que teve o Filho revelado nele (e esse era o reino interior), teve poder imediatamente para separá-lo para Deus. Com essa nova e maravilhosa alegria nele, ele pôde sair, como Abraão, de casa e parentes. Ele não queria que o selo do homem fosse colocado em seu título, nem que os suprimentos do homem fossem abertos para sua felicidade. Ele não consultou a carne nem o sangue, nem subiu a Jerusalém, para aqueles que eram apóstolos antes dele, como se precisasse de sua aprovação. Ele desceu para a Arábia, onde areias e solitude o aguardavam, em vez de ir para os pilares da Igreja e para a cidade das solenidades. Pois o Filho foi revelado dentro – seu título foi selado, e seus recursos foram abertos lá, pela mão do próprio Deus – e ele era independente da sanção do homem e dos suprimentos do homem. Deus era tanto sua Testemunha quanto sua Porção (Gálatas 1).
Mas isso pode muito bem nos humilhar, amados. Pois quão pouco aprendemos sobre essa divina independência da criatura! Será que até mesmo olhar para a Arábia com as costas dadas à Jerusalém, não seria algo demais para nós? Temos tal reino interior, tal luz, força e alegria em Deus, que “carne e sangue” não são mais nossos recursos? O que nosso coração sentiria se apenas areias e desertos estivessem diante de nós? Mas a primeira alegria da adoção em Paulo deu a cada lugar na Terra o mesmo caráter para ele, e essa primeira alegria deveria ser nossa até o fim.
A parábola da Viúva Insistente encerra este discurso. Isso pode nos levantar a questão: De onde vem este clamor, este clamor dia e noite, dos eleitos? Os santos que estão sendo agora reunidos devem se alegrar na demora do Senhor como sendo salvação para os outros (2 Pedro 3). Mas a eleição Judaica dos últimos dias é frequentemente apresentada como clamando ao Senhor, o justo Juiz, para que Se manifeste. E parece que o Senhor os tinha mais precisamente em Sua visão, ao usar esta parábola. Não obstante, há um clamor dos santos, em certo sentido, incessantemente ouvido de Deus. Houve um clamor do sangue de Abel (Gênesis 4). Também aprendemos que houve um clamor de Sodoma (Gênesis 18). Há um clamor dos salários não pagos dos mercenários (Tiago 5). Até as pedras podem ter uma voz no ouvido do Senhor (Habacuque 2:11; Lucas 19:40).
Mas depois que o Senhor deu a Seus eleitos este lugar elevado com Deus, este lugar de interesse e prevalência, Ele encerra com palavras adequadas para colocar uma reserva santa no coração deles, e fazê-los olhar para si mesmos em vez de seus privilégios e poderes. “Quando, porém, vier o Filho do Homem, porventura, achará fé na Terra?” Certamente este era o caminho de um Mestre perfeito, misturando as luzes castigadas e brilhantes, dando um caráter de santidade às nossas dignidades, e, em relação ao exercício de nossas mais altas funções e poderes, transmitindo uma modesta estimativa de nós mesmos.
J. G. Bellett
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