Paz (Agosto de 2010)
- Revista O Cristão
- 23 de mai.
- 29 min de leitura

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Revista mensal publicada originalmente em Agosto/2010 pela Bible Truth Publishers
ÍNDICE
Tema da edição
Words of Truth 1:1
J. N. Darby (adaptado)
W. J. Prost
D. C. Buchanan
The Christian Friend 1:124
J. N. Darby (adaptado)
W. J. Prost
M. A. T.
Paz

A paz começa com e vem de Deus. Ele é o Deus da paz. “Porque Eu bem sei os pensamentos que tenho a vosso respeito, diz o SENHOR; pensamentos de paz, e não de mal” (Jr 29:11). Paulo e Pedro sempre começam suas epístolas com a graça e paz da parte de Deus nosso Pai e do Senhor Jesus Cristo. Todos queremos paz com Deus, paz em nosso coração, paz com nosso próximo, paz para o mundo. Todos sabemos o que é estar sem paz, por isso é bom lembrar, como estamos nesta edição, do fundamento da paz e como podemos viver nessa paz interior que nosso Senhor Jesus tinha a cada dia e que Ele nos deu para que também tenhamos: “Deixo-vos a paz, a Minha paz vos dou”.
Quando estamos perturbados, sabemos o que é recorrer à Palavra e buscar versículos de conforto, paz, descanso e encorajamento para nós e para os outros. A Palavra está cheia deles, e agradecemos a Deus por eles. Dois que têm sido de ajuda para muitos de nós são:
“Tu conservarás em paz aquele cuja mente está firme em Ti; porque ele confia em Ti” (Is 26:3)
“Não estejais inquietos por coisa alguma; antes as vossas petições sejam em tudo conhecidas diante de Deus pela oração e súplica, com ação de graças. E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará os vossos corações e os vossos sentimentos [pensamentos – TB] em Cristo Jesus” (Fp 4:6-7).
Um espírito confiante, submisso e agradecido promove um coração com paz.
Tema da edição
Paz com Deus – a Paz de Deus – a Paz de Cristo
Gostaria de trazer uma palavra sobre três caracteres diferentes da paz: a paz com Deus, a paz de Deus e a paz de Cristo.
Paz com Deus
“Paz com Deus” é aquilo que o pecador possui e desfruta ao crer. Ele é justificado por Deus com base do derramamento do sangue de Cristo, “havendo por Ele feito a paz pelo sangue da Sua cruz” (Cl 1:20). A fé se apodera e crê em uma obra já consumada, que tem atendido pelo pecador e satisfez as reivindicações de Deus e, portanto, tem paz – paz nítida, eterna, imutável. Essa paz não depende do gozo de seu possuidor, mas da obra de Cristo que fez a paz pelo sangue de Sua cruz. Um Deus de juízo entrou em toda a questão do pecado com Cristo na cruz, indo até suas profundezas. Foi um Deus de paz que O trouxe novamente dos mortos o grande Pastor das ovelhas, por meio do sangue da aliança eterna (Hb 13:20). Um Cristo ressuscitado é a nossa paz na presença de Deus (Ef 2:14). Agora, tudo isso é verdade para o crente, sem que seus sentimentos ou seu desfrute entrem na questão. Depende, não do desfrute dela, mas de sua realidade diante de Deus. Foi a dádiva de Cristo na despedida de Seu povo: “Deixo-vos a paz”. “Paz seja convosco!” (Jo 14:27; 20:19). O Deus da paz O havia trazido dos mortos, e Ele não tinha nada além de paz para deixar para eles.
A paz de Deus
Agora, a “paz de Deus” significa algo que Deus tem em Si mesmo. É a própria paz de Deus na qual Ele habita – a paz daquele Deus em Quem nada pode mudar, Aquele que conhece o fim desde o princípio e Aquele que ordenou tudo desde o início até o fim. Embora o homem possa se esforçar para atrapalhar Seus propósitos, todos serão finalmente realizados. Acaso não podemos por um momento contemplar a paz perfeita, imperturbável e consciente, na qual Deus habita? E, no entanto, esta paz é prometida, que manterá o coração e a mente do crente que entregou a Deus todas as suas ansiedades e todas as suas preocupações, por meio da oração e súplica, com ação de graças. “Não estejais inquietos por coisa alguma; antes as vossas petições sejam em tudo conhecidas diante de Deus” (Fp 4:6). E o que é prometido? “A paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará os vossos corações e os vossos sentimentos em Cristo Jesus” (Fp 4:7). A própria paz de Deus, na qual Ele habita, guardará o coração, e então ele repousará no meio de toda provação e dificuldade. A mente não está atormentada pela ansiedade, mas está cheia da paz de Deus, quando tudo foi entregue a Ele e comprometido com Ele.
A paz de Cristo
A paz de Cristo é outra coisa. Certamente, Cristo é Deus, mas ainda assim a paz de Deus e a paz de Cristo não são a mesma coisa. Por isso, a diferença em João 14:27 entre “Deixo-vos a paz” e “a Minha paz vos dou”. Cristo não precisava de paz com Deus, como precisamos como pecadores. Ele nos dá a paz por meio de Seu precioso sangue, mas Ele não precisava de paz para Si mesmo. O impecável Cordeiro de Deus “não cometeu pecado” e estava “separado dos pecadores” enquanto estava entre eles. Ele “não conheceu pecado”. Mas como Filho de Seu Pai, Ele passou pelo mundo em comunhão consciente de perfeita paz (“Minha paz”) em cada passo do Seu caminho. A vida d'Ele era triste aqui embaixo, mas nunca houve obscuridade durante todo o caminho entre Ele e Seu Pai. Era uma vida de perfeita unidade de pensamento e objetivo, como Ele viveu por Seu Pai. “Eu vivo pelo Pai” (Jo 6:57). Esta, então, é a paz de Cristo.
A primeira (paz com Deus), então, é a porção do pecador que crê: sua porção inalterável.
A segunda (a paz de Deus) é o que o Cristão tem quando tirou a carga de seu coração de todo cuidado e dedicou todo pensamento Àquele que conhece o fim desde o princípio.
E a terceira (a paz de Cristo) é o que desfrutamos ao viver por Ele, assim como Ele desfrutou ao viver pelo Pai. “Assim como o Pai, que vive, Me enviou, e Eu vivo pelo Pai, assim, quem de Mim se alimenta, também viverá por Mim” (Jo 6:57). Isto é comunhão com Ele e com o Pai, que foi revelado no Filho. E também, quando assim desfrutamos da paz de Cristo, temos também o gozo dessa paz, com essa paz com Deus, o qual, como pecadores, possuímos por meio de Sua obra na cruz.
“Ora o Deus de esperança vos encha de todo o gozo e paz em crença, para que abundeis em esperança pela virtude do Espírito Santo” (Rm 15:13).
Words of Truth 1:1
Minha Paz
“A Minha paz vos dou” (Jo 14:27).
Observe a extensão da paz – “Minha paz” – e quão bem Ele sabia o que possuía, a ponto de poder dá-la a eles! Ele havia sido provado, rejeitado e havia sofrido; Ele não tinha onde reclinar Sua cabeça, caçado como “uma perdiz nos montes”, “Homem de dores, experimentado nos trabalhos”, e, no entanto, conhecia tão bem a bênção que possuía que podia falar sobre ela, a fim de deixá-la com eles. Havia um nítido descanso em Deus, e Deus era uma nítida fonte de bênção para Ele, em todo o Seu caminho de tristeza e angústia, tão diferente do que qualquer outra pessoa já teve. Mas “Tu conservarás em paz Aquele cuja mente está firme em Ti” era conhecido por experiência por Ele, e acaso havia alguma incerteza quanto ao fato de Seu Pai O ter ouvido? Não, havia uma nítida certeza. Nada poderia levantar dúvidas sobre isso. Ele não precisa colocar isso à prova Se jogando do templo; isso seria tentar a Deus.
Se o Senhor viesse neste momento, você teria paz e seria capaz de dizer: “Eis que Este é o nosso Deus, a Quem aguardávamos”? Se você tem a consciência de gostar de algo que Deus não gosta, você não pode estar em paz. Mesmo que você tenha encontrado paz de consciência quanto a seus pecados, por meio do sangue da cruz, isso destruirá sua comunhão e paz de coração, se você gosta de algo que Deus não aprova. Se há qualquer coisa não renunciada na vontade, não pode haver paz; se você tiver paz, se Deus Se manifestasse, sua paz permaneceria.
J. N. Darby (adaptado)
Fatigando no Remo
O Senhor Jesus e Seus discípulos tiveram o que convencionalmente chamaríamos de “um longo dia”! Depois de se retirarem em particular no barco, a fim de terem um pouco de descanso das incessantes exigências feitas a eles, descobriram que as multidões os haviam ultrapassado contornando o lago e estavam esperando por eles. Contudo, a compaixão do Senhor Jesus nunca falhou e, em vez de repreender essas pessoas desatentas, Ele as ensinou de bom grado, “porque eram como ovelhas que não têm pastor” (Mc 6:34). Então, quando o dia estava “já muito adiantado” e não havia nada para comer, Ele operou um milagre e alimentou cinco mil homens com cinco pães e dois peixes. Mesmo do ponto de vista natural, a energia envolvida primeiro em remar através do lago, depois ensinar as pessoas e finalmente organizar e alimentar uma multidão dessas deve ter afetado todos eles.
O Senhor então despediu os discípulos de barco, enquanto Ele subiu a um monte a orar. Eles partiram por Sua ordem, e ainda assim encontraram as mais difíceis condições. O “vento lhes era contrário” e, como resultado, eles “se fatigavam a remar”. Não era tarefa fácil remar, pois eles evidentemente partiram durante o dia, mas, com o passar do tempo, se viram na escuridão e avançaram muito pouco. Já cansados das atividades do dia, agora eram obrigados a remar a noite toda, com o vento contra eles. Podemos ver facilmente por que eles poderiam ficar desanimados e imaginar se o Senhor Se importava.
O cuidado do Senhor
Mas os olhos do Senhor estavam sobre eles em toda a sua angústia. Sem dúvida, Satanás teve sua mão nesta tempestade, pois odeia ver bênçãos para a humanidade, mas a tempestade foi permitida pelo Senhor. Embora estivesse sozinho na terra e à noite, Ele os viu em situação difícil – “fatigavam a remar”. O fato de as circunstâncias estarem contra nós – “o vento lhes era contrário” – não é, por si só, um sinal de que perdemos a mente do Senhor ou estamos agindo contrariamente à Sua vontade. Não, eles estavam no barco por ordem do Senhor, e as dificuldades foram permitidas por Ele. Ele estava bem ciente da angústia deles e queria lhes ensinar uma lição muito importante.
Durante aquela longa noite, sem dúvida, Ele orou por eles, enquanto passava algum tempo no monte com Seu Pai. Eles eram queridos pelo Seu coração, e Ele ansiava por eles. Finalmente, na “quarta vigília da noite”, Ele vem até eles. As vigílias romanas duravam três horas, começando às seis horas da noite, de modo que a quarta vigília seria das 03:00 às 06:00 horas – a vigília mais difícil para se manter acordado. No entanto, o Senhor esperou até então, permitindo que eles remassem contra o vento e as ondas. Por que Ele esperou tanto tempo e, então, quando Ele veio, fez como se quisesse passar adiante deles?
Ele Se importava com eles, mas eles queriam outro milagre. Eles queriam circunstâncias mais fáceis: talvez liberdade da pressão das multidões, liberdade das demandas constantes feitas sobre eles, liberdade da fatiga de remar contra o vento. Quando viram o Senhor, deram grandes gritos, temendo ser um fantasma. Mas então Suas palavras são tão significativas e tão preciosas. Ele não diz: “Não se preocupe; Vou acalmar esta tempestade”. Não, Ele simplesmente assegura a eles Sua presença: “Sou Eu, não temais”.
O estado da alma
O estado de alma deles veio à tona no versículo 52 – “pois não tinham compreendido o milagre dos pães; antes, o seu coração estava endurecido”. Eles sem dúvida viram o Senhor realizar muitos milagres, incluindo a cura e a alimentação dos famintos. Eles também viram o poder d'Ele sobre uma tempestade no capítulo 4, onde o mar se acalmou instantaneamente sob Seu comando. No entanto, o coração deles estava endurecido, pois não percebiam na presença de Quem eles estavam. O Senhor poderia facilmente acalmar o vento e facilitar para eles, mas Ele permitiu que trabalhassem a maior parte da noite, a fim de atraí-los para Si mesmo.
O que o Senhor é para mim
Uma coisa é reconhecer e valorizar o poder do Senhor, mas Ele quer mais do que isso; Ele quer que nós O valorizemos. Se tivessem considerado o milagre dos pães, isso aumentaria sua fé no Senhor, sobre Quem Ele era. Um milagre pode provar Seu interesse pelo Seu povo, mas o efeito real deve ser atrair-nos para Ele. Nenhuma quantidade de milagres tomará o lugar d’Ele próprio, e quando O tivermos para nós, Seu poder estará lá por nós. O que Deus é para mim é muito mais do que qualquer coisa que Ele faz por mim. Assim que Ele entra no barco, a tempestade cessa, e desta vez sem nenhum comando direto. Em uma ocasião anterior, Ele repreendeu a tempestade e a acalmou com Sua palavra. Agora, era Sua presença que fazia a diferença.
O mesmo acontece em nossa vida. Muitos queridos crentes passam a vida “fatigando a remar”, e tudo isso também, mesmo a serviço do Senhor e no caminho de Sua vontade. Às vezes se perguntam por que Ele não intervém e suaviza as coisas para eles e facilita a vida. Eles se perguntam por que, por assim dizer, são obrigados não apenas a alimentar os famintos, mas a remar a noite toda depois disso. Se realmente precisamos renunciar ao nosso bem merecido descanso para ministrar a pessoas desatentas e egoístas, não deveríamos ao menos ter direito a um mar calmo sobre o qual remar depois?
Mas o Senhor Se importa, e Ele Se importa tão profundamente que deseja nos aproximar d'Ele. Se valorizamos a companhia do Senhor e O valorizamos por Quem Ele é, ainda podemos enfrentar circunstâncias difíceis, mas descobriremos que Sua companhia acalma nosso espírito e acalma a tempestade também. Existem, portanto, duas maneiras de viver a vida como um crente. Uma é estar constantemente “fatigando a remar”; o outro é convidar o Senhor Jesus para o barco.
W. J. Prost
A Paz de Deus
“Não estejais inquietos por coisa alguma; antes as vossas petições sejam em tudo conhecidas diante de Deus pela oração e súplica, com ação de graças. E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará os vossos corações e os vossos sentimentos [pensamentos – TB] em Cristo Jesus” (Fp 4:6-7).
Oração
A grande importância da oração não é que você possa receber seu pedido, mas que tenha a sensação de que Deus está cuidando dos seus afazeres. Você tem a percepção do que é ir a Ele e ser ouvido. Eu tomei todo o conteúdo do meu coração e o derramei diante d'Ele. Eu digo, eu sei que Ele o recebeu; Não preciso contar a Ele sobre o conteúdo novamente. Muitas vezes passamos nosso tempo dizendo muitas palavras para aliviar nossas consciências e não pedindo o que realmente precisamos. Quando peço algo de acordo com a vontade d'Ele, sei que Ele me ouve e que tenho a petição que eu desejava d'Ele.
A primeira grande parábola sobre orar está em Lucas 11. O homem não iria embora sem que seu amigo lhe desse os pães, porque ele os queria e não tinha outra maneira de obtê-los. Não vá a Deus se você tiver algum ‘plano B’; não tenha nenhum plano de si mesmo se irá orar a Ele. Esse é o princípio da verdadeira oração. O que muitas vezes faz as pessoas não ganharem na oração é que elas têm algum outro plano em vista. Eles vão a algum lugar procurando restaurar sua saúde e oram por isso, mas o tempo todo pensam que, se esse lugar não os curar, eles irão e tentarão outro lugar.
Uma audiência com Deus
Bem, como você pode saber quando teve uma audiência – quando alcançou os ouvidos de Deus? Você pode saber porque terá a paz de Deus. Temos algum problema neste momento? Sim, nós temos. E por que estamos aflitos com eles? Porque nós não os levamos a Deus. Quando vou a Deus com meus problemas e consigo uma audiência com Ele, Ele me dá Sua própria paz sobre esses problemas. Eu passo a estar no estado em que Deus está. Que maravilha! Aqui está um homem que estava aflito esta manhã; ele foi a Deus e teve uma audiência. E ele teve sua oração respondida? Talvez não. Mas ele saiu dela no estado de Deus – em paz.
As circunstâncias não devem desgastá-lo. Todos nós nos perturbamos e nos preocupamos até que possamos ir a Deus com elas e dizer a Ele (sem irreverência): “Resolva isso como Tu quiseres”, e então podemos sair com a paz de Deus. O efeito disso é, primeiro, nos trazer à calma de um estado de perturbação e, depois, à paz de Deus.
Alegria e paz
Agora, se seu próprio estado não estiver correto, você não poderá se alegrar. Seu próprio estado, que você encontra em Filipenses 3, deve vir primeiro. Você deve ter Cristo como o único Objeto do seu coração para substituir todo o resto. Então, quanto às coisas ao seu redor que tendem a afligir você, se você contar todas a Deus, você se livrará delas. O ponto é: você já teve uma audiência? Que sentido abençoado isso transmite! Um homem pode andar pelo mundo dizendo: Eu sei que alcancei os ouvidos de Deus! E, portanto, esse favor mais maravilhoso que Deus concedeu a um homem na Terra é dele. É o favor mais maravilhoso, porque Deus pode ter me dado todo o mundo e não ter me dado paz.
E “a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará os vossos corações e os vossos sentimentos em Cristo Jesus” (Fp 4:7). Amém!
Food for the Flock
O Pacificador
“Bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus” (Mt 5:9). “Paz seja com os irmãos, e amor com fé da parte de Deus Pai e da do Senhor Jesus Cristo” (Ef 6:23).
O começo da vida dos dois filhos de José foi brilhante e abençoado. Manassés era o filho mais velho, mas Jacó, idoso e experiente, abençoou Efraim em lugar de Manassés. Jacó era o segundo filho, e ele havia aprendido algo sobre a maneira de Deus abençoar. José pensou que isso era um engano, mas Jacó se recusou a mudar a bênção. A rivalidade na família pode começar por pequenas coisas, mas continua com facilidade por gerações. Podemos nos beneficiar em aprender esta lição. Jacó teve dificuldade em aprender que a verdadeira bênção vem de Deus. Quando Deus é deixado de fora de nossa vida, o zelo de comportar-se de modo a chamar a atenção para si estraga facilmente a paz entre os irmãos. No livro de Juízes, temos dois exemplos de rivalidade entre Efraim e Manassés.
Gideão
Quando o Senhor chamou Gideão para libertar Israel do empobrecimento causado pelos midianitas, ele disse: “Ai, Senhor meu, com que livrarei a Israel? Eis que a minha família é a mais pobre em Manassés, e eu o menor na casa de meu pai. E o SENHOR lhe disse: Porquanto Eu hei de ser contigo, tu ferirás aos midianitas como se fossem um só homem” (Jz 6:15-16). Vemos nisso que, embora Gideão tenha sido testado com a pobreza, ele estava contente, não demonstrando aspirações em deixar sua herança familiar. Ele assumiu o lugar mais baixo de sua família. O raciocínio humano descartaria esse tipo de pessoa, mas o Senhor nosso Deus tem uma maneira especial de usar aqueles que são humildes. Por isso, é improvável que caiam na armadilha da rivalidade familiar.
Enquanto Gideão preparava os milhares de Israel para lutar contra os midianitas, o Senhor lhe disse que eram muitos: “para Eu dar aos midianitas em sua mão; a fim de que Israel não se glorie contra Mim, dizendo: A minha mão me livrou” (Jz 7:2). Por causa do baixo estado espiritual de Israel, era necessário impedir que aqueles que fossem para a batalha buscassem uma reivindicação à fama. Mas os filhos de Efraim, que não foram chamados inicialmente para a batalha, não testemunharam esta lição. Eles repreenderam Gideão após a vitória sobre os midianitas. Eles não entenderam o propósito de Deus ao trabalhar por meio da fraqueza humana para engrandecer Sua glória.
“Então os homens de Efraim lhes disseram: Que é isto que nos fizeste, que não nos chamaste, quando foste pelejar contra os midianitas? E contenderam com ele fortemente. Porém ele lhes disse: Que mais fiz eu agora do que vós? Não são porventura os rabiscos de Efraim melhores do que a vindima de Abiezer? Deus vos deu na vossa mão os príncipes dos midianitas, Orebe e Zeebe; que mais pude eu fazer do que vós? Então a sua ira se abrandou para com ele, quando falou esta palavra” (Jz 8:1-3). Aqui vemos Gideão como um pacificador. Três coisas são dignas de nota. Primeiro, ele ocupa o lugar mais baixo, no início e no final de sua resposta: “Que mais fiz eu agora do que vós?” “Sem lenha, o fogo se apagará; e, não havendo maldizente, cessará a contenda” (Pv 26:20 – ARC). Segundo, ele distingue a herança de Efraim da sua em Abiezer (Manassés). Ele volta o foco para a herança que o Senhor lhes havia dado, ampliando a herança deles. Embora reconheça a abundância dada a Efraim, Gideão se apega à sua parte dada por Deus. Há muitas bênçãos para todos e cada um de nós dentro dos limites de nossa própria herança. Não precisamos ir a outro lugar atrás de coisas melhores. Terceiro, ele reconhece o que Deus havia feito por meio dos homens de Efraim. Gideão não havia esquecido o quão insignificante ele e os trezentos homens haviam sido na batalha. O Senhor conquistou a vitória. Gideão poderia facilmente reconhecer o mesmo com os filhos de Efraim. Suas palavras não eram meras lisonjas; ele procurou acalmá-los em suas atitudes erradas, apontando o que o Senhor havia feito através deles. “Então a sua ira se abrandou para com ele”.
Faz bem ao coração ler no final do capítulo: “e sossegou a terra quarenta anos nos dias de Gideão” (Jz 8:28). Este é o resultado de um verdadeiro pacificador.
Os filhos de Gideão
Na sequência da história, temos o triste final dos sessenta e nove filhos de Gideão, que foram mortos pelo seu meio-irmão Abimeleque. Não se pode deixar de pensar que todos esses filhos estarão entre os chamados “filhos de Deus” dos quais o Senhor falou quando disse: “Bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus”. Aqueles que, como Abel, deram a vida por seus irmãos, na ressurreição com Cristo estarão na família de Deus. Jotão, que sobreviveu, falou contra o mal feito, mas nunca tomou em suas próprias mãos a vingança da vida deles. O Senhor fez recair sobre Abimeleque o sangue inocente que ele havia derramado.
Jefté
Um segundo caso de rivalidade entre Efraim e Manassés aconteceu enquanto Jefté era juiz. “Então se convocaram os homens de Efraim, e passaram para o norte, e disseram a Jefté: Por que passaste a combater contra os filhos de Amom, e não nos chamaste para ir contigo? Queimaremos a fogo a tua casa contigo. E Jefté lhes disse: Eu e o meu povo tivemos grande contenda com os filhos de Amom; e chamei-vos, e não me livrastes da sua mão; E, vendo eu que não me livráveis, arrisquei a minha vida, e passei contra os filhos de Amom, e o SENHOR mos entregou nas mãos; por que, pois, subistes vós hoje, para combater contra mim? E ajuntou Jefté a todos os homens de Gileade, e combateu contra Efraim; e os homens de Gileade feriram a Efraim; porque este dissera-lhe: Fugitivos sois de Efraim vós gileaditas que habitais entre Efraim e Manassés” (Jz 12:1-4). Nesse caso, vemos que a raiva e a autodefesa pessoal predominam sobre a libertação do inimigo. Insultos pessoais se confundem com fidelidade na preservação da herança que Deus lhes dera. Jefté é provocado a entrar em guerra contra os homens de Efraim. Ele foi fiel em defender a herança deles contra Amon e é mencionado pelo nome em Hebreus 11 por sua fé, mas onde estava o pacificador entre eles? Onde estava o intercessor que daria a vida por seus irmãos?
Na batalha, a raiva deteriora-se em vingança. “Porque tomaram os gileaditas aos efraimitas os vaus do Jordão; e sucedeu que, quando algum dos fugitivos de Efraim dizia: Deixai-me passar; então os gileaditas perguntavam: És tu efraimita? E dizendo ele: Não, Então lhe diziam: Dize, pois, Chibolete; porém ele dizia: Sibolete; porque não o podia pronunciar bem; então pegavam dele, e o degolavam nos vaus do Jordão; e caíram de Efraim naquele tempo quarenta e dois mil” (Jz 12:5‑6). Certamente estava errado que os homens de Efraim subissem a Jefté como eles fizeram, mas o que começou como um insulto a Jefté, porque ele era filho de uma prostituta, agora leva os homens de Manassés a escolherem uma característica defeituosa na fala dos homens de Efraim e julgá-los com base nisso. É difícil encontrar paz quando palavras e discursos são confundidos com atitudes altivas e vingativas. A atitude errada dos homens de Efraim deveria ter sido tratada, não sua fala defeituosa. O resultado desse julgamento indiscriminado é que 42.000 homens de Efraim morrem. Alguns deles, talvez, merecessem morrer; somente o Senhor – seu Pacificador – sabe quantos morreram por falta de julgamento.
Estas coisas foram escritas “para nosso ensino foi escrito, para que pela paciência e consolação das Escrituras tenhamos esperança” (Rm 15:4). Que o Senhor nos ajude a unir a misericórdia e a verdade, para que a justiça e a paz possam se beijar uma a outra. Este é o papel abençoado de um pacificador.
D. C. Buchanan
Paz com Gibeão – Josué 9
Se agirmos fielmente, a cada passo de fidelidade o Senhor certamente acrescentará mais luz; somente devemos ter cuidado para seguir o conselho do Senhor a cada passo. A paz com Gibeão apenas nos priva da vitória e traz sobre nós outras guerras e problemas, pois a presença do que não é de Deus sempre abre as portas para Satanás. Talvez isso não seja sentido tanto quando tudo está em vigor na alma, mas quando há declínio, o mal e a consequência são sentidos. Nos dias de Davi, houve uma fome de três anos; era por causa de Saul e da sua casa sanguinária, porque ele havia matado os gibeonitas. Tudo isso surgiu do pequeno ato de não se aconselhar com Deus. Quando tudo era guerra, parecia uma coisa conveniente, uma bênção, encontrar paz e reconhecimento daqueles que diziam: “O Senhor, teu Deus”. Parecia a voz crente de Raabe e, com esses viajantes distantes, não havia nada de errado em fazer paz – parecia que eles não eram da raça proibida e amaldiçoada. Mas eles não pediram conselho ao Senhor, e eles eram da raça amaldiçoada, e isso quase causou uma separação entre Josué e o povo. O inimigo é tão astuto que é quase tão ruim ou pior confiar na sabedoria de alguém quanto aos caminhos de Deus, como nas próprias forças de alguém quanto às batalhas de Deus: A paz com Gibeão e a guerra com Ai em confiança própria terminam em confusão e vergonha ou derrota.
The Christian Friend 1:124
O Conselho de Paz
Essa expressão ocorre em Zacarias 6:13 e foi escrita após o retorno dos Judeus da Babilônia. Eles estavam procurando reconstruir o templo, e isso pretendia encorajá-los nesse trabalho. Mas “nenhuma profecia da Escritura é de particular interpretação” e, como em muitas outras porções da Escritura, a glória do Senhor Jesus Cristo é vista como o ponto final, a verdadeira consumação. Então aqui o profeta conforta o coração daqueles que retornaram com uma profecia direta de Cristo.
Cristo, o Objeto central
Cristo é o grande Objeto do amor de Deus, e o Espírito de Deus na Escritura sempre olha para Ele, vendo todas as coisas que dizem respeito a Cristo e à Sua glória futura. E assim aqui: “Ele brotará do Seu lugar, e edificará o templo do SENHOR. Ele mesmo edificará o templo do SENHOR, e Ele levará a glória; assentar-Se-á no Seu trono” (Zc. 6:12‑13). É “o Homem cujo nome é RENOVO” (v. 12) que deve fazer tudo isso. Zorobabel é apenas uma figura. Nada é dito casualmente, mas tudo com o objetivo final da glória de Deus em Cristo. Se isso afeta os destinos do homem, de Israel ou da Igreja, tudo se centraliza em Jesus.
Deve ter sido um grande consolo para os santos da antiguidade ter assim glórias futuras reveladas a eles, pois sempre que o Espírito Santo despertou desejos espirituais em qualquer coração que fosse, esses desejos não podiam ser satisfeitos com libertação ou bênção temporal. Mesmo nos dias de Josias, quando foi celebrada uma tal Páscoa que não houve igual desde os dias de Samuel, ainda assim Jeremias proferia denúncias contra o mal do povo e o Espírito de Deus, ao denunciar o pecado deles, sempre Se referindo à nova aliança, apresentando o Senhor Jesus como o Único em Quem a plenitude da bênção haveria de se centralizar.
O mesmo acontece com a Igreja agora. Temos de fato bênçãos maiores e revelações mais claras, mas ainda há o mal, pois ainda estamos no corpo. Nos tempos dos maiores avivamentos, sempre houve uma mistura que tendia ao mal. Certamente temos muitas razões para agradecer a Deus e nos alegrar, mas nada realmente para satisfazer. Ainda devemos olhar adiante para as bênçãos futuras em Cristo. Nunca, até que Ele apareça, todos os desejos de nosso coração serão satisfeitos; nunca, até que “quando acordar”, cada um estará satisfeito “da Tua semelhança”. Nada menos será suficiente, porque o Espírito de Cristo está em nós. Nossas esperanças seguem em direção ao propósito final de Deus de completa bênção. As glórias terrenais e celestiais se encontram em Jesus e serão manifestadas quando Ele vier. “O conselho de paz” é entre Jeová e o Messias.
Mas onde está Jesus agora? Ele ainda não reina; a paz ainda não está estabelecida sobre a Terra. Mas há um trono sobre o qual Ele Se assenta e, portanto, nos é dada uma revelação clara do “conselho de paz”. Temos essa paz em nossa alma, enquanto aguardamos seu estabelecimento na Terra e o tempo da glória manifestada. Existe um “conselho de paz” que nos pertence, uma paz garantida, paz de fato em meio às aflições presentes, mas ainda assim a paz de Deus. Se não fosse a paz de Deus, não serviria para nada. É verdade que posso ter meu espírito muito perturbado e conhecer as provações do coração, mas ainda assim tenho um título para a perfeita paz em meio a tudo isso – não apenas a paz com Deus, mas a paz em todas as circunstâncias, porque Deus é “por nós” em tudo isso.
Se o homem não estivesse em rebelião contra Deus, não haveria necessidade do “conselho de paz”. Mas o homem se rebelou, e a rebelião contra Deus ainda é a característica do coração não convertido. Tal foi sua rebelião que a paz entre o homem e Deus parecia impossível. Mas agora vemos que não há apenas paz, mas um “conselho de paz” – pensamentos de Deus a respeito da paz, pensamentos que somente Jesus poderia cumprir. “Eis aqui venho, para fazer, ó Deus, a Tua vontade”.
É entre Deus e Jesus
Mas agora “o conselho de paz” é entre Deus e Jesus, em vez do homem, e, portanto, há segurança. Não é meramente paz, mas “o conselho de paz”. A palavra “conselho” implica propósito deliberado. Que solidez deve haver naquela paz sobre a qual Deus tinha um “conselho” e em todos os compromissos em que a mente de Jesus assumiu e cumpriu plenamente! É mais importante ver que “o conselho de paz” é inteiramente entre Deus e Jesus. No momento em que começamos a apoiar nossa paz em qualquer coisa em nós mesmos, nós a perdemos. E é por isso que tantos santos não têm estabelecida a paz. Nada pode durar que não seja construído somente em Deus. Não devemos nos apoiar em nada, nem mesmo na obra do Espírito dentro de nós mesmos, mas no que Cristo fez inteiramente sem nós. Somente em Cristo, Deus encontra aquilo em que Ele pode descansar, e assim é com Seus santos. Quanto mais vemos a extensão e a natureza do mal que está dentro de nós, assim como o que está fora e ao nosso redor, mais descobriremos o que Jesus é – e o que Jesus fez – é o único terreno em que podemos descansar.
Nossa paz está estabelecida no que Ele fez, e “o conselho de paz” é “entre ambos”. Existem dois grandes caracteres no sacrifício de Cristo: um, o do holocausto; outro, o da oferta pelo pecado. Colocamos as mãos n'Ele como o “holocausto”, nos identificando assim com Ele. “Aceito no Amado”, toda a Sua perfeição – todo o seu “cheiro suave” para Deus – é nosso. Mas então, quanto à “oferta pelo pecado”, é justamente o contrário, com a mão imposta sobre a vítima, ela era identificada com meus pecados, carregado com minha culpa. Ele cumpriu completamente o propósito de Deus, tudo o que estava no “conselho de paz”.
Consumado, seguro e eterno
Aqui, então, está o “conselho de paz” que foi proposto entre Deus e Jesus. Aqui, e somente aqui, temos paz. Se nossa alma tem alguma ideia de descanso, além daquilo que é o perfeito descanso de Deus, saímos desse “conselho de paz”. Ele não nos chamou para “o conselho”, que é realmente totalmente independente de nós mesmos – “entre ambos” – realizado, seguro e eterno. Nada pode mudar isso. Deus declarou publicamente Sua aceitação da obra de Cristo, O colocando à Sua própria mão direita. O Espírito Santo é enviado para testemunhar para nós que Jesus agora está no “trono de Deus”, sendo que “com uma só oblação aperfeiçoou para sempre os que são santificados”.
Podemos ter uma grande quantidade de provações devido às circunstâncias ao nosso redor, provações interiores, exercícios de consciência e coisas do tipo, mas ainda assim temos a perfeita certeza do favor de Deus e “se Deus é por nós, quem será contra nós?” Esta é a verdadeira maneira de contar com Sua bondade: “Não estejais inquietos por coisa alguma; antes as vossas petições sejam em tudo conhecidas diante de Deus pela oração e súplica, com ação de graças. E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará os vossos corações e os vossos sentimentos em Cristo Jesus” (Fp 4:6-7). Observe, ele diz: “A paz de Deus”. Mais uma vez, a palavra é: “Não estejais inquietos por coisa alguma”; se uma única coisa não pudesse ser incluída nisso, Deus não seria Deus. Se estivermos exercitados e perturbados em espírito, tentados a andar “inquietos [ansiosos – ARA]”, devemos ir a Deus sobre isso. Nossos desejos podem ser desejos tolos. Ainda assim, devemos ir e colocá-los diante de Deus. Se forem tolos, logo nos envergonharemos deles.
Nossa necessidade
Precisamos desse “conselho de paz”, porque tudo o que somos em nós mesmos é inimizade contra Deus. Não posso seguir esse “conselho” para olhar meu coração por um momento; é “entre ambos”. Acaso o Cristão deve tornar a cruz de Cristo menos completa? Somente nisso sua paz pode descansar.
Quem ou o que nos separará do amor de Deus que está em Cristo Jesus, nosso Senhor? Tribulação ou angústia ou fome ou nudez ou perigo ou espada? Não, essas coisas, como meios para mortificar a carne, apenas ministram à glória de Cristo. A morte nos separará? Ela apenas nos levará à Sua presença. A vida? É por ela que desfrutamos de Seu favor. “Nada nos separará”! Ele está “no trono” como o eterno testemunho da paz realizada, e de lá Ele a ministra para nós.
J. N. Darby (adaptado)
Paz Mundial
No momento da redação deste artigo, os EUA e a Rússia acabaram de assinar outro tratado de desarmamento, buscando reduzir o arsenal de armas nucleares em cada país. Outras nações como o Japão aplaudiram esse movimento e, mais uma vez, há otimismo de que estão sendo feitos progressos em direção à paz mundial. No entanto, tudo isso está sendo feito em um cenário de contínua ansiedade sobre o Irã, a ameaça constante de ataques terroristas em muitas áreas e relações muito tensas entre algumas das grandes potências do mundo. Há vários anos, os EUA usaram seu poderio militar para lidar com Saddam Hussein e o Iraque, mas agora se veem confrontados com um estado de coisas instável e explosivo, para o qual não há uma boa solução. Esses são problemas graves, mas existem muitos outros “pontos problemáticos” menores no mundo, qualquer um dos quais com potencial de surgir e causar sérias dificuldades. Uma coisa que mantém tudo sob controle é a constatação de que a economia mundial de hoje é muito interdependente e que qualquer conflito sério prejudicaria o bem-estar de todas as nações. Além disso, as grandes potências sabem que não haveria vencedores em tal conflito, pois uma guerra total seria travada com armas terríveis de destruição em massa.
Retórica e ideais
Ao longo dos séculos, muitos homens emitiram as chamadas “palavras de sabedoria” sobre o assunto da paz, com eloquência altissonante e ideais elevados. No entanto, Mark Twain, um homem ímpio, fez a seguinte observação com uma visão singular:
“A paz por persuasão tem um som agradável, mas acho que não seremos capazes de realizá-la. Teríamos que domar a raça humana primeiro, e a história parece mostrar que isso não pode ser feito”.
Outro observou apropriadamente que muito poucas pessoas escolhem a guerra. Em vez disso, eles escolhem o egoísmo, e o resultado é guerra. Infelizmente, esta tem sido a história da humanidade, pois desde a queda do homem, ele se caracteriza pelo egoísmo, um egoísmo que entrará em guerra para alcançar seus fins. A Palavra de Deus também reconhece isso, pois lemos em Eclesiastes 3:8: “tempo de guerra e tempo de paz”. Isso de forma alguma implica a aprovação de Deus da guerra, mas é a observação de Salomão quanto ao curso normal dos eventos neste mundo, à medida que os homens procuram fazer sua própria vontade.
As guerras mundiais
À medida que o mundo desenvolve armas mais devastadoras e letais, as tentativas de paz mundial se tornam mais árduas. Quando o terrível massacre da Primeira Guerra Mundial chocou o mundo (as vítimas militares foram mais de trinta milhões, para não falar de mortes de civis), o presidente dos EUA, Woodrow Wilson, liderou a criação da Liga das Nações para tentar resolver disputas entre nações em um maneira pacífica. Quando fracassou e a Segunda Guerra Mundial resultou em baixas ainda maiores (mais de sessenta milhões, incluindo mortes de civis e militares), as Nações Unidas foram formadas.
É preciso admitir que as Nações Unidas parecem ter tido algum sucesso, pois as principais potências do mundo não se envolvem em conflitos armados diretos desde a sua formação. Eles chegaram perigosamente perto, como na crise de mísseis cubanos de 1962, mas evitaram a guerra real. No entanto, é questionável se as Nações Unidas foram o principal impedimento. O conhecimento de que qualquer conflito provavelmente envolveria armas nucleares provavelmente fez mais para impedir as grandes potências de uma guerra total, e a formação de organizações como a OTAN, com seu enorme poder militar, tendeu a impedir qualquer nação de agressão significativa.
Tudo isso, no entanto, não mudou o coração do homem. De tempos em tempos, guerras menores acontecem e, mais recentemente, nações como Iraque, Irã e Coréia do Norte indicaram sua disposição de praticar a “brinkmanship”[1] em suas tentativas de deixar sua marca no mundo. Em alguns dos eventos dos últimos quinze ou vinte anos, fica claro que apenas a intervenção de Deus impediu que um desastre ocorresse.
[1] N. do T.: A técnica ou prática na política externa de manipular uma situação perigosa até os limites da tolerância ou da segurança, a fim de obter vantagem, especialmente por meio da criação de crises diplomáticas.
O Filho de Deus veio ao mundo
Mas quando o Senhor Jesus nasceu neste mundo, os anjos puderam dizer: “Glória a Deus nas alturas, paz na Terra, boa vontade [bom prazer – JND] para com os homens” (Lc 2:14). Deus não teve prazer no homem desde a queda, pois o homem era um pecador, mas agora que Cristo tinha vindo ao mundo, os olhos de Deus podiam, pela primeira vez desde a queda, descansar com prazer em um Homem neste mundo. Mais do que isso, Deus havia proposto em uma eternidade passada que Cristo herdasse todas as coisas como Homem, pois como Filho do Homem, Deus Lhe sujeitou “todas as coisas debaixo dos Seus pés” (Hb 2:8 – TB). Como o homem na primeira criação fracassou totalmente, Deus iria colocar Seu Filho como Cabeça da nova criação.
Mas o homem rejeitou o Filho de Deus e disse: “Não queremos que Este reine sobre nós” (Lc 19:14). O Senhor Jesus Se ofereceu como o Rei legítimo para a nação Judaica e, finalmente, para este mundo, mas a resposta foi: “Não temos rei, senão César” (Jo 19:15). As palavras proclamadas pelos anjos em Seu nascimento são frequentemente cantadas hoje nas chamadas canções de Natal, mas, em vista da guerra contínua do homem, elas têm um tom vazio. Mas será que deve ser negada a Deus e ao homem a paz que Seu Filho veio para dar ao homem? Terá sido tudo em vão?
Paz no céu
Não, pois Deus nunca será frustrado em Seus propósitos. À medida que a rejeição de Cristo se tornava cada vez mais evidente, Ele teve que dizer aos seus discípulos: “Cuidais vós que vim trazer paz à Terra? Não, vos digo, mas, antes dissensão” (Lc 12:51). Pouco antes de ir para a cruz, quando o Senhor Jesus entrou em Jerusalém montado num jumentinho, a multidão de Seus seguidores expressou louvor, sem dúvida sob a condução do Espírito de Deus, dizendo: “Paz no céu, e glória nas alturas” (Lc 19:38). Este seria o resultado imediato de Sua obra na cruz, pois, para que houvesse paz na Terra, a questão do pecado precisava ser resolvida primeiro. Graças a Deus, como resultado dessa obra, “A misericórdia e a verdade se encontraram; a justiça e a paz se beijaram” (Sl 85:10). A paz foi feita no céu, pois as justas reivindicações de um Deus santo foram totalmente satisfeitas.
Pregando a paz
Como resultado dessa propiciação feita a Deus, Ele enviou Seus servos “anunciando a paz por Jesus Cristo (Este é o Senhor de todos)” (At 10:36). Ele “havendo por Ele feito a paz pelo sangue da Sua cruz” para que “por meio d’Ele reconciliasse Consigo mesmo todas as coisas” (Cl 1:20), mas, enquanto isso, Deus está pregando paz aos que virão, que se reconhecem como pecadores e aceitam o Seu Filho como Salvador. Com o bendito resultado de haver “paz no céu”, todos os que creem podem ter “paz com Deus por nosso Senhor Jesus Cristo” (Rm 5:1). Aqueles que pertencem a Cristo neste dia de Sua graça herdarão as bênçãos celestiais e passarão a eternidade com Ele lá.
Paz mundial
Mas e a paz mundial? O mundo continuará em conflito e derramamento de sangue? Sim, até que a iniquidade esteja totalmente madura e Deus intervenha. Lemos em Isaías 26:9: “Havendo os Teus juízos na Terra, os moradores do mundo aprendem justiça”. Deus decretou, a respeito de Seu Filho, que uma vez foi rejeitado como Rei: “Eu, porém, ungi o Meu Rei sobre o Meu santo monte Sião” (Sl 2:6). Quando chegar a hora, o Senhor Jesus tratará com este mundo em juízo, um tempo frequentemente referido na Escritura como “o dia do Senhor”. Será um dia de solene julgamento, pois Deus trata com aqueles que se rebelam contra Seu Filho. Mas então, como resultado desse julgamento, “os habitantes do mundo aprenderão a justiça” (TB) e “E o efeito da justiça será paz, e a operação da justiça, repouso e segurança, para sempre” (Is 32:17).
Esta é a única solução para os problemas deste mundo – problemas que aumentam ano após ano e desafiam a capacidade do homem de resolver. Mas quando Cristo tiver Seu lugar de direito, Ele trará uma paz duradoura que ninguém será capaz de perturbar.
Para nós, que agora vivemos no tempo de Sua rejeição, podemos ter paz em relação aos nossos pecados e paz em relação a todas as nossas circunstâncias, enquanto esperamos que o Príncipe da paz traga a paz na Terra que é o resultado de Sua obra na cruz.
W. J. Prost
A Fonte da Paz
Você pergunta, meu amigo, como é isso,
A cada dia que passa,
Que eu possa ver tão calmamente
As coisas preciosas da Terra passarem?
Meu tesouro mais permanente
Está comigo, embora invisível,
E Ele nunca me deixará.
Aquele em Quem me apoio.
O mundo já sorriu para mim,
Mas rapidamente mudou seu tom,
E eu temia muito percorrer
Pelos ásperos caminhos da vida sozinho!
Mas logo meu melhor Amigo me procurou.
Um guia celestial, invisível
E forte, firme e fiel
É o braço no qual me apoio!
Embora as riquezas, todas incertas,
Embora a saúde, com a juventude, tenha desaparecido;
Embora pobre, fraco e idoso
Eu tinha que continuar minha jornada;
Embora todos os entes queridos da Terra tenham desaparecido
Do cenário ainda variável da vida
Mas Jesus vive para sempre!
Aquele em Quem me apoio.
E desde que Sua graça me levou
A me abrigar ao Seu lado,
Já que Ele assumiu
Prover para todo o meu caminho,
Sua própria Palavra clara proclama
Quão imutável é meu Amigo!
(Pois “a quem Cristo Jesus ama,
Ele ama até o fim.")
O que impedirá meu cântico?
Nem a vida, nem a morte, nem o poder;
Nada além do pecado em mim
Que O entristece vez após vez;
O próprio pecado! Ele o subjugou,
E logo todo o conflito terminará,
Somente seu louvor encherá meu cântico
Na costa abençoada de Canaã!
M. A. T.
“Bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus”
Mateus 5:9
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