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Revista mensal publicada pela Bible Truth Publishers
ÍNDICE
One Thousand Tales Worth Telling (adaptado)
W. Potter, Conferências em St. Louis, 1925
D. Lamb (adaptado)
B. Anstey
W. J. Prost
Christian Truth, Vol. 6
Young Christian, Vol. 12
W. Kelly
A. H. Burton (adaptado)
D. T. G.
G. V. Wigram
C. P. H.
Vida e Morte

Todo crente, em algum momento da história de sua vida, enfrenta uma escolha muito importante: “Escolhei hoje a quem sirvais” (Js 24:15). “Não podeis servir a Deus e a Mamom”. Jesus disse a Mateus: “Segue-me”. A resposta de Mateus: “E ele, levantando-se, O seguiu”.
“Eu daria o mundo para ter a sua experiência”, disse um homem rico a uma devota senhora Cristã. “Isso é exatamente o que me custou”, respondeu ela. “Eu dei o mundo por ela” (veja Mateus 6:24). Escolha Cristo, que disse àqueles que O seguiram: “Tende bom ânimo; Eu venci o mundo” (Jo 16:33).
Um empregador Cristão ofereceu a seus quatro funcionários a escolha de uma Bíblia ou 20 dólares como presente de Ano Novo. Os três primeiros pegaram o dinheiro, mas o quarto, um adolescente, disse: “Como você diz que o livro é bom, vou pegá-lo e lê-lo para minha mãe”. Quando ele abriu o Livro, teve uma grande surpresa ao encontrar dentro dele uma nota de 50 dólares. “Todas essas coisas vos serão acrescentadas” (Mt 6:33). “Não negará bem algum aos que andam na retidão” (Sl 84:11).
Na lápide de um príncipe francês está inscrito: “Aqui jaz um homem das melhores intenções”. E essas palavras seriam um epitáfio verdadeiro para muitas outras lápides, pois muitos pretendiam seguir o Senhor depois de aceitá-Lo como seu Salvador, mas falharam em colocar suas intenções em ação. “Escolhei hoje a quem sirvais” (Js 24:15). “Escolhe, pois, a vida” (Dt 30:19).
One Thousand Tales Worth Telling (adaptado)
A Morte
Em Efésios 2:1-13 aprendemos que somos trazidos a uma maravilhosa posição como crentes, mas a posição exterior não muda o que somos por natureza. Mais adiante no capítulo, lemos sobre alguns que estavam longe e outros que estavam perto; em seguida lemos sobre uma coisa que era necessária para ambos: serem reconciliados a Deus. Então, “éramos por natureza filhos da ira, como os outros também”. “Mas, agora, em Cristo Jesus, vós, que antes estáveis longe, já pelo sangue de Cristo chegastes perto”. Descobrimos que Deus ainda está trabalhando hoje, e Ele está trabalhando para alcançar os mesmos resultados.
A morte, na Escritura, nem sempre significa a mesma coisa. Temos: “E vos vivificou, estando vós mortos em ofensas e pecados” (v. 1). E então temos: “vem a hora, e agora é, em que os mortos ouvirão a voz do Filho de Deus, e os que a ouvirem viverão” (Jo 5:25). Isso é morte espiritual e vida espiritual.
Morte física
Então, em alguns versículos adiante, temos: “Não vos maravilheis disso, porque vem a hora em que todos os que estão nos sepulcros ouvirão a Sua voz. E os que fizeram o bem sairão para a ressurreição da vida; e os que fizeram o mal, para a ressurreição da condenação” (Jo 5:28-29). Isso é o que chamamos de morte física. Assim, descobrimos que diferentes tipos de morte são mencionados na Escritura. Outro tipo de morte é: “mas a que vive em deleites, vivendo, está morta” (1 Tm 5:6).
O que é a morte, e como ela entrou neste mundo? “Por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte” (Rm 5:12). Deus conecta estas duas coisas: pecado e morte. Elas andam juntas, nos caminhos de Deus. E, quando o homem abriu a porta e deixou o pecado entrar, ele não pôde impedir a morte. A definição mais simples de morte que conheço é separação. O que acontece no que acabamos de chamar de morte física? O corpo está num mundo e o espírito está noutro. O indivíduo foi para outro mundo, para a eternidade, e o corpo está aqui. A morte causou a separação. Temos esse pensamento com frequência na Palavra de Deus.
A segunda morte
O que é a segunda morte? Há uma morte que nunca será aniquilada, e há uma morte que será aniquilada. “Ora, o último inimigo que há de ser aniquilado é a morte” – a morte física. Mas o que é essa morte que nunca será aniquilada? A segunda morte, que ocorrerá no “lago de fogo”. Por que é chamada de segunda morte? Porque é a condição eterna e imutável de todos os perdidos. Eles estão separados para sempre de Deus e confinados sob Seu juízo. Ela não tem fim! Refiro-me a isso porque as pessoas falam do inferno como tendo fogo literalmente. Essa não é a questão. O confinamento eterno é a questão. Não é dito um “mar de fogo”, mas um “lago de fogo”. O fogo é o juízo de Deus.
Uma parte da obra da graça de Deus hoje é salvar almas – aqueles que, se Deus deixasse que seguissem seu próprio curso, se encontrariam, para sempre, não apenas excluídos da presença de Deus, mas confinados sob Seu juízo.
Mortos em delitos e pecados
Como já mencionamos, existe outro tipo de morte: “E vos vivificou, estando vós mortos em ofensas e pecados” (Ef 2:1). Que tipo de morte é essa, estarmos “mortos em ofensas e pecados”? É a separação de Deus por causa de pecados. No entanto, essa não é a morte eterna. Graças a Deus, há um remédio para ela e Ele está livrando as pessoas dela, e isso faz parte de Sua obra nessa porção da Escritura. “E vos vivificou, estando vós mortos em ofensas e pecados, em que, noutro tempo, andastes, segundo o curso deste mundo” (vs. 1-2). Qual é o curso deste mundo? É um sistema, sob Satanás como seu príncipe, liderado por ele, e que terminará sob juízo. Quando o Senhor Jesus reconheceu Satanás como o príncipe deste mundo? Quando o Senhor estava no Getsêmani e a multidão veio prendê-Lo, Ele disse: “esta é a vossa hora e o poder das trevas” (Lc 22:53). As pessoas pouco pensam em quem é que as está conduzindo em sua separação de Deus!
Agora, em tal cena Deus vem, e Ele opera nela. O que O leva a operar nela? O versículo 4, de Efésios 2, nos diz que Deus é “riquíssimo em misericórdia”. Isso é o que leva Deus a operar neste pobre mundo, tão afastado d’Ele, e com todos seguindo um curso que os separa d'Ele e que irá no final, como foi dito, se não for interrompido, terminar em Seu juízo sobre eles.
Quão rico Deus é em misericórdia? Aprendemos isso quando percebemos o que é estar morto em delitos e pecados. Com isso quero dizer que é algo que aprendemos em comunhão com Deus – o que era estar separado d'Ele e o que é ser levado a Ele. Encontramos um pouco mais adiante (e nossa alma medita sobre isso com adoração): “pelo Seu muito amor com que nos amou, estando nós ainda mortos em nossas ofensas” (vs. 4-5). Ali nos lembramos do conhecido versículo, João 3:16, que nos traz a vida eterna quando estávamos em nossa condição de mortos.
W. Potter, Conferências em St. Louis, 1925
Uma Vida de Propósito e Comprometimento
“Te tenho proposto a vida e a morte, a bênção e a maldição; escolhe, pois, a vida, para que vivas, tu e a tua semente” (Dt 30:19). “Não tenhas inveja do homem violento, nem escolhas nenhum de seus caminhos” (Pv 3:31). “Manteiga e mel ele comerá, para que saiba rejeitar o mal e escolher o bem” (Is 7:15 – JND).
Moisés apresentou ao povo do Senhor uma escolha clara: uma vida comprometida em obedecê-Lo ou não. Decidir-se por Deus significava que eles deveriam se nutrir do que é rico e doce, como Isaías reconheceu, para ganhar força para resistir ao inimigo.
Embora Israel tenha dito que seguiria o Senhor (Êx 19:8), a história mostra que muitas vezes eles não comeram manteiga e mel nem andaram de acordo com aquilo que professaram (“Tudo o que o SENHOR tem falado faremos” – Êx 24:7). Mas tal falha não foi apenas de Israel: no Novo Testamento, até mesmo o amado Pedro negou o Senhor depois de prometer segui-Lo até a morte.
Embora nossa vida Cristã muitas vezes demonstre tais tendências de tropeçar, o propósito de coração (comprometimento) de seguir nosso Salvador em obediência é muito importante. “Mas tu, ó homem de Deus, foge destas coisas e segue a justiça, a piedade, a fé, a caridade [amor – ARA], a paciência, a mansidão” (1 Tm 6:11).
O exemplo perfeito
Nosso Salvador, Jesus Cristo, é o nosso melhor e perfeito Exemplo de uma vida totalmente comprometida. Somente Ele pôde dizer em perfeição absoluta, “A Minha comida (propósito) é fazer a vontade d'Aquele que Me enviou, e realizar a Sua obra” (Jo 4:34).
Também lemos sobre Seu comprometimento perfeito: “E aconteceu que, completando-se os dias para a Sua assunção, manifestou o firme propósito de ir a Jerusalém” (Lc 9:51).
“Agora, a Minha alma está perturbada; e que direi Eu? Pai, salva-Me desta hora; mas para isso vim a esta hora” (Jo 12:27).
Propor, recusar, seguir
A Escritura fornece uma série de exemplos humanos para nosso encorajamento. Vamos considerar, mais uma vez, alguns daqueles bem conhecidos.
Daniel: “E Daniel propôs no seu coração não se contaminar com a porção das iguarias do rei, nem com o vinho que ele bebia” (Dn 1:8 – ACF).
Moisés: “recusou ser chamado filho da filha de Faraó; escolhendo antes ser maltratado com o povo de Deus, do que por um pouco de tempo ter o gozo do pecado” (Hb 11:24-25).
Calebe e Josué: “perseveraram em seguir ao SENHOR” (Nm 32:12).
Requisitos para o verdadeiro comprometimento
Existem certos requisitos necessários para trilhar um caminho de fé verdadeiramente comprometido. Aqui estão alguns para se meditar a respeito.
É preciso ter vida eterna: “sem fé é impossível agradar-Lhe, porque é necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que Ele existe e que é galardoador dos que O buscam” (Hb 11:6). Infelizmente, muitos na “grande casa” da profissão Cristã (2 Tm 2:20) trilham um caminho “religioso”, mas sem uma nova vida que vem somente pela fé no Senhor Jesus Cristo. Tal caminhada não pode ser bem-sucedida; uma alma “precisa crer” (veja João 20:31).
Não se pode ter afeições divididas: “Ninguém pode servir a dois senhores... Não podeis servir a Deus e a Mamom” (Mt 6:24). “Escolhei hoje a quem sirvais... porém eu e a minha casa, serviremos ao SENHOR” (Js 24:15). Os caminhos do novo homem em Cristo (habitado pelo Espírito de Deus) e do velho homem (a carne) são contrários em propósitos (Gl 5:17), sempre indo em direções totalmente opostas. Seguir os dois é impossível.
Aquele que deseja ter uma vida comprometida deve reconhecer que todo poder vem de cima. “Escondi a Tua Palavra no meu coração, para eu não pecar contra Ti” (Sl 119:11). “Posso todas as coisas n'Aquele que me fortalece” (Fp 4:13).
As bênçãos de uma vida comprometida
Uma vida comprometida de fé é uma tremenda bênção para as pessoas, para os companheiros do caminho de fé e para o mundo que observa. “E que mais direi? Faltar-me-ia o tempo contando de Gideão, e de Baraque, e de Sansão, e de Jefté, e de Davi, e de Samuel, e dos profetas: os quais, pela fé, venceram reinos, praticaram a justiça, alcançaram promessas, fecharam as bocas dos leões, apagaram a força do fogo, escaparam do fio da espada, da fraqueza tiraram forças, na batalha se esforçaram, puseram em fugida os exércitos dos estranhos. As mulheres receberam, pela ressurreição, os seus mortos” (Hb 11:32-35).
Comprometimento em tempos difíceis
Nos caminhos soberanos de Deus, alguns de Seus amados santos não receberam (e não recebem) tais vitórias e bênçãos. Ainda assim, eles seguiram uma vida comprometida de fé, e seu propósito de coração foi registrado por todas as eras como um encorajamento para nós nestes últimos dias de trevas. “E outros experimentaram escárnios e açoites, e até cadeias e prisões. Foram apedrejados, serrados, tentados, mortos a fio de espada; andaram vestidos de peles de ovelhas e de cabras, desamparados, aflitos e maltratados (homens dos quais o mundo não era digno), errantes pelos desertos, e montes, e pelas covas e cavernas da Terra. E todos estes, tendo tido testemunho pela fé, não alcançaram a promessa” (Hb 11:36-39).
Logo chegará o dia em que todos os que procuraram andar pela fé com propósito e comprometimento de coração para o Senhor Jesus (seja em tempos amenos ou tempos de profunda provação e perseguição) ouvirão aquelas palavras abençoadas: “Bem está, servo bom e fiel”. Não nos cansemos “de fazer o bem”.
D. Lamb (adaptado)
Morte Moral
Romanos 6:19-20 demonstra a natureza progressiva de andar em santidade (santificação prática). Paulo diz: “Assim como oferecestes os vossos membros para a escravidão da impureza e da maldade para a maldade [iniquidade para a iniquidade – TB], assim oferecei, agora, os vossos membros para servirem à justiça para a santificação”. Os crentes romanos já haviam praticado a iniquidade (antes de serem salvos) e, ao fazê-lo, só se tornaram mais iníquos; eles deveriam agora praticar a justiça, e isso resultaria em se tornarem progressivamente mais santos. Isso mostra que é algo progressivo em ambas as direções. Assim como um homem que pratica a impiedade se torna cada vez mais ímpio (“iniquidade para iniquidade”), assim também quanto mais um Cristão pratica a justiça, mais santo ele se torna (“justiça para santificação”).
Do lado negativo, um homem não se torna um monstro de uma só vez; pode levar anos na prática do pecado. Ele pode cometer hoje um ato maligno que cinco anos atrás teria repudiado cometer. Foi relatado que Nero chorou por matar uma mosca em seus primeiros dias, mas terminou sua carreira rindo enquanto Roma queimava! O ponto de Paulo aqui é que, assim como o pecado opera progressivamente em uma pessoa, assim a justiça também opera progressivamente na vida de um crente. Cada vez que fazemos uma ação correta, torna-se mais fácil para nós fazê-la novamente. Alguém disse apropriadamente: “Cada nova vitória dará a você um novo poder”. Assim, de maneira prática, “crescemos para a salvação” (1 Pedro 2:2 – ARA). O hino infantil enfatiza esse ponto: “Cada vitória irá ajudá-lo a vencer outra”. Assim, os Cristãos estão agora em uma nova e feliz servidão como “servos [escravos] à justiça” [TB].
Justiça e santidade
Uma diferença que devemos notar é que “justiça” e “santidade” não são a mesma coisa. Justiça tem a ver com fazer as coisas certas porque são certas. Santidade tem a ver com fazer as coisas certas porque você ama o que é certo e odeia o mal.
Em Romanos 6:21-23, Paulo conclui apontando para a tremenda diferença nos resultados dessas duas servidões opostas. Ele pede aos crentes romanos que considerem o fim do curso que eles estavam trilhando antes de serem salvos: “E que fruto tínheis, então, das coisas de que agora vos envergonhais? Porque o fim delas é a morte”. Que proveito havia nele? Só trouxe morte em todos os sentidos. Mas, sendo libertados, ele lhes diz para olharem para os grandes e bons resultados que agora estavam sendo produzidos na vida deles: havia “fruto para a santificação, e por fim a vida eterna”. Eles agora estavam livres para fazer a vontade de Deus em comunhão com Deus, e o caminho que estavam trilhando terminaria em glória no dia vindouro. (Como no capítulo 5:21, Paulo vê a “vida eterna” aqui como sendo algo que alcançaremos no final do caminho da fé, quando chegarmos ao céu em um estado glorificado. Claro, nós também a temos agora, o que o apóstolo João chama de “eterna vida” (JND) – veja, por exemplo, João 3:16, 36 – JND.)
O versículo 22, no capítulo 6, é uma espécie de resumo da verdade. Ele declara:
· Somos “libertados do pecado”.
· Somos “feitos servos de Deus”.
· Temos “o nosso fruto para a santificação”.
· E o fim é “a vida eterna”.
·
O salário do pecado
A conclusão de todo o assunto é esta: “Porque o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna, por Cristo Jesus, nosso Senhor” (Rm 6:23). Como mencionado, um caminho leva à “morte” e o outro caminho leva à “vida”. “O salário do pecado” mencionado aqui é muitas vezes considerado como pecados (más ações) que os homens cometem. Os evangelistas usarão esse versículo para dizer aos pecadores que, como consequência de seus pecados, eles morrerão e irão para o inferno. Mas devemos ter em mente que essa seção da epístola não está tratando com pecados, mas sim com o pecado, a natureza pecaminosa no crente. Paulo já mostrou no capítulo 5 que a morte na raça humana não é o resultado de pecados pessoais, mas o resultado de ser descendente de uma cabeça caída. A morte pode reivindicar uma criança com apenas um dia de vida. É claro que a morte não reivindicou a criança porque ela é culpada de pecar, mas porque ela tem uma natureza pecaminosa e os efeitos dessa natureza no corpo da criança causaram a sua morte. Além disso, os crentes no Senhor Jesus Cristo, cujos pecados são perdoados, ainda morrem. Se seus pecados causaram sua morte, poderíamos concluir erroneamente que Deus, afinal, não os perdoou! Em relação a esse versículo, alguém disse que ele “não é um apelo aos pecadores, como às vezes é usado, mas àqueles que já foram libertados”.
B. Anstey
Vida e Morte, Moralmente e Espiritualmente
No final do século XX, a expressão “Get a Life” começou a surgir no discurso cotidiano na América do Norte. Não está totalmente claro de onde se originou, embora tenha sido popularizada pelo ator William Shatner em 1986. Embora às vezes carregue o significado de “cuide da sua vida”, ela geralmente é usada como um termo de desprezo em relação àqueles que parecem ter uma vida sem objetivos, realizações ou interesses. Ela sugere que o indivíduo em questão precisa fazer algo para tornar sua vida mais satisfatória e agradável.
Quando o homem natural aborda o assunto da vida, ele está, é claro, geralmente pensando apenas na vida neste mundo e em como tornar essa vida a mais satisfatória possível para si mesmo. Deus é muitas vezes deixado de fora. Nós que somos crentes no Senhor Jesus podemos ser gratos pela graça que nos trouxe a Ele. Mas, embora nossas esperanças estejam todas centradas n'Ele e em para onde iremos depois de deixarmos este mundo, Deus está muito interessado em nossa vida neste mundo. O que fazemos com o tempo que nos é dado neste mundo não é sem importância. Essa é uma questão que gostaríamos de considerar, mas ligada à nossa vida neste mundo está também a questão da morte moral.
Em edições anteriores de “O Cristão”, abordamos o assunto “Além da Morte – abr/2010” e também o assunto “Propósito e Direção para a Vida – out/2008”. Também tivemos questões dedicadas aos assuntos sobre “Vida Eterna – mar/2009” e “Vida Cotidiana – set/2016”. Todos eles têm alguma sobreposição entre si e com o assunto em questão, mas nenhum deles realmente cobre o que está diante de nós nesta edição.
Morte moral
Quando chegamos à questão da morte, sabemos que seu significado normal envolve separação – o corpo separado da alma e do espírito. No entanto, a Escritura usa o termo “morte” de outra maneira, para implicar um estado de morte moral, mesmo que o indivíduo esteja vivo neste mundo. Como uma ilustração disso, Paulo disse a Timóteo: “mas a (viúva) que vive em deleites [em hábitos de satisfação dos seus próprios prazeres – JND], vivendo, está morta” (1 Tm 5:6). Ao se referir à vida, o próprio Senhor Jesus disse: “Quem ama a sua vida perdê-la-á, e quem, neste mundo, aborrece a sua vida, guardá-la-á para a vida eterna” (Jo 12:25). Mas, a respeito de nossa vida aqui embaixo, nosso Senhor também disse: “Tenho-vos dito isso para que a Minha alegria permaneça em vós, e a vossa alegria seja completa” (Jo 15:11). À primeira vista, esses dois últimos versículos vindos dos lábios de nosso Senhor podem parecer contraditórios, mas veremos como eles podem ser facilmente explicados. Tudo depende do contexto e de como definimos as palavras “vida” e “morte” no aspecto do assunto que está sendo abordado.
Quando consideramos a morte moral, devemos lembrar que Deus criou o homem à Sua imagem e semelhança. Por sua desobediência ao único mandamento que Deus lhe deu, o homem perdeu sua semelhança com Deus. No entanto, ele mantém a imagem de Deus, pois ainda é o representante de Deus na Terra. Mas o homem não pode viver sem seu Criador, e nesse sentido todos os homens que rejeitam as reivindicações de Deus estão moralmente mortos. A expressão “mortos em ofensas e pecados” (Ef 2:1) transmite algo do mesmo pensamento. No entanto, por meio do seu contínuo pecado e afastamento de Deus, um homem pode se constituir extremamente morto em um sentido moral, e vemos um exemplo disso em Nabal – veja 1 Samuel 25. Ele evidentemente nunca foi um homem de Deus, mas, quando se recusou a ouvir o pedido de ajuda de Davi, está registrado que “se amorteceu o seu coração, e ficou ele como pedra” (v. 37). Dez dias depois, a morte física o alcançou.
Um verdadeiro crente pode sofrer de morte moral, como acontece com Rebeca, que, ao contemplar um possível casamento misto de seu filho Jacó, disse: “Se Jacó tomar esposa dentre as filhas de Hete... de que me servirá a vida?” (Gn 27:46). Já mencionamos o comentário de Paulo sobre uma viúva que vive “em hábitos de satisfação dos seus próprios prazeres” (JND), que “apesar de viver, está morta” (TB). Neste caso, sua vida não tem valor diante de Deus; ela está moralmente morta. Embora o termo não seja usado, vemos a existência da morte moral nos israelitas no Velho Testamento que se afastaram da adoração do verdadeiro Deus e abraçaram a idolatria. No Novo Testamento, vemos outro exemplo naqueles que “querem ser ricos” (1 Tm 6:9) e que caem em “muitas concupiscências loucas e nocivas”. Mais tarde, Paulo teve que dizer que “Demas me desamparou, amando o presente século” (2 Tm 4:10). Esse é outro caso de morte moral em um crente, pois Demas trocou o ganho espiritual pela vantagem presente.
Vida
Por outro lado, se considerarmos o assunto da vida, também encontramos referências encorajadoras na Palavra de Deus. Mesmo sob a dispensação da lei no Velho Testamento, o Senhor disse a Israel: “Para que se multipliquem os vossos dias... como os dias dos céus sobre a Terra” (Dt 11:21). Israel recebeu promessas de bênçãos terrenais com base em sua obediência, mas o Senhor os lembra de que sua alegria poderia transcender suas bênçãos materiais, estando conectada com aquilo que estava acima da Terra.
No Novo Testamento, onde Deus é plenamente revelado, a vida eterna é dada àqueles que creem, e o Espírito Santo desceu para habitar nos crentes. Vemos que nosso Senhor podia prometer aquela plenitude de alegria: “Tenho vos dito isso para que Minha alegria permaneça em vós, e a vossa alegria seja completa” (Jo 15:11). Um irmão idoso, agora com o Senhor, costumava nos lembrar: “Não meio completa, irmãos; mas completa!”
Riqueza e Vida
Quando ele fala do uso adequado da riqueza (se um crente a possuir), Paulo disse àqueles com riquezas “que pratiquem o bem, que se enriqueçam de boas obras, que sejam generosos e liberais, entesourando para si um fundamento sólido para o futuro, a fim de que se apoderem da vida [se apoderem daquilo – JND] que é realmente vida” (1 Tm 6:18-19 – TB). O verdadeiro prazer na vida é mostrar o coração de Deus, que é caracterizado por Atos 20:35: “Mais bem-aventurada coisa é dar do que receber”.
A expressão em 1 Timóteo 6:19 – “entesourem para si mesmos um bom fundamento para o futuro” – nos leva a um comentário final. Como já observamos, o homem do mundo pensa apenas em termos desta vida, mas o crente é lembrado de que, em seu curto tempo neste mundo, ele está construindo para a eternidade. O Senhor quer que tenhamos uma vida feliz aqui embaixo em comunhão com Ele, mas não termina aí. No sentido mais amplo, os incrédulos que vivem na morte moral acabarão experimentando a “segunda morte” – sendo expulsos da presença de Deus para sempre. O crente que viveu para si e para este mundo “sofrerá ele prejuízo” no tribunal de Cristo para os crentes (1 Co 3:15 – AIBB), enquanto o crente que sofreu perda neste mundo para viver para a glória de Deus receberá galardão (1 Co 3:14). Alguns galardões serão temporários, existindo apenas durante o reino milenar, enquanto outros serão eternos.
O custo de viver para a eternidade
No entanto, pode haver um custo temporal para a plena experiência da alegria de nosso Senhor aqui e para vivermos com vista à eternidade. Devemos estar preparados para “aborrecer nossa vida” neste mundo, no sentido natural, se quisermos “guardá-la para a vida eterna”. Se estivermos dispostos a fazer isso, nossa alegria no Senhor será verdadeiramente plena, mas podemos experimentar perda no que diz respeito aos anseios do nosso coração natural. Desde que o pecado entrou neste mundo, aqueles que desejam viver para o Senhor sofrem, pois se encontram indo contra a corrente do sistema mundial que foi estabelecido por Caim e sua família. Alguns podem questionar se vale a pena, mas certamente vale muito a pena à luz da eternidade. Satanás pode persuadir o homem a viver apenas em vista do tempo; Deus vive e Se move na eternidade.
Em resumo, então, a vida e a morte no sentido moral são extremamente importantes aos olhos de Deus, e devem ser importantes para nós. A morte moral neste mundo terá consequências no presente, ainda que possamos “por, um pouco de tempo, ter o gozo do pecado”. No entanto, também sofreremos perdas para a eternidade, de uma forma ou de outra. A verdadeira vida neste mundo é a vida vivida em comunhão com o Senhor e tendo em vista a eternidade. A forma como vivemos neste mundo terá consequências eternas.
Oh, supremo e brilhante amor!
Bom para o mais fraco coração,
Que nos dá agora, como luz celestial,
O que em breve será nossa parte.
Hinário Little Flock – hino 64
W. J. Prost
Propósito de Coração: O Grande Regulador Moral
“Estas palavras, que hoje te ordeno, estarão no teu coração” (Dt 6:6) – na própria fonte de todas as fontes da vida. Isso é particularmente precioso. Tudo o que está no coração sai pelos lábios e na vida. Quão importante, então, é ter o coração cheio da Palavra de Deus, tão cheio que não teremos espaço para as vaidades e loucuras deste presente mundo mau. Assim, nossa conversa será sempre com graça, temperada com sal. “Do que há em abundância no coração, disso fala a boca” (Mt 12:34). Portanto, podemos julgar o que está no coração pelo que sai da boca. A língua é o órgão do coração – o órgão do homem. “O homem bom tira boas coisas do seu bom tesouro, e o homem mau do mau tesouro tira coisas más” (Mt 12:35). Quando o coração é realmente governado pela Palavra de Deus, o caráter todo revela o resultado abençoado. E assim deve ser, na medida em que o coração é a mola mestra de toda a nossa condição moral; ele está no centro de todas aquelas influências morais que governam nossa história pessoal e moldam nossa carreira prática.
Em cada parte do volume divino, vemos quanta importância Deus atribui à atitude e ao estado do coração, com relação a Ele ou à Sua Palavra, que são uma única e mesma coisa. Quando o coração é fiel a Ele, tudo certamente sairá certo, mas, por outro lado, descobriremos que, onde o coração se torna frio e indiferente em relação a Deus e Sua verdade, haverá, mais cedo ou mais tarde, um notório afastamento do caminho da verdade e da justiça. Há, portanto, muita força e valor na exortação dirigida por Barnabé aos convertidos em Antioquia: “o qual... exortou a todos a que, com firmeza [propósito – ACF] de coração, permanecessem no Senhor” (At 11:23).
Quão necessário, naquela ocasião, agora e sempre! Esse “propósito de coração” é muito precioso para Deus. É o que podemos nos aventurar a chamar de grande regulador moral. Transmite uma admirável seriedade ao caráter Cristão, que deve ser muito ambicionada por todos nós. É um antídoto divino contra a frieza, a dormência e a formalidade, que são tão odiosas para Deus. A vida exterior pode ser muito correta, e o credo pode ser muito ortodoxo, mas, se o sincero propósito de coração estiver faltando, o apego afetuoso de todo o ser moral a Deus e Seu Cristo, tudo é totalmente inútil.
É por meio do coração que o Espírito Santo nos instrui. Daí a razão de o apóstolo orar pelos santos em Éfeso para que os olhos do entendimento (coração – ARA) deles pudessem ser iluminados. E novamente, “para que Cristo habite, pela fé no vosso coração” (Ef 3:17).
Christian Truth, Vol. 6
Amar a Vida e Perdê-la
Betty Walton vendia chapéus da moda numa grande loja de departamentos. O contato diário com o mundo do estilo mantinha sua mente ocupada com as coisas terrenais, e as coisas de Deus não tinham lugar em seus pensamentos.
Mas Deus, que deu Seu querido Filho por pessoas como ela, tinha Seus olhos em Betty. Por meio de uma amiga Cristã, Betty foi convidada a participar de um curso bíblico organizado especialmente para jovens empresárias.
Festiva e descuidada, apaixonada por roupas e diversões mundanas como era, Betty só ia à aula de vez em quando. Era mais comum ela estar ausente do que presente. Depois de uma ausência mais longa do que o habitual, a professora da turma soube que ela estava doente e foi vê-la.
A pobre Betty não gostou. Seria ela pior do que qualquer outro jovem a ponto de se achar necessário visitá-la e falar de religião com ela? No entanto, sua visitante assegurou-lhe gentilmente que a visita não vinha de nenhuma ideia de que ela era pior do que os outros. Assim acalmada, ela ouviu em silêncio enquanto alguns versículos da Palavra eram lidos.
Betty logo conseguiu voltar ao trabalho por um tempo, mas não compareceu às aulas, pois não estava bem o suficiente para sair à noite. Sua professora a visitava de vez em quando e, embora a jovem enferma não se opusesse mais, ela recebia sua interlocutora mais por educação do que por prazer.
Sua saúde se deteriora
Por fim, sua saúde se deteriorou completamente, e logo ficou evidente que uma doença mortal estava rapidamente realizando sua obra fatal. Ainda assim, não havia evidências de que sua consciência tivesse sido alcançada pela Palavra, e aqueles que velavam por sua alma ficaram duplamente ansiosos.
A primeira evidência de interesse que ela mostrou foi um dia quando Romanos 4 estava sendo lido para ela. A leitora fez uma pausa no versículo 3, que foi repetido lentamente: “Creu Abraão em Deus, e isso lhe foi imputado (ou levado em conta) como justiça”. Com uma seriedade que demonstrava surpresa, Betty de repente perguntou: “Onde está isso?”
Ela não disse mais nada, mas sua visitante teve certeza de que um raio de luz da Palavra de Deus a alcançara. Essa certeza foi confirmada na visita seguinte. O mesmo assunto estava diante delas, e a interlocutora observou que Abraão não tinha nada além da Palavra de Deus para se apoiar; ele estava restrito à fé. Fora isso, tudo era uma impossibilidade sem esperança.
A visitante olhou para o rosto da jovem. Ela estava deitada com os olhos fechados, e duas grandes lágrimas saíram sob as pálpebras fortemente comprimidas e rolaram pelas bochechas emagrecidas. Uma profunda, porém silenciosa, ação de graças subiu a Deus do coração da visitante.
Feliz em ouvir a Palavra
Após essa visita, as reservas que Betty até então mantinha gradualmente cederam, e agora ela recebia de bom grado qualquer um que viesse falar com ela sobre o Senhor. Agora ela estava feliz em ouvir a Palavra de Deus e logo estava se regozijando em Jesus como seu Salvador.
Apenas uma vez depois a alegria dela pareceu ser interrompida. Na ocasião, seu semblante e maneiras jamais poderiam ser apagados do coração da jovem Cristã que testemunhou o exercício pelo qual sua alma estava passando. O contraste com o rosto geralmente feliz e pacífico e a radiante saudação era muito aparente para não ser notado.
A visitante perguntou: “Qual é o problema, Betty? Satanás tem tentado você a duvidar do Senhor?”
“Não”, ela respondeu. “Não tenho dúvida nem medo. Não é isso.”
“O que é, então? Tem alguma coisa errada.”
Ela ainda estava com um olhar cabisbaixo, mas então, ao levantá-los, ela disse, com um olhar inesquecível e um tom de profunda tristeza: “Ah, Srta. Gray, eu perdi a minha vida”.
Imediatamente a amiga entendeu o que ela queria dizer. Não era que ela estivesse morrendo; não era que ela estivesse sendo cortada em sua juventude. Não; era que a breve vida que lhe fora confiada havia sido vivida para seu próprio prazer, e agora estava quase no fim. Era uma VIDA PERDIDA.
Uma vida perdida
Houve um silêncio. Nenhuma palavra foi dita entre as duas – uma prestes a ser chamada para partir logo que entrou no caminho do deserto; a outra com o caminho estendido à sua frente ainda a ser vivido.
Foi um momento solene. Deus estava exercitando cada coração, e aquela que parecia ter muitos anos ainda pela frente pensou: “Se alguém que se converteu recentemente, ao morrer, se sente assim, como deve ser com aqueles que há muito conhecem o Senhor como seu Salvador, mas viveram para si mesmos, e não para Aquele que deu a vida para salvá-los!”
“Não sois de vós mesmos. Porque fostes comprados por bom preço; glorificai, pois, a Deus no vosso corpo e no vosso espírito, os quais pertencem a Deus” (1 Co 6:19-20).
“E Ele morreu por todos, para que os que vivem não vivam mais para si, mas para Aquele que por eles morreu e ressuscitou” (2 Co 5:15).
A nuvem passou, e o sorriso ensolarado voltou. Pode ser que o Deus de toda a graça tenha permitido aquela nuvem para o cumprimento de Sua própria vontade e para que a vida da querida Betty não tenha sido uma vida totalmente perdida.
“Se alguém quer vir após Mim, negue-se a si mesmo, e tome cada dia a sua cruz, e siga-Me” (Lc 9:23).
Young Christian, Vol. 12
Viver para Vantagem Presente ou Ganho Futuro
A rejeição de Cristo leva a uma mudança importante, tanto na posição de nosso Senhor quanto no que os homens encontrariam n'Ele e vindo d'Ele. Isso é destacado notavelmente em Lucas 12:13-30. Um Judeu naturalmente teria olhado para o Messias como o Juiz de todas as questões polêmicas. Mesmo aquele que valorizava o Senhor Jesus por Seus imaculados caminhos e santa maneira de viver poderia muito bem buscar Seu auxílio. Mas aqui é mostrado que a rejeição d’Ele pelo homem muda tudo. Não se pode, portanto, raciocinar abstratamente a partir do que o Messias era como tal; devemos levar em conta o fato do estado do homem em relação a Ele e a ação de Deus sobre isso. A cruz de Cristo, que seria o fruto e a medida da rejeição do Senhor, traria consigo imensas consequências, e muito diferentes do que havia acontecido antes; e isso não apenas da parte do homem, mas da parte de Deus.
Por isso, quando um da multidão Lhe disse: “Mestre, dize a meu irmão que reparta comigo a herança”, o Senhor respondeu: “Homem, quem Me pôs a Mim por juiz ou repartidor entre vós?” Ele não tinha vindo para julgar. A rejeição de Cristo leva àquela infinita salvação que Ele realizou, em vista da qual Ele não resolve as disputas humanas. Ele não veio para propósitos terrenais, mas para os celestiais. Se Ele tivesse sido recebido pelos homens, sem dúvida teria dividido heranças aqui embaixo; mas, no estado em que se encontravam, Ele não era Juiz ou Repartidor sobre os homens ou seus assuntos aqui neste mundo. Mas Lucas, como é sua maneira e hábito, apresenta o Senhor imediatamente olhando para o lado moral da questão, pois de fato a rejeição de Cristo leva à mais profunda manifestação e entendimento do coração.
Avareza
O Senhor, portanto, dirige-Se ao grupo em termos mais amplos. “E disse-lhes: Acautelai-vos e guardai-vos da avareza, porque a vida de qualquer não consiste na abundância do que possui”. Essa ansiedade pela ajuda de Cristo para resolver questões flui do desejo do coração por algo que não se tem neste mundo. A manutenção da posição é aqui julgada, a ânsia pela justiça terrenal é exposta – “guardai-vos da avareza”. A rejeição de Cristo e a revelação das coisas celestiais levaram ao verdadeiro caminho da fé, de confiar em Deus por tudo o que Ele dá, de confiar, não no homem, mas n'Ele, para todas as dificuldades, de estarmos satisfeitos com as coisas que temos. Deus providencia tudo para a fé. E essa não é a questão principal. Deve-se guardar o coração. “Acautelai-vos e guardai-vos da avareza, porque a vida de qualquer não consiste na abundância do que possui”. E isso também Ele ilustra, bem como seu terrível fim. Há excessivo egoísmo, loucura e perigo no que pode parecer prudência terrenal. Ouça as próximas palavras do Senhor. “E propôs-lhes uma parábola, dizendo: a herdade de um homem rico tinha produzido com abundância. E arrazoava ele entre si, dizendo: Que farei? Não tenho onde recolher os meus frutos”. Claramente, esse homem contava que o bem primordial estava na abundância das coisas que possuía. Seu desejo era empregar o que ele tinha para obter e manter mais das coisas do presente.
Egoísmo sistemático
Os olhos do homem rico (Lc 12:13-30) não estavam no futuro além deste mundo. Tudo estava na vida presente. Não é que o rico tolo tenha feito mau uso do que tinha de acordo com o julgamento humano, não que ele fosse imoral, mas sua ação não foi além de satisfazer seu desejo de abundância cada vez maior. “E disse: Farei isto: derribarei os meus celeiros, e edificarei outros maiores, e ali recolherei todas as minhas novidades e os meus bens”.
Essa conduta está em nítido contraste com o que o Senhor posteriormente destaca no capítulo 16, onde vemos o sacrifício do presente em favor do futuro e que somente esses tais é que são recebidos nas habitações eternas. Não se trata do meio de livramento do inferno, mas do caráter de todos os que vão para o céu. Até certo ponto, eles se assemelham ao mordomo da parábola, a quem o senhor [da parábola] elogiou, não por sua injustiça, mas por sua sabedoria. Ele sacrificou os interesses presentes – os bens de seu mestre – para garantir o futuro. O homem rico aqui, ao contrário, está sempre derrubando seus celeiros e construindo maiores, a fim de garantir todos os seus frutos e aumentar seus bens. Seu único e inteiro pensamento era para esta vida presente que, ele supôs, continuaria imutável. O mordomo, porém, antecipou a iminente mudança e agiu de maneira adequada. Que possamos nos sentir mordomos no que os homens chamariam de “nosso” e agir com não menos prudência. Não foi assim com aquele que diz a si mesmo: “alma, tens em depósito muitos bens, para muitos anos; descansa, come, bebe e folga”. Havia tanto satisfação própria no que ele possuía quanto o desejo de um longo gozo do conforto presente. Era verdadeira incredulidade em qualquer futuro além desta vida; era agir como os saduceus. “Mas Deus lhe disse: Louco, esta noite te pedirão a tua alma, e o que tens preparado para quem será?”
Ele nunca considerou isso. Deus não estava em todos os seus pensamentos. Ele havia reduzido sua alma à mais simples escravidão do corpo, em vez de mantê-lo sob seu comando, para que o corpo pudesse ser o servo da alma, e Deus o mestre de ambos. Mas não: Deus não estava em nenhum dos seus pensamentos; porém Deus lhe disse: “Louco, esta noite te pedirão a tua alma, e o que tens preparado para quem será?”. Ele ansiava por uma prosperidade permanente no mundo. “Esta noite”! Mal ele pensava nisso. “Esta noite te pedirão a tua alma... Assim é aquele que para si ajunta tesouros e não é rico para com Deus”. Não há riquezas diante de Deus sem o que os homens, de forma míope, consideram empobrecimento de si mesmos, usando o que temos não para nós mesmos, mas para os outros. Somente estes são ricos para com Deus, quer sejam seus recursos grandes ou pequenos. Se seus recursos são pequenos, eles são, no entanto, grandes o suficiente para fazê-los pensar nos outros com amor e prover necessidades maiores do que as suas; se seus recursos são grandes, suas responsabilidades são muito maiores. Mas, em todos os casos, o ajuntar não é para si mesmo, mas para o serviço da graça, e isso só pode acontecer trazendo Deus para o assunto. Somente esses são ricos para com Deus. Ajuntar tesouros para si é o trabalho árduo do “eu” e a incredulidade que reserva para um longo sonho de gozo que o Senhor repentinamente interrompe.
“Não pergunteis, pois, que haveis de comer ou que haveis de beber, e não andeis inquietos. Porque os gentios do mundo buscam todas essas coisas”. Eles estavam sem Deus. “Mas vosso Pai (não somente Deus, mas vosso Pai) sabe que necessitais delas”. Ele avança agora até colocar os discípulos no gozo de Seu próprio relacionamento com um Pai que cuidava deles perfeitamente e não poderia falhar em nada com relação a eles. O Deus que cuidava dos corvos e dos lírios – seu Pai – certamente cuidaria deles. Ele sabe que necessitamos dessas coisas e deseja que confiemos n’Ele.
W. Kelly
Graça, a Restauradora de Noemi
“Onde o pecado abundou”. Essa é a chave para o primeiro capítulo de Rute. A glória da graça de Deus brilha contra o fundo de trevas da ruína que o pecado introduziu. O último versículo de Juízes nos diz que “cada um fazia o que parecia reto aos seus olhos”; o primeiro versículo de Rute nos dá de forma curta e simples o duplo efeito da vontade do homem em ação.
“Houve uma fome na terra”
A primeira vez que o homem fez sua própria vontade foi ao tentar fazer melhor para si mesmo do que Deus havia feito por ele. Em vez de ganhar, ele perdeu tudo e teve que ser expulso do Jardim. Em seu orgulho, o homem pensa que pode prosseguir sem Deus, mas a fome logo vem e, embora o homem seja muito sábio e tenha buscado muitas invenções, ele nunca inventou nada tomasse o lugar do pão. Quando nossa vontade está agindo e Deus tira o sustento do pão, podemos comer, mas não ficamos fartos (Lv 26:26). Se eu tivesse o mundo inteiro à minha disposição para fazer o que quisesse com ele, meu coração ainda estaria vazio. Nada no mundo pode satisfazer a fome que a vontade do homem causou.
Mas a fome, a princípio, apenas afasta o coração do homem para longe de Deus, e essa é a próxima coisa que temos no primeiro versículo de Rute.
Os campos de Moabe
O efeito da fome é enviar Elimeleque, sua esposa Noemi e seus dois filhos, Malom e Quiliom, para longe da casa do pão, para longe da terra onde Deus ainda habitava (embora esquecido pelo tolo), cruzando o Jordão em direção à terra de Moabe. Moabe era a terra da concupiscência (veja a história da triste paternidade de Moabe em Gênesis 19:36-37).
Quando sentimos pela primeira vez a miséria e o vazio causados pelo pecado, nosso coração se volta ansiosamente por alívio para as concupiscências do pecado, os prazeres do pecado por um tempo, mas a história dessa jornada é logo contada. “Depois, havendo a concupiscência concebido, dá à luz o pecado; e o pecado, sendo consumado, gera a morte” (Tg 1:15).
Primeiro Elimeleque, cujo nome significa “Deus é Rei”, morre. A autoridade de Deus se foi; o vínculo entre Ele e o pobre e obstinado homem é quebrado. Então os dois filhos, cujos nomes dizem algo sobre o fruto amargo do pecado (Malom significa “doença” e Quiliom “definhando”), morrem. Noemi, cujo nome significa “minha delícia”, é deixada sozinha e se torna vazia e amarga. E assim, em cinco versículos, o Espírito de Deus nos dá uma imagem de uma cena em que o pecado abundou, uma cena como a que a Terra deve ter apresentado pela primeira vez quando as águas do dilúvio diminuíram – uma cena de esterilidade, desolação e morte.
Tal é o fruto da vontade do homem, e quantas vezes pobres corações em miséria foram levados a tal lugar, de Noemi até Mara, da delícia à amargura, e amargura que não conhece alívio, nada restou – “ficando assim esta mulher desamparada”. Nada poderia ser mais expressivo do que essa breve palavra, do estado da alma que inicialmente nos leva a uma percepção de nossa necessidade de Deus.
Deus visitou Seu povo
Ela ficou desamparada de tudo, menos de Deus, e Ele, sempre O mesmo, faz com que cheguem aos campos de Moabe, e aos ouvidos da viúva desamparada, as boas novas de que Ele visitou Seu povo com pão. Que bênção! Deus visitou Seu povo – vindo Ele mesmo para suprir a necessidade que a vontade orgulhosa do homem causou. Esse é o evangelho. A adversidade do homem é a oportunidade de Deus. O deleite de Deus é dar, mas somos orgulhosos demais para receber até que estejamos tão quebrados, “desamparados” de tudo, que a notícia de Sua graça toca nosso profundo senso de necessidade. Então chegamos à conclusão de que Ele deu Cristo para suprir a necessidade de um pobre coração vazio que o mundo inteiro nunca poderia satisfazer.
Mas a partir desse ponto, o Espírito de Deus nos ocupa com aquela que será o vaso dessa graça. Primeiro nos mostrando em Noemi a maneira de Deus esvaziar, Ele então nos mostra em Rute a maneira de Deus encher. Para que Ele possa ser totalmente glorificado, tudo o que é do homem deve ser colocado de lado. Noemi tinha algum direito; Rute não tinha nenhum. Então Ele passa por Noemi e, para que tudo seja de Si mesmo, Ele atrai o coração de uma pobre jovem moabita, que por Seu próprio decreto tinha sido excluída para sempre do lugar onde Sua presença habitava em bênção entre Seu povo (Dt 23:3). Descobrimos então, como é sempre o caminho de Deus, que Sua graça superabunda. Ele age de uma forma totalmente inesperada. Em vez de apenas trazer Noemi de volta e abençoá-la, como Ele pretendia fazer, e colocar isso diante de nós como a imagem de Sua graça, Ele escolhe uma estrangeira sem direito ou título de qualquer tipo, a traz para fora de seus campos de Moabe, o único lugar que ela conhecia, e realmente a torna o vaso de Sua graça, para alcançar o mundo inteiro em Cristo, para ser o canal de bênção para Noemi e para mim.
Esse é o tipo de graça que nos é apresentado neste pequeno e maravilhoso livro. Ela chega ao ponto em que, com a morte, não lhe restava mais nada. Então, apesar do testemunho infeliz de Noemi, Deus atrai; Ele atrai Rute para fora dos campos de Moabe. E então o que acontece? “Rute... teve um filho. Disseram então as mulheres a Noemi: Bendito seja o Senhor, que não te deixou... ele será restaurador da tua vida” (Rt 4:13-15 – AIBB).
A. H. Burton (adaptado)
Moralidade Humana
Uma senhora nos contou que, enquanto cultivava a moralidade em si mesma e buscava tanto dos prazeres tranquilos e respeitáveis da vida quanto desejava, sua consciência foi despertada e seu coração se curvou diante de Deus com estas palavras da Escritura: “mas a que vive em deleites [em hábitos de satisfação dos seus próprios prazeres – JND], vivendo, está morta” (1 Tm 5:6). “Seria possível”, disse ela consigo mesma, “que eu, que sou tão moral, tão virtuosa, tão cuidadosa em meus caminhos, possa estar morta – morta diante de Deus?”
O pensamento não lhe deu descanso até que, crendo no Senhor Jesus Cristo, ela obteve vida, vida ressurreta, vida eterna, n'Ele, o Filho de Deus.
D. T. G.
Vida e Morte
Na Escritura, os termos “vida” e “morte” são usados em várias conexões e, portanto, em sentidos que diferem. Eles são usados em relação ao corpo natural; eles são usados, também, em relação ao estado moral interior do homem; e são usados em relação ao homem em seu estado eterno. O homem, como inicialmente criado, estava, como criatura, moralmente vivo ao ser colocado no Éden. Ele tinha vida natural em seu corpo; ele não tinha vida eterna e divina em corpo, alma ou espírito.
A desobediência trouxe a morte moral – morte em ofensas e pecados; ela implicou mortalidade no transgressor, colocou-o sob o poder da morte (física) e apontou para a segunda morte – a separação eterna de Deus.
A fé dá uma nova natureza, divina, uma semente que é incorruptível. A essa semente pertencem as afeições, os pensamentos, as intenções, os desejos, que fluem, todos eles, de Cristo e, pelo Espírito, retornam a Deus. Isso é mostrado em nós enquanto estamos no corpo, enquanto estamos a caminho em direção a Deus – enquanto esperamos por Cristo e pelo corpo glorioso que Ele nos dará. Deus nos deu a vida eterna, e esta vida está em Seu Filho.
G. V. Wigram
Minha Vida – Sua Vontade ou A Minha?
“Não é tolo quem dá o que não pode manter, para ganhar o que não pode perder.”
(Jim Elliot)
Eles não são longos
Meus fugazes momentos no tempo;
Preciosos eles são,
Embora não sejam realmente meus!
Tão breve é o tempo!
Não o agarre com força;
Abra a sua mão
Para o que Ele deseja e pede.
Se eu sou de Cristo,
Morri para os prazeres aqui;
Sua vontade – não a minha;
A escolha pode me custar caro.
Posso preservar
A minha vida numa estante?
Vivemos para a
Eternidade ou para nós mesmos.
Mas – você pode acrescentar
Ao tesouro colocado acima,
Morrendo para as coisas
Que de outra forma você poderia amar.
Mantenha clara sua visão;
Questões eternas brilham;
Perspectiva reta –
O prazer d'Ele primeiro, não o meu.
C. P. H.
“Te tenho proposto a vida e a morte, a bênção e a maldição; escolhe, pois, a vida, para que vivas, tu e a tua semente”
Deuteronômio 30:19
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