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Sonhos e Visões (Maio de 2025)

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Revista mensal publicada pela Bible Truth Publishers

ÍNDICE

 

          W. J. Prost

          D. C. Buchanan

          J. G. Bellett

          W. J. Brockmeier

          W. W. Fereday

          W. J. Prost

          D. & A. C.

          Echoes of Grace (versão resumida), 1973

          J. G. Deck (adaptado de um longo poema)

Sonhos e Visões

 

“Deus fala uma e duas vezes; porém ninguém atenta para isso.  Em sonho ou em visão de noite, quando cai sono profundo sobre os homens, e adormecem na cama, então, abre os ouvidos dos homens, e lhes sela a sua instrução, para apartar o homem do seu desígnio e esconder do homem a soberba” (Jó 33:14-17 – ARC). Quando o homem está acordado e falam com ele, há várias coisas acontecendo nele em relação à maneira como ele ouve. Se sua vontade estiver agindo, ele pode não ter ouvidos para ouvir e não escutar a mensagem. Seus sentimentos em relação à pessoa que está falando estarão envolvidos em como ele interpreta o que ouve. Se seu orgulho estiver agindo, ele pode estar pensando no que planeja dizer quando a outra pessoa terminar de falar. Como Eliú explicou a Jó, Deus, ao falar por meio de um sonho ou visão, “abre os ouvidos dos homens, e lhes sela a sua instrução”, pois Ele ultrapassa todas as coisas que impedem a mensagem de entrar na mente de uma pessoa. Ela está em um estado em que pode escutar sem distrações, sem que sua vontade esteja agindo, sem que o orgulho distorça a mensagem em sua mente. Às vezes, como Nabucodonosor, o resultado pode perturbar o espírito e tirar o sono do homem para deixá-lo pronto para ouvir o mensageiro de Deus para ele – “um mensageiro, um intérprete, um entre milhares” para fazê-lo entender. Deus fez Nabucodonosor ouvir Daniel e fez Jó ouvir Eliú. Jó ouviu e se arrependeu. O orgulho de Nabucodonosor o impediu na primeira vez, então Deus teve que falar duas vezes, tirando-lhe o entendimento por um tempo.

 

Sonhos e visões na Escritura

Ao considerar o assunto sobre sonhos e visões de um ponto de vista bíblico, sabemos que por milhares de anos os homens têm se fascinado por tais coisas. Sonhos, por exemplo, são comuns em toda a nossa vida, e, apesar de normalmente não darmos muita importância a eles, há pessoas que, por muitos anos, têm sido tentadas a atribuir um significado a pelo menos alguns de seus sonhos. Como todos sabemos, os sonhos costumam estar associados ao que já conhecemos ou vivenciamos no passado, mas essas experiências e conhecimentos muitas vezes acabam se misturando de uma maneira um tanto caótica. Sabemos também que os sonhos algumas vezes são agradáveis, mas também podem ser assustadores. Esse medo obviamente é exagerado por causa da escuridão que geralmente está presente quando estamos sonhando.

 

Visões também têm sido um assunto comum entre os homens há milhares de anos. Uma visão geralmente descreve aquilo que é visto a qualquer momento, enquanto se está acordado ou dormindo, diferente de um sonho, que ocorre durante o sono. Visões são algo comum na história humana, e muitos já afirmaram que tais visões eram divinas e tinham um significado importante, pelo menos para quem as teve. Naturalmente houve aqueles que afirmaram ter tido uma visão, quando na verdade o relato era apenas o resultado de uma imaginação hiperativa na mente do indivíduo.

 

Sonhos no passado e no presente 

Onde então isso nos deixa, primeiro, na história dos sonhos e visões e, segundo, em nosso mundo atual? O Senhor falou ao homem em sonhos e visões no passado? E será que Ele ainda fala assim hoje?

 

Quanto à primeira pergunta, sim, é muito claro que Deus falou ao homem por meio de sonhos e visões, e especialmente em um tempo em que a Palavra de Deus não estava completa e antes que a plena luz do Cristianismo despontasse neste mundo. No Velho Testamento, Deus muitas vezes falou diretamente ao homem, em uma voz que podia ser ouvida, enquanto em outras ocasiões Ele escolheu falar em sonhos e visões. Esta última maneira é mencionada em Jó 33:14-17, no discurso de Eliú a Jó:

 

“Deus fala uma e duas vezes; porém ninguém atenta para isso. em sonho ou em visão de noite, quando cai sono profundo sobre os homens, e adormecem na cama, então, abre os ouvidos dos homens, e lhes sela a sua instrução, para apartar o homem do seu desígnio, e esconder do homem a soberba” (ARC)

 

Existem vários exemplos de sonhos e visões na Palavra de Deus, alguns dos quais são mencionados em outros artigos nesta edição de O Cristão. O mais importante a entender é que Deus tem uma maneira de deixar claro para o indivíduo que um determinado sonho ou visão que venha d’Ele é de significado divino e que a pessoa envolvida deve prestar atenção a esse sonho ou visão. Por exemplo, é certo que o copeiro-mor e o padeiro-mor de Faraó, rei do Egito (em Gênesis 40), devem ter tido vários tipos de sonhos durante a vida, mas perceberam que os sonhos que eles tiveram enquanto estavam na prisão com José carregavam um significado. Da mesma forma, dois anos depois, quando Faraó, rei do Egito, teve dois sonhos, ele sabia que esses sonhos carregavam uma importância que precisava ser investigada. Deus pode mostrar aos envolvidos que Ele é o Autor de um determinado sonho ou visão.

 

Os primeiros dias do Cristianismo 

Mesmo nos primeiros dias do Cristianismo, o Senhor às vezes falava em um sonho ou visão vívida, como a que Pedro teve em Atos 10:9-16. Pedro imediatamente reconheceu a fonte divina dessa visão, embora seu significado só tenha ficado evidente para ele mais tarde, ao chegar à casa de Cornélio. Não é de surpreender que mais tarde, em Atos 12, ao ser milagrosamente libertado da prisão, Pedro tenha pensado a princípio que aquilo não passava de uma visão. O Senhor também falou ao apóstolo Paulo por meio de visões várias vezes, e Paulo reconheceu prontamente a fonte divina dessas visões.

 

O papel de Satanás 

No entanto, quando falamos de sonhos e visões, devemos reconhecer que Satanás, que é um grande imitador, também pode estar envolvido nessas coisas. Sob sua influência, Satanás é capaz de levar as pessoas a um estado mental desordenado, no qual elas têm visões e então as atribuem ao poder divino. Satanás tem usado seu poder dessa forma por milhares de anos para se disfarçar do próprio Deus, enganando o homem de modo que este o adore em vez de adorar ao Deus verdadeiro. Por essa razão, o Senhor advertiu o povo de Israel no tempo de Jeremias, dizendo-lhes: “Não deis ouvidos às palavras dos profetas, que entre vós profetizam; fazem-vos desvanecer; falam da visão do seu coração, não da boca do SENHOR” (Jr 23:16). Embora não pareça que Satanás possa conhecer nossos reais pensamentos como Deus pode, ele adquiriu uma tremenda experiência em enganar o homem ao longo de milhares de anos. Ele sabe como funciona a mente do homem, além de conhecer nossas fraquezas particulares. Ele é capaz até mesmo de se apresentar como “anjo de luz” (2 Co 11:14) e de se apresentar na chamada “magia branca”, que engana ainda mais o homem fazendo-o pensar que Satanás é um poder divino, e não o diabo. (“Magia branca” geralmente se refere à cura corporal, que Satanás às vezes usa inicialmente como uma “falsa fachada” para enganar as pessoas; a ferroada vem depois.)

 

Há muitos relatos sobre Satanás estar envolvido nos sonhos de pessoas que, de alguma forma, estão ligadas ao ocultismo. Em um relato bem documentado, uma jovem solteira teve um caso com um homem casado que estava envolvido com práticas ocultas. Mesmo depois de se mudar da área, ele lembrou à jovem que continuaria a visitá-la à noite, em seus sonhos. Ele a “visitou” repetidamente, e ela sentiu a presença dele muito claramente durante muitas noites. Ela ficava enojada e angustiada com essas visitas “virtuais”, mas não tinha poder para impedi-las. Em situações como essa, somente o poder de Cristo pode libertar uma alma, pois a habilidade de Satanás de usar sonhos e visões a seu favor é muito real e muito forte.

 

O Senhor não está limitado hoje 

Por fim, o que dizer de hoje? O Senhor ainda fala em sonhos e visões? Sim, Ele fala, e especialmente em lugares neste mundo onde Sua Palavra não está facilmente disponível. Em partes do mundo onde a Palavra de Deus pode ser facilmente obtida e onde o evangelho é geralmente apresentado sem restrições, na maioria das vezes Deus usa Sua Palavra. É claro que não podemos restringir o Senhor, e às vezes Ele pode usar sonhos e visões mesmo em países onde a Palavra de Deus é facilmente acessível. No entanto, há áreas do mundo hoje em que aqueles que estão buscando verdadeira luz sobre Quem Deus é e que querem conhecê-Lo podem ter muita dificuldade em obter uma Bíblia ou entrar em contato com alguém que possa ajudá-los. Em tais lugares, há muitos relatos documentados de como o Senhor Se revelou em um sonho ou uma visão de tal maneira que a pessoa envolvida sabia que a revelação vinha diretamente de Deus. Muitas vezes, eles são direcionados a um determinado lugar para se encontrar com alguém ou a uma determinada pessoa que eles já conhecem. Em outros casos, eles não conhecem a pessoa com quem devem se encontrar, mas são direcionados a ir a um determinado lugar em um determinado momento, e podem até ver exatamente em seu sonho a pessoa com quem devem se encontrar. Muitos foram levados a Cristo dessa maneira, embora em alguns casos as pessoas que foram dessa maneira levadas a Cristo tenham sofrido perseguição e, mais tarde, até mesmo martírio.

 

Em resumo, então, podemos dizer que o Senhor não está limitado na maneira como Ele pode Se revelar ao homem. Ele ainda usa sonhos e visões, mas devemos estar atentos às artimanhas de Satanás. Novamente, o Senhor é capaz de deixar claro o que é d’Ele e o que é do diabo. Deus quer a bênção do homem e está disposto a Se dar a conhecer.

 

W. J. Prost

Sonhos e Visões vindos de Deus

 

Deus falou ao homem de muitas maneiras (Hb 1:1-2), e Ele não está limitado em Sua capacidade de falar aos homens. Isso é particularmente evidente quando Ele fala por meio de sonhos e visões, quando as pessoas que recebem a comunicação estão dormindo ou em um transe sem autoconsciência. Surge a questão do porquê Deus recorre a esse modo de comunicação. Qual é o propósito d’Ele em falar dessa maneira? Em sonhos e visões, Deus, por Seu Espírito, está Se comunicando com o espírito dos homens, que muitas vezes não têm conhecimento do seu significado. Além disso, os indivíduos muitas vezes ficam com medo e espantados, ou consternados. As palavras de Eliú a Jó, no capítulo 33, dão uma lista de razões pelas quais Deus fala em sonhos e visões. Jó naquele momento estava sob a disciplina de Deus. Durante a provação, Jó se justificou a ponto de culpar a Deus. Por isso Eliú disse a Jó: “Eis que nisso não tens razão; eu te respondo; porque maior é Deus do que o homem. Por que razão contendes com Ele, sendo que não responde acerca de todos os Seus feitos? Antes Deus fala uma e duas vezes; porém ninguém atenta para isso. Em sonho ou em visão noturna, quando cai sono profundo sobre os homens, e adormecem na cama. Então o revela ao ouvido dos homens, e lhes sela a sua instrução” (Jó 33:12-16).

 

Deus é maior do que o homem 

As comunicações por meio de sonhos e visões não permitem ao homem exercer poder ou influência sobre Deus. Tampouco podem os homens contender ou responder a Ele. Os homens estão reduzidos ao modo de escuta. Além disso, os sonhos podem ser facilmente esquecidos ou precisam de interpretação para serem entendidos. José disse ao copeiro: “Não são de Deus as interpretações?”. Assim, Eliú interpelou Jó sobre lutar contra Deus e enfatizou que Deus não devia a Jó nenhuma resposta sobre o que estava fazendo com ele. Mais tarde, sabemos que tudo ficou claro, mas naquele momento Deus Se recusou a Se comunicar com Jó nos termos que Jó desejava.

 

Deus fala uma e duas vezes 

Na realidade, Deus já havia Se comunicado com Jó por sonho, mesmo antes de Eliú lhe dizer: “Deus fala uma e duas vezes; porém ninguém atenta para isso” (Jó 33:14). No capítulo 4, Deus falou a Jó por meio de Elifaz, que lhe disse: “Seria porventura o homem mais justo do que Deus? Seria porventura o homem mais puro do que o seu Criador?” (Jó 4:17). Naquele momento parece que Jó desacreditou essa observação como irrelevante, pois ele respondeu: “Então me espantas com sonhos, e com visões me assombras” (Jó 7:14). Embora a mensagem de Elifaz também estivesse misturada com acusações mal aplicadas, a substância das palavras era muito apropriada. “Ouvi uma voz que dizia: Seria porventura o homem mais justo do que Deus? Seria porventura o homem mais puro do que o seu Criador?” (Jó 4:16‑17). Essa visão de Deus que Elifaz recitou era direcionada precisamente ao problema de Jó, mas ele não a levou a sério. Quando Deus falou, ele não percebeu.

 

Então, em Jó 20, temos outra referência a sonhos. Dessa vez, foi Zofar que lembrou a Jó que a exaltação dos ímpios é breve. “Ainda que a sua altivez suba até ao céu, e a sua cabeça chegue até às nuvens. Contudo, como o seu próprio esterco, perecerá para sempre; e os que o viam dirão: Onde está? Como um sonho voará, e não será achado, e será afugentado como uma visão da noite” (Jó 20:6-8). Um dos propósitos dos sonhos e visões é impedir o homem de prosseguir em tal caminho de vaidade. Podemos muito bem admirar o quanto Deus não mede esforços para comunicar Sua mente, fazer advertências ou revelar Seus caminhos às Suas criaturas. Mas Jó precisava de mais do que sonhos para mudar seu pensamento. O entendimento vem de estar na presença de Deus. O primeiro caso de sonhos foi uma palavra para Jó sobre suas ações ou obras; o segundo foi uma palavra a respeito de sua pessoa, a vaidade do homem sem Deus.

 

Para esconder do homem a soberba 

Outro propósito de Deus ao falar aos homens por meio de sonhos e visões tem a ver com o orgulho (ou soberba). Deus não precisa de nossa contribuição e não permitirá que o homem leve o crédito pelo que Ele faz. Então Eliú continua: “para apartar o homem do seu desígnio e esconder do homem a soberba” (Jó 33:17 – ARC). Jó estava defendendo sua própria justiça como uma posição diante de Deus, e, ao seguirmos esse caminho, facilmente nos orgulhamos de nossas realizações. Deus odeia o orgulho e não o permitirá em Sua presença.

 

Nos últimos anos, houve um aumento na publicação de livros que falam de pessoas não Cristãs tendo sonhos e visões que as levam a confiar no Senhor Jesus. Podemos ser muito gratos por Deus usar esses meios para atrair almas para conhecer o Senhor como Salvador. Mas devemos lembrar que, quando Deus opera por esses meios, não é para exaltarmos a experiência dessas pessoas. Antes, é um exemplo de quão longe Deus vai para alcançar pessoas que, de outra forma, não ouviriam o evangelho. Deus desvia “sua alma da cova e sua vida de passar pela espada” (v. 18). “Se com ele, pois, houver um mensageiro, um intérprete, um entre milhares para declarar ao homem a sua retidão, então terá misericórdia dele, e lhe dirá: Livra-o, para que não desça à cova; já achei resgate” (Jó 33:23-24).

 

Moisés, Miriã e Arão 

Em Números 12, temos outro caso de Deus falando sobre como Ele usa sonhos e visões para confirmar Sua Palavra. Neste caso, quando Miriã e Arão falaram contra Moisés, o Senhor os reuniu e interveio em favor de Moisés. Ele disse a Miriã e Arão: “Ouvi agora as Minhas palavras; se entre vós houver profeta, Eu, o SENHOR, em visão a ele Me farei conhecer, ou em sonhos falarei com ele. Não é assim com o Meu servo Moisés que é fiel em toda a Minha casa. Boca a boca falo com ele, claramente e não por enigmas; pois ele vê a semelhança do SENHOR; por que, pois, não tivestes temor de falar contra o Meu servo, contra Moisés?” (Nm 12:6-8). Aqui vemos a grande diferença nas formas como o Senhor falaria com eles. Com Miriã e Arão, Deus Se revelaria em sonhos ou visão para confirmar que eles tinham uma mensagem d’Ele. Isso provaria que Ele havia dado a mensagem. Mas com Moisés a comunicação era muito diferente. Nenhuma confirmação de sonhos era necessária para Moisés; Ele falava “boca a boca... claramente e não por enigmas” (v. 8). Moisés recebeu muitas mensagens da boca de Deus. Quão superior é essa forma de comunicação! Há lugar para cada uma delas. Com relação a sonhos e visões, Deus é capaz de atravessar nossa distância d’Ele e revelar Sua Palavra. Mas com Moisés havia entendimento, e a respeito dele é registrado: “Fez conhecidos os Seus caminhos a Moisés, e os Seus feitos aos filhos de Israel” (Sl 103:7).

 

As visões de João e Paulo 

Um comentário adicional parece digno de consideração sobre a razão pela qual Deus fez revelações proféticas por meio de visões no Novo Testamento, em vez de falar literalmente sobre o assunto. Paulo escreveu sobre essa questão aos coríntios, dizendo que, embora tenha visto coisas indizíveis, ele não deveria se gabar dessas revelações, mas sim se gloriar n’Aquele que foi revelado – o Senhor Jesus Cristo. Deus escolheu propositadamente fazer revelações proféticas por meio de sonhos e visões. As revelações de Deus podem ir além da nossa compreensão intelectual de coisas que podem ser explicadas pela fala literal. Elas são melhor comunicadas em linguagem figurativa ou simbólica. Assim é no livro de João, o Apocalipse (ou Revelação) de Jesus Cristo. Entendemos esse conceito na escrita de poesia. A linguagem figurativa pode comunicar muito mais para aqueles que conhecem e entendem os termos usados entre si. Os membros da família que vivem juntos são capazes de se comunicar em uma linguagem que outros não entendem. O Apocalipse é escrito nesse formato para que aqueles que conhecem o Senhor tirem muito mais proveito dele do que qualquer tentativa de descrever as coisas celestiais em termos literais. Os meios e maneiras da revelação de Deus são excelentes. Que cada um de nós aprenda a apreciar e a entender Sua revelação.

 

D. C. Buchanan

Manifestações Divinas

 

O Senhor Se dirigia a Seu antigo povo em visões. Os olhos então, é claro, percebiam a revelação, pois era alguma espécie de forma perceptível aos sentidos que transmitia a revelação.

 

Fé e convencimento 

Agora, é a fé que é o foco. Mas a fé percebe seu objeto tão certamente quanto a visão ou a audição percebiam no passado. A fé é “a prova das coisas que se não veem”.

 

Isaías teve uma visão do trono e dos serafins no templo, que se encheu de fumaça, e ele foi convencido e ficou maravilhado. Em seguida, houve a aplicação em seus lábios da brasa viva de purificação do altar, e ele foi restaurado à paz (Is 6). Podemos ver o mesmo processo, embora por outros instrumentos, nas pessoas de Ezequiel e Daniel (Ez 1; Dn 10).

 

Temos o mesmo sob o ministério do Senhor Jesus, como aqui sob as antigas visões. Para Pedro, em Lucas 5, o Senhor foi manifestado, por meio da pesca, de uma forma que o deixou maravilhado. Ele então foi convencido de ser um pecador, assim como os profetas que mencionei. Mas as palavras de Jesus restauraram-lhe a paz, assim como os profetas foram restaurados por diferentes instrumentos aplicados a eles. E foi assim também com a mulher samaritana. A Palavra do Senhor primeiro a convenceu, tanto quanto revelou a ela, de sua condição como pecadora, assim como a visão da glória havia convencido Isaías. Mas, em seguida, as palavras do Senhor, da mesma maneira, a restauraram.

 

E ainda mais adiante, temos os mesmos efeitos com a pregação dos apóstolos. A palavra de Pedro em Atos 2 provocou o clamor: “Que faremos, irmãos?” (ARA), e, em seguida, a palavra dele transmitiu alegria e paz aos que creram. O mesmo efeito do falar simples e inteligível na assembleia dos santos, sem nada de maravilhoso ou miraculoso, é contemplado em 1 Coríntios 14:23-25.

 

Assim, os mesmos efeitos são produzidos, embora as circunstâncias mudem de visões ou toques palpáveis para o ministério pessoal do Senhor, ou disto para um simples testemunho ou pregação.

 

Tudo o que é necessário é a percepção da coisa revelada, e a fé faz isso por meio da Palavra, como os olhos fariam na presença de uma visão. Obviamente, o Espírito, nós sabemos, precisa dar a fé.

 

Elias e Eliseu 

Outra ilustração disso me ocorre. Eliseu seguiu Elias pela estrada que conduzia Elias à sua trasladação. Tentações cercavam o caminho. Dificuldades se aglomeravam ali, e obstáculos se repetiam. Mas o propósito de alma de Eliseu era fixo e único. Ele se propôs a estar com seu mestre durante todo o caminho até o fim. Ele não queria saber de mais nada, e, por isso, obstáculos, dificuldades e tentações receberam dele uma pronta resposta (2 Rs 2).

 

Os santos em Tessalônica não tinham nada além de um relato em que se apoiar. Eles não receberam visão, nem milagre. Eles não tinham um mestre em sua companhia, como teve Eliseu, que eles sabiam que seria tomado “por sobre a cabeça deles”, nenhum sinal perceptível para alimentar as expectativas do coração deles. Mas os objetos da fé eram tão reais para eles quanto as coisas perceptíveis eram para Eliseu, e o mesmo efeito foi produzido neles. No espírito de vitória, eles se livraram dos obstáculos, como Eliseu havia feito. Eles se converteram dos ídolos mudos. A fé teve neles sua obra; o amor, seu trabalho; a esperança, sua paciência. Eles serviam ao Deus vivo e esperavam o Filho vir dos céus.

 

Será que tudo isso foi algo menos do que Eliseu seguindo Elias por todo o caminho de Gilgal até o outro lado do Jordão, passando por Betel? Os tessalonicenses, tão certamente quanto o profeta, tinham seus lombos cingidos e suas lâmpadas acesas, e eram como homens que esperavam pelo seu Senhor. A fé em um relato divino operou eficazmente neles tanto quanto a presença palpável de um mestre operou nele.

 

E o mesmo fruto foi produzido. Tudo o que nos falta é perceber nosso objeto, e a fé faz isso tão bem quanto a visão, o tato ou a audição.

 

O efeito de uma manifestação 

Mas o efeito de uma manifestação de Deus, embora não dependa necessariamente de algo palpável, como uma visão ou um milagre, terá de ser medido pela condição da alma à qual é feita. É assim, e essa é uma importante verdade moral. E isso a Escritura ilustra para nós também.

 

Jacó havia agido muito errado ao lado da cama de seu pai (Gn 27), e em Betel ele estava provando a amargura de seus atos, agora um andarilho da casa de seu pai, sem amigos e desabrigado. Na glória da bondade, Deus Se manifesta a ele. Os céus abertos, a escada e os anjos proporcionaram uma maravilhosa resposta da graça de Deus a alguém como Jacó naquele momento. Mas assim foi. O Senhor é maravilhoso para os Seus santos, mesmo quando eles sofrem debaixo das repreensões d’Ele por causa de seus malfeitos.

 

Jacó foi, depois disso, muito incrédulo em Peniel (Gn 32). Ele temeu o exército de Esaú na presença do exército de Deus. Ele desviou seu olhar do Senhor para a criatura; ele tremeu, calculou e orou, como se Aquele que era por ele não fosse mais do que aquele que era contra ele, mesmo Um sendo Deus e o outro, homem. O Senhor repreende isso – certamente repreende. Ele resiste a Jacó. Mas, Jacó se mantendo firme diante dessa repreensão, com sua fé reavivada, e agarrando-se ao Senhor, o Senhor lhe dá uma maravilhosa manifestação de Sua graça, permitindo-lhe prevalecer sobre Ele e lhe dando então um novo nome e uma nova bênção.

 

Esses foram os elementos da história de Jacó nessas duas grandes ocasiões, em Betel e em Peniel. Mas a experiência desse santo de Deus foi diferente em cada ocasião.

 

A porta do céu 

Em Betel, a experiência de Jacó foi de natureza mista. Ele disse que o lugar era “terrível” e, ainda assim, “a porta do céu” (TB). Ele foi encorajado pela visão, mas dificilmente podemos dizer que se alegrou com ela. Mas em Peniel tudo foi alegria para ele. Ele tem um júbilo, um triunfo santo, em seus lábios e se dirige à sua jornada como que à luz da face de Deus. Aqui está uma diferença, e uma diferença que se explica pela condição do próprio santo (não pela manifestação), pois a de Betel foi superior.

 

Em Betel não havia nele nenhum exercício de espírito como houve em Peniel. Lá, ele estava dormindo; aqui, ele estava acordado. Lá, ele simplesmente sofreu uma ação; aqui ele se recuperou e se mexeu. Havia diferenças morais na mesma alma e, consequentemente, experiências diferentes. Peniel foi mais para Jacó do que havia sido Betel, pois uma manifestação de Deus é mais para um santo que está acordado do que para um que está adormecido. Assim é hoje, da mesma forma como é visto que foi nos primórdios dos patriarcas.

 

Moisés na penha fendida 

E aqui deixe-me contrastar Moisés na visão na penha (ou rocha) fendida com Jacó em Betel ou Peniel (veja Êxodo 33-34). Moisés suplica ao Senhor e roga para que lhe seja mostrado “o Teu caminho”. O que ele até então tinha ouvido sobre o Senhor não serviria para Moisés. Ele já O tinha visto como o Legislador e como o Senhor da aliança condicional, e até mesmo comeu e bebeu em Sua presença junto com 70 dos anciãos de Israel (Êx 19, 24). Mas tais manifestações de Deus não serviriam. Moisés não estava satisfeito. E com razão, pois Israel estava naquele momento, debaixo de seus próprios olhos, em ruínas morais; estava tudo acabado para eles nos termos da lei ou sob sua própria aliança. Moisés, portanto, precisava ver Deus à Sua própria maneira. Precisava conhecê-Lo, como ele agora diz a Deus – conhecê-Lo em soberana graça.

 

O Senhor promete fazer como Seu servo assim ansiava. Ele deixará Sua glória passar diante dele, “toda a Minha bondade”, Sua soberana graça, a graça que, como no evangelho, é abundante. E Ele assim o faz.

 

Moisés está profunda e plenamente satisfeito. Ele se curva e adora. Ele não pede mais nada – não pede mais manifestações de Deus –, apenas deseja que Deus, que agora havia descido, e permanecido com ele, e passado em Sua própria glória, pudesse seguir o caminho com ele e com Israel.

 

Essa foi, de fato, uma experiência abençoada. Foi como “um transbordar e derramar numa corrente viva e vivificante”. E por que esse rico prazer? Moisés havia buscado isso. Ele não estava dormindo sob a visão, como Jacó em Betel, nem tinha simplesmente se recuperado sob ela, como Jacó em Peniel; ele próprio a havia buscado. Foi o exercício de espírito que o levou à visão e, portanto, ele estava preparado para o poder total dela; e o poder total dela foi o que ele teve.

 

J. G. Bellett

Quatro Sonhos de José

 

Como Deus guia quando não há passagens definidas para nos direcionar 

José, filho de Jacó, teve dois sonhos que estão registrados na Escritura. José, marido de Maria, mãe de Jesus, teve quatro.

 

Deus muitas vezes fala por meio de sonhos. “Deus fala uma e duas vezes; porém ninguém atenta para isso.  Em sonho ou em visão de noite, quando cai sono profundo sobre os homens, e adormecem na cama, então, abre os ouvidos dos homens, e lhes sela a sua instrução, para apartar o homem do seu desígnio e esconder do homem a soberba” (Jó 33:14-17 – ARC). No entanto, o principal meio de Deus de falar ao homem hoje é por meio de Sua Palavra. “O profeta que tem um sonho conte o sonho; e aquele que tem a Minha Palavra, fale a Minha Palavra com verdade” (Jr 23:28). Nunca devemos confiar em um sonho para obter direção quando a Palavra de Deus dá instruções definidas. Ser governado por sonhos é ser guiado pelas circunstâncias e não é andar por fé (2 Co 5:7). Há muitas coisas em nossa vida, no entanto, para as quais não temos uma passagem específica para nos guiar. Conhecer a mente de Deus requer humildade e proximidade com o Senhor. “Guiará os mansos em justiça e aos mansos ensinará o Seu caminho Qual é o homem que teme ao SENHOR? Ele o ensinará no caminho que deve escolher O segredo do SENHOR é com aqueles que O temem” (Sl 25:9-14).

 

Nos quatro sonhos de José, quem é apresentado em Mateus 1:16, vemos ilustrados alguns princípios da Escritura sobre como Deus guia quando não há passagens definidas para nos direcionar. Em cada um de seus sonhos, José foi direcionado a fazer algo e, em cada caso, ele não se moveu até receber uma palavra de Deus. Ele não agia por impulso, mas esperava pacientemente em Deus.

 

O primeiro sonho 

Quando Maria, aquela que seria sua esposa, se achou grávida do Espírito Santo, José não sabia que ela era o vaso escolhido para dar à luz o “desejo das mulheres” (JND), isto é, o Messias (Dn 11:37). “Então José, seu marido, como era justo, e a não queria infamar, intentou deixá-la secretamente. E, projetando ele isto, eis que em sonho lhe apareceu um anjo do Senhor, dizendo: José, filho de Davi, não temas receber a Maria, tua mulher, porque o que nela está gerado é do Espírito Santo” (Mt 1:19-20).

 

Enquanto ponderava o assunto diante de Deus, José recebeu instruções que devem ter emocionado sua alma. Quão trágico teria sido se ele tivesse agido de forma precipitada, sendo guiado apenas pelas aparências. “Não julgueis segundo a aparência, mas julgai segundo a reta justiça” (Jo 7:24). A evidência parecia incontestável, mas José não agiu até que Deus falou com ele.

 

O segundo sonho 

O segundo sonho que José recebeu foi parecido com o sonho que os magos receberam de Deus, que os advertiu a retornar à sua terra por outro caminho (Mt 2:12). Os magos receberam uma direção definida de Deus para retornar ao Oriente. José não os seguiu, mas esperou até que Deus falou com ele por um sonho e lhe disse para levar Maria e o Menino Jesus para o Egito (Mt 2:13).

 

Quantas vezes vemos outros sendo guiados de uma certa maneira que pode muito bem ser a mente de Deus para eles. Podemos ser tentados a segui-los, ao invés de esperar pela direção especial de Deus para nós. Não devemos seguir os outros em seus exercícios, mas devemos estar diante de Deus nós mesmos. Pode ser que Deus nos guie de forma semelhante, mas a vontade de Deus deve ser recebida de forma individual.

 

José obedeceu à direção celestial, e, como resultado, Jesus pôde sair do Egito e assim cumprir a profecia (Os 11:1).

 

O terceiro sonho 

Enquanto José estava no Egito, Herodes morreu. Parece que José agora se sentiria livre para retornar a Belém, pois a ameaça de perigo havia passado. Mas, novamente, José esperou ser direcionado por Deus por um sonho (Mt 2:19). Quantas vezes concluímos presunçosamente que, por causa de circunstâncias favoráveis, a providência está nos conduzindo! Às vezes é esse o caso, mas às vezes não, como vemos em Jonas que, em desobediência, fugiu para Társis. José não foi movido por condições favoráveis, mas esperou em dependência de Deus, “e tudo o que não é de fé é pecado” (Rm 14:23).

 

Ao voltar para a terra de Israel, ele ouviu que Arquelau, o filho de Herodes, estava reinando. Isso lhe causou medo, mas, como ele foi guiado por Deus para retornar à terra de Israel, não sendo governado por circunstâncias favoráveis, ele agora esperava por outra mensagem de Deus. Ele não se moveu por medo por causa de condições desfavoráveis. Muitas vezes nos movemos por medo e não por fé, mas não é assim que Deus guia. “O temor do homem armará laços” (Pv 29:25).

 

O quarto sonho 

Talvez parecesse prudente ir para outro lugar, e foi o que aconteceu. A partida de José para Nazaré, no entanto, não foi apenas um movimento baseado em uma lógica sólida, mas em sujeição à orientação do Senhor por um sonho (Mt 2:22).

 

José foi guiado por Deus a cada passo, movendo-se em dependência e obediência. Como precisamos esperar em Deus com mansidão e em humildade, buscando Sua direção ao invés de sermos guiados pelas aparências, pelos movimentos dos outros, pela presunção ou pelo medo.

 

“Confia no SENHOR de todo o teu coração, e não te estribes no teu próprio entendimento. Reconhece-O em todos os teus caminhos, e Ele endireitará as tuas veredas” (Pv 3:5-6).

 

W. J. Brockmeier

O Sonho do Rei

 

Nabucodonosor foi dormir certa noite na Babilônia com o poder e a majestade de seu império em sua mente, imaginando qual seria o desenvolvimento dele. Deus graciosamente respondeu aos seus pensamentos pagãos, mostrando-lhe em visão o imperialismo gentio como um todo e sua destruição final pelo poder superior do Reino de Deus (Dn 2). A intenção disso era agir em sua consciência para que ele fosse abençoado, mas tal efeito não foi produzido naquele momento. A bênção veio depois (Dn 4).

 

Salomão foi dormir em Gibeão com pensamentos muito diferentes exercitando sua mente. Ele havia se tornado a pessoa mais exaltada da Terra, líder do povo escolhido de Deus, agora triunfante sobre todos os inimigos. Ele sentiu a seriedade de sua posição e as grandes responsabilidades a ela associadas (talvez ele ainda fosse um adolescente), e seu coração se voltou para Deus. Felizes teriam sido as nações ao longo dos séculos se os governantes de todos os lugares tivessem se sentido como Salomão naquela noite em Gibeão (1 Rs 3:5-15).

 

Pede-Me o que queres que Eu te dê 

“Apareceu o SENHOR a Salomão de noite em sonhos; e disse-lhe Deus: Pede-Me o que queres que Eu te dê”. Sonhos não são a maneira mais íntima de Deus Se comunicar com os homens, como Ele mesmo disse a Arão e Miriã em Números 12:6-8; mas parece certo que Salomão nunca conheceu a Deus como Davi, seu pai, O conhecia. Ele não tinha a profunda experiência espiritual de Davi, nunca tendo sofrido como ele sofreu. Os anos de aflição de Davi lhe deram um conhecimento de Deus do qual todos nós nos beneficiamos até hoje como leitores de seus Salmos. Davi poderia ter dito como um poeta disse depois:

 

“Águas profundas cruzaram o caminho da vida,

 A cerca de espinhos era pontiaguda/cortante.”

 

Tal linguagem seria estranha a Salomão. No que se refere ao Templo, embora negada a honra de construí-lo, foi a Davi que Jeová deu todas as instruções necessárias, que ele passou a Salomão (1 Cr 28:1-12). Também é notável que Davi seja mencionado na lista de homens de fé de Deus (Hb 11:32), e Salomão não.

 

O espírito de uma criança 

Foi depois de um dia agitado em Gibeão, quando mil ofertas queimadas foram oferecidas sobre o altar, que “apareceu o SENHOR a Salomão de noite em sonhos; e disse-lhe Deus: Pede-Me o que queres que Eu te dê”. A resposta do jovem rei deleitou o coração de Deus. Primeiro, ele reconheceu a benevolência de Deus em lhe dar um filho para assentar-se em seu trono. Em seguida, ele confessou sua própria insuficiência para as pesadas responsabilidades que agora estavam sobre ele. O povo de Jeová era um povo grande, que se distinguia como Seus escolhidos. Guiá-los e direcioná-los corretamente em sua relação única com Deus estava além do seu poder. “Sou apenas um menino pequeno; não sei como sair, nem como entrar”. O espírito de criança – humilde, que confia e ensinável – convém a todos nós. O Senhor Jesus estabelece isso em Mateus 18. Os versículos finais do capítulo 17 nos dão um maravilhoso cenário para essa instrução. Pedro se portou como um tolo com os cobradores de impostos em Cafarnaum, mas o Senhor aproveitou a ocasião para declarar a exaltada posição em que Pedro e todos os outros crentes se encontram em relacionamento com Ele por meio da graça. Somos filhos do Soberano do universo em associação com o Primogênito! (Hb 2:10)

 

O crente em Jesus é, portanto, uma pessoa muito digna, segundo a graça. Observe a sequência. “Naquela mesma hora chegaram os discípulos ao pé de Jesus, dizendo: Quem é o maior no reino dos céus? E Jesus, chamando um menino, o pós no meio deles, E disse: Em verdade vos digo que, se não vos converterdes e não vos fizerdes como meninos, de modo algum entrareis no reino dos céus”. Portanto, temos que nos tornar bem pequenos para podermos entrar na bênção. O próximo versículo nos ensina a continuar pequenos. “Aquele que se humilhar como esta criança, esse é o maior no reino dos céus” (ARA). Mateus 17:24-27 nos mostra a dignidade da graça; Mateus 18 segue apropriadamente, instruindo-nos a nos manter pequenos e insignificantes em nossa própria estima. Até o rei Saul, no começo, era pequeno aos seus próprios olhos (1 Sm 15:17); exaltação e poder despertaram seu orgulho e teimosia inerentes, para sua ruína. Um rei que veio posteriormente, Uzias, andou bem até que, “havendo-se já fortificado, exaltou-se o seu coração para a sua própria ruína” (2 Cr 26:16 – ARA).

 

Importância própria 

A importância própria era a praga do grupo apostólico. Mesmo na última ceia, “houve também entre eles contenda, sobre qual deles parecia ser o maior” (Lc 22:24). A vinda do Espírito Santo no Pentecostes para assumir o comando da assembleia para Cristo deveria ter tornado isso impossível na nova ordem, mas a carne está sempre inquieta. A clara determinação do apóstolo Paulo em Romanos 12:3 foi pouco ouvida: “Porque pela graça que me é dada, digo a cada um dentre vós que não pense de si mesmo além do que convém; antes, pense com moderação, conforme a medida da fé que Deus repartiu a cada um”. A vastidão das imensidões divinas que ele ministrou fez com que Paulo se sentisse pessoalmente muito pequeno – “menor do que o mínimo de todos os santos” (Ef 3:8 – TB). Em 1 Coríntios 14:20 encontramos um apelo verdadeiramente impressionante: “Irmãos, não sejais meninos no entendimento, mas sede meninos na malícia, e adultos no entendimento”. Ele não desejava que seus leitores fossem infantis, mas sim que fossem como crianças. “Eu, porém, entre vós sou como Aquele que serve”, disse o Senhor aos Seus seguidores presunçosos (Lc 22:27). Ele não lavou os pés deles naquela mesma noite? (Jo 13)

 

Buscai primeiro o reino de Deus 

Salomão sentiu que era apenas “um menino”; portanto, ele aproveitou a oportunidade de ouro divinamente dada para pedir “um coração entendido para julgar a Teu povo, para que prudentemente discirna entre o bem e o mal; porque quem poderia julgar a este Teu tão grande povo?” Sua fala agradou muito a Jeová. Ele poderia ter pedido vida longa ou riquezas, ou a vida de seus inimigos; em vez disso, ele pediu um coração entendido para que pudesse governar bem o povo de Deus. Nosso bendito Senhor disse certa vez: “buscai primeiro o reino de Deus, e a Sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas”. Com base nesse princípio Jeová tratou com Salomão. “Eis que fiz segundo as tuas palavras; eis que te dei um coração tão sábio e entendido, que antes de ti igual não houve, e depois de ti igual não se levantará. E também até o que não pediste te dei, assim riquezas como glória; de modo que não haverá um igual entre os reis, por todos os teus dias” (1 Rs 3:12-13). Isso parecia tornar segura a bênção de Israel; mas Deus continuou dizendo: “se andares nos Meus caminhos, guardando os Meus estatutos”. Com o sacerdócio estando em um lugar secundário desde a ruína de Eli e seus filhos, tudo dependia da fidelidade do rei. O “se” para Salomão em 1 Reis 3:14 era tão fatal quanto o “se” para Israel em Êxodo 19:5, pois nunca se pode confiar na pobre carne, e o fracasso de Salomão foi verdadeiramente catastrófico. Bendito seja Deus que tudo o que foi perdido pela infidelidade dos homens será retomado pelo Senhor Jesus – o fiel Segundo Homem de Deus – conforme o princípio da graça e com base na redenção. Isso torna certas para sempre todas as coisas.

 

Perguntemos ao nosso próprio coração que resposta daríamos se Deus nos dissesse: “Pede-Me o que queres que Eu te dê”. Seria certamente um momento de prova e o ponto de virada de nossa vida. Eliseu teve um momento de prova em 1 Reis 19:19-21 e respondeu bem a isso. Ele deixou sua fazenda e imediatamente compartilhou o caminho do profeta perseguido. Mateus foi provado de forma semelhante, e abandonou uma vocação lucrativa, e seguiu o rejeitado Jesus (Mt 9:9). O que desejamos mais do que qualquer coisa que a Terra pode dar? Será que é “conhecê-Lo, e à virtude da Sua ressurreição, e à comunicação [comunhão – JND] de Suas aflições, sendo feito conforme à Sua morte”? (Fp 3:10)

 

W. W. Fereday

As Visões do Apóstolo Paulo

 

Em outro artigo desta edição de O Cristão, mencionamos que sonhos e visões eram frequentemente usados no Velho Testamento, antes que a Palavra de Deus estivesse completa e antes da vinda do Espírito Santo para habitar em cada verdadeiro crente. Também mencionamos que Deus continua a usar sonhos e visões hoje, especialmente em partes do mundo onde Sua Palavra pode não estar disponível. No entanto, o Senhor usou sonhos e visões de tempos em tempos na Igreja primitiva, particularmente com Pedro e Paulo.

 

Tanto Pedro quanto Paulo viveram em um tempo de transição, e o Senhor não parou imediatamente de usar essa forma de Se comunicar com Seus servos. Estavam “passando as trevas”, e a “verdadeira luz” já estava brilhando (1 João 2:8), mas isso aconteceu durante um período de tempo. Paulo foi usado pelo Senhor para “cumprir [completar – JND] a Palavra de Deus” (Cl 1:25) e, portanto, ele tinha um chamado muito especial. Houve sete ocasiões em sua vida em que o Senhor escolheu falar com ele em uma visão direta, em vez de simplesmente guiá-lo pelo Espírito Santo.

 

A primeira visão 

A primeira vez que Paulo teve uma visão foi quando o Senhor apareceu a ele na estrada para Damasco (At 9:3-6). Uma luz mais brilhante que o Sol de repente o atingiu, e uma voz lhe falou: “Saulo, Saulo, por que Me persegues?” Saulo, como era chamado antes de ser salvo, imediatamente reconheceu isso como uma “visão celestial” (At 26:19) e respondeu: “Quem és, Senhor?”. Ele sabia que o próprio Senhor estava falando com ele e esperou que o Senhor lhe dissesse o que fazer a seguir.

 

É importante reconhecer que Saulo estava perseguindo os Cristãos com uma boa consciência, pois ele pôde dizer mais tarde ao Sinédrio Judeu: “Varões, irmãos, tenho andado diante de Deus com toda a boa consciência até ao dia de hoje” (At 23:1 – ARA). Saulo pensou que estava fazendo a coisa certa e que perseguir os Cristãos era agradável ao Senhor. Mas o Senhor iria mostrar a ele o contrário e que colocar as mãos nos crentes em Cristo era perseguir o próprio Cristo.

 

A segunda visão 

A segunda visão que Paulo teve foi logo depois, quando ele estava em Damasco, cego por três dias, com tempo para refletir sobre o que lhe havia acontecido. Durante esse tempo, Saulo evidentemente teve outra visão – a visão de um homem chamado Ananias vindo até ele, impondo sobre ele as mãos e devolvendo-lhe a visão (At 9:11-12). O Senhor também tinha enviado a Ananias uma visão, mandando-lhe ir fazer isso, e tinha dito a Ananias que Saulo o estaria esperando. Durante essa mesma visita de Ananias, Saulo foi batizado e foi “cheio do Espírito Santo” (At 9:17).

 

Foi pouco antes disso que Estêvão foi martirizado enquanto Saulo observava com aprovação, mas como alguém comentou: “Era típico dos caminhos de Deus nesta dispensação da graça que, quando Satanás conseguiu apagar uma das luzes mais brilhantes da Igreja primitiva, Deus pegou o pior dos responsáveis e falou, por assim dizer: ‘Venha e tome o lugar dele!’”. O Senhor então fez de Saulo de Tarso um servo ainda maior do que Estêvão.

 

A terceira visão – direção no serviço e orientação 

Para a terceira visão, devemos ir para Atos 22:17-21, onde lemos o relato de Paulo sobre como Deus deu a ele direção no serviço. Saulo (nessa época chamado Paulo) estava evidentemente em Jerusalém, orando no templo, quando o Senhor lhe disse claramente: “Vai, porque hei de enviar-te aos gentios de longe” (At 22:21). Ao contrário da missão de Pedro, que era para os Judeus, a comissão de Paulo era para os gentios. Mais tarde, quando Paulo voltou a Jerusalém para testemunhar à sua própria nação (os Judeus), foram só problemas. Tudo isso é uma boa lição para nós; estamos sempre certos em fazer o que o Senhor nos dá para fazer. Seguir nosso próprio caminho, mesmo com bons motivos, nunca cumprirá os propósitos de Deus.

 

A quarta visão 

A quarta visão nos é dada em Atos 16:9, pois aqui Paulo e seu companheiro Silas não sabiam ao certo o que fazer. Se em Jerusalém Paulo recebeu orientações gerais quanto ao seu serviço para o Senhor, ele também precisou de orientações específicas algumas vezes. Eles “foram impedidos pelo Espírito Santo de anunciar a Palavra na Ásia” e, quando tentaram “ir para Bitínia”, lemos que “o Espírito de Jesus não lho permitiu” (ARA). Mas então, depois de chegarem a Trôade, eles receberam outra visão, dizendo-lhes que havia um homem na Macedônia pedindo-lhes: “Passa à Macedônia, e ajuda-nos” (v. 9). Eles tinham trabalhado para o Senhor na Ásia, mas agora era hora de o evangelho ser introduzido na Europa. Mais uma vez, quão maravilhosos são os caminhos de Deus. Mal sabiam Paulo e Silas que, para chegar àquele homem (o carcereiro em Filipos), eles teriam que suportar açoites e prisão. Paulo estava aprendendo como ele deveria sofrer pelo nome de Cristo (At 9:16).

 

A quinta visão – encorajamento 

A quinta visão é de encorajamento, pois aqui Paulo está em uma cidade grande, rica e muito importante da Grécia – Corinto. Paulo estava temeroso quando foi para lá, e ele admite isso mais tarde em 1 Coríntios 2:3: “E eu estive convosco em fraqueza, e em temor, e em grande tremor”. Não que ele tivesse alguma dúvida quanto ao poder do evangelho, mas ele temia que talvez aquelas pessoas ricas e cultas não quisessem ouvi-lo. O Senhor o encoraja dizendo-lhe que “ninguém lançará mão de ti para te fazer mal” e que Ele, o Senhor, tinha “muito povo nesta cidade” (At 18:10). O Senhor manteve Sua Palavra, e não lemos sobre nenhuma perseguição direta em Corinto, mesmo Paulo tendo permanecido lá por um ano e meio. A única tentativa dos Judeus de levantar perseguição resultou apenas na expulsão dos Judeus do tribunal por Gálio, o representante romano da região.

 

A sexta visão 

A sexta visão é muito preciosa, pois ocorre em um momento difícil na vida de Paulo, quando ele estava, sem dúvida, bastante desanimado. Mesmo depois de saber que ele havia sido comissionado para os gentios, seu amor por sua própria nação, os Judeus, fez com que ele, alguns anos depois, subisse novamente a Jerusalém, com a intenção de pregar a eles mais uma vez. No entanto, não houve bênção em seus esforços, e, se não fosse pelo Senhor permitir que os Judeus o expulsassem do templo, ele poderia ter comprometido seriamente sua posição Cristã (At 21:18-30). Como resultado do tumulto que se seguiu, ele foi levado sob custódia pelos romanos e, sem dúvida, sentiu profundamente seu fracasso. Na noite seguinte, o Senhor apareceu a ele e disse: “Paulo, tem ânimo; porque, como de Mim testificaste em Jerusalém, assim importa que testifiques também em Roma” (At 23:11). Podemos chamar isso de encorajamento na provação, pois, como mencionamos, Paulo certamente deve ter percebido seu fracasso em subir a Jerusalém. Além disso, muitos crentes lhe haviam testemunhado, em sua viagem até Jerusalém, que ele não deveria ir para lá. Mas o Senhor teve piedade de Seu servo, pois sabia que os motivos de Paulo eram corretos. O Senhor primeiro dá crédito a Paulo por testificar d’Ele em Jerusalém e então lhe diz que ele também daria testemunho em Roma. Paulo sabia, a partir daquele ponto, que chegaria a Roma. Tudo isso deve ter tornado um pouco mais fácil para ele suportar os dois longos anos na prisão antes de ser finalmente enviado a Roma. Mas Paulo sabia que o Senhor estava no comando de todas as suas circunstâncias.

 

A sétima visão – seu comparecimento perante César 

A sétima visão pode ser chamada de encorajamento ou inteligência no perigo. Após passar dois anos na prisão em Cesareia, Paulo foi finalmente embarcado em um navio com destino a Roma. Acabou sendo uma jornada perigosa, tanto que a maioria a bordo do navio pensou que eles se perderiam no mar. Paulo já tinha a resposta: ele sabia que isso não aconteceria, mas que chegaria a Roma. No entanto, agora Deus lhe deu uma visão adicional. Ele não apenas chegaria a Roma e seria levado perante César, mas o Senhor graciosamente preservaria todos os que estavam a bordo daquele navio (At 27:23-25). Quando Paulo revelou essa visão aos que estavam no navio, ele falou com autoridade, assumindo o comando do navio, embora fosse apenas um prisioneiro. O resultado foi que “todos cobraram ânimo” (At 27:36 – ARA). Novamente, isso é um encorajamento para nós, pois, quando um crente em Cristo fala com a autoridade de Deus, outros, até mesmo incrédulos, muitas vezes reconhecem a voz do Senhor e ouvem.

 

Podemos mencionar uma visão final que Paulo teve, embora tenha sido mais do que uma visão. Refiro-me ao momento em que Paulo foi “arrebatado até ao terceiro céu” (2 Co 12:2). Sem dúvida, Paulo foi realmente arrebatado ao terceiro céu (a morada de Deus), embora ele não tivesse consciência se estava no corpo ou fora do corpo. Foi uma prévia maravilhosa da glória vindoura, mas depois ele precisou de “um espinho na carne”, para ele não se “exaltar” (2 Co 12:7). O orgulho humano ainda poderia atrapalhar, e esse espinho manteve Paulo humilde. No entanto, Paulo, mais tarde, pôde se regozijar, pois o espinho apenas tornou o poder de Cristo mais evidente em sua vida.

 

Você e eu provavelmente não teremos visões como as que Paulo teve, mas Deus, por Seu Espírito Santo, pode deixar claro para nós qual é Sua mente, em todas as áreas em que Paulo teve visões. No entanto, devemos estar andando com o Senhor com um verdadeiro desejo de conhecer Sua mente.

 

W. J. Prost

Uma Visão da Noite

 

Muitas pessoas se aglomeraram em um “cenáculo”, onde um evangelista de uma cidade distante falaria de Jesus. Tal visão não é incomum em nosso país, mas no extremo sul da França as reuniões de pregação do evangelho não são tão frequentes, e muitas pessoas que lá estavam iriam ouvi-lo pela primeira vez.

 

Com rostos ansiosos fixos no pregador, eles ouviam, enquanto ele lhes rogava que corressem para o Salvador, para imediatamente encontrar salvação em Sua obra consumada na cruz. Ele lhes mostrou que “refúgio da mentira” é o falso ensino que diz ao pecador que sua tentativa de boas obras pode lhe render o céu. Mas, ao mesmo tempo em que falou do amor de Deus, que enviou Seu Filho ao mundo para que, crendo n’Ele, não perecêssemos, ele também os alertou sobre um juízo que certamente viria e implorou fervorosamente que eles viessem a Jesus antes que fosse tarde demais.

 

Concluindo em tom profundamente solene, que comoveu o coração de seus ouvintes, ele relatou o seguinte incidente de sua própria vida, que pode ser uma voz de advertência até mesmo para alguns em nosso país:

 

“Criado por uma mãe verdadeiramente piedosa, que desde a minha mais tenra infância tentou me levar a Jesus, nunca fiquei sem impressões profundas. Eu queria que o Salvador de minha mãe fosse meu e admirava a beleza de Cristo exemplificada na vida dela. Mas, embora desejasse ardentemente ser um dia um filho de Deus como ela, eu continuava adiando o momento de me decidir por Cristo.

 

E assim minha infância passou. Estava se aproximando o tempo em que eu deveria deixar minha casa para sair pelo mundo, e eu ainda era um não convertido, sem Cristo, apesar dos constantes e sinceros apelos de minha mãe. Por fim, o próprio Deus falou comigo por meio de um sonho de advertência. Já faz vinte anos, mas ele está tão vívido em minha mente como se tivesse sido ontem.”

 

O sonho 

“Sonhei uma noite que estava ocupado em meus estudos com o tutor, minha mãe assentada ao meu lado. Era meio-dia, quando a luz devia estar mais forte; mas de repente a luz do Sol desapareceu e uma profunda escuridão cobriu os céus.

 

Espantado, me levantei e, tateando em direção à janela, a abri e fiquei olhando para a escuridão cada vez maior, que se tornou uma 'escuridão que podia ser sentida'. Ao longe, discerni um pequeno ponto luminoso, vindo direto do céu, que aumentava gradualmente seu brilho enquanto eu o contemplava.

 

Um terrível pressentimento tomou conta de mim. 'Será que é a vinda do Senhor?', exclamei.

 

Aquele não era um pensamento novo para mim, pois minha mãe, em suas solenes advertências, frequentemente me dizia que Ele viria novamente, implorando que eu estivesse pronto para encontrá-Lo.

 

Fiquei paralisado, incapaz de tirar meu atento olhar daquela luz brilhante que, parecendo dominar a escuridão, crescia cada vez mais e se aproximava cada vez mais, até que vi nitidamente, no meio da glória, a Pessoa do próprio Filho de Deus e percebi que meus piores medos se concretizaram.

 

Anjos brilhantes saíram daquele centro glorioso e desceram rapidamente, entrando nas habitações, onde quer que estivessem os comprados pelo sangue do Salvador. Observei os mensageiros celestiais retornando, alguns conduzindo apenas um, outros dois ou três santos à presença do Senhor, e vi a doce recepção de cada um pelo Salvador – o olhar de terno amor e boas-vindas que Ele lhes dava – e entendi que eles realmente haviam entrado na 'abundância de alegrias’ (ARC). Minha alma estava cheia de desejo de compartilhar tamanha gloriosa felicidade, mas eu sabia que não estava pronto. Ah, se eu pudesse recuperar algumas horas daquele tempo precioso que Deus em Sua longa paciência havia dado a mim – e que agora se fora para sempre!”

 

As almas perdidas 

“Com prazer eu teria olhado por mais tempo para aqueles rostos, iluminados com tão santo arrebatamento, mas outra cena atraiu minha atenção e prendeu meus olhos horrorizados – uma cena de miséria, desolação e aflição acontecendo na escuridão abaixo. Almas perdidas, que naquela hora terrível haviam em vão procurado se esconder da ira do Cordeiro, amaldiçoavam a Deus e O insultavam à medida que o inevitável juízo as alcançava. Eu as ouvia blasfemando contra Seu nome, enquanto eram levadas para a perdição, para as ‘trevas exteriores’, onde ‘haverá pranto e ranger de dentes’; ‘onde o seu bicho não morre, e o seu fogo nunca se apaga’.

 

Queridos amigos, peço que se lembrem de que isso é apenas um sonho e que, portanto, tolerem alguns detalhes que não são bíblicos. Não são anjos que virão para conduzir os redimidos à presença do Senhor. Vocês verão, se abrirem em 1 Tessalonicenses 4:16-17, que Ele não confiará essa missão a nenhum outro, mas que Ele mesmo descerá do céu e chamará os Seus para se juntar a Ele nos ares. O terrível juízo que cairá sobre os ímpios não ocorrerá até depois que os filhos de Deus estejam seguros em casa, na casa do Pai, longe dessa cena de aflição. No entanto, em meu sonho, Deus, em Sua graça, com o propósito de me despertar completamente, trouxe vividamente diante de mim todos os horrores dos condenados, ao mesmo tempo em que me mostrou a bem-aventurança dos santos. Foi realmente um momento terrível.

 

Clamei em alta voz, numa febre de ansiedade, rogando por aquela misericórdia que eu sabia que havia sido tão livremente oferecida a mim um pouco antes, misericórdia da qual eu havia então me afastado com indiferença, mas que agora percebia ser de valor eterno. Orei por salvação – a salvação que eu havia adiado aceitar quando estava ao meu alcance. Supliquei por apenas mais uma hora. Mas, enquanto clamava a Deus, senti, em minha angústia, que não havia ninguém para ouvir; a oração voltou como um eco vazio ao meu próprio peito. Eu sabia que era tarde demais; o dia da graça havia acabado, o dia do juízo havia começado!

 

Meus olhos buscaram novamente aqueles brilhantes mensageiros do Senhor. Um deles deveria vir à nossa casa, pois sem dúvida havia uma filha de Deus ali. Uma tênue esperança surgiu dentro de mim, de que, quando o mensageiro viesse para ela, ainda pudesse haver misericórdia para mais alguém; de que talvez (não tendo positivamente recusado a salvação, embora tão culpado em demorar a aceitá-la) eu pudesse encontrar perdão e ser arrebatado com ela para me juntar à alegre multidão ao redor do Senhor.

 

A porta se abriu, e um anjo radiante estava diante de nós, seu rosto brilhando com o amor e a paz d’Aquele de cuja presença ele tinha vindo. Senti que o momento decisivo havia chegado e que meu destino estava selado. Quantos dos ocupantes daquele cômodo ele chamaria?”

 

A porta se fechou 

“Acenando para minha mãe, o anjo disse: 'Segue-me', e ela se levantou rapidamente e o seguiu. Ele vai chamar apenas um? Não tem ele nenhuma palavra para mim? Oh, quão alegremente eu também iria! Como um pobre suplicante, meus olhos de súplica estavam voltados para a face do anjo, mas nem um só olhar ou palavra tinha ele para mim. Foi a voz da minha amada mãe que pronunciou minha condenação, quando ela me deixava para sempre. Na porta, ela se virou e, lançando sobre mim um sério olhar que penetrou a minha alma, disse em tom triste: 'Meu filho, muitas vezes falei com você sobre isso e disse que, se você quisesse ser salvo, deveria crer no Senhor Jesus Cristo; agora é tarde demais! Tarde demais!'.

 

A porta se fechou, e ela se foi, deixando-me com as ardentes palavras ecoando em meus ouvidos: 'Tarde demais! Tarde demais!'. Desmoronei no chão em agonia de dor, chorando como se meu próprio coração fosse se partir. Nada me restava, tudo havia desaparecido num instante – tanto a Terra quanto o céu, minha mãe e o Senhor. Nas profundezas da minha miséria, acordei!

 

Acordei e encontrei o travesseiro encharcado com minhas lágrimas. O quê! Um travesseiro, uma cama! Então essa terrível cena não passara de um sonho. Não era ainda para eu levantar os olhos no inferno, estando em tormentos, arrastado para longe da eterna luz por aqueles temíveis arautos do juízo.

 

'Apartai-vos de Mim, malditos!' ainda não tinha sido dito. Aquelas terríveis palavras, 'Tarde demais! Tarde demais!', ainda não eram verdade. Os santos resgatados ainda não estavam reunidos na casa do Pai. Eu tinha ainda uma hora de ouro; nem um só momento dela devia ser perdido. Pulei da cama e, lançando-me de joelhos diante de Deus, com muitas lágrimas clamei por misericórdia, enquanto agradecia a Ele por ter me dado mais uma hora em Seu 'dia da salvação'.

 

Bendito seja Deus! Ainda havia tempo para eu encontrar a Cristo, ser lavado em Seu precioso sangue e viver de agora em diante para Aquele que morreu por mim, enquanto aguardava Sua vinda.”

 

Essa foi a história contada pelo pregador naquela noite na pequena cidade francesa.

 

Caro leitor, você que ainda está sem esperança e sem Deus no mundo, oh! Não demore para vir a Jesus enquanto há tempo. Não descarte isso como sendo apenas um sonho, pois nele há uma solene lição. Cristo certamente voltará; o clamor: “Eis o noivo!” (ARA) soou. Acaso há azeite em sua vasilha, e, com sua lâmpada preparada, você vai sair ao encontro d’Ele? Como será com você quando Ele chamar Seus santos para se juntarem a Ele nos ares? Esteja avisado: corra para Cristo, enquanto a longanimidade do nosso Deus é salvação, e lance sua sorte com aqueles que estão esperando dos céus o Filho, a saber, “Jesus, que nos livra da ira vindoura” (ARA).

 

D. & A. C.

Um Sonho com Uma Sequência

 

Alguns anos atrás, quando estávamos em nossa estação em Teianhsien, na China, uma resposta muito interessante a um sonho chegou a mim. Fui informado de que um visitante que estava na sala de visitas desejava me ver. Após as saudações habituais, ele disse: “O senhor tem uma mensagem para mim?” 

 

A casa dele ficava em uma vila a muitos quilômetros de distância de Teianhsien. Havia muitas gerações que sua família era grande adoradora de ídolos e de seus ancestrais. Já havia alguns anos, porém, que ele próprio não estava satisfeito e estava buscando como ele poderia obter a felicidade no mundo vindouro.

 

Ele me disse que, três noites antes de vir até mim, sonhou que viu um homem parado ao lado de sua cama, que lhe disse que ele deveria se levantar e tomar café da manhã, e depois de comer ele deveria descer a montanha e cruzar as planícies até chegar ao rio Teh; lá ele encontraria a balsa do seu lado, e por ela ele deveria cruzar o rio perto do Portão Norte. Ali estaria parado um homem, a quem ele deveria perguntar onde um estrangeiro chamado Wang (meu nome chinês) vivia. Esse estrangeiro lhe diria como obter a felicidade que ele buscava. Nosso amigo então me contou como ele, quando acordou, imediatamente se levantou, tomou o café da manhã, desceu a montanha, cruzou as planícies, encontrou a balsa do lado dele do rio, atravessou e chegou ao Portão Norte. Lá estava o homem parado, e quando ele perguntou onde o estrangeiro morava, foi-lhe dito para atravessar a cidade até chegar ao Portão Sul e depois seguir em frente até chegar à última casa. Lá ele encontraria o estrangeiro, Wang. Ele disse: “Agora cheguei e descobri que tudo estava de acordo com o meu sonho; desejo que o senhor me conte a mensagem que tem para me contar.” Que alegria foi a minha, enquanto me sentava ali, de poder contar àquele homem a mensagem do evangelho!

 

Ficamos juntos ali sentados o dia todo, falando das coisas de Deus, e ao anoitecer ele teve a alegria de encontrar paz crendo no Senhor Cristo, que havia morrido por ele. Como ele se regozijou no conhecimento da salvação segura que ele acabara de encontrar!

 

Echoes of Grace (versão resumida), 1973

O Sonho de Jacó


A noite estava escura, o deserto sombrio,

E o coração de Jacó estava triste, com medo.

 

Ele colocou seu cajado no chão;

Uma pedra ele encontrou por travesseiro;

E cansado, triste, oprimido,

Ele busca descanso para seus membros doloridos,

Ele se considera de tudo destituído –

Ninguém por perto para protegê-lo ou animá-lo;

Um estrangeiro, sem-teto e desamparado;

Por sua própria culpa tão rudemente arrancado

De tudo o que ele amava desde o alvor da infância.

 

Ele dorme finalmente – desamparado, sozinho,

Sua cabeça dolorida sobre a pedra;

Quando eis em visões da noite

Que glórias celestiais encontram sua visão!

Da terra fria em que ele está deitado,

Uma escada toca nos céus.

 

O caminho que sobe para o céu acima;

A descida do amor Encarnado;

E eis que acima está o Senhor,

Por todas aquelas hostes de anjos adorado,

Cuja voz graciosa, em claro tom,

Assim falou ao extasiado ouvido de Jacó:

Embora agora sozinho, expulso, aflito,

Mais do que o pó será a tua descendência;

Para o norte e o sul, para o leste e o oeste

Espalhará tua incontável geração;

Eis que estou contigo; Eu te guardarei

Como a menina dos Meus olhos:

Meu amoroso cuidado nunca dormirá;

Eu todas as tuas necessidades suprirei.

 

Sabedoria e misericórdia – tudo se engaja

Para sua cabeça proteger,

Suas aflições aliviar;

Para confortar, para preservar e abençoar

Suas jornadas pelo deserto:

Sempre que ele se apoia na vara do peregrino,

Jacó pode confiar no Deus de Jacó.

 

J. G. Deck (adaptado de um longo poema)

“Antes Deus fala uma e duas vezes; porém ninguém atenta para isso. Em um sonho, ou em visão de noite”

Jó 33:14-15


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