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Revelação Progressiva (Junho de 2025)

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Revista mensal publicada pela Bible Truth Publishers

ÍNDICE

 

          J. N. Darby (adaptado)

          W. H. G. Thomas (adaptado)

          W. J. Prost

          E. J. Thomas

          H. E. Hayhoe (adaptado)

          W. J. Prost

          E. Datcu

          W. Kelly

          J. N. Darby (adaptado)

          J. N. Darby (adaptado)

          B. Anstey

          J. L. McLaughlin

          W. J. Hocking

          W. Scott

Revelação Progressiva

 

Não havia revelação antes da queda – não havia necessidade dela, nem conhecimento do bem e do mal. Pela queda, o homem adquiriu o conhecimento do bem e do mal, e uma revelação da semente da mulher foi acrescentada no julgamento da serpente. A posição de Noé era diferente. Já havia o conhecimento do bem e do mal e, como havia revelações e juízo executado sobre o mal como consequência de o mal horrível e o mal monstruoso já terem sido experimentados, revelações e juízo executado sobre o mal. O que a lei dada por meio de Moisés exige é que os relacionamentos em que nós estamos de acordo com Deus sejam mantidos de acordo com o teor deles. E gradualmente alguns vislumbres de revelação mais clara surgiram, mas os conselhos de Deus em Cristo, a vida eterna e a incorruptibilidade foram reservados para revelação, quando a justiça, o fundamento da glória e o cumprimento dos conselhos foram consumados na cruz pela vinda do Segundo Homem. O primeiro era o homem responsável; o Segundo, associado a conselhos e promessas. A cruz tornou todos justos. “Por isso também eu, tendo ouvido a fé que há entre vós no Senhor Jesus e o vosso amor para com todos os santos, não cesso de dar graças por vós, fazendo menção de vós nas minhas orações, para que o Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da glória, vos dê um espírito de sabedoria e de revelação no pleno conhecimento d’Ele, sendo iluminados os olhos do vosso coração, para saberdes vós qual é a esperança da Sua vocação, qual a riqueza da glória da Sua herança nos santos” (Ef 1:15-18 – ARA).

 

J. N. Darby (adaptado)

Revelação Progressiva 

 Dispensações 

A Bíblia consiste em duas partes, Velho Testamento e Novo Testamento, e neles é possível ver o progresso geral da revelação da verdade por Deus. O primeiro indica a Lei, e o segundo, a Graça. Um trata de regras adequadas à infância moral; o outro, de princípios aplicáveis à maturidade moral.

 

Mas, dentro dessas duas divisões principais, há ainda outros exemplos mais completos de progresso. Deus revelou Sua vontade ao homem em diversas ocasiões e de muitas maneiras (Hb 1:1), e é comum referir-se a elas como dispensações, significando certos períodos de tempo em que Deus oferece bênçãos ao homem sob certas condições. Embora em geral falemos das dispensações Judaica e Cristã, podemos e devemos entrar em mais detalhes e observar, tanto no Velho Testamento quanto no Novo, os diferentes, porém conectados, estágios da revelação de Deus ao homem. Alguns estudiosos sugerem sete dessas dispensações: a Edênica (inocência); a Antediluviana (consciência); a Governamental (governo humano); a Patriarcal (promessa); a Mosaica (lei); a Cristã (graça de Deus) e a Milenar (governo justo). Mesmo estas são passíveis de uma divisão mais completa, pois a dispensação Mosaica pode ser distinguida como a Teocracia (do período do Egito até Samuel), a Monarquia (de Saul até o cativeiro) e o Retorno (desde a restauração até Malaquias). A dispensação Cristã pode ser dividida de forma semelhante nos períodos antes e depois do Pentecostes.

 

Nessas várias divisões, muitas vezes é possível distinguir a manifestação de Deus de Si mesmo e de Sua verdade em diferentes estágios. Havia uma manifestação gradualmente crescente do caráter e da vontade divinos em períodos sucessivos, à medida que o povo era considerado pronto para recebê-la. Isso significa que, embora a revelação em cada estágio ou dispensação fosse perfeita para o seu próprio tempo, ela não era necessariamente adequada para um estágio seguinte.

 

Seja qual for a divisão dos períodos, é evidente que uma distinção desse tipo precisa ser feita. Assim, quando Cristo disse: “Ainda tenho muito que vos dizer, mas vós não o podeis suportar agora” (Jo 16:12), Ele estava indicando o que agora estou enfatizando, que a verdade era progressiva no sentido de que não era toda entregue de uma só vez, pois, o Senhor prosseguiu dizendo: “Mas, quando vier aquele Espírito de verdade, Ele vos guiará em toda a verdade” (Jo 16:13).

 

Entrega gradual das revelações de Deus ao homem 

Outras provas do mesmo desdobramento gradual da revelação completa de Deus ao homem podem ser vistas nestes dois exemplos. No Sermão da Montanha, Cristo primeiro declarou a verdade do Velho Testamento e, em seguida, a complementou e aprofundou acrescentando: “Eu, porém, vos digo” (Mt 5:17-48).

 

Em Marcos 16:17-20, são mencionados cinco sinais milagrosos que “seguirão aos que crerem”. Eles se referem àquele período de transição quando o evangelho estava sendo oferecido aos Judeus para que se arrependessem e aceitassem o Cristo que eles haviam crucificado (At 3:12-26), até que o rejeitaram (At 7), e o general romano Tito saqueou Jerusalém, e o evangelho da graça de Deus foi então enviado às nações.

 

Sem repúdio às revelações passadas

Mas, em toda essa progressividade da revelação, é necessário e importante lembrar que ela não envolvia qualquer repúdio ao que havia sido revelado antes. Como a revogação de uma lei que permanece em vigor até o momento da revogação, o ensino para cada estágio era válido e obrigatório até ser complementado e, assim, suplantado por uma instrução nova e mais completa. Mas a revogação de uma lei nunca significa repúdio, apenas uma “anulação” em razão de uma provisão mais completa (Hb 7:18).

 

Uma prova marcante disso é demonstrada no fato de haver traços na Escritura de porções posteriores que endossam estágios anteriores. Josué confirma a lei de Moisés (Js 1:8). O primeiro Salmo enfatiza o valor da lei (v. 2). Atos remete ao terceiro Evangelho. O Velho Testamento é frequentemente mencionado ou citado no Novo. Essas referências muitas vezes fornecem mais luz para o entendimento da verdade até que a Palavra de Deus estivesse completa. Toda essa atestação de uma parte da Escritura por outra é uma prova imediata de sua unidade e de sua progressividade. Então, no Novo Testamento, na “dispensação da plenitude dos tempos”, temos a revelação plena e completa dos propósitos e conselhos de Deus.

 

A Trindade – um exemplo de revelação progressiva

Dos muitos exemplos dessa progressividade da revelação, dois serão apresentados. O primeiro é a doutrina de Deus. No Velho Testamento, a ênfase é devidamente colocada na unidade da Divindade em oposição aos “muitos deuses” do paganismo. Mas no Novo Testamento há a revelação adicional da Trindade, que não é contraditória à unidade, mas é baseada nela e desenvolvida a partir dela. A doutrina Cristã da Trindade nunca teve a menor relação com o politeísmo, mas surgiu do monoteísmo Judaico. É significativo que, apesar de todas as objeções Judaicas ao Cristianismo no tempo de Paulo, não seja encontrado nenhum traço de oposição à sua doutrina acerca de uma distinção entre a divindade do Pai e a divindade do Filho, que era o germe da doutrina plenamente desenvolvida da Trindade.

 

A explicação para isso é que os crentes Judeus, tendo sido conduzidos pela experiência à aceitação de Cristo como um Redentor divino (e, portanto, a uma distinção na Divindade), encontraram em seu Velho Testamento indícios antecipatórios da Trindade. Eles perceberam que a unidade da Divindade não era simples, mas composta, como as palavras hebraicas para “um” claramente indicam (Dt 6:4; Êx 26:6-11; Ez 37:16-19 – ARC).

 

Moralidade – outro exemplo 

Outra ilustração da progressividade da revelação é vista na diferença entre a moralidade do Velho e do Novo Testamento. Esta doutrina do progresso da revelação nos ajuda a distinguir entre a vontade temporária e permissiva de Deus e Seu padrão absoluto e inflexível. A primeira é vista no Velho Testamento e o segundo no Novo Testamento; e, ao estudarmos o Velho Testamento, podemos ver nele claras indicações de seu caráter temporário. Assim, embora permitisse a escravidão, restrições foram impostas, e a crueldade foi proibida (Êx 21:16-27). Muitas das dificuldades do Velho Testamento podem ser resolvidas, ou pelo menos amenizadas, ao se considerar esse caráter puramente temporário e meramente permissivo da moralidade da época. Cristo se referiu a isso quando distinguiu entre o mandamento divino original e essencial sobre o casamento e a tolerância mosaica ao divórcio (Mt 19:8).

 

Princípio do progresso de grande serviço prático 

Este princípio do progresso na revelação de Deus é de grande utilidade prática para responder a certas objeções atuais ao Velho Testamento. Há aqueles que o rejeitam por causa de suas supostas crueldades, como o massacre dos cananeus, ou por causa de certas manifestações na vida e na prática individual não consistentes com os princípios do Novo Testamento. Ora, ainda que não devamos nos guiar hoje por muitos dos exemplos do Velho Testamento, é igualmente verdade que, na medida em que o que eles disseram e fizeram foi devido a uma revelação de Deus, essa revelação foi perfeita para aquela época, independentemente de qualquer verdade adicional que tenha surgido depois para novas necessidades. Dizemos na medida em que o que eles disseram e fizeram foi de Deus, porque nem mesmo no Velho Testamento devemos entender que Deus necessariamente aprovava tudo o que Seus servos diziam e faziam, mesmo quando pensavam estar prestando serviço a Ele. Mas, se este fosse o lugar para fazê-lo, o caso da matança dos cananeus, já mencionado, poderia ser justificado sem muita dificuldade, à luz do juízo divino sobre as terríveis profundezas do pecado a que eles haviam descido (Gn 15:16).

 

Desenvolvimento e deterioração graduais 

Há outro ponto que também tende a ser ignorado, a saber, que paralelamente ao desenvolvimento gradual da revelação de Deus, houve uma deterioração igualmente gradual de Israel, de modo que, em sua degeneração, eles falharam em perceber e responder à revelação cada vez maior de Deus. Alguém bem apontou que “não há retrocessos na revelação feita a Israel, mas há muitos retrocessos na história religiosa de Israel”. É a falha em reconhecer essa distinção entre o divino e o humano que tem levado as pessoas a considerarem a moralidade do Velho Testamento como baixa e indigna de Deus, quando o tempo todo a explicação está na falha do povo em aceitar a crescente revelação da verdade de Deus.

 

E assim Deus Se revelou. Ele ensinou os homens conforme eles eram capazes de suportar. Ele os guiou passo a passo desde o alvorecer da revelação até a plenitude e o esplendor de Sua manifestação “nestes últimos dias pelo Filho” (Hb 1:1). O conhecimento deste princípio de progresso na revelação de Deus sobre Si mesmo nos permitirá evitar um duplo erro: nos impedirá, por um lado, de subestimar o Velho Testamento em razão da nossa luz mais plena do Novo Testamento e, por outro, nos impedirá de usar o Velho Testamento, em qualquer uma de suas etapas, sem a orientação da revelação completa em Cristo. Com isso seremos capazes de obter a perspectiva espiritual correta para estudar o Velho Testamento e receber dele a riqueza de instrução espiritual que ele foi concebido para transmitir em todas as eras (Rm 15:4).

 

Ensino temporário e verdade permanente 

Temos, portanto, que distinguir cuidadosamente entre o que pode ser chamado de ensino temporário e verdade permanente no Velho Testamento – isto é, entre o que está escrito para nós e por causa de nós. Toda a Escritura foi escrita para o nosso ensino, mas nem tudo foi escrito diretamente para nós. Grande parte não foi dirigida aos Cristãos, mas aos Judeus, e foi primariamente, e muitas vezes exclusivamente, para eles; é útil para nós hoje apenas por meio de aplicação. Essa distinção resolverá muitas dificuldades, pois o progresso da doutrina é uma das chaves mestras da Bíblia.

 

W. H. G. Thomas (adaptado)

O Que a Revelação Progressiva Não É

 

Nesta edição de O Cristão, estamos examinando o tema da revelação progressiva e como Deus gradualmente concedeu mais luz ao homem em Seus caminhos com ele. No entanto, é importante entender o que a revelação progressiva não é. Ao longo dos séculos da existência do homem neste mundo, e particularmente durante a dispensação Cristã, tanto homens como mulheres tentaram acrescentar algo à revelação divina de forma errônea. Em alguns casos, isso foi feito sob a égide do Cristianismo professo, enquanto outros o fizeram sob o manto de falsas religiões. Muito dano foi causado quando as pessoas aceitaram esses falsos escritos como se fossem inspirados, e, para usar uma frase bíblica, “muitos” seguiram “as suas dissoluções” (2 Pe 2:2).

 

Os livros apócrifos foram escritos entre 200 a.C. e 100 d.C., e posteriormente vários dos chamados “outros evangelhos” também foram escritos, como o evangelho de Filipe, o evangelho de Tomé, o evangelho de Pedro e vários outros. A maioria deles acabou sendo rejeitada como não sendo parte do cânone da Escritura. Então, durante o século VII d.C., o alcorão foi escrito por Maomé, novamente alegando ter autoridade divina, a ponto de fundar uma nova religião – o islamismo.

 

Mais recentemente, durante o século XIX, várias pessoas afirmaram ter tido uma visão do Senhor e foram supostamente levadas a escrever coisas que alegavam estar “no mesmo nível” da inspirada Palavra de Deus. Entre eles destacam-se os escritos de Ellen White, que fundou o adventismo do sétimo dia, e os escritos de Joseph Smith, que fundou o mormonismo. Ao longo de sua história, a igreja católica romana reivindicou o direito de fazer acréscimos à Palavra de Deus. Um exemplo blasfemo é a afirmação de que a virgem Maria ascendeu ao céu, em corpo e alma, no momento de sua morte. Isso foi chamado de “assunção” de Maria e foi adotado pela crença católica romana em 1950 pelo falecido Papa Pio XII.

 

Paulo completou a Palavra 

Ao avaliarmos as alegações desses autores e o que eles escreveram, devemos nos lembrar de várias coisas. Em primeiro lugar, lemos em Colossenses 1:25: “eu estou feito ministro segundo a dispensação de Deus, que me foi concedida para convosco, para cumprir [completar – JND] a Palavra de Deus”. Paulo está falando aqui de si mesmo e da revelação que Deus deu a ele da verdade da Igreja. Tudo é demonstrado na revelação dessa verdade; Paulo completou a Palavra de Deus. É verdade que foram acrescentados detalhes por aquilo que foi escrito posteriormente por João, mas nenhuma nova verdade foi revelada. Qualquer coisa, que venha depois de Paulo, afirmando ser uma nova verdade não pode ser inspirada.

 

Em segundo lugar, novas revelações dadas por Deus nunca repudiam ou ensinam algo contrário ao que foi dado antes. Em vez disso, as novas revelações desenvolvem as coisas que foram dadas antes e as expandem. Por exemplo, o alcorão afirma ser uma nova revelação, mas rejeita a Divindade de Cristo e, em muitos casos, ensina o oposto do que Ele disse.

 

Em resumo, podemos confiar no que a Palavra de Deus diz, pois ela “se interliga” de uma forma que nenhum livro humano jamais poderia. Há indícios da verdade do Novo Testamento no Velho Testamento, sem a real revelação dessa verdade, e os escritores do Novo Testamento constantemente se referem ao Velho Testamento. Tudo está em perfeita unidade, ao mesmo tempo em que é progressivo. Por essa razão, uma advertência solene é dada no final do livro de Apocalipse, a respeito daqueles que acrescentarem ou tirarem da Palavra inspirada (Ap 22:18-19). “Para sempre, ó SENHOR, a Tua Palavra permanece no céu” (Sl 119:89).

 

W. J. Prost

A Luz do Amanhecer da Profecia

 

Entre as várias predições proféticas do Velho Testamento, a introdução, por meio de uma crise de misericórdia e julgamento combinados, do reinado universal de um rei nomeado por Jeová é a grande característica de todas elas. Mas há um mistério ainda oculto por trás de tudo isso. Esse rei terá uma Noiva celestial, bem como súditos terrenais. Isso o Velho Testamento não revela. Para esse pensamento maravilhoso, devemos prosseguir para o Novo Testamento. A Igreja – o corpo dos santos do presente intervalo, entre a partida e o retorno do Senhor Jesus – não foi objeto das previsões do Velho Testamento. Os santos daquela dispensação passada se assentarão nos lugares celestiais do futuro reino, na presença do Rei, como Seus amigos, os “amigos” do Noivo, e se regozijarão em vê-Lo tomar Sua Noiva, mas não farão parte da Noiva. Os santos do período futuro serão governados pelo Rei, mas não reinarão com Ele, como a Noiva irá reinar.

 

Há esferas de glória; há gradações no reino. As “coisas celestiais” foram revelações posteriores. As coisas terrenais serão a porção de Israel e das nações. As coisas celestiais, assim como a realeza sobre as coisas terrenais, são a porção do Noivo, da Noiva e de seus “amigos”. “Para a administração da plenitude dos tempos, encabeçar todas as coisas em o Cristo[1], as coisas nos céus e as coisas sobre a Terra” (Ef 1:10 – JND).

[1] N. do T.: “O Cristo” é uma expressão nos escritos de Paulo que se refere à união mística de Cristo, a Cabeça, e os membros do Seu corpo, pela habitação do Espírito Santo (1 Co 12:12-13 – JND).

 

O dia sucede ao amanhecer. A luz do amanhecer se transforma no esplendor do meio-dia. Direcionamos a atenção para a “completude” da Palavra de Deus que foi concedida aos apóstolos, especialmente a Paulo. E concluímos estes rápidos esboços, de apenas algumas características principais da revelação progressiva de Deus, nas palavras do apóstolo altamente favorecido: “Por isso, quando ledes, podeis perceber a minha compreensão do mistério de Cristo [de o Cristo – JND], o qual noutros séculos não foi manifestado aos filhos dos homens, como agora tem sido revelado pelo Espírito aos Seus santos apóstolos e profetas; a saber, que os gentios são coerdeiros, e de um mesmo corpo, e participantes da promessa em Cristo pelo evangelho; do qual fui feito ministro, pelo dom da graça de Deus, que me foi dado segundo a operação do Seu poder. A mim, o mínimo de todos os santos, me foi dada esta graça de anunciar entre os gentios, por meio do evangelho, as riquezas incompreensíveis de Cristo [de o Cristo – JND], e demonstrar a todos qual seja a dispensação do mistério, que desde os séculos esteve oculto em Deus, que tudo criou por meio de Jesus Cristo; para que agora, pela Igreja, a multiforme sabedoria de Deus seja conhecida dos principados e potestades nos céus” (Ef 3:4-10).

 

“Ora, Àquele que é poderoso para fazer tudo muito mais abundantemente além daquilo que pedimos ou pensamos, segundo o poder que em nós opera, a Esse glória na Igreja, por Jesus Cristo, em todas as gerações, para todo o sempre. Amém” (Ef 3:20-21).


E. J. Thomas

Seis Preciosas Revelações de Cristo em Glória 


1. O crente justificado de todas as coisas 

A primeira vez que ouvimos a voz inspirada de Paulo pregando é em Atos 13. No versículo 39, Paulo foi além do que havia sido pregado até então e comunicou a preciosa verdade de que “de todas as coisas... n’Ele, todo aquele que crê é justificado” (JND). Somente Paulo ensina que o crente está “em Cristo” (Rm 8:1). Pedro nos fala do perdão dos pecados e da glória vindoura, mas Paulo nos diz que Cristo é a nossa vida (Cl 3:4), que Cristo é a nossa justiça (1 Co 1:30), que fomos ressuscitados “com Cristo” (Cl 3:1) e que, mesmo agora, “Deus... juntamente com Ele... nos fez assentar nos lugares celestiais em Cristo Jesus” (Ef 2:6). Num dia futuro, “também com Ele sejamos glorificados” (Rm 8:17).

 

2. A verdade do um só corpo 

Não houve revelação da Igreja como o corpo de Cristo no Velho Testamento. A Igreja como o corpo de Cristo foi formada no Pentecostes, quando por um só Espírito todos os crentes foram batizados em um só corpo (veja 1 Coríntios 12:12-13). A palavra “Igreja” significa simplesmente “chamados para fora”, e, nesse sentido, todos os crentes em todas as dispensações foram “chamados para fora” (At 7:38), mas quando a Igreja é vista como o corpo de Cristo, devemos sempre lembrar que ela foi formada como tal no Pentecostes. Paulo recebeu de Cristo em glória essa maravilhosa revelação (veja Efésios 3:1-6). Os outros apóstolos, sem dúvida, a aprenderam de Paulo.

 

3. Significado especial da Ceia do Senhor 

Antes da revelação de Paulo, eles estavam partindo o pão, celebrando assim a morte do Senhor (At 2:42). Agora Paulo lhes confere a bem-aventurança adicional da verdade de que o único pão é um precioso símbolo de nossa unidade com Cristo. Ele tinha recebido “do Senhor” essa verdade – isto é, por revelação (veja 1 Coríntios 10:15-17 e 1 Coríntios 11:23-26). O primeiro dia da semana (o dia do Senhor) é o dia do Cristão, pois é o sinal da nova criação, e nós somos parte dessa nova criação (2 Co 5:17).

 

Todos os crentes são agora membros do corpo de Cristo, e antes de o pão ser partido, ele simboliza essa preciosa e gloriosa verdade, de modo que nós (se tivermos entendimento) não partimos o pão apenas como pecadores perdoados, ou mesmo como santos, mas como membros do corpo de Cristo. Depois que o pão é partido, ele fala ao nosso coração de Sua morte. Oh, como toca nosso coração ao pensarmos no Senhor da glória na morte por nós!

 

4. A vinda de Cristo para Sua Noiva 

A vinda de Cristo para Sua Noiva, em seu caráter Cristão próprio nos é dada apenas na revelação de Paulo. Toda vez que a vinda do Senhor é mencionada no Velho Testamento, trata-se de Sua vinda em juízo e para o estabelecimento do reino na Terra.

 

A primeira indicação de Sua vinda em seu caráter Cristão próprio (o arrebatamento) está em João 14:1-3. Observe que não há nada dito ali sobre guerra, pestilência ou fome, pois essas coisas precedem a vinda do Senhor à Terra para estabelecer o reino, mas não são mencionadas como precedendo Sua vinda para buscar Seus santos celestiais.

 

Assim, Paulo nos diz em 1 Tessalonicenses 4:13-18 que ele recebeu do Senhor essa preciosa verdade. Esses versículos nos dão a presente esperança do Cristão. Aguardamos o Filho de Deus vindo do céu e buscamos, por meio da pregação do evangelho, salvar os pecadores do juízo que se seguirá à Sua vinda, para buscar Seus santos celestiais, e do castigo eterno que aguarda todos os que não creram no evangelho.

 

5. Ausente do corpo... presente com o Senhor 

Antes dessa preciosa revelação dada por Paulo, não havia luz na Escritura quanto ao intervalo entre a morte e a ressurreição do corpo (ver 2 Timóteo 1:9-10). Aqui Paulo nos diz que a vida e a incorruptibilidade (JND) vieram à luz pelo evangelho.

 

O ladrão que morreu na cruz foi o primeiro crente a receber a revelação dessa preciosa verdade, de que partir desta vida é estar “com Cristo”. Essa foi uma revelação individual somente para ele, mas Paulo agora nos comunica essa gloriosa verdade em Filipenses 1:23 e 2 Coríntios 5:8 para todos os santos. Em Lucas 16, a cortina é levantada um pouco, mas “o seio de Abraão” é a figura usada, e não nos é dito onde Abraão estava.

 

6. Ressurreição em corpo de glória 

Somente Paulo nos dá a preciosa revelação de que, na ressurreição, teremos um corpo de glória, como Cristo (veja Filipenses 3:21 e 1 Coríntios 15:51-54). Aqueles que partiram para estar com Cristo aguardam, em uma sala de espera mais iluminada do que nós aqui na Terra, pela gloriosa manhã da ressurreição, quando “os que morreram em Cristo ressuscitarão primeiro. Depois nós, os que ficarmos vivos, seremos arrebatados juntamente com eles nas nuvens, a encontrar o Senhor nos ares” (1 Ts 4:16-17). Então seremos escoltados pelo próprio Senhor até a casa do Pai e ali apresentados com estas palavras: “Eis-Me aqui a Mim, e aos filhos que Deus Me deu” (Hb 2:13).

 

H. E. Hayhoe (adaptado)

Abraão e Moisés

 

É apropriado considerarmos Abraão e Moisés juntos, visto que ambos estão intimamente ligados à nação de Israel. Em ambos os casos, podemos considerar a revelação divina a eles como indivíduos, e também em um sentido mais amplo, por se relacionarem com os propósitos de Deus para com Israel.

 

Abraão e sua família se destacam claramente como o fundamento da nação de Israel, mas dentro da família há progresso na revelação de Deus. Em Abraão, vemos o chamado, em Isaque, a filiação, em Jacó, a disciplina e em José, a glória. Em cada membro da família, vemos uma figura da verdade do Novo Testamento. O espaço não nos permite aprofundar em todos os principais membros da família abraâmica; devemos nos contentar em considerar Abraão.

 

Como o primeiro membro da família, Abraão demonstra uma fé extraordinária, pois Deus o chamou, quando ainda idólatra (veja Josué 24), para deixar sua casa em Ur dos Caldeus, “sem saber para onde ia”. O que caracterizou Abraão no início, e de fato durante toda a sua vida, foi sua fé inabalável em Deus. É verdade que ele ocasionalmente falhou nisso, mas é notável que não há repreensão direta de Deus por essas falhas. A comunhão com o Senhor resolveu a questão em cada caso. Ele desfrutava de um relacionamento com Deus que poucos tinham no Velho Testamento e foi chamado de “amigo de Deus” (Tg 2:23). É verdade que ele se tornou um homem rico, mas nunca possuiu nenhuma terra, exceto um lugar de sepultura e, embora interagisse ocasionalmente com outros na terra de Canaã, viveu uma vida separada em comunhão com Deus. Ele abraçou plenamente as promessas que Deus lhe fez e se contentava em viver uma vida simples neste mundo, contando com Deus para bênçãos futuras.

 

Promessas a Abraão 

Essas bênçãos futuras incluíam não apenas Israel, mas também os gentios, pois Deus lhe disse: “Em ti serão benditas todas as famílias da Terra” (Gn 12:3). Isso nos leva à revelação do Novo Testamento, pois, quando a questão de guardar a lei se tornou um problema entre as assembleias da Galácia, Paulo escreveu a elas, usando Abraão como exemplo de fé sem obras. Dessa forma, mesmo aqueles que são salvos nesta dispensação da graça são “filhos de Abraão”, e “os da fé são abençoados com o crente Abraão” (Gl 3:7, 9 – ARA). É verdade que, depois de Abraão, a lei foi introduzida como um teste para o homem, mas sempre foi o propósito de Deus abençoar o homem por meio da graça que era apropriada pela fé. Vemos isso demonstrado primeiro em Abraão, e seria abraçado por outros em anos futuros.

 

Mais do que isso, Cristo foi introduzido como a Fonte dessas bênçãos, pois Deus disse a Abraão: “E em tua Descendência serão benditas todas as nações da Terra” (Gn 22:18). Isso é explicado em Gálatas 3:16: “Não diz: E às descendências, como falando de muitas, mas como de uma só: E à tua Descendência, que é Cristo” É digno de nota que essa promessa só foi feita a Abraão depois da oferta (em figura) de Isaque, uma figura de Cristo na morte e ressurreição.

 

Outras revelações a Moisés 

Quando chegamos a Moisés, vemos mais revelações do caminho de Deus com o homem e, novamente, particularmente em conexão com Israel. Como homem, Moisés também foi notável, pois conheceu a Deus face a face. Davi registra que o Senhor “fez conhecidos os Seus caminhos a Moisés, e os Seus feitos aos filhos de Israel” (Sl 103:7). Ele foi o primeiro dos escritores inspirados da Bíblia e, por inspiração, diz de si mesmo: “E nunca mais se levantou em Israel profeta algum como Moisés, a quem o SENHOR conhecera face a face” (Dt 34:10). Ele é o primeiro na Escritura a ser especificamente designado como “homem de Deus”.

 

A história de Moisés foi incomum, pois, ainda bebê, ele começou sua vida sob a condenação da morte, mas pela providência de Deus acabou sendo criado na corte de Faraó como filho adotivo da filha de Faraó. No entanto, ele desistiu de tudo isso, apenas para acabar cuidando de ovelhas por 40 anos – uma experiência verdadeiramente humilhante. Mas tudo foi ordenado por Deus, de modo que, quando chamado para liderar o povo de Deus para fora do Egito, ele aprendeu a confiar no Senhor e não em si mesmo. Apesar de sua falha no final de sua vida, ele nunca vacilou em seu amor pelo Senhor e também em seu amor pelo povo de Deus. Nisso, Moisés se destaca como talvez nenhuma outra figura do Velho Testamento.

 

Deus revelado como “EU SOU” 

Em um sentido mais amplo, foi a Moisés que Deus Se revelou pela primeira vez como “EU SOU” – o Deus que guarda a aliança. Foi sob Moisés que Israel se tornou uma nação soberana, e sob ele receberam a lei – uma lei dada diretamente por Deus. Embora nós, neste tempo da graça de Deus, não estejamos mais sob a lei, a lei de Moisés nos dá muitos princípios importantes relacionados aos caminhos de Deus com o homem nesta Terra e como uma nação deve ser governada. “E que nação há tão grande, que tenha estatutos e juízos tão justos como toda esta lei que hoje ponho perante vós?” (Dt 4:8). De Moisés em diante, no que diz respeito ao governo e ao relacionamento de Deus com a Terra, Seu nome – aquele pelo qual Ele deve ser continuamente lembrado – é o Deus de Abraão, de Isaque e de Jacó. Isso deu, e continua a dar, à nação de Israel um lugar importante e peculiar, pois Israel será para sempre o centro e a chave para os propósitos de Deus na Terra. É nessa época que nos é dito que Deus havia estabelecido outras nações em seus determinados lugares tendo Israel como referência. “Quando o Altíssimo distribuía as heranças às nações, quando dividia os filhos de Adão uns dos outros, estabeleceu os termos dos povos, conforme o número dos filhos de Israel” (Dt 32:8).

 

Foi também por meio de Moisés que Deus começou a habitar coletivamente entre Seu povo, primeiro no tabernáculo, depois no templo sob Salomão. Foi por meio de Moisés que os sacrifícios específicos foram instituídos e, embora certamente não fossem completamente compreendidos por Israel na época, eles prefiguram em detalhes os vários aspectos da obra de Cristo.

 

Em suma, vemos em Moisés que Israel, como povo escolhido de Deus, é colocado em seu lugar e é visto também como um povo redimido. É significativo que a primeira ocasião de cântico registrado na Bíblia tenha sido após a libertação de Israel do exército de Faraó no Mar Vermelho. Verdadeiramente somos levados a dizer de Deus, como o apóstolo Paulo: “Quão insondáveis são os Seus juízos, e quão inescrutáveis os Seus caminhos!” (Rm 11:33).

 

W. J. Prost

Os Progressivos Caminhos de Deus na Vida de Abraão 

 

Abraão marca uma fase importante da revelação progressiva de Deus, pois com ele começa a dispensação da promessa. Mas meu propósito neste artigo é apresentar, na escala menor da vida pessoal de Abraão, a maneira progressiva pela qual Deus Se agradou em Se revelar a este santo tão abençoado. Desse ponto de vista, sua vida está repleta de preciosas instruções práticas para a vida pessoal de cada um de nós.

 

O Todo-Poderoso 

Abraão foi chamado para fora de sua terra e parentela para ir para um lugar completamente desconhecido para ele e onde não lhe foi dada “herança, nem ainda o espaço de um pé” (At 7:5). Ele foi chamado para permanecer naquela terra (no que ele falhou a princípio, descendo ao Egito por um tempo) e para resistir às diferentes tentações relacionadas à sua posição de estrangeiro e peregrino. Para isso, Deus Se revelou a ele como o Todo-Poderoso, o Possuidor do céu e da Terra, o que o tornou consciente de sua alta posição e das bênçãos com as quais ele foi enriquecido. Tendo o Altíssimo como seu Deus, o Possuidor de tudo no céu e na Terra, tudo o que o mundo, na pessoa do rei de Sodoma, pudesse oferecer perdeu seu valor para Abraão (Gn 14:18-24).

 

Teu grandíssimo galardão 

No capítulo 15:1, Deus fala a Abraão em uma visão: “Eu sou o teu escudo e o teu grandíssimo galardão”. Essa nova revelação de Deus a ele implicava a vinda do herdeiro, como a resposta de Abraão mostra claramente. Mas o homem de Deus era velho, e sua esposa também, então como isso poderia acontecer? Agora Deus Se revela a ele como Aquele que “vivifica os mortos, e chama as coisas que não são como se já fossem” (Rm 4:17). Abraão creu em Deus, pois, apesar de tudo isso, o olho natural era obviamente contrário à promessa de Deus. Portanto, “de um, e esse já amortecido, descenderam tantos, em multidão, como as estrelas do céu, e como a areia inumerável que está na praia do mar” (Hb 11:12).

 

Seu andar agora deveria ser marcado e estar em pleno acordo com aquela nova revelação de Deus: “Eu sou o Deus Todo-Poderoso, anda em Minha presença e sê perfeito”. Uma observação aqui sobre o andar seria pertinente. Nosso andar deve ser tanto diante de Deus quanto com Deus. Andar diante de Deus é andar de acordo com a revelação que Deus fez de Si mesmo e de Sua vontade em qualquer dispensação. Andar com Ele é andar de acordo com Seu caráter e traços morais, que nunca mudam e são comuns a qualquer dispensação. Esses dois princípios devem ser distinguidos, mas não separados, e mantidos em equilíbrio adequado em nossa vida como crentes.

 

O Deus da glória e da ressurreição 

No entanto, para que essa revelação progressiva fosse levada um passo adiante, Deus precisava Se revelar a Abraão como Aquele que não apenas pode dar fruto ao que naturalmente parece morto e estéril, mas também como Aquele que pode trazer vida da morte, como o Deus da ressurreição. Isso é ilustrado de forma bela no conhecido capítulo 22 de Gênesis. Ali, o herdeiro está figurativamente passando pela morte e, também figurativamente, é recebido de volta ressuscitado dos mortos. Abraão aprende a verdade fundamental (tão difícil de aprender e tão fácil de esquecer) de que não poderia haver bênção alguma para o homem, exceto por meio da morte e ressurreição do bendito Substituto que o próprio Deus proveu.

 

Em seu relato inspirado, em Atos 7:2, Estêvão nos diz que “o Deus da glória apareceu a nosso pai Abraão, estando na Mesopotâmia, antes de habitar em Harã”. Vemos que sua história como crente começa com o Deus da glória e termina, por assim dizer, com o Deus da ressurreição. O propósito de Deus para Abraão, e para nós também, é “alcançardes a glória de nosso Senhor Jesus Cristo” (2 Ts 2:14). Mas essa glória não seria possível para nós sem a morte e ressurreição de Seu Filho, de acordo com a ordem que encontramos em Romanos: “todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus… [Ele] dentre os mortos ressuscitou a Jesus nosso Senhor; O qual por nossos pecados foi entregue, e ressuscitou para nossa justificação… [Nós] nos gloriamos na esperança da glória de Deus” (Rm 3:23, 4:24-25, 5:2).

 

Agora conhecemos a Deus como nosso Pai 

É maravilhoso testemunhar a paciência e a bondade amorosa de Deus ao conduzir Abraão por todas essas várias experiências, dando-Se a conhecer a ele de forma progressiva e enchendo sua alma de confiança, paz e adoração. É isso que Ele deseja hoje para cada um de nós também, e certamente é capaz de fazê-lo. Devemos apenas ter em mente que, em contraste com Abraão, O temos plenamente revelado como nosso Pai, e isso por meio de Seu Filho amado, nosso Senhor Jesus Cristo. Não esperamos por nenhuma revelação adicional nesse sentido. Mas sempre haverá espaço para conhecê-Lo melhor e nos aproximarmos d’Ele em nossa experiência pessoal. Precisamos, segundo o exemplo de Abraão, confiar e obedecer a Deus, separar-nos do mal e cultivar comunhão com Ele, para que possamos crescer “na graça e conhecimento de nosso Senhor e Salvador, Jesus Cristo” (2 Pe 3:18).

 

E. Datcuh

Os Caminhos de Deus com Isaque 

 

O filho da promessa 

Desejo considerar o que a Escritura nos permite aprender sobre Isaque (Gn 21-28). É verdade que se fala muito menos a respeito dele do que sobre Abraão, por um lado, ou sobre Jacó, por outro, e até menos do que sobre José, entre os muitos filhos de Jacó. No entanto, há muito no relato espiritual daquele que veio entre os dois principais patriarcas, distinguindo-se por seu próprio modo equilibrado, reservado e pacífico, e indicativo de grandes princípios na Palavra e nos caminhos de Deus.

 

Isaque era a figura da filiação, o filho da promessa, assim como Abraão era o depositário dela, chamado, abençoado e destinado a ser uma bênção universal para a Terra no fim, embora ele próprio, pela fé, contemplasse algo mais elevado. A graça soberana operou tanto para o pai quanto para o filho. “Porque a promessa de que havia de ser herdeiro do mundo não foi feita pela lei a Abraão, ou à sua posteridade, mas pela justiça da fé” (Rm 4:13). Somente assim, segundo a graça, a promessa poderia ser garantida a toda a descendência, não somente àquela que é da lei.

 

Mas o progresso da revelação quanto a isso é tão interessante quanto instrutivo. Foi quando a escolha de Ló pela planície bem irrigada do Jordão o separou daquele a quem toda a terra fora prometida que Jeová renovou a garantia de tudo, não apenas a Abraão, mas também à sua descendência (Gn 12:7, 13:15). Ainda assim, o patriarca teve que esperar, e mais tarde, quando expôs sua ausência de filhos a Jeová, veio a palavra de que aquele que saísse de suas próprias entranhas seria seu herdeiro – uma descendência numerosa como as estrelas. Então, após o episódio de Agar no capítulo 16, vem a revelação do Deus Todo-Poderoso, El-Shaddai, no capítulo 17, e, sob o rito exterior da circuncisão, a morte da carne imposta a ele e à sua descendência, com um novo nome para sua esposa bem como para si mesmo; pois ela também tem a promessa do filho, cujo nome foi dado. Assim, por maior e frutífero que Ele tornasse Ismael, Sua aliança seria estabelecida em Isaque, cujo nascimento tinha um tempo determinado.

 

O interesse excepcional que Jeová demonstrou pelo nascimento de Isaque tem um testemunho ainda mais impressionante em Gênesis 18. Ali, em forma humana, Ele mesmo apareceu com dois anjos a Abraão e dignou-Se a participar da refeição que ele preparou e lhes ofereceu. Então, Ele especificou a certeza precisa do tempo em que Sara teria um filho. Pois a dificuldade, humanamente falando, residia ainda mais na esposa do que no marido, e a incredulidade dela foi reprovada. Mas Abraão, como “amigo” de Deus, ouviu não apenas sobre o nascimento de seu filho, mas também sobre julgamento do mundo, que despertou sua alma em intercessão por seu parente justo e sua casa na ímpia e iníqua Sodoma. Se sua defesa parou por um instante, “lembrou-Se Deus de Abraão, e tirou a Ló do meio da destruição” (Gn 19:29).

 

No capítulo 21, Jeová visitou Sara como havia dito, e Jeová fez com Sara como havia falado. Pois Sara concebeu e deu à luz um filho a Abraão em sua velhice, no tempo determinado de que Deus lhe havia falado. O riso de Sara era agora de transbordante alegria e gratidão. Mas o grande banquete no desmame da criança provocou a zombaria de Ismael, e a expulsão da serva e de seu filho, diante da reclamação de Sara, uma figura para a qual Gálatas 4 nos dá a chave.

 

A grande mudança é então sutilmente revelada. Pois, em vez de Abimeleque repreender Abraão com justiça, Abraão agora repreende o rei gentio, que, juntamente com o príncipe do seu exército reconhece que Deus é com Abraão em tudo o que ele faz. No entanto, Abraão jura mostrar-lhe bondade, e eles fazem uma aliança. E, assim como o poço do juramento não era sem significado, também não era o bosque plantado ali, nem o invocar o nome de Jeová, o Deus eterno. Prefigurava-se o dia quando as “águas arrebentarão no deserto” e a “glória do Líbano se lhe deu” (Is 35:2, 6). A bem-aventurança da era vindoura para a Terra é assim tipificada.

 

O Filho dado como sacrifício 

Depois dessas coisas, e de forma bem distinta delas, Deus provou Abraão. É a imagem do Filho unigênito sendo dado, do Cordeiro que Deus proveria para Si como holocausto. Aqui Isaque se entregava para morrer, enquanto Abraão estava pronto pela Palavra de Deus a sacrificar seu filho amado – o sinal de algo muito melhor.

 

Mas Jeová detém a mão de Abraão quando seu coração foi provado, e confirma ao filho ressuscitado dos mortos em figura que em Cristo, o antítipo, todas as nações da Terra seriam abençoadas, como o apóstolo argumenta em Gálatas 3.

 

Então, após o falecimento de Sara (a mãe da aliança do filho da promessa), temos o chamado da noiva para o noivo e herdeiro de tudo. No entanto, podemos notar aqui a “moderação” de Isaque tornada conhecida a todos os homens na questão dos poços que seus servos encontraram (cap. 26); e a crise de seus caminhos quando seu pé quase escorregou no caso de seus dois filhos (cap. 27). A graça prevaleceu aqui, e ele foi salvo ainda que como pelo fogo. Como é impressionante que tal cena seja destacada para seu louvor em Hebreus 11:20! “Pela fé Isaque abençoou Jacó e Esaú, no tocante às coisas futuras”. Isaque viveu muitos anos depois disso, mas a Escritura registra apenas sua morte e sepultamento.

 

W. Kelly

Os Caminhos da Revelação de Deus

 

Uma revelação dá a apresentação perfeita da mente divina sobre o assunto de que ela trata para aqueles que são espiritualmente capazes de entendê-la. Mas, ao fazer isso, ela nos dá uma imagem verdadeira do que o homem é, e isso não somente por meio de uma declaração dogmática, mas por um amplo desenvolvimento histórico do que o homem fez – o que ele foi em várias fases de progresso por meio das revelações que lhe foram concedidas. Se a Bíblia simplesmente nos desse o julgamento de Deus, jamais teríamos o mesmo testemunho que nós temos para a consciência, pelo fato de ela nos fornecer a história real do homem sob as várias dispensações de Deus para com ele. Mas, para isso, é preciso que o homem seja mostrado como realmente era, com seus sentimentos expressos como nele se manifestavam: seja sem Deus, ou sob a influência da piedade, ou animado em seu coração pelo Espírito de Deus. Caso contrário, não teria sido o relato verdadeiro e necessário a respeito do homem, nem mesmo um relato divino.

 

Revelações positivas 

Nesse processo, recebemos de Deus revelações positivas, dadas para agir sobre os homens de acordo com o estado deles. Também recebemos o testemunho inspirado sobre qual é a própria mente de Deus. Contudo, mesmo aqui, a graça de Deus a adaptou à consciência e à informação espiritual possuída, e ao Seu trato com os homens em tal tempo ou tal estado. Se Ele Se dignou a tratar com eles, Ele o fez em condescendência para a bênção deles. Ele os conduz para cima e adiante; de fato, Ele é Quem conduz. Um pai gracioso fala com seu filho de acordo com o que é apropriado à criança, mas nunca com o que é ao mesmo tempo indigno de si. Assim Deus tem tratado com os homens. De que outra forma Ele poderia ter tratado com eles, se Ele queria que eles fossem moralmente desenvolvidos?

 

Deus revela o retrato do que o homem é 

Assim, no Velho Testamento, temos um retrato perfeito e divinamente dado do homem, sob esse processo gracioso, nos vários relacionamentos em que Deus o colocou, de modo a revelar plenamente toda a sua condição. Assim, por meio de uma história divinamente concedida, podemos conhecer a nós mesmos e, ao mesmo tempo, todo o curso dos tratamentos de Deus, e o que o homem foi sob eles, até o tempo da manifestação de Sua perfeita e suprema graça. Isso Deus manifestou em Cristo como a graça suprema de que o homem necessitava, e o homem e Deus entram no relacionamento que era Seu pleno propósito, de acordo com a segurança que flui da imutabilidade de Sua natureza e da perfeição de Seu amor. “Cristo, estando nós ainda fracos, morreu a seu tempo pelos ímpios” (Rm 5:6). Por isso é dito: “Pela remissão dos pecados dantes cometidos, sob a paciência de Deus; para demonstração da Sua justiça neste tempo presente (Rm 3:25-26). Ele tratava com os homens para o pleno desenvolvimento de Seus caminhos. Ele os recebia de acordo com Seu conhecimento da obra perfeita a ser realizada em Cristo.

 

Nenhuma progressão além de Cristo 

O meio eficaz de toda graça foi Cristo desde o princípio. “Para demonstração da Sua justiça neste tempo presente”. O apóstolo João escreveu: “O que era desde o princípio, o que ouvimos, o que vimos com os nossos olhos, o que temos contemplado, e as nossas mãos tocaram da Palavra da vida” (1 Jo 1:1). Ou seja, ele recorre ao que era desde o princípio como salvaguarda contra toda sedução. Não há desenvolvimento progressivo depois de Cristo. Sugerir o contrário é uma blasfêmia contra a perfeição do próprio Deus manifestada em Cristo, plenamente revelada pelos apóstolos. “Todo aquele que ultrapassa a doutrina de Cristo e nela não permanece não tem Deus; o que permanece na doutrina, esse tem tanto o Pai como o Filho” (2 Jo 9 – ARA).

 

Ora, Deus nos deu uma revelação perfeita de tudo isso, mas jamais poderíamos ter tido o conhecimento a respeito do homem ou do próprio Deus, e de Seus maravilhosos, perfeitos e pacientes caminhos para conosco, se não nos tivesse sido mostrado exatamente o que o homem foi em cada passo do caminho. Se Deus tivesse simplesmente declarado a moralidade, isso teria, sem dúvida, mostrado o que o homem deveria ser, e para isso temos a lei. Mas não nos teria mostrado o que o homem é – o que ele é sob os vários tratamentos de Deus. Agora temos isso e, além disso, é algo que temos sob a influência do Espírito de Deus.

 

A chave para o entendimento espiritual 

Agora, nos tempos do Novo Testamento, eu faço um julgamento moral sobre muitas coisas do Velho Testamento, porque Deus nos deu a verdadeira luz, e as trevas já passaram. Eu as julgo sob a luz perfeita. Mas é Ele, que é luz, que me deu a história para julgar e a luz pela qual julgar. Deus quer informar meu julgamento espiritual e revelar a mim os Seus caminhos, para me mostrar que Ele nunca deixou de tratar com os homens – que o mundo não continuou sem o Seu conhecimento. Ele me deu a chave para tudo e, portanto, me concedeu todos esses elementos com perfeição divina, sobre os quais e pelos quais meu julgamento deve ser espiritualmente formado e meus sentidos exercitados para discernir o bem e o mal, como o homem aprendeu ao longo das eras passadas. Agora, Cristo nos deu a chave perfeita pela qual podemos julgar tudo. Por isso, Paulo diz que a Escritura pode “fazer-te sábio para a salvação, pela fé que há em Cristo Jesus” (2 Tm 3:15). E assim, quando o pobre Pedro coloca Moisés e Elias no mesmo nível de Cristo, eles desaparecem, e uma voz vinda do céu diz: “Este é o Meu amado Filho; a Ele ouvi. E... Jesus foi achado só” (Lc 9:35-36).

 

A consciência 

Então, além desses retratos históricos dos caminhos de Deus e de seus efeitos sobre o homem, também recebo referências diretas à consciência da época nos profetas, e, ao sofrerem sob o estado maligno do povo de Deus, o olhar dos santos é direcionado para aquele dia melhor que seria trazido pelo Cristo que os visitaria como a aurora, colocando tudo em ordem. Eles olhavam para esse dia e eram salvos pela esperança, assim como nós; uma esperança que, se não tão clara, pelo menos tão verdadeira quanto, e de fato a mesma, embora apenas parcialmente revelada, e em sua parte terrenal, ainda assim o céu era necessariamente trazido por ela. Abraão exultou ao ver o dia de Cristo; ele o viu e se alegrou, e viveu como estrangeiro na Canaã que lhe fora prometida. Ele “esperava a cidade que tem fundamentos, da qual o Artífice e Construtor é Deus” (Hb 11:10). Na glória de tudo isso, ele desfrutará das bênçãos da herança de seus filhos de uma maneira melhor e mais doce do que aqueles que realmente as possuirão. Portanto, o Velho Testamento é ganho, não perdido; nós o temos da própria mão do nosso Deus para nossa instrução. O que aconteceu a eles como prova da presente interferência de Deus de forma temporal – o que convinha ao seu estado e ao governo de Deus sobre a Terra – serve de instrução espiritual para nós, escrita para o nosso aprendizado, que é o que queremos. É aquilo pelo qual podemos conhecer a Deus mais plenamente: tudo o que Ele ensina ali é perfeito, e com isso eu aprendo Seus caminhos. Isso não depende dos “meus poderes”, a não ser que Deus os use, nem do “meu conhecimento científico”. Tenho a perfeição de Cristo como critério para julgar. Depende, de fato, do meu progresso espiritual, do meu estado moral, quanto à capacidade de usar a Palavra, e é exatamente isso que deve ser.

 

J. N. Darby (adaptado)

 Cristianismo – Cristo

 

O que vemos quando o Cristianismo, essa dádiva indizível de Deus, foi introduzido neste mundo? Vemos em Jesus, aquele Homem que não levantou a voz nas ruas! Um testemunho que era Seu, pura e profundamente moral e divino, em meio a um mundo que tinha seus próprios costumes; um testemunho, uma vida, uma Pessoa, introduzindo neste mundo a luz do próprio Deus, a consolação, o brilho, o poder moralmente independente, que procedia d’Ele; e isso em uma humildade que os fazia penetrar, em amor, onde quer que houvesse um coração quebrantado, talvez degradado aos olhos dos homens, que precisasse disso; uma humildade que abria o caminho para um amor diante do qual nada era considerado baixo demais para que Deus descesse em graça. Oh, que necessidade este pobre mundo tinha disso!

 

Ele tomou algo emprestado das circunstâncias que O cercavam? Não, o contrário foi a totalidade de Sua vida. Ele veio para o meio dessas circunstâncias para revelar Deus ali, porque tudo se opunha a Ele e porque, consequentemente, tudo era miserável. Deus em amor veio a eles ali naquela graça que abunda muito mais onde abundou o pecado. Jesus se deparou com a concordância de circunstâncias favoráveis? Certamente que não. “Seu tempo” foi quando os homens eram “ainda fracos... ímpios”. Essa obra certamente era obra de Deus.

 

Oh, quão felizes somos por ter uma obra que é uma manifestação d’Ele neste pobre mundo! Deus fez com que essas circunstâncias cumprissem Seu plano. Sim, tudo conspira a seu modo: não que Ele arranje circunstâncias para falsificar o caráter do testemunho, como se esse testemunho não fosse de Deus, ou como se o homem não se opusesse a Ele. Qualquer que tenha sido a altura do muro que o homem opôs à Sua entrada, para Ele, Jesus, o porteiro abriu, e as ovelhas ouviram a Sua voz.

 

J. N. Darby (adaptado)

Novas Revelações Nunca Contradizem as Antigas

 

Um grande princípio da interpretação bíblica – que os estudiosos da Bíblia fariam bem em observar – é que novas revelações nunca contradizem revelações dadas anteriormente. Um conceito do Velho Testamento não pode ser considerado o oposto no Novo Testamento; caso contrário, a Bíblia estaria repleta de contradições. À medida que a Escritura foi escrita, Deus deu luz adicional sobre certos assuntos, mas essas novas revelações não contradizem as anteriores. A Escritura revela a verdade como um edifício em construção: um fundamento é lançado e, em seguida, uma estrutura é adicionada. Uma coisa é construída sobre a outra, e qualquer coisa nova adicionada não destrói a anterior.

 

B. Anstey

Revelação e Inspiração

 

Revelação é a substância da verdade de Deus – o quê; inspiração é a expressão dessa verdade – o como. Podemos ver isso em 1 Coríntios 2:10-13, onde temos revelação no versículo 10 e inspiração no versículo 13. Portanto, nem toda a Bíblia é revelada, porque grande parte dela é história e se refere a todos os tipos de homens. Mas tudo na Bíblia é inspirado, porque o registro é dado em cada ponto em palavras confiáveis. Essa distinção nos ajuda a entender como a Bíblia, embora totalmente inspirada, não tem o mesmo valor espiritual em todos os pontos. A revelação da verdade é, como vimos, progressiva, mas o registro é preciso em toda a sua extensão.

 

J. L. McLaughlin

 Maneiras Divinas e Humanas de Ensinar

 

A apresentação da verdade nos livros sagrados se dá de uma maneira que, embora estranha aos métodos humanos de instrução, é característica de grande parte do ensino divino desde os tempos mais remotos. Deus revela Suas verdades fundamentais como o romper da aurora, não com um clarão repentino como se um grande holofote fosse aceso.

 

As maneiras divinas e humanas de ensinar contrastam fortemente. Nas escolas teológicas dos homens, os assuntos, por mais profundos que sejam, são definidos, resumidos e reduzidos a uma série de proposições formuladas nos termos mais breves possíveis. Tais formulações, expurgadas de tudo o que é considerado não essencial e devidamente formuladas para se adequarem à memória e ao intelecto da pessoa comum, constituem os artigos de fé aprovados. A evidência da disposição da mente humana para situar o ensino bíblico dentro de certos limites bem definidos que todos estão dispostos a aceitar, mesmo que nem todos professem entender, é fornecida pela existência dos numerosos e variados credos da Cristandade.

 

Um plano de ensino completamente diferente é adotado nas Escrituras. Deus educou antes de instruir. As verdades foram gradualmente reveladas a Noé, a Abraão, a Moisés e a outros em eras sucessivas desde o Éden em diante, enquanto o registro em si dessa revelação foi feito sob muitas formas. Conclui-se que somente por meio do estudo comparativo paciente de todo o campo da revelação, do início ao fim, é possível discernir o escopo geral e o alcance particular de um determinado assunto. E, quando verdadeiramente discernida, percebe-se que a verdade divina, assim como o espaço estelar, está, em sua plena extensão, completamente além da compreensão da mente humana, embora, como acontece com a luz natural do Sol e das estrelas, a graça expiatória traga vida e beleza com uma plenitude divina a um mundo que de outra forma seria sombrio e triste.

 

W. J. Hocking

O Livro dos Livros 

 

Dentro deste amplo volume reside

O mistério dos mistérios;

Mais felizes são aqueles da raça humana

A quem seu Deus concedeu a graça

De ler, de temer, de esperar, de orar,

De destrancar a porta, de forçar a passagem;

Mas melhor seria não ter nascido

Do que ler para duvidar ou ler para desprezar.

 

W. Scott

“Todo aquele que ultrapassa a doutrina de Cristo e nela não permanece não tem Deus; o que permanece na doutrina, esse tem tanto o Pai como o Filho”

2 João 9 – ARA

 

 



 

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