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O Nome Sobre Todo Nome
Edward Dennett
Parte 9 – Para o Seu Nome
Se o termo “nome”, conforme usado para nosso bendito Senhor e Salvador, é a expressão de tudo o que Ele é, não causará surpresa encontrá-lo apresentado a nós de tantas maneiras e aspectos diferentes. A conexão necessária, de fato, entre a Palavra viva e a Palavra escrita, na medida em que a última contém a revelação da primeira, fornece a explicação. Segue-se que quanto mais temos o próprio Cristo diante de nós, ao ler a Escritura, mais plenamente estamos na mente do Espírito Santo, e melhor estamos preparados para o discernimento dos raios de Sua glória, que brilham de cada página. Considerar a Escritura como a exibição de Cristo, de Deus revelado em Cristo, é uma proteção segura contra o erro, bem como o antídoto para os ensinamentos racionalistas da época, enquanto, ao mesmo tempo, tende a produzir aquela reverência e adoração na alma, sem a qual é impossível receber as comunicações divinas nelas feitas. Nunca é demais enfatizar esse ponto, e sua observação é seriamente recomendada à atenção do leitor.
Ao passar agora a considerar a frase “para o Seu nome”, propomos selecionar dois ou três exemplos de seu uso para ilustrar seu significado e apontar como, em cada caso, ela traz à tona, seja como Líder, Objeto ou Centro, a Pessoa de nosso bendito Senhor. Tomamos em primeiro lugar a expressão: “Batizados em [para o – JND] nome do Senhor Jesus” (At 8:16; 19:5). Em ambos os casos, em nossa versão, é traduzido, “em nome do Senhor Jesus”; mas as palavras só poderiam ser traduzidas com precisão, nós apreendemos, como “para o nome”, etc. Isso, de fato, pode ser mostrado a partir de traduções da mesma palavra em outros lugares. Assim, em Atos 19:3, onde o apóstolo diz: “Em [Para – JND] que sois batizados, então?” E eles disseram: “No [para o – JND] batismo de João”, a mesma palavra é usada. Da mesma forma, em 1 Coríntios 10:2, que “todos foram batizados em [para – JND] Moisés”, a mesma palavra também é empregada. É, portanto, abundantemente claro que “em” deve ser substituída por “para” nas duas passagens citadas; e é necessário que isso seja feito, pelo fato de que “em nome do Senhor” também é encontrado em conexão com o batismo (At 10:48). O significado nesse caso, como explicado em um capítulo anterior, será que aqueles que batizaram Cornélio e aqueles que ouviram a Palavra com ele, agiram, pela direção de Pedro, em nome e sob a autoridade do Senhor.
Tendo agora elucidado a força do termo, seu significado pode atrair nossa atenção. A expressão semelhante em 1 Coríntios 10 pode nos ajudar a averiguar isso. Não pode haver dúvida de que ser batizado para Moisés implica levar o povo à associação com Moisés como sob sua autoridade. Da mesma forma, ser batizado para nome do Senhor Jesus trouxe aqueles que foram batizados para o terreno onde Sua autoridade era suprema e para a companhia daqueles que reconheciam essa autoridade. O nome do Senhor expressará, então, nesse contexto, o que Cristo é quando exaltado e glorificado como Senhor; e os batizados O confessam como tal, e também reconhecem Suas reivindicações e Sua autoridade sobre eles. Não é toda a verdade do batismo, pois Paulo ensina que todos os que foram batizados em [para] Cristo Jesus foram batizados na [para] Sua morte. Mas não entramos nisso aqui, pois desejamos nos limitar à passagem diante de nós e chamar a atenção para seu significado. Para não ir mais longe, então, sua importância é a autoridade absoluta de Cristo como Senhor, e a responsabilidade da confissão por parte daqueles que foram batizados. Em um dia de profissão e declínio, é bom perguntar se as almas que foram levadas ao terreno do Cristianismo estão cientes das responsabilidades que assumiram. Certamente o Senhor também pode dizer a muitos de nós neste dia: “E por que Me chamais, Senhor, Senhor, e não fazeis o que Eu digo?” Pois nunca houve um tempo em que o espírito de rebeldia fosse mais predominante, mesmo em combinação com a confissão do nome e autoridade de Cristo. Se o primeiro dever de um soldado é a obediência inquestionável, certamente um Cristão deve ser marcado perante o mundo por sua sujeição incondicional à autoridade de seu Senhor, conforme expressa em Sua Palavra, e por seu incansável zelo e dedicação em manter a honra de Seu bendito nome. “O Teu povo se apresentará voluntariamente no dia do Teu poder”.
Outro exemplo do uso da mesma frase pode ser citado na epístola aos Hebreus. Onde lemos: “Deus não é injusto para Se esquecer da vossa obra e do trabalho da caridade que para com o Seu nome, mostrastes, enquanto servistes aos santos e ainda servis” (Hb 6:10). Em muitos aspectos, essa é uma passagem notável pela preciosidade das verdades que contém. Observarmos que aqui é o nome de Deus, pois Cristo, nesta epístola, é visto como o Sumo Sacerdote à direita de Deus, onde Ele tanto representa como intercede por Seu povo. Ainda assim, é o nome de Deus revelado em Cristo, pois no capítulo 1 somos lembrados de que o Filho é chamado de Deus. Sendo assim, temos que perguntar sobre o significado das palavras – para Seu nome – nesta passagem. Em primeiro lugar, é claro que o apóstolo faz alusão ao ministério aos santos. Esses crentes hebreus estavam fazendo o bem e “comunicando”, isto é, compartilhando o que possuíam com seus companheiros santos que estavam em necessidade, pois eles haviam apreendido a verdade de que com tais sacrifícios Deus Se agradava. (veja o cap. 13:16). Ao cuidar assim com verdadeiro amor fraternal das necessidades dos santos de Deus, eles estavam, diz o apóstolo, mostrando bondade para Seu nome.
Mas isso requer mais explicações. Deve então ser lembrado que nosso bendito Senhor Se identifica plenamente com Seu povo, e que Seu nome é invocado sobre eles, bem como confiado a eles para levar e manter Sua honra diante dos homens. Portanto, receber um Cristão em nome de Cristo é receber o próprio Cristo, e, além disso, receber a Cristo é receber Aquele que O enviou. Deus é assim identificado com Cristo (não falando agora de Sua unidade essencial), e Cristo Se torna um com Seu povo. Voltando então para o outro lado, será imediatamente entendido que tudo o que é ministrado aos Seus é bondade demonstrada ao Seu nome. Ele mesmo explicou isso nas palavras sempre memoráveis: “quando o fizestes a um destes Meus pequeninos irmãos, a Mim o fizestes”. Assim também, em um sentido ainda mais profundo, Ele poderia dizer a alguém que tinha sido o inimigo amargo e implacável de Seu povo: “Por que Me persegues?” Quão abençoado é um encorajamento para lembrar, em todos os momentos, que o Senhor considera o que é feito aos Seus santos como feito a Si mesmo! E aqui está também o segredo de todo verdadeiro serviço entre Seu povo. Se eles forem nosso objetivo, por mais que possam se beneficiar do serviço, não é um serviço que o Senhor possa recomendar. Nesse caso, pode haver amor fraternal, ou pelo menos a aparência dele, em exercício, mas o que deveria ser a fonte divina dele, o próprio Cristo, estaria faltando. Estar imbuído dessa verdade produziria dedicação incansável e incessante.
Como outro exemplo, podemos nos referir a Mateus 18. Damos toda a passagem: “Também vos digo que, se dois de vós concordarem na Terra acerca de qualquer coisa que pedirem, isso lhes será feito por Meu Pai, que está nos céus. Porque onde estiverem dois ou três reunidos em Meu nome (as palavras aqui também são traduzidas mais corretamente, “para o Meu nome”), aí estou Eu no meio deles” (vs. 19-20). Para entender a bendita instrução dessa passagem, deve-se ter em mente que o capítulo 18 “supõe Cristo rejeitado e ausente, e a glória do capítulo 17 ainda por vir. A questão passa por cima do capítulo 17 para se conectar com o capítulo 16”, e a razão disso é que esse capítulo 18 trata dos dois assuntos introduzidos no capítulo 16, a Igreja e o reino, que devem ocupar o lugar de Cristo na Terra durante o período de Sua ausência e permanência à direita de Deus, onde Ele estará até que Seus inimigos sejam postos por escabelo de Seus pés (Sl 110). Também pode ser apontado que, em conexão com a menção da assembleia, no capítulo 18, é feita provisão para três coisas: primeiro, a questão da transgressão contra um irmão, segundo, a administração da disciplina, ligar e desligar, com sua ratificação divina quando feita de acordo com Deus, e por último, o que mais imediatamente nos preocupa neste capítulo, a condição das orações que prevaleciam.
Será notado pelo leitor que o versículo 19 inicia uma instrução adicional, como mostrado pelas palavras: “Também vos digo”, etc., embora não possamos duvidar de que o grupo, “dois de vós”, ou os “dois ou três”, está conectado com a assembleia no versículo 17. O que se acrescenta é o ensinamento relativo à concordância na oração, em vez de qualquer coisa que diga respeito à Igreja, exceto, de fato, a revelação da maravilhosa graça que associa a presença e união do Senhor em oração com quaisquer dois ou três que possam estar reunidos para Seu nome. Então, entendendo isso, tudo depende, como será percebido, do que se entende por estar assim reunido. Falando em termos gerais, pode-se dizer que o ponto essencial é que, como “nome” expressa a verdade da Pessoa, o próprio Senhor deve ser o Centro e o Objeto da reunião. Mas também deve ser lembrado que Seu nome completo neste relacionamento é o Senhor Jesus Cristo. Seu nome, como tal, fala, portanto, de Sua autoridade, Sua Pessoa e Sua obra. A reunião, então, deve estar sob e sujeita à Sua autoridade, e também para manter as verdades de Sua Pessoa e obra. Que o poder de reunião é o Espírito Santo é evidente pelo fato de que Ele está aqui para glorificar a Cristo; e sendo assim, Ele não poderia sancionar qualquer assembleia onde a supremacia de Cristo não fosse reconhecida, ou onde pudesse haver qualquer indiferença às glórias de Sua Pessoa, ou ao caráter da expiação feita na cruz. Todo grupo, portanto, que alega estar reunido ao Seu nome deve responder a esses testes.
Essa é a condição que o próprio Senhor estabelece para a Sua própria presença quando diz: “Onde dois ou três estiverem reunidos em [são reunidos para o – JND] Meu nome, aí estou Eu no meio deles”. Isso não quer dizer, lá estarei Eu, mas lá estou Eu, e então aprendemos que a reunião assim – para Seu nome – garante Sua presença. A percepção disso pode depender de nosso estado de alma, como deve acontecer, mas a presença do Senhor é um fato relacionado ao cumprimento de uma condição. Que graça! E que fonte de bênção e poder no meio dos Seus! Um exemplo disso, de fato, é dado, pois Ele nos diz que Ele mesmo, presente no meio de Seus santos reunidos dessa maneira, é o poder de produzir concordância em oração e a garantia de que toda oração assim será respondida pelo Pai. Que espaço para o exame de coração quanto ao caráter de nossas reuniões, é assim proporcionado! E que chamado nos é feito para examinar nosso próprio estado individual de alma, mesmo que estejamos verdadeiramente reunidos ao Seu nome! Uma das armadilhas de Satanás é nos levar a tomar as coisas como certas; o meio de evitar isso é estar constantemente diante de Deus, desejando ter tudo quanto a nós mesmos e nossas associações, exposto pela luz de Sua presença, e ter tudo testado por Sua Palavra infalível.
Parte 10 – Um Nome Escrito – Palavra de Deus
“E tinha um nome escrito... e o nome pelo qual Se chama é a Palavra de Deus” (Ap 19:12-13).
É somente quando percebemos que o Apocalipse é um livro de julgamento, que estamos preparados para os aspectos inusitados em que nosso bendito Senhor é aqui apresentado. No capítulo 1, Ele é visto julgando no meio dos sete castiçais de ouro, e de tal maneira que até mesmo o discípulo amado caiu a Seus pés como morto. Nessa passagem também – mas agora em relação ao mundo – Ele Se reveste da mesma aparência judicial, simbolizada pela mesma característica em que “Seus olhos eram como chama de fogo”. De fato, é expressamente dito nesta passagem que Ele “julga e peleja com justiça”. É o mesmo Jesus que uma vez Se assentou em uma humilde aparência ao poço de Samaria, mas que agora, depois de Sua longa permanência à direita de Deus, está retornando a este mundo que O rejeitou e crucificou, para reivindicar Seus direitos e estabelecer Seu trono, e assim glorificar a Deus, tornando bom tudo o que Ele é em Seu governo justo. Todas as coisas devem ser colocadas sob Seus pés, e em Sua súbita Aparição por meio do céu aberto, O vemos vindo para subjugar, entrar e possuir Sua legítima herança.
Antes de considerar o significado dos nomes aqui mencionados, será proveitoso chamar a atenção para a conexão. Na parte inicial do capítulo 19, são apresentados eventos de grande importância nos caminhos divinos. Todo o céu se enche de louvor quando a grande corruptora da Terra se encontra com sua justa condenação pelas mãos de Deus. Depois disso, temos a celebração da ceia das bodas do Cordeiro, para a qual Sua esposa havia se aprontado e estava, pela graça, vestida de linho fino, puro e resplandecente – a justiça dos santos. Em Efésios, temos a apresentação privada e íntima da noiva como “uma Igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante; mas santa e irrepreensível”. Aqui se trata do casamento público, para o qual os convidados são chamados e com o qual todas as hostes celestiais podem estar em comunhão. Isso marca o término do tempo da paciência de Jesus Cristo, e, se Ele estava na cena anterior, em Sua vergonha e humilhação, aqui, está prestes a ser exaltado, e Ele compartilhará a glória de Seu trono com Sua amada noiva.
Esta é a quarta vez que o céu aberto é mencionado no Novo Testamento. A primeira ocasião foi no batismo de Jesus, quando “se Lhe abriram os céus, e viu o Espírito de Deus descendo como pomba e vindo sobre Ele. E eis que uma voz dos céus dizia: Este é o Meu Filho amado, em Quem Me comprazo”. O humilde Jesus, cumprindo toda a justiça e identificando-Se com Seu povo pobre e aflito – os santos na Terra e o Excelente, em Quem estava todo o Seu prazer – é aqui visto como o Objeto do coração de Seu Deus. Em seguida, Ele mesmo fala a Natanael e diz: “Na verdade, na verdade vos digo que, daqui em diante, vereis o céu aberto e os anjos de Deus subirem e descerem sobre o Filho do Homem”. Aqui na Terra – naquela época e também no futuro – apreendemos que Ele é visto como o Objeto do ministério dos anjos. Com a morte de Estevão, ocorre a terceira vez, assim descrita: “Eis que vejo os céus abertos e o Filho do Homem, que está em pé à mão direita de Deus”. O Objeto do coração de Deus agora Se tornou o Objeto do crente, que assim, pela graça, foi associado a Deus em Seu próprio prazer no Seu Filho amado. Agora, por último, os céus se abrem para que o Filho do Homem possa sair, como vimos, em justiça para julgar e pelejar.
Depois que a descrição pessoal foi dada, é dito: “e tinha um nome escrito que ninguém sabia, senão Ele mesmo”. A introdução dessa afirmação neste lugar especial é muito marcante: “E os Seus olhos eram como chama de fogo; e sobre a Sua cabeça havia muitos diademas”; e então, antes de relatar que Ele estava “vestido de uma veste salpicada de sangue”, o nome secreto e escrito é mencionado. Deve haver uma razão para isso; e como explicação, não podemos deixar de mostrar as palavras ditas por alguém: “Mas, embora assim revelado como Homem, Ele tinha uma glória em que ninguém poderia penetrar”; e o escritor acrescenta em uma nota: “Assim foi quanto à Sua Pessoa e serviço. Ninguém conhecia o Filho senão o Pai. Era o segredo de Sua rejeição. Ele era assim, e necessariamente assim no mundo. Mas o mundo sob a influência de Satanás não perceberia isso. Em Sua humilhação, Sua glória divina foi mantida nas profundezas insondadas de Sua Pessoa. Agora Ele é revelado em glória, mas sempre permaneceu aquilo que ninguém poderia sondar ou penetrar – Sua própria Pessoa e natureza... como revelando Deus, em graça ou poder, de modo a torná-Lo conhecido, nós O conhecemos. Mas Sua Pessoa como Filho sempre permanece insondável. Seu nome é escrito, para que saibamos que é inconhecível – não apenas não conhecido, mas inconhecível.” Essas palavras de peso merecem a consideração cuidadosa do leitor – especialmente no momento presente – pois contêm um lembrete saudável da inescrutabilidade da Pessoa do Filho.
Primeiro vem o nome escrito, desconhecido por todos, exceto ao seu divino Possuidor, e então, em conexão com a veste salpicada de sangue, é dito: “E o nome pelo qual Se chama é a Palavra de Deus”. Isso deve ser cuidadosamente diferenciado do que é encontrado no primeiro versículo do evangelho de João. O “Verbo” ali, que estava com Deus, e que era Deus, se for tomado por enquanto como um título divino, não pode significar menos do que isso (como bem foi dito), “Ele é, e Ele é a expressão de toda a mente que subsiste em Deus”, e isso absolutamente relacionado a tudo o que Deus é. Mas em nossa passagem, embora a “Palavra de Deus” seja a revelação do que Deus é, ela é a revelação de Deus em um aspecto ou caráter especial. Os próprios detalhes de Sua aparição do céu, assentado em um cavalo branco, deixa isso claro. Não há uma palavra de ternura, graça ou afeição, Ele é “chamado Fiel e Verdadeiro, e julga e peleja com justiça. E os Seus olhos eram como uma chama de fogo... E estava vestido de uma veste salpicada de sangue”, etc. Tudo fala de julgamento santo e implacável, de julgamento de acordo com o padrão de um Deus justo; como de fato é dito: “Ele mesmo é o que pisa o lagar do vinho do furor e da ira do Deus Todo-poderoso” (v. 15). É de tudo isso, de Deus assim apresentado, que Cristo como a Palavra de Deus é a revelação. Assim, nos evangelhos, por exemplo, embora Cristo sempre tenha sido Deus manifestado em carne, Ele o foi no aspecto às vezes de poder, às vezes de graça – às vezes como luz e às vezes como amor. Mas de qualquer maneira, Ele expressou o que era divino, Ele nunca foi menos do que tudo o que Ele é.
Ainda outro nome é dado; no versículo 16 é dito: “E na veste e na Sua coxa tem escrito este nome: REI DOS REIS E SENHOR DOS SENHORES”. O contexto explica imediatamente a força desse título, mostrando que, em harmonia com todo o livro, ele tem relação com a Terra. No versículo anterior, somos informados de que Ele ferirá as nações e as governará com uma vara de ferro, e o nome, ou título, que estamos considerando, indica que é consequente a isso que nosso Senhor estabelecerá Seu trono de supremacia universal sobre a Terra. Já exaltado à direita de Deus, “havendo-se-Lhe sujeitado os anjos, e as autoridades, e as potências”, Ele será no dia de que fala nossa passagem, exaltado também neste mundo, quando Ele “dominará de mar a mar, e desde o rio até às extremidades da Terra”. Será o cumprimento da promessa: “Também por isso Lhe darei o lugar de Primogênito; fá-Lo-ei mais elevado do que os reis da Terra” (Sl 89:27).
Ao mostrar o prazer do Espírito de Deus em direcionar nossa atenção para a glória futura de Cristo neste mundo, pode-se mencionar que duas vezes antes neste livro ela foi apresentada. No início, no discurso de João às sete igrejas, lemos: “e da parte de Jesus Cristo, que é a Fiel Testemunha, o Primogênito dos mortos e o Príncipe dos reis da Terra”. É o passado de nosso bendito Senhor, o que Ele era quando estava aqui embaixo como a Fiel Testemunha; é o presente, o que Ele é como ressuscitado dos mortos, o Primogênito; e é o futuro, o que Ele será quando Ele tiver tomado Seu grande poder, e quando todos os principados da Terra prestarem homenagem a Seus pés como Senhor de todos eles. No capítulo 11, encontramos também a mesma era abençoada. Quando “tocou o sétimo anjo a trombeta, e houve no céu grandes vozes, que diziam: Os reinos do mundo vieram a ser de nosso Senhor e do Seu Cristo,[1] e Ele reinará para todo o sempre” (v. 15). No presente momento, “toda a criação geme e está juntamente com dores de parto até agora”, naquele dia, “também a mesma criatura será libertada da servidão da corrupção, para a liberdade da glória dos filhos de Deus”; o efeito da justiça será paz, e a operação da justiça, repouso e segurança, para sempre.
[1] N. do A.: Uma tradução melhor traz: “O reino do mundo de nosso Senhor e de Seu Cristo é vindo” (JND).
Tal é o futuro abençoado que aguarda a Terra, mas antes que isso possa chegar, todos os crentes deste período terão sido arrebatados nas nuvens para encontrar o Senhor nos ares. As bodas do Cordeiro, como vimos em nosso capítulo, precede a Aparição do Senhor. A esperança da Igreja, portanto, é a vinda do Senhor para os Seus santos. Para isso, esperam diariamente em comunhão com Seu próprio coração. Estar com Ele será a consumação de seu gozo, na medida em que será Seu gozo apresentar Sua noiva a Si mesmo, que encherá o coração deles e transbordará em louvor perpétuo a Seus pés. Mas a visão deles não é limitada por essa perspectiva, por mais gloriosa que seja, pois eles aguardam ansiosamente também Sua Aparição em glória, não porque, na graça de seu Deus, eles serão manifestados na mesma glória que Ele, mas sim porque chegará o tempo em que seu Senhor, que uma vez foi rejeitado e crucificado, será publicamente exaltado e entronizado como Rei dos reis e Senhor dos senhores. Sim -
“Nossos olhos ansiosos gostariam de contemplar
Aquela bendita fronte brilhante,
Outrora envolta com a mais amarga angústia,Usar Sua coroa de glória agora”.
Parte 11 – Nome em Suas Testas
Esta última menção de “Seu nome” está em conexão com os santos glorificados. Há, no entanto, outro grupo de santos que nos é mostrado com esta marca característica, com o acréscimo de “o nome de Seu Pai”. As palavras são omitidas na tradução King James e na Almeida Fiel, mas, na medida em que são aceitas em outras versões (JND, ARC, ARA, TB, AIBB), bem como nas traduções mais recentes, elas podem ser recebidas com toda a confiança como genuínas. Pela versão Almeida corrigida somos apresentados a um grupo de santos, cento e quarenta e quatro mil em número, que estão com o Cordeiro enquanto Ele está no Monte Sião – “tendo o Seu nome, e o nome de Seu Pai, escrito em suas testas” (Ap 14:1). Que este grupo ocupa um lugar especial de bem-aventurança é visto no contexto e, de fato, na declaração expressa de que eles “seguem o Cordeiro para onde quer que vá”.
Se perguntarmos quem são eles, isso nos ajudará a entender a importância do nome escrito em suas testas. É muito claro que eles são santos terrenais, e não celestiais. No capítulo anterior, temos permissão para ver o terrível poder de Satanás como incorporado no governo e autoridade da primeira besta, e como exercido pela segunda, que é o homem do pecado – o anticristo. É essa encarnação do mal que fará com que todos dentro da esfera de sua autoridade recebam uma marca na mão direita, ou na testa, como indicativo de sua lealdade à besta. Pode parecer que o mal triunfou completamente, mas a abertura do capítulo 14 nos revela uma multidão que, redimida da Terra e durante o reinado do mal desenfreado, está associada às glórias do Cordeiro na própria sede de Seu reino terrestre. Então, lembrando que é em Jerusalém onde o anticristo exercerá seu poder delegado, é evidente que esse grupo, com o Cordeiro no Monte Sião, é composto de santos Judeus que, quaisquer que sejam suas tristezas, foram trazidos vitoriosamente por meio da fornalha ardente da angústia de Jacó, aquele tempo de grande tribulação, como nunca foi visto, ou será testemunhado.
Mas não é suficiente dizer que eles são santos Judeus, pois lemos sobre outros cento e quarenta e quatro mil no capítulo 7 – formados por doze mil de cada tribo. Esses são o número simbólico dos eleitos de todo o Israel, mas aqueles em nosso capítulo, devemos nos lembrar, são redimidos da esfera do domínio do anticristo, e, portanto, uma vez que apenas as duas tribos estarão na terra naquele período, é outro número simbólico, composto daqueles que foram preservados pela graça de se renderem às reivindicações e ameaças do anticristo e de suas contaminações morais. Eles são, de fato, os fiéis dentre Judá e Benjamim, que agora entraram na recompensa gloriosa da companhia do Cordeiro em Sua exaltação no reino. O próprio número (como no capítulo 7), doze vezes doze, fala de perfeição intensificada em administração governamental e, portanto, do reinado perfeito do Messias. É uma cena sem nuvens, de gozo e bênção, a promessa brilhante da questão de todos os caminhos de Deus em governo e na graça, que nos é permitido contemplar, antes que a tempestade desoladora do julgamento irrompa sobre um povo apóstata e um mundo rebelde.
O que, então, podemos perguntar agora, qual a importância de Seu nome, e o nome de Seu Pai, na testa desse abençoado grupo? Duas coisas distintas são indicadas, como é evidente pelo fato de terem o nome do Cordeiro e o nome de Seu Pai. O primeiro é um contraste com o que se encontra no capítulo anterior. Lá lemos, como já vimos, que os homens em geral recebem a marca da besta em sua mão direita, ou em suas testas, como o símbolo de sua aceitação do governo satânico, e como, dando-lhes certos direitos e privilégios dentro de seu reino. Da mesma forma, ter o nome do Cordeiro em suas testas proclama que este grupo redimido, as “primícias para Deus e para o Cordeiro”, pertence ao seu glorioso Messias, e que eles mantêm sua fidelidade a Ele em meio às dores incomparáveis das trevas, e dias de perseguição por meio dos quais são levados. Odiados, são assim publicamente reconhecidos e honrados com marcas especiais de favor e aprovação por Aquele por Quem sofreram. Além disso, eles têm o nome de Seu Pai, pois “por sua confissão aberta de Deus e do Cordeiro, eles foram testemunhas disso e sofreram como Cristo sofreu em Sua vida ao declarar Deus, como Seu Pai”.
Passamos agora para outra cena. Aquilo que acabamos de considerar está na Terra, no Monte Sião; esta é a Jerusalém celestial. É verdade que a cidade santa é apresentada em sua relação com a Terra milenar, pois é dito que as folhas da árvore da vida são para a cura das nações. Mas quando chegamos à descrição da bem-aventurança de seus habitantes em seu caráter positivo, isso necessariamente é eterno. É notável que o estado eterno, conforme dado no capítulo 21:4, seja apresentado do lado do alívio – “não haverá mais morte, nem pranto, nem clamor, nem dor” – e que na cidade celestial temos antes o que é realmente possuído e desfrutado. Mas, mesmo assim, deve ser lembrado que não é a casa do Pai, de modo que, de acordo com o caráter de todo o livro, ainda é governo (veja v. 3), e, portanto, os redimidos aqui são vistos como servos. É proveitoso observar essas distinções, e somos lembrados por elas de que todos os aspectos da bem-aventurança dos redimidos devem ser levados em consideração e combinados, a fim de entender em qualquer medida o que Deus tem reservado para Seu povo quando todos os Seus propósitos forem cumpridos.
Então, três coisas marcam a condição dos cidadãos celestiais: “Os Seus servos O servirão, e verão o Seu rosto, e na sua testa estará o Seu nome”. Eles O serviram na Terra, pode-se pensar, e muitos entre eles realmente O serviram devotamente, assim como Paulo foi habilitado a dizer: “em nada considero a vida preciosa para mim mesmo, contanto que complete a minha carreira e o ministério que recebi do Senhor Jesus para testemunhar o evangelho da graça de Deus” (ARA). Mas qualquer que fosse a perseverança, a energia espiritual e a singeleza de olhos que caracterizassem Paulo e outros enquanto estavam na Terra, o serviço deles nunca foi perfeito. Havia apenas Um, o Servo perfeito, que podia dizer: “Eu faço sempre o que Lhe agrada [ao Pai]”. No céu, na nova Jerusalém, cada um das incontáveis multidões de redimidos responderá total e perfeitamente à vontade de Deus. Quando, portanto, diz: “Seus servos o servirão”, isso significa que eles servirão de acordo com a perfeição dos pensamentos de Deus. Além disso, eles verão Seu rosto, eles desfrutarão sem impedimentos da intimidade de Sua presença, pois então, como Cristo, eles O verão como Ele é e poderão desfrutar da bendita visão que será a fonte de todo o deleite e gozo eterno deles.
“Para sempre em Seu rosto contemplar,
Encontrar todos os raios concentrados,
Enquanto toda a Sua beleza Ele exibe
A todos os santos em glória.”
Finalmente, e este é o nosso assunto imediato, “e na sua testa estará o Seu nome”. Já foi demonstrado que o significado primário do nome carregado assim sobre a testa é, por assim dizer, pertencimento; que marca aqueles que o têm como pertencentes a Cristo. E isso transmite muito, pois ser d’Ele é realmente a soma da bem-aventurança eterna, na medida em que nos leva à associação eterna com Ele, tanto agora quanto no próprio céu. Há, no entanto, outro pensamento. No capítulo 14, o nome está “escrito” em suas testas, aqui só se diz que está em sua testa. Aprendemos dessa distinção que aqui a característica predominante é a conformidade moral com Aquele cujo nome eles levam. Como visto repetidas vezes nesses escritos, “nome” expressa a verdade da Pessoa, e, portanto, consideramos aqui que a plena semelhança com Cristo é exibida em cada testa redimida. Aprendemos em outra passagem (Rm 8:29) que todos os crentes serão conformados à imagem do Filho de Deus, e aqui podemos ver isso de fato cumprido. Que gozo, possamos ser permitidos dizer, será para o próprio Senhor ver, enquanto Ele examina as inúmeras hostes de Seus santos glorificados, Sua própria semelhança irradiando de cada rosto, Ele mesmo espelhado e refletido em todos os redimidos! Isso nos ajuda a entrar mais plenamente nas palavras do profeta: “Ele verá o trabalho de Sua alma e ficará satisfeito”. Então, de fato, Cristo encherá a cena. As coisas velhas terão passado para sempre, e todas as coisas serão feitas novas, pois assim, não para a fé como agora, mas em realidade, Cristo será tudo para todos os Seus, e isso em plena manifestação e sem nuvens. A Ele seja todo o louvor agora e por toda a eternidade!
Parte 12 – Tu Permaneces
Ao longo de todo este ano, estivemos ocupados com o nome que está sobre todo nome, expressando as várias glórias e excelências de nosso bendito Senhor e Salvador. Tem sido nosso deleite passar de uma fase para outra de Suas infinitas perfeições, e chamar a atenção para Ele como Aquele em Quem todos os pensamentos e caminhos de Deus estão centralizados, e como Aquele, também, que é a porção permanente e eterna do coração do crente. Ficar maravilhado com a contemplação de Cristo, como a rainha de Sabá ficou na presença da glória de Salomão, é antecipar o gozo do céu. Mas para entrar em qualquer medida disso, devemos seguir nosso bendito Senhor – e isso só pode ser por meio da morte e ressurreição moralmente conhecidas – no Santo dos Santos, onde Ele habita. Somente ali podemos, com o rosto descoberto, contemplar a glória do Senhor, e ser transformados, de glória em glória, na própria imagem, como pelo Espírito do Senhor. Como é Seu próprio desejo ter Seu povo amado assim na intimidade de Sua própria presença, que Ele possa gerar em todos nós aquele propósito de coração que nos levará a dizer como o salmista: “Uma coisa pedi ao SENHOR e a buscarei: que possa morar na casa do SENHOR todos os dias da minha vida, para contemplar a formosura do SENHOR e aprender no Seu templo”.
Em nosso presente assunto, somos convidados a considerar Sua imutabilidade, em contraste com o caráter transitório deste mundo. Na medida em que nosso corpo está ligado a esta criação, que ainda “geme e está juntamente com dores”, há momentos em que somos oprimidos com a percepção de corrupção e morte que estão escritas em toda a cena. Já sob julgamento, essa criação logo desaparecerá, pois “os céus e a Terra que agora existem pela mesma Palavra se reservam como tesouro e se guardam para o fogo, até o Dia do Juízo e da perdição dos homens ímpios” (2 Pe 3:7). As próprias obras das mãos do Senhor também perecerão, como uma veste, Ele mesmo as enrolará, e elas serão mudadas. Para a pergunta: Por quê? A resposta é: A primeira criação compartilhará a condenação do primeiro homem. Por um pequeno período, em testemunho dos direitos e da glória do Filho do Homem, ela será libertada da escravidão da corrupção para a liberdade da glória dos filhos de Deus, mas o julgamento pronunciado sobre ela, embora adiado, é final e irrevogável.
É, portanto, um imenso consolo ser lembrado de que o próprio Senhor, o Criador, permanece para sempre. O retrospecto do tempo, que sempre é retratado em nossa atenção no final de um ano, a constante partida daqueles que conhecemos e amamos, os sinais de mortalidade que encontram nosso olhar a cada passo – todas essas coisas poderiam encher nosso coração de apreensão e tristeza, se nossa visão fosse limitada pelo horizonte do tempo. Mas, graças a Deus, temos a ver com uma Pessoa que está acima e além de qualquer mudança, com Aquele que é sempre o Mesmo e cujos anos nunca terão fim, e Ele é conhecido por nossa alma como Salvador, Redentor e Senhor. É, de fato, uma característica do Cristianismo que estejamos presos – abençoadamente presos – a uma Pessoa divina e para uma Pessoa divina que, tendo estado aqui como Homem no meio dos homens, conhece todas as nossas necessidades e tristezas. No mesmo Salmo que o apóstolo cita, encontramos, de fato, os sentimentos aos quais foi feita alusão. Isso encorajará nosso coração a considerar um pouco sobre o que está registrado.
Em primeiro lugar, é preciso apontar que o título divino do Salmo (102) é, “Oração do aflito, vendo-se desfalecido, e derramando a sua queixa perante a face do SENHOR”; e que seja lembrado que “o Aflito” aqui é nada menos que a Pessoa do Messias no meio de Sua tristeza e rejeição. Mas passando pelas circunstâncias especiais em que Ele é visto aqui, e chegando ao nosso assunto imediato, Ele diz no versículo 23: “Abateu a Minha força no caminho; abreviou os Meus dias”. E então, voltando-se para Deus, Ele diz: “Deus Meu, não Me leves no meio dos Meus dias, Tu, cujos anos alcançam todas as gerações”. Como nosso coração é atraído para nosso precioso Salvador, quando temos a permissão para contemplá-Lo em circunstâncias tão semelhantes àquelas em que nós mesmos nos encontramos; perceber que Ele, ao Se tornar Homem, foi sobrecarregado com o sentimento e a experiência de fraqueza e da brevidade da vida humana. Sim, como lemos em outro lugar, Ele foi tentado em todos os pontos, como nós somos, sem pecado; e é por isso mesmo que Ele está qualificado para Se compadecer de nós em nossas enfermidades e para nos ministrar o socorro necessário. Bendito seja para sempre o Seu santo nome!
Consideremos, no entanto, a resposta ao Seu clamor. Começa com o versículo 25: “Desde a antiguidade fundaste a Terra; e os céus são obra das Tuas mãos. Eles perecerão, mas Tu permanecerás; todos eles, como uma veste, envelhecerão; como roupa os mudarás, e ficarão mudados. Mas Tu és o mesmo,[2] e os Teus anos nunca terão fim”. Podemos dizer reverentemente que Deus, em resposta ao clamor de angústia de Seu ungido, O lembra de Sua criação, e então, que se todas as obras de Suas mãos perecessem, Ele permaneceria; que, em contraste com a mudança, decadência e dissolução da criação, Ele, embora em circunstâncias de fraqueza e tristeza, era, em Seu próprio Ser, O imutável. Tal linguagem só pode ser entendida à luz do mistério de Sua Pessoa, mas o ponto que desejamos agora enfatizar é que o conforto e o sustento ministrados à Sua santa alma estavam em conexão com a eternidade e a imutabilidade de Seu próprio Ser. Mais não pode ser dito; mas oh! Quão perto Ele se aproxima de nós em nossa fraqueza quando lemos essa “Oração dos aflitos” e aprendemos o caráter da resposta que Ele recebeu.
[2] N. do A.: Como apontado no capítulo 1, as palavras "Atta Hu", traduzidas como “Tu és o mesmo”, sempre foram consideradas como tendo a força de um título divino.
Há outra coisa a ser observada. Como o Autor de nossa salvação, Ele foi aperfeiçoado por meio de sofrimentos, e assim Se tornou o perfeito Exemplo para todos os Seus santos aflitos e provados. Mas a maravilha é que a consolação ministrada a Ele enquanto trilhava o caminho da rejeição, quando, em toda a aparência exterior, Ele trabalhou em vão e gastou Suas forças por nada, é da mesma natureza que aquela consolação ministrada a nós em nosso caminho de peregrinação. É-Lhe dito, como no Salmo, de Seu Ser imutável? Da mesma forma, somos lembrados, enquanto passamos por este mundo mutável, que Ele permanece e que Ele é sempre o mesmo – o mesmo no decorrer de todos os séculos do tempo, como no decorrer das imensuráveis eras da eternidade. Somos assim colocados sobre uma Rocha – uma Rocha que nada pode nunca abalar e sobre a qual, repousando em perfeita paz, podemos contemplar a dissolução de todas as coisas, sem uma única apreensão. Cristo permanece, mesmo que percamos tudo o mais; devemos antes dizer: que tudo o mais desapareça do nosso olhar, pois não queremos nada, porque possuímos Cristo.
Tudo isso apenas nos ensina que já pertencemos a outra cena, que é tão imutável quanto Cristo é imutável. Foi nessa lição que o Senhor instruiu tão cuidadosamente Seus discípulos. Em João 13, por exemplo, todo o significado de Ele lavar os pés deles pode ser assim expresso: “Se Eu não posso mais permanecer com vocês em suas circunstâncias, Eu lhes mostrarei como vocês podem seguir e ter parte Comigo naquele novo lugar para o qual estou indo”. Assim também, quando Maria Madalena O teria detido aqui, Ele disse: “Não Me toques; pois ainda não subi a Meu Pai; mas vai a Meus irmãos e dize-lhes: Subo a Meu Pai, e a vosso Pai; e a Meu Deus, e a vosso Deus”. É a mesma lição de outra maneira. Ele coloca Seus discípulos, por essa mensagem, em Seu próprio lugar e relacionamento em associação Consigo mesmo, e isso é necessariamente no céu. Não apenas, portanto, pertencemos a outra cena – a que está fora deste mundo – mas o Senhor gostaria que O seguíssemos até ela e estivéssemos em Sua companhia lá, mesmo enquanto pisávamos nas areias do deserto.
“Tu permaneces” é, portanto, cheio de sustentação e encorajamento benditos. Não só nos proporciona um fundamento seguro e inabalável em meio a mudanças e inquietações, mas também atrai nosso coração para aquele novo lugar e aquela nova ordem de coisas, que Ele formou e inaugurou em virtude de Sua morte e ressurreição, e onde Ele mesmo é o Centro de toda a glória que inunda toda a cena. Pois, como lemos em outro lugar, Ele subiu muito acima de todos os céus, para encher todas as coisas. Bem, então podemos aceitar a morte sobre todas as coisas aqui, pois já a luz de outro mundo despontou sobre nossa alma – um novo mundo onde nem a mudança, nem a tristeza, nem a morte podem entrar, e onde estaremos para sempre com Cristo e conformados à Sua própria imagem. Dessa nova criação, Ele é o Princípio, como o Primogênito dentre os mortos, e Ele permanece. Sim, como é permitido nos dirigir a Ele, “Tu és o mesmo, e Teus anos não terão fim”.
Em conclusão, o escritor perguntaria afetuosamente se o leitor está conscientemente repousando sobre Aquele que é o mesmo ontem, hoje e para sempre. Não há outro fundamento para a nossa alma diante de Deus. Com base nisso, estamos seguros tanto para o tempo quanto para a eternidade, pois Deus é então por nós; e se Ele é por nós, quem pode ser contra nós?
E. Dennett
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