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Os Evangelistas - Parte 21/23 (João 20-21)

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ÍNDICE


João 20

João 21

Os Evangelistas - Meditações Sobre os Quatro Evangelhos

J. G. Bellett

Parte 21

João 20


E assim, no início deste capítulo, é exatamente isso que encontramos. Jesus ressuscitou; o Esmagador da serpente; tornando-se, por meio da morte, o Destruidor daquele que tinha o poder da morte.

 

Aqui posso me desviar por um momento para observar com que força o Espírito de Deus, por toda a Escritura, desvenda os mistérios da vida e da morte. Ele quer impressionar nossa alma com um senso muito profundo disto, que perdemos a vida, e, até onde podemos agir, a perdemos irrecuperavelmente, mas que a recuperamos em Cristo, e a recuperamos n’Ele infalivelmente e para sempre.

 

Deus é “o Deus vivo”. Como tal, Ele está agindo nesta cena de morte. Ele veio para o meio dela como o Deus vivo. Como Ele poderia ter vindo de outra forma? Certamente podemos dizer, para a glória de Seu nome, que Ele não esteve aqui, se não naquele caráter. E Sua vitória como o Deus vivo, nesta cena de morte, é ressurreição. Se a ressurreição é negada, Deus não é conhecido, e é negado que o Deus vivo esteve aqui, e interferiu nas condições deste mundo arruinado e atingido pela morte.

 

É abençoado ver isso; e ainda assim é uma verdade muito segura e simples. Em Si mesmo como o Deus vivo, em Si mesmo, ou nos recursos que Sua própria glória ou natureza forneceu, Ele Se retirou, e ali agiu à parte do mundo, e acima da cena que se envolveu na morte. Se Sua criatura foi infiel, Sua criatura da mais alta dignidade, colocada por Ele sobre as obras de Suas mãos; se Adão O decepcionou, por assim dizer, se revoltou contra Ele, e trouxe a morte, Deus (bendito é dizer isso!) olhou para Si mesmo, e extraiu de Si mesmo; e ali, em Seus próprios recursos, nas provisões que Ele mesmo fornece, Ele encontra o remédio. E isto é, em Sua vitória como o Deus vivo, cuja vitória é ressurreição, Seu próprio recurso de vida, apesar das conquistas do pecado e da morte, que essas conquistas tomem qualquer forma que possam tomar. Isto é o que Ele tem feito neste mundo. Que a morte apareça, que o julgamento do pecado esteja pronto para ser executado, Ele é visto provendo expiação pelos pecados, e trazendo à tona uma coisa viva de debaixo da justa condenação e juízo de morte. O Jesus ressuscitado agora sela tudo isso para nós.

 

Este foi o terceiro dia, o dia designado – o dia em que Abraão, antigamente, havia recebido seu filho como se tivesse sido ressuscitado dos mortos – o dia do reavivamento prometido a Israel (Oseias 6:2) – o dia também em que Jonas estava novamente em terra firme.

 

Mas os discípulos ainda não conhecem seu Senhor em ressurreição. Eles O conhecem apenas “segundo a carne”; e, portanto, Maria Madalena é vista cedo no sepulcro, procurando por Seu corpo; e, com o mesmo pensamento, Pedro e seu companheiro correm para o sepulcro logo depois dela, e sua força meramente corporal, e não a inteligência da fé, carrega-os até ali. E ali eles contemplam, não seu Objeto, mas os troféus de Sua vitória sobre o poder da morte. Lá eles veem os portões de bronze e as trancas de ferro despedaçados. Os lençóis de linho e o lenço que havia estado sobre a cabeça do Senhor, como se Ele fosse um prisioneiro da morte, foram vistos ali como os despojos dos vencidos, sob a mão do Conquistador da morte. A própria armadura do valente foi exposta em sua própria casa; tudo isso proclamando em voz alta que Aquele que é o flagelo da morte e a destruição do inferno, esteve recentemente naquele lugar, fazendo Sua obra gloriosa. Mas, apesar de tudo isso, os discípulos não entendem; eles ainda não conheciam a Escritura, que dizia que era necessário que Ele ressuscitasse dentre os mortos; e eles voltaram para suas casas.

 

Maria, no entanto, permanece no local sagrado, recusando ser consolada, porque seu Senhor não estava lá. Ela teria de bom grado tomado um pano de cilício e, como outra, estendido para ela sobre uma pedra, se ela pudesse encontrar Seu corpo para vigiá-lo e guardá-lo. Ela chorando, abaixou-se, olhou para o sepulcro e viu os anjos. Mas o que eram os anjos para ela? A visão deles não a atemorizou, como aconteceu com as outras mulheres (Marcos 16); ela estava muito ocupada com outros pensamentos para ser movida por eles. Eles eram, é verdade, muito ilustres, assentados ali de branco e em estado celestial também; um na cabeceira e o outro aos pés, onde o corpo de Jesus havia sido colocado. Mas o que era todo o esplendor para ela? O corpo morto de seu Senhor era unicamente o que ela buscava e desejava; e ela somente se afasta dessas glórias celestiais, para continuar a procurá-Lo; e então vendo, como ela julgou, o jardineiro, ela lhe diz: “Senhor, se tu O levaste, dize-me onde O puseste, e eu O levarei”. Ela simplesmente diz: “Se tu O levaste”, sem nomear Jesus; pois como ela era uma mulher afetuosa, ela supõe que todos devem estar tão cheios de seu Senhor quanto ela estava.

 

Bem, amados, isso pode ter sido apenas paixão humana e afeição sem conhecimento; ainda assim, foi usada em Jesus. E quem dera que algo mais dessa disposição fosse derramado em nosso coração. A afeição dela buscava um objeto certo, embora não o buscasse com sabedoria; e na bondade e graça habituais d’Aquele com Quem ela tratava, Ele lhe dá o fruto disso. Para ela que tinha, mais foi lhe dado. Ela havia aprendido completamente a lição de conhecer Cristo “segundo a carne”. Ela era a mais verdadeira de todas nisso; e seu Senhor agora a levará a um conhecimento mais rico de Si mesmo. Ele a levará a regiões mais elevadas do que ela até então havia considerado, “ao monte da mirra, e ao outeiro do incenso” (Cantares 4:6).

 

Para fazer isso com toda a gentileza, Ele primeiro responde à afeição humana dela, permitindo que ela ouça mais uma vez seu próprio nome em Sua voz bem conhecida. Essa era exatamente a nota que estava em plena harmonia com tudo o que estava então em seu coração. Era a única nota à qual sua alma poderia ter respondido. Se Ele tivesse aparecido a ela em glória celestial, Ele ainda teria sido um Estranho para ela. Mas esta deve ser a última vez que ela O apreenderia “segundo a carne”. Pois Ele agora ressuscitou dos mortos e está a caminho do Pai no céu, e a Terra não deve mais ser o cenário de sua comunhão. “Não Me toques” (TB), diz Ele a ela, “porque ainda não subi para Meu Pai”.

 

Talvez eu não precise observar quão completamente característico do nosso Evangelho é tudo isso. Em Mateus, ao contrário, vemos as mulheres, em seu retorno do sepulcro, encontrando o Senhor, e o Senhor permitindo que elas abraçassem Seus pés e O adorassem; mas aqui, para Maria, é “Não Me toques”, pois este Evangelho nos fala do Filho no meio da família celestial, e não em Sua realeza em Israel e em Sua glória terrenal. A ressurreição, é bem verdade, garante toda aquela glória e reino terrenal a Ele (Atos 13:34); mas também foi um estágio para os lugares celestiais; e essa é a característica dela que nosso Evangelho nos dá.

 

Maria, como vimos, tem o direito de ser a primeira a aprender esses caminhos maiores de Sua graça e amor, e também de ser a feliz portadora das mesmas boas novas deste país distante e desconhecido para os irmãos. Jesus diz a ela: “vai para Meus irmãos, e dize-lhes que Eu subo para Meu Pai e vosso Pai, Meu Deus e vosso Deus” (E aqui, novamente, eu notaria outra diferença característica nos Evangelhos. Em Mateus, a mensagem era para encontrá-Lo na Galileia; e, consequentemente, os discípulos o fazem – mas aqui Ele não nomeia nenhum lugar na Terra; Ele simplesmente lhes diz que estava indo para o céu, lá em espírito para encontrá-los, diante de Seu Pai e do Pai deles, Seu Deus e do Deus deles.)

 

Assim ela é honrada, e ela vai preparar os irmãos para seu Senhor, enquanto Ele Se prepara para encontrá-los com uma bênção além de tudo o que eles já haviam alcançado. E suas notícias parecem tê-los deixado todos prontos para Ele; pois ao vê-los, na noite do mesmo dia, eles não estão surpresos e incrédulos, como estão no Evangelho de Lucas, mas parecem estar todos esperando e em expectativa. Eles não estão mais dispersados como antes (v. 10), mas reunidos como a família de Deus, e Ele, como o Irmão mais velho, entra, carregado com o fruto de Seu santo trabalho por eles.

 

Este foi um encontro de fato. Foi uma visita à família do Pai celestial pelo Primogênito. Foi em um lugar que estava além da morte, e fora do mundo. E tal é o lugar designado para o encontro com nosso Senhor. Aqueles que em espírito permanecem no mundo nunca O encontram. Pois Ele é o Deus de Abraão, de Isaque e de Jacó, o Deus dos estrangeiros e peregrinos. O mundo é um lugar contaminado, e devemos encontrá-Lo em ressurreição, no reino que não é do mundo.

 

Assim foi aqui com o Senhor e Seus irmãos. Ele agora, pela primeira vez, realmente os encontra, os encontra no lugar designado fora do mundo, e os encontra em caráter não menor do que o de Seus próprios irmãos. Agora foi que Ele começou a pagar Seus votos. Ele os havia feito na cruz (Sl 22). Primeiro, que Ele declararia o nome do Pai aos irmãos; segundo, que no meio da Igreja Ele cantaria Seu louvor. O primeiro deles Ele estava agora começando a pagar, e tem pago durante toda a presente dispensação, tornando conhecido à nossa alma o nome do Pai por meio do Espírito Santo. E o segundo Ele certamente pagará quando a congregação de todos os irmãos estiver reunida, e quando Ele liderar seus cânticos na alegria da ressurreição para sempre.

 

Agora também a vida prometida é realmente transmitida. “Ainda um pouco, e o mundo não Me verá mais, mas vós Me vereis; porque Eu vivo, e vós vivereis”. O Filho de Deus, tendo vida em Si mesmo, agora vem com ela para Seus santos. Ele sopra sobre eles agora, como antigamente Ele soprou nas narinas do homem (Gn 2). Somente este era o sopro do último Adão, o Espírito vivificador, que tinha uma vida a comunicar que foi conquistada do poder da morte, e que estava, portanto, além de seu mais extremo alcance. Aos irmãos agora é dado a conhecer a paz da cruz. Ele lhes mostra Suas mãos e Seu lado. A tristeza deles se transforma em alegria, pois eles “se alegraram, vendo o Senhor”. Ele estava Se revelando a eles como não Se revela ao mundo. O mundo, nesse breve encontro, estava completamente fechado fora; e os discípulos, como odiados pelo mundo, estão fechados dentro de seu próprio recinto, exatamente no lugar para receber uma manifestação especial d’Ele mesmo a eles, como Ele lhes havia dito (João 14:22-24). No mundo eles estavam conhecendo tribulação, mas n’Ele conheciam paz.

 

Tudo isso era deles nesta breve, mas abençoada visita do “Primogênito dentre os mortos” aos Seus irmãos, comunicando-lhes a bênção que lhes pertencia como filhos. E assim este pequeno relacionamento foi uma amostra da comunhão que desfrutamos nesta dispensação. Nossa comunhão com Cristo não muda nossa condição no mundo, ou nos faz felizes em meras circunstâncias. Ela nos deixa em um lugar de provação; mas somos felizes n’Ele mesmo, na plena percepção de Sua presença e favor. Somos ensinados a conhecer nossa unidade com Cristo; e, por meio de nossa adoção e comunhão com o Pai, desfrutamos de paz estabelecida; estamos felizes por causa d’Ele, ressuscitado dos mortos, e temos a vida no Senhor ressuscitado comunicada a nós. Assim como vimos recentemente a armadura do inimigo conquistado no distante campo de batalha, aqui vemos o fruto da vitória trazido para casa para alegrar e assegurar os parentes do Conquistador. Quão pouco, de fato, alguns de nós conhecemos sobre tudo isso.

 

E esses frutos da vitória do Filho de Deus foram agora ordenados a serem levados em santo triunfo por todo o mundo em redor. “Assim como o Pai Me enviou, também Eu vos envio a vós”, diz o Senhor a Seus irmãos. Ele próprio veio do Pai com uma mensagem, não de juízo, mas de graça. E com uma comissão da mesma graça os irmãos são enviados. Eles são enviados pelo Senhor da vida e da paz, e com tal ministério eles testam a condição de cada alma vivente. A mensagem que eles carregam é vinda do Filho do Pai, uma mensagem de paz e vida garantida em e por Ele mesmo; e a Palavra então era, e ainda é: “Quem tem o Filho tem a vida; quem não tem o Filho de Deus não tem a vida” – e o Senhor acrescenta, tornando-os, nisto, o teste da condição de cada um, como tendo o Filho ou não, “Àqueles a quem perdoardes os pecados, lhes são perdoados; e, àqueles a quem os retiverdes, lhes são retidos”.

 

Tal foi o primeiro encontro do Senhor com Seus discípulos, depois que Ele ressuscitou dos mortos. Ele nos apresentou os santos, como filhos do Pai, e seu ministério como tal, e nos deu uma amostra, ou primícias, daquela colheita no Espírito Santo que eles têm colhido desde então nesta dispensação.

 

E embora isso possa me afastar por um breve momento, não posso deixar de notar que o ministério confiado aos discípulos pelo Senhor, depois que Ele ressuscitou dos mortos, assume um caráter distinto em cada um dos Evangelhos. E assim como cada um dos Evangelhos tem um propósito distinto (segundo o qual todas as narrativas são selecionadas e registradas), assim é a linguagem variada usada pelo Senhor em cada um dos Evangelhos, ao confiar este ministério a Seus discípulos, deve ser explicada e interpretada pelo caráter específico do próprio Evangelho.

 

Em Mateus, esta comissão é assim: – “Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que Eu vos tenho mandado”. Ora, esta comissão era estritamente para os apóstolos, que já haviam sido ordenados pelo Senhor, e associados a Ele como Ministro da circuncisão (Rm 15:8). A comissão os contemplava como estando em Jerusalém, e partindo dali para discipular todas as nações, e para que os guardassem nos mandamentos e ordenanças do Senhor. Pois é o propósito daquele Evangelho apresentar o Senhor em conexão Judaica como a Esperança de Israel, a Quem a reunião das nações deveria ser. E, consequentemente, é assumida a conversão das nações, e o assentamento de todo o mundo ao redor de Jerusalém como o centro de adoração. Um sistema de nações restauradas e obedientes regozijando-se com Israel será manifestado em breve; e o Senhor ressuscitado olha para isso, ao confiar o ministério a Seus apóstolos no Evangelho de Mateus. (Posso observar que Israel ainda não havia fechado completamente a porta da esperança contra si mesmo. O testemunho do Espírito Santo sobre Jesus ressuscitado pelos apóstolos em Jerusalém ainda não havia sido rejeitado. A possibilidade de esse testemunho ser recebido pode ser assumida; e o Senhor parece assumi-lo no Evangelho de Mateus.)

 

Mas em Marcos, essa perspectiva de conversão nacional é bem qualificada. Os termos da comissão são estes: “Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura. Quem crer e for batizado será salvo; mas quem não crer será condenado”. Não é o discipulado de nações que é contemplado, mas o testemunho universal com aceitação parcial. Pois Marcos apresenta o Senhor em serviço ou ministério, e o caso de alguns receberem a Palavra, e alguns não a receberem, é antecipado, porque tais são os resultados que têm acompanhado todo o ministério da Palavra; como é dito em um lugar: “E alguns criam no que se dizia, mas outros não criam”.

 

Em Lucas, o Senhor, depois de interpretar Moisés, os profetas e os Salmos, e abrir o entendimento dos discípulos para entendê-los, entrega o ministério a eles desta forma: “Assim está escrito, e assim convinha que o Cristo padecesse e, ao terceiro dia, ressuscitasse dos mortos; e, em Seu nome, se pregasse o arrependimento e a remissão dos pecados, em todas as nações, começando por Jerusalém. E dessas coisas sois vós testemunhas. E eis que sobre vós envio a promessa de Meu Pai; ficai, porém, na cidade de Jerusalém, até que do alto sejais revestidos de poder”. Esta comissão não parece ter sido dirigida estritamente para os onze, mas a outros também (veja Lucas 24:33). E seu ministério deveria começar com Jerusalém, e não a partir dela. E eles não têm permissão para sair em seu ministério até que tivessem recebido novo poder, reconhecendo assim que o que haviam recebido de Jesus, enquanto Ele estava na Terra, não era suficiente. E tudo isso era uma ruptura com a mera ordem terrenal ou Judaica. Esta foi, portanto, a comissão com um caráter um tanto alterado, adequado a este Evangelho de Lucas, que apresenta o Senhor mais amplamente, e não estritamente em associação Judaica.

 

Mas agora, em nosso Evangelho segundo João, não recebemos essa comissão de forma alguma, nem qualquer menção de “poder do alto”. (Na verdade, a palavra “apóstolos” não ocorre nenhuma vez neste Evangelho; e isso ainda está de acordo com seu caráter.) Simplesmente recebemos, como venho observando, a vida do Homem ressuscitado comunicada, e então os discípulos, com essa vida neles, são enviados para testar, em virtude dela, a condição de cada alma vivente. O Senhor lhes dá seu ministério como do céu, e não do monte na Galileia. Ele os envia do Pai, e não de Jerusalém. Pois, em nosso Evangelho, o Senhor deixou todas as recordações de Jerusalém para trás, e renunciou, por hora, a toda esperança de restaurar Israel e reunir as nações.

 

Esta variedade nos termos desta comissão e ministério é muito impressionante; e considerando os diferentes propósitos de cada Evangelho, é primorosa e perfeita. O mero racionalista pode tropeçar nela, e o homem que honra a Escritura, e que preservaria de bom grado sua justa reputação, pode tentar muitas maneiras de mostrar a consistência literal dessas coisas. Mas a Palavra de Deus, amados, não pede proteção do homem. Ela não busca que sejam feitas desculpas por ela, por mais bem-intencionadas que sejam. Em tudo isso não há incongruência, mas apenas variedade; e essa variedade responde perfeitamente aos diversos propósitos do mesmo Espírito. E, embora assim variados, cada pensamento e cada palavra em cada um são igualmente e completamente divinos; e temos apenas que bendizer nosso Deus pela certeza, conforto e suficiência de Seus próprios testemunhos mais perfeitos.

 

Mas isto, irmãos, digo de passagem, desejando que o Senhor guarde nossa mente em todas as nossas meditações e em todos os conselhos do nosso coração.

 

Deixamos o Senhor em companhia de Seus irmãos. Ele estava colocando-os em sua condição de filhos do Pai, e elevando-os a lugares celestiais. Mas Ele tem propósitos concernentes a Israel, assim como à Igreja. No último dia, Ele os chamará ao arrependimento e à fé, dando-lhes também sua devida posição e ministério. E essas coisas nós teremos reveladas em ordem diante de nós agora.

 

Tomé, lemos, não estava com os irmãos quando o Senhor os visitou. Ele não guardou seu primeiro estado, mas estava ausente, enquanto a pequena reunião se mantinha em prontidão para seu Senhor ressuscitado; e agora Tomé se recusa a acreditar em seus irmãos, sem o testemunho adicional de suas próprias mãos e olhos. E os Judeus, até hoje, como Tomé naquela ocasião, estão recusando o evangelho ou as boas novas do Senhor ressuscitado.

 

Tudo, no entanto, não terminaria assim. Tomé recupera seu lugar, “e oito dias depois” está em companhia dos irmãos novamente; e então Jesus Se apresenta a ele. Pois este segundo encontro foi por causa de Tomé. E o discípulo descrente é levado a reconhecê-Lo como seu Senhor e seu Deus. Assim como, em breve, “oito dias depois”, depois que uma semana ou dispensação completa tiver concluído seu curso, será dito na terra de Israel: “Eis que Este é o nosso Deus, a Quem aguardávamos, e Ele nos salvará; este é o SENHOR, a Quem aguardávamos; na Sua salvação, exultaremos e nos alegraremos”. Israel reconhecerá Emanuel naquela ocasião; e assim como o Senhor aqui aceita Tomé, então Ele dirá a Israel: “Tu és o Meu povo”.

 

Mas aqui devemos notar algo ainda mais significativo. O Senhor aceita Tomé, é bem verdade, mas ao mesmo tempo diz a ele: “Porque Me viste, Tomé, creste; bem-aventurados os que não viram e creram”. E assim com Israel nos últimos dias. Eles conhecerão a paz da cruz, a paz plena da mão e do lado feridos de Jesus aqui mostrados a Tomé; mas eles receberão uma bênção inferior à da Igreja. Eles receberão vida do Filho de Deus; mas eles somente andarão no escabelo, enquanto a Igreja estará assentada no trono (Ap 5).

 

Aqui se encerra o mistério da vida, seja para a Igreja agora, ou para Israel em breve, e nosso evangelista, consequentemente, faz uma pausa por um momento. Este era o Evangelho de Jesus Cristo, o Filho de Deus, todo aquele que crê tem vida em Seu nome. Muitas outras coisas poderiam ter sido adicionadas, mas estas foram suficientes para atestar o Filho, e assim ser a semente da vida. O terceiro testemunho de Deus agora tinha sido ouvido. A água e o sangue tinham saído do Filho crucificado, e agora o Espírito foi dado pelo Filho ressuscitado. Os três que dão testemunho na Terra tinham sido ouvidos, e o testemunho vindo de Deus, de que Ele “nos deu a vida eterna; e esta vida está em Seu Filho” estava, portanto, completo; e nosso evangelista apenas diz: “Estes, porém, foram escritos para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em Seu nome”.

 João 21

 

Assim, vimos a vida realmente dispensada pelo Senhor ressuscitado a Seus irmãos, e o ministério confiado a eles como tal; e vimos a vida prometida a Israel na pessoa de Tomé. Mas este Tomé restaurado, ou o Israel de Deus no último dia, deverá (como a Igreja agora) obter ministério, bem como vida, ser usado, bem como vivificado. E obtemos a promessa disto também agora na devida ordem.

 

No início deste capítulo, vemos os apóstolos trazidos de volta à condição em que o Senhor os encontrou pela primeira vez. Pedro e os filhos de Zebedeu estão novamente em sua pescaria. De fato, seu árduo trabalho anterior não produziu nada. Suas redes haviam se rompido. O Senhor havia proposto usá-los, mas Israel em Sua mão provou ser apenas um arco enganoso, uma rede rompida. Mas agora eles estão em sua labuta novamente, e o Senhor aparece novamente, e lhes dá uma segunda pesca. E nisso, em companhia do próprio Senhor, eles se alimentam; e suas redes permanecem intactas.

 

Nosso evangelista observa que esta foi a “terceira vez” que Jesus Se mostrava aos Seus discípulos depois que Ele ressuscitou dos mortos. Na primeira, como vimos, Ele Se encontrou com os irmãos para dar a eles, como a família celestial, sua comunhão e ministério. Na segunda, Ele restaurou Tomé, o representante da conversão e vida final de Israel. E agora, na terceira, Ele dá a garantia do ministério e da frutificação de Israel a Deus.

 

Esses três encontros distintos nos dão, dessa maneira, a visão completa da Igreja e de Israel. Mas devo notar particularmente outra atuação da consciência do amor, que é muito doce. Pedro sabia, apesar de tudo o que havia acontecido, que havia um elo entre ele e o Senhor; e Pedro, portanto, não tem medo de ficar a sós com Ele. É verdade que, quando haviam estados juntos numa ocasião anterior, Pedro O negou; e o Senhor Se virou e olhou para ele. Mas Pedro sabia que amava seu Senhor apesar de tudo; e agora ele não tem medo de se lançar ao mar e alcançar Jesus sozinho, antes dos demais. E há algo verdadeiramente abençoado nisso. A lei nunca poderia ter produzido tal coisa, nem, de fato, teria permitido isso. A vara da lei o teria repelido e o teria feito manter distância. Nada além da graça poderia permitir isso; nada, a não ser as cordas do amor, poderia ter atraído o negador Pedro para mais perto de seu desprezado Senhor, dessa maneira. Mas ainda há mais.

 

O jantar, como lemos, agora estava terminado – o propósito deste terceiro encontro agora estava respondido. Mas para encerrar tudo em graça e glória maravilhosas, e de uma forma também mais adequada e característica do nosso Evangelho, o Senhor Se volta para Pedro, tornando-o novamente Seu objeto especial, e Se dirigindo a ele de uma forma que não poderia, e não deixa, de chamar seu pecado à lembrança.

 

Aqui, porém, novamente eu faria uma pausa por um breve momento.

 

O Senhor teve muito a tratar com Pedro, mais do que com os outros discípulos, enquanto Ele estava no meio deles; e encontramos o mesmo depois que Ele ressuscitou. Pedro é aquele que ocupa a maior parte deste capítulo 21 de João. O Senhor aqui continua com ele a obra graciosa que Ele havia começado antes de deixá-lo, e a continua exatamente do ponto onde Ele a havia deixado.

 

Pedro havia revelado confiança própria. Ele havia dito que ainda que todos se escandalizassem, ele não se escandalizaria; e mesmo que tivesse que morrer com seu Mestre, ele não O negaria. Seu Mestre lhe havia falado da vaidade de tais vanglórias, mas também lhe falou de Sua oração por ele, para que sua fé não desfalecesse. E quando a vanglória é descoberta sendo de fato vaidade, e Pedro negou seu Senhor até mesmo com juramento, seu Senhor olhou para ele, e esse olhar teve sua operação bendita. A oração e o olhar valeram. A oração impediu que sua fé desfalecesse, mas o olhar partiu seu coração. Ele não “retirou-se”, mas chorou, e chorou amargamente.

 

No início deste capítulo, encontramos Pedro nesta condição, aquela em que a oração e o olhar de seu divino Mestre o colocaram. Ele é capaz de ter uma prova muito doce de que sua fé não havia desfalecido, pois assim que ouve que é seu Senhor Quem está em pé na praia, ele se lançou ao mar para alcançá-Lo; no entanto, não como um penitente, como se ele já não tivesse chorado, mas como alguém que podia confiar em si mesmo em Sua presença, a presença de seu Mestre outrora negado, em plena certeza de coração.

 

A oração e o olhar já tinham, assim, como vemos agora, feito seu trabalho com Pedro, e não devem ser repetidos. O Senhor simplesmente continua com Sua obra assim iniciada, para conduzi-la à perfeição.

 

Assim, a oração e o olhar são agora seguidos pela palavra. A restauração agora segue a convicção e as lágrimas. Pedro é colocado no lugar de fortalecer seus irmãos, como seu Senhor uma vez lhe dissera, e também no lugar de glorificar a Deus por sua morte, um privilégio que ele havia perdido por sua incredulidade e negação. Esta foi a palavra de restauração seguindo a oração que já havia sustentado a fé de Pedro, e o olhar que já havia partido seu coração.

 

Mas, mais adiante, quanto a este caso, pois é de profundo interesse para nossa alma.

 

No dia de João 13, o Senhor havia ensinado a este mesmo amado Pedro que um homem lavado não necessita ser lavado novamente, senão apenas seus pés. E exatamente desta forma Ele agora trata com ele. Ele não o coloca novamente no processo de Lucas 5, quando a pesca de peixes o dominou totalmente, e ele descobriu que era um pecador; mas Ele o restaura, e o coloca em seu lugar novamente. Isto é, Ele lava os pés de Pedro, como alguém cujo corpo já foi lavado.

 

Mestre Perfeito! Podemos dizer, como com admiração adoradora – O mesmo para nós ontem, hoje e para sempre; O mesmo em graciosa habilidade de amor, continuando com a obra que Ele havia começado antes; como o Senhor ressuscitado retomando o serviço que Ele havia deixado inacabado quando foi tirado deles; e retomando-o no mesmo ponto, unindo o serviço passado e o presente na mais plena graça e habilidade!

 

As três negações de seu Senhor parecem ser bem trazidas à mente, quando Jesus, pela terceira vez, lhe diz: “Amas–me?” Mas o Senhor, como temos observado, estava apenas restaurando completamente a alma e levando Seu santo a uma bênção mais rica. Ele o restaura ao seu ministério, pois outro não deveria tomar seu bispado; e então lhe promete força para servir seu Senhor nele, sem uma segunda negação ou fracasso. Ele o constitui Sua testemunha e servo no pleno poder da fé de um mártir. E tendo prometido esta graça a ele, que ele deveria assim testemunhar por Ele fielmente até a morte, Ele lhe diz: “Segue-Me”. (Jesus sabia de todas as coisas, e esse era o conforto de Pedro. Pedro tinha certeza de que seu Senhor conhecia as profundezas, bem como as superfícies das coisas, e assim que Ele sabia o que estava no coração de Seu pobre servo, embora seus lábios tivessem transgredido tanto.)

 

Este foi um momento do mais doce interesse. Sabemos que se sofrermos com Ele, também reinaremos com Ele; e se O seguirmos, onde o próprio Senhor estiver, ali estará Seu servo. Ora, este chamado a Pedro foi um chamado para seguir Seu Senhor ao longo do caminho do testemunho e do sofrimento, no poder da ressurreição, até o descanso em que esse caminho termina, e para o qual essa ressurreição conduz. Jesus havia dito a Pedro antes de deixá-lo: “Para onde Eu vou não podes agora seguir-Me, mas depois Me seguirás” (João 13). E o Senhor, como sabemos, estava então indo para o céu e para o Pai por meio da cruz. Este chamado presente estava, em espírito, cumprindo aquela promessa a Pedro. Era um chamado para ele seguir o Senhor, por meio da morte, até a casa do Pai. E, ao dizer essas palavras a ele, o Senhor Se levanta do lugar onde estavam comendo, e Pedro, assim convidado, se levanta para segui-Lo.

 

João escuta esse chamado, como se tivesse sido endereçado a ele também, e, ao ver o Senhor Se levantar e Pedro se levantar, ele imediatamente se levanta também. Pois ele sempre esteve mais perto do Senhor. Ele se recostou em Seu peito na ceia, e era o discípulo a quem Jesus amava. Ele sempre esteve no lugar de mais próxima empatia com Ele – então, por uma espécie de necessidade (bendita necessidade!) na ascensão do Senhor, ele se levanta, embora sem ser convidado.

 

Em tal atitude, nós os vemos agora. O Filho de Deus ressuscitou e está caminhando para fora de nossa vista, e Pedro e João O estão seguindo. Tudo isso é adorável e significativo além da expressão. Não vemos o fim do caminho deles, pois enquanto caminham assim o Evangelho se encerra. A nuvem, por assim dizer, os recebe fora de nossa vista. Olhamos em vão atrás deles, e o caminho dos discípulos está tão distante de nós quanto o de seu Senhor. Era, em princípio, o caminho que leva à casa do Pai, que sabemos estar preparada para o Senhor e Seus irmãos, a presença de Deus no céu.

 

Certamente, podemos dizer, o Noivo em nossa festa guardou o melhor vinho até agora. Se nossa alma puder entrar nisso, não há nada que se compare. Marcos, em seu Evangelho, nos conta do fato de o Senhor ter sido recebido no céu (Marcos 16:19); e Lucas nos mostra a própria ascensão, enquanto o Senhor estava levantando Suas mãos e abençoando Seus discípulos (Lucas 24:51). Mas tudo isso, por mais doce que fosse, não se compara ao que temos aqui. Pois tudo isso deixou os discípulos separados de seu Senhor. Ele estava então indo para o céu, e eles deveriam retornar a Jerusalém; mas aqui, eles O estão seguindo até o céu. O caminho deles não se encerra antes do fim completo do caminho d’Ele.

 

Esta não é outra senão a “porta dos céus” à qual nosso Evangelho nos conduz, e onde ele nos deixa. O Senhor está neste lugar, em plena graça para com Seus escolhidos. A recepção dos irmãos na casa do Pai está aqui garantida a nós. Nisto, Pedro e João são os representantes de todos nós, amados. Alguns, como Pedro, podem glorificar a Deus pela morte; e outros, como é sugerido aqui em relação a João, estarão vivos e permanecerão até que Jesus venha; mas todos devem seguir, seja Pedro ou João, Moisés ou Elias, seja morto em Cristo ou vivo em Sua vinda, todos serão arrebatados juntos para encontrar o Senhor no ar, e estar para sempre com Ele. Será para eles como a ascensão de Enoque antes do dilúvio. E sendo recebidos para Si mesmo, eles irão com Ele para o lugar preparado na casa do Pai, como Ele nos disse. (Não devemos afirmar que qualquer indivíduo permanecerá até que o Senhor venha. Isso é condenado pelo versículo 23. Mas o mesmo versículo nos permite afirmar que o Senhor pode vir antes de nossa morte, se Ele quiser.)

 

E posso observar que esta é a única visão da ascensão de nosso Senhor que nosso Evangelho nos dá. Mas é essa visão dela que está estritamente em caráter com todo o Evangelho, que nos dá, como tem sido observado, nosso Senhor Jesus em conexão com a Igreja como a família do Pai, a família celestial.

 

Pois esta ascensão não é propriamente para a direita de Deus, ou lugar de poder, onde Ele permanece sozinho, mas para a casa do Pai, onde os filhos também devem habitar. O caminho deles nessa direção vai tão longe quanto o d’Ele, por meio de Sua graça ilimitada; como aqui, como já observei, onde quer que Jesus tenha ido (algum lugar desconhecido e não contado quanto a esta Terra), lá Pedro e João O seguiram. Ele está aqui agindo como se tivesse ido e preparado o lugar prometido na casa do Pai, e tivesse voltado, e agora estivesse recebendo-os para Si mesmo, para que onde Ele está, eles possam estar lá também. E isso será realmente assim na ressurreição daqueles que são de Cristo em Sua vinda, quando os irmãos encontrarem seu Senhor no ar. O Filho de Deus estava agora, no fim, assim como havia feito no princípio, mostrando aos Seus onde Ele habitava (veja João 1:39); só que, no princípio, Ele era um Estrangeiro na Terra e eles permaneceram com Ele apenas um dia; agora Ele está retornando ao Seu próprio céu, e lá eles permanecerão com Ele para sempre. (Não temos menção neste Evangelho da “vinda do Filho do Homem”. Isso é falado em Mateus e nos outros, pois isso expressa a vinda do Senhor à Terra novamente, para julgamento sobre as nações, e para libertação do remanescente, e não implica o arrebatamento dos santos no ar.)

 

Nosso evangelista então apenas nos deixa ouvir a resposta completa do coração crente de todos os eleitos de Deus àquelas verdades e maravilhas da graça que agora tinham sido ditas. “Sabemos que seu testemunho é verdadeiro”. Eles selaram seu selo de que Deus é verdadeiro. E tudo isso é então encerrado com uma simples nota de admiração – pois tal, em princípio, julgo ser o último verso. E de fato isso é tudo o que ele pôde fazer. Não estava além de seu louvor! Que coração poderia conceber a plena excelência de Seus caminhos cujo nome ele agora estava publicando?

 

Aqui termina a quarta seção do nosso Evangelho; e aqui termina todo o resto. E que jornada através dela tem sido a do Filho de Deus! Tendo Se tornado carne no princípio, Ele andou na Terra como o Estrangeiro vindo do céu, a não ser quando estava ocupado em ministrar graça e cura aos pecadores. O príncipe deste mundo, por fim, veio a Ele; mas, não encontrando nada n’Ele, ele O expulsou do mundo. Mas isso ele não pôde fazer até que, como o Salvador, o Filho de Deus tivesse realizado a paz de todos os que confiam n’Ele. Então Ele triunfantemente despedaçou o poder da morte; e, como o Senhor ressuscitado, comunicou a vida que Ele havia conquistado para Seu povo. E, finalmente, por uma ação significativa, prometeu a eles que para onde Ele estava indo, para lá eles O seguiriam, para que pudessem estar com Ele onde Ele estava; e isso, como sabemos, para sempre.

 

Nosso Evangelho começou com a descida do Filho e termina com a ascensão dos santos. E o tempo dessa ascensão, ou arrebatamento nos ares, eu julgo ser totalmente incerto. Pode ser amanhã, e será quando a plenitude dos gentios houver entrado, quando todos os santos tiverem sido trazidos, na unidade da fé, a um homem perfeito (adulto – JND). Ele não depende de um determinado lapso de tempo. Nenhuma profecia que envolva cálculo de tempo, eu acredito, diz respeito a esse tempo. Profecia dizem respeito ao retorno do Senhor à Terra, e não ao arrebatamento dos santos nos ares para encontrá-Lo. Nesse retorno do Senhor à Terra, os santos estarão com Ele; e esta Terra estará então preparada para ser o reino e herança comuns ao Senhor e aos Seus. E esse retorno, eu concordo, deve aguardar seu tempo prescrito, e o completo decurso dos dias e anos anunciados pelos profetas. Mas não há medida de dias ou anos do intervalo entre a ascensão do Senhor e a de Seus santos. O Espírito Santo, é bem verdade, nos deu caracteres morais de certos tempos, definindo assim “os últimos tempos” e “os últimos dias” (1 Timóteo 4; 2 Timóteo 3; e assim por diante); mas Ele nos diz também que, mesmo então, “a última hora” já havia chegado (1 João 2:18). Então, essa fé tem o direito de buscar seu gozo em encontrar o Senhor no ar a cada hora; com paciência, enquanto isso, fazer a vontade de Deus. E as profecias que calculam o tempo (na medida em que ainda são futuras) não começarão (eu apenas dou meu julgamento) a ser aplicadas, nem os tempos que elas indicam começarão a fluir, até que esse arrebatamento aos ares aconteça. Então, de fato; o remanescente sofredor em Israel pode começar a contar os dias para seu consolo e para alimento de esperança; e, em sua mais profunda aflição, levantar sua cabeça, como sabendo que sua salvação se aproxima.

 

Depois de tudo isso, amados, nosso Deus pode muito bem reivindicar nossa confiança, e ser nosso título para a plena liberdade santa, e nossa fonte segura e constante de alegria. Isso é para honrá-Lo como o Pai. E se temos um pensamento d’Ele que deixa um aguilhão atrás dele, é o pensamento de tolice e incredulidade. Tudo é brilho para a fé. Assim é Deus nosso Pai. E no Filho do Seu amor somos aceitos. “Ele não viverá em glória, e nos deixará para trás” – e a linguagem de nosso coração para com Ele permanentemente deveria ser: “Vem, Senhor Jesus”. E essa confiança da adoção presente, e essa alegria da esperança, temos por meio do Espírito Santo que habita em nós, nosso Companheiro pelo caminho, nosso “outro Consolador” até que o Noivo nos encontre.

 

Ao nosso gracioso Deus (Pai, Filho e Espírito Santo) seja a glória para todo o sempre! Amém.


J. G. Bellett


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