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ÍNDICE
Noé - Parte 1
Os Patriarcas
John Gifford Bellett
Noé
Parte 1
Quão mudado foi todo o estado das coisas desde o dia de Gênesis!
A corrupção e a violência do homem
Se eu lesse o início desta bela Escritura e apenas expusesse meu coração à primeira impressão mais simples do que recebo ali, seria esse pensamento que ocuparia a minha mente; e ainda assim podemos explicar com toda facilidade esta estranha e maravilhosa revolução. Em Gênesis 1, Deus estava sozinho, produzindo o fruto de Sua própria obra, em sabedoria, bondade e habilidade, e então tudo era bom e desejável. No retorno, todas as tardes e todas as manhãs, os deleites divinos pairavam sobre o que a mão divina estava realizando, e eis que tudo estava muito bom; e o sétimo dia foi santificado para a celebração deste descanso e gozo. Mas agora, não é a mão de Deus apresentando uma obra perfeita aos pensamentos e afeições de Deus, mas é o homem, o artífice apóstata, espalhando um amplo cenário de corrupção e violência para a tristeza e arrependimento da mente divina. O segredo da mudança está aí. O homem está trabalhando; o homem tem moldado e decorado o cenário, e não o Deus vivo e bendito. A Terra está, portanto, cheia de violência; existem gigantes, homens poderosos, homens de renome; e as imaginações daquele coração que agora estava criando este “presente século [mundo – ARA] mau” são apenas más, e continuamente más.
Aqui está o segredo. A mudança foi completa por causa do novo oleiro que estava ao torno; a mudança não poderia ser menor. O canto das estrelas da manhã, o clamor dos filhos de Deus, não tinha agora eco no cenário da criação; o homem estava agora fora – não como parte do trabalho, mas como um trabalhador reprovado.
É exatamente isso que dá o caráter ao início do capítulo 6. E não há alívio para tudo isso na criatura – a melhor amostra e porção que ela poderia oferecer está ela própria contaminada. Os próprios filhos de Deus são arrastados para a lama – sua vontade, seu desejo, seu gosto são supremos para eles. As filhas de Moabe seduziram à fornicação; e os nazireus, que eram mais puros que a neve e mais brancos que o leite, cujo polimento era de safira, tornaram-se mais negros que o carvão. O testemunho contra eles é: “ele também é carne”.
Se Adão foi seduzido pelo mais sutil dos inimigos e seguiu a vista de seus olhos e o desejo de seu coração, os filhos de Deus são agora seduzidos por um inimigo igualmente bem-sucedido. Ele trabalha, é verdade, mais de dentro do que de fora – “ele também é carne” – mas a vista dos olhos e o desejo do coração são novamente seguidos. As esposas são tomadas “de todas as que escolheram”; outros senhores são ouvidos, pois Deus não está nos seus pensamentos, e então não importa se é a promessa da serpente ou a formosura das filhas dos homens (Gn 3:4-5).
A multiplicação dos homens na face da Terra é vista como estando ligada a toda esta corrupção – tal como na história da Igreja (Atos 6:1). Foi quando o número de discípulos se multiplicou que começaram a surgir murmurações e disputas; e esses casos semelhantes em Gênesis 6 e Atos 6 nos dizem que nunca se deve confiar no homem e que quanto mais obtemos dele, piores são as coisas. “Jesus não confiava neles, porque a todos conhecia e não necessitava de que alguém testificasse do homem, porque ele bem sabia o que havia no homem”.
O julgamento de Deus
Tal era a condição da cena de uma extremidade à outra; e o julgamento de Deus está marcado contra toda essa corrupção e violência que agora se espalha pela Terra: “Não contenderá o Meu Espírito para sempre com o homem”. Pode haver, e haverá, um período de longanimidade – como foi dito: “seus dias serão cento e vinte anos” – mas ainda assim o julgamento está marcado, e o dia da visitação chegará – o Espírito contenderá para sempre.
Recurso em Deus
Mas há recurso em Deus, bem como há julgamento com Ele. Se o homem, obra de Suas mãos, fez com que Seu coração “pesasse”, ainda assim, tirando de Si mesmo, Ele irá (posso dizer?) mais fundo e encontrará Seu gozo nos conselhos de Seu coração.
“Noé, porém, achou graça aos olhos do SENHOR”. O homem, como pecador, se tornará objeto de amor que elege, perdoa e justifica – ele envolverá o coração agora, como antigamente, na criação, ele envolveu a mão do Senhor.
Assim, o Senhor tira de Si mesmo, mas de Si mesmo num sentido e maneira mais profundos do que antes. Isso não seria mais um reparo para a criatura – tal coisa não teria sido uma obra adequada para Deus. Quanto ao homem, Deus teve que Se arrepender de tê-lo feito na Terra; e quanto à cena ao seu redor, a mente de Deus mudou – mudou inalteravelmente e para sempre. O homem, como algo formado do pó, nunca mais seria o deleite divino – o mero homem. Mas a graça pode fazer algo novo – não reparando a obra estragada no torno, mas fazendo dela outro vaso, como parece bom ao Oleiro fazê-lo. Em seu antigo estado estava arruinado, mas em suas ruínas a graça o tomará para fazê-lo um belo e agradável vaso dos mais ricos tesouros e de beleza totalmente desejável.
Admiração do céu
Nós admiramos uma ruína; e alguns, ao pensarem nisso, têm suspeitado da moral de tal sentimento, e estiveram prontos a condenar o coração e os olhos que pudessem permanecer com deleite sobre o que era o testemunho de decadência e morte, e a entrada do poder do pecado. Mas atrevo-me a encorajá-los e a dizer-lhes que ainda podem admirar uma ruína, e fazê-lo sem medo ou julgamento próprio. A coisa redimida é uma vasta, preciosa e bela ruína; revelará o poder do pecado e da morte para sempre, ao mesmo tempo em que manifestará à ilimitada e gloriosa vitória do Destruidor da morte. E os pensamentos do Espírito de Deus, a mente de Cristo, bem como o próprio céu e todas as suas hostes, se deterão sobre essa ruína por uma eternidade feliz. Será o ornamento e o deleite da criação de Deus. “Cantai alegres, vós, ó céus, porque o SENHOR fez isso; exultai vós, as partes mais baixas da terra; vós, montes, retumbai com júbilo; também vós, bosques e todas as árvores em vós; porque o SENHOR remiu a Jacó”. E novamente: “haverá alegria no céu por um pecador que se arrepende, mais do que por noventa e nove justos que não necessitam de arrependimento”.
Esta é a admiração do céu por uma bela ruína; e estes são os caminhos de Deus. As operações de Suas mãos eram, antigamente, Seu deleite, e os conselhos de Sua graça são agora Seu deleite, e os anjos que assistem têm sua música e suas danças na casa do Pai do pródigo.
Ensinamento divino
Noé, tendo achado graça aos olhos do Senhor, torna-se objeto do ensino divino. Um vaso eleito é sempre o vaso para a obra das mãos de Deus, por meio do Espírito. O Senhor comunica Sua mente a ele; Ele lhe diz que o julgamento de um mundo mau, que agora havia atingido sua medida, estava marcado diante dele, mas que para ele e sua casa havia segurança e uma grande libertação.
Esta comunicação tem um caráter muito precioso – está estritamente de acordo com o conselho anterior de Seu próprio seio. Isso é para ser muito valorizado. Deus diz ao Seu eleito que o fim de toda a carne havia chegado diante d’Ele – como, em Seus próprios conselhos secretos, Ele já havia dito: “Não contenderá o Meu Espírito para sempre com o homem”; Ele lhe fala sobre o sentido e o julgamento que tinha sobre a condição moral da Terra – exatamente como Ele havia pronunciado em segredo antes; e, ainda, Ele lhe diz para preparar uma arca para a salvação de sua casa, pois, nos conselhos de Seu amor que elege e propósito soberano, Noé já havia encontrado graça aos Seus olhos.
Intervalo oculto
É muito gratificante para o coração perceber isso. Permite-nos entender como exatamente a revelação que nos foi feita nos coloca na posse da mente divina: “Ocultarei Eu a Abraão o que faço?” diz o Senhor, em outra ocasião, quando Ele estava, como aqui, falando Consigo mesmo. E uma plenitude, bem como exatidão, posso dizer, distingue essas revelações. Jesus diz aos Seus discípulos: “tudo quanto ouvi de Meu Pai vos tenho feito conhecer” – com uma exceção, porém. O Senhor Deus fixou 120 anos como a duração de Sua longanimidade. A pregação de Noé, bem como a construção da arca, deveriam ser para esse período. Esse era o propósito de Deus. Mas Noé não foi informado de nada sobre esse intervalo predestinado. O Senhor reteve qualquer menção aos 120 anos. Noé sabia, de fato, que as águas não poderiam prevalecer até que ele e os seus estivessem seguros na arca, mas ele não sabia quanto tempo seria essa preparação da arca, ou se, depois de terminada, algum tempo deveria passar antes que as águas começassem a subir. Esta parte do conselho divino o Pai manteve em Seu próprio poder; esta foi a exceção à plenitude da comunicação. Eventos deveriam ocorrer, sinais deveriam preceder “o dia do Senhor” – como, pelo menos, o acabamento e o enchimento da arca. Na linguagem do profeta, o ramo deveria tornar-se tenro e brotar suas folhas. Se alguém tivesse falado com Noé sobre o aumento das águas antes que a arca estivesse pronta, Noé não teria ficado abalado nem de forma alguma perturbado. Isso não poderia ser. “O tempo está próximo” teria sido um engano então, como será no futuro, quando o remanescente terrestre, ou a eleição, estiver, como Noé, esperando pela redenção (Lucas 21:8). Mas ainda assim, o próprio período, o fim da longanimidade divina, foi estabelecido no poder do Pai, e ninguém sabia o dia nem a hora. Tão ricas e plenas são aquelas harmonias nos primeiros e nos últimos dias, em ações típicas e finais da mão de Deus. Noé era nesta época um homem terrenal – isto é, um eleito destinado à herança na Terra, como será a nação de Israel no futuro; e ambos, em seus vários dias, são providos, por instruções divinas, contra os enganos que possam alarmá-los, ou as promessas que possam seduzi-los; mas o dia e a hora da sua libertação não são informados.
O plano do Senhor
A arca, em tamanho, formato e material, é inteiramente da prescrição de Deus. Noé só tinha que construi-la – o Senhor a planeja e designa.
Construí-la é apenas a prova e a demonstração da fé – “Pela fé, Noé, divinamente avisado das coisas que ainda não se viam, temeu, e, para salvação da sua família, preparou a arca”. Israel montando o santuário, dias depois, foi um ato semelhante de fé. Eles tiveram que fazer isso, e fizeram isso, com corações dispostos e pronto serviço, entregando seu cobre, e sua prata, e seu ouro, seu linho fino, peles de texugo, madeira de Cetim, azeite, especiarias e pedras preciosas. Mas nisto estava apenas a obediência da fé ao caminho da libertação e da paz, que o próprio Deus planejou e revelou. Eles fizeram o santuário como Noé fez a arca; mas nem o seu ato nem o deles foram nada mais do que fé nas provisões de Deus. E o que é o evangelho e a fé no evangelho até agora, senão tal revelação das provisões da graça e tal obediência a essa revelação? A religião dos eleitos sempre foi a mesma: “é pela fé, para que seja segundo a graça”. A fé nas provisões soberanas de Deus foi a religião de Adão no início, depois foi a de Noé, depois foi a religião de Abraão e de todo verdadeiro Israelita; e assim é nesse nosso dia hoje. Todos nós, assim como Adão, deixamos nossa vergonha, medo e confusão de consciência, com a notícia da ferida e esmagadora Semente da mulher. Todos nós, assim como Noé, preparamos uma arca para a salvação e nos tornamos herdeiros da justiça que vem pela fé. Todos nós, assim como Israel, fomos transportados do monte ardente em fogo ao santuário da misericórdia entronizada – e Jesus, Jesus, é o nome levado ao longo da linha, de uma extremidade à outra, formada de patriarcas, profetas, apóstolos e santos, gentios e judeus, pequenos e grandes, na melodia profunda que encantará a eternidade do céu.
Não é apenas misericórdia. O céu não conhece tal pensamento. Nem é uma promessa simples e despida. É propiciação e vitória, e bênçãos compradas bem como prometidas.
Misericórdia entronizada
Inspecione o santuário de Deus e você descobrirá que não é mera misericórdia que existe ali. É a misericórdia entronizada, a misericórdia da arca da aliança, a misericórdia sustentada pela obra e pela Pessoa do Filho de Deus. E a fé respeita apenas um mistério como esse. A fé nunca fala de mera misericórdia. Não poderia. Não poderia falar de mera misericórdia em Deus, assim como não poderia falar de justiça moral no homem. O evangelho não conhece tais ideias e, portanto, a fé não pode apreendê-las. O evangelho revela Aquele que é Justo, ao mesmo tempo em que justifica os ímpios. Misericórdia e verdade se encontraram. É glória a Deus nas alturas, enquanto é paz e boa vontade para os homens. Este é o caminho do evangelho.
Abraão tem fé nisso, como vemos em Gênesis 15. O Senhor lhe disse: Eu te darei “a ti esta terra, para a herdares”. Esta foi uma promessa, a promessa também de Alguém que não podia mentir. Era uma coisa imutável. E Abraão ouviu isso corretamente. Como um pecador, que sabia muito bem e com justiça que as promessas feitas a tal pessoa devem ter fundamentos e garantias, ele as ouviu; portanto, ele imediatamente diz: “Como saberei que hei de herdá-la?” Isto é um desafio da promessa? Será esta uma questão da veracidade divina? Não, de fato. É apenas fé que permite a Deus saber que era um pecador consciente que estava ouvindo Sua promessa, e que precisava, portanto, de alguma garantia, ou consideração, para levá-la com certeza ao coração. E o Senhor ficou muito satisfeito com isso. A fé sempre O agrada, pois sem ela nada pode agradá-Lo. E imediatamente Ele prepara para permitir Abraão saber que o sacrifício sustentou a promessa.
Amor, fé, paciência
Nosso patriarca, anterior a Abraão, tinha a mesma fé. E seguindo os passos da mesma fé ele assume um caráter avançado. Ele obtém a justiça. “Te hei visto justo diante de Mim nesta geração”, é agora a Palavra de Deus para ele. “Pela fé, Noé, divinamente avisado das coisas que ainda não se viam, temeu, e, para salvação da sua família, preparou a arca, pela qual condenou o mundo, e foi feito herdeiro da justiça que é segundo a fé”;
O amor, a fé e a paciência da esperança deveriam, no entanto, animar sua alma e formar sua vida durante aquele intervalo solene de 120 anos. Enquanto a arca estava sendo preparada, o Espírito, na pregação de Noé, lutava com aquela geração. Nada pode ser mais maravilhosamente repleto de significado do que tudo isso. Noé estava na obra da fé, no trabalho do amor e na paciência da esperança – um verdadeiro santo tessalonicense. Ele estava preparando a arca naquela fé que havia recebido a advertência divina – em amor ele estava falando da justiça à sua geração (2 Pedro 2:5). Assim como um santo deste dia. Sua própria segurança está estabelecida e garantida – isso ele sabe; mas ele tem o cuidado de que seus vizinhos compartilhem isso com ele. O Espírito então contendeu no testemunho como agora Ele contende; mas cada golpe do martelo de Noé, dia após dia, dizia que Ele não contenderia para sempre.
Destruidor e Libertador
No final deste período predestinado, mas não revelado, Noé entra na arca. Esta foi a grande salvação em um mistério. Foi como a noite da destruição do Egito e do resgate de Israel. A história de Noé agora era nada menos do que segurança e libertação sob as maiores garantias e título mais apreciado em uma hora do mais solene julgamento. E esta é a salvação do evangelho. Posteriormente, no Egito, a própria mão que carregou a espada da destruição por toda terra havia indicado o sangue protetor. A espada poderia atacar? Impossível! E agora era Ele Quem Se aconselhou Consigo mesmo sobre o julgamento do mundo, Quem também havia também aconselhado Seus eleitos sobre o caminho de escape. Foi a mão que estava prestes a deixar as águas saírem que agora estava fechando Noé dentro da arca. Poderiam então as águas prevalecer contra ele? Simplesmente, da mesma maneira, impossível!
“A voz que fala no trovão diz: ‘Pecador, Eu sou Teu’”
Aquele a Quem pertence a vingança estabeleceu todo o plano de segurança. Aquele que está portando a espada na terra designou o cordão de fio de escarlata na janela. Mas uma cena solene de julgamento acompanha tudo isso. O Sol havia nascido na Terra, quando, depois disso, Ló entrou em Zoar. E, no entanto, aquela hora ensolarada foi o momento exato para a chuva de enxofre e fogo cair. Nada poderia ser feito até que Ló entrasse na cidade, mas então nada restou a ser feito antes que o fogo descesse.
Quão profundamente oculto estava o momento da visitação! Eles poderiam muito bem ter dito “Paz e segurança” quando viram aquele Sol da manhã, como era seu costume, dourando a superfície brilhante e feliz da cena ao redor deles. Mas mesmo assim a “repentina destruição” caiu.
A geração de Noé estava comendo, bebendo e se casando no exato momento em que a água começou a subir. Não houve nenhum prenúncio, exceto, como a fuga de Ló para Zoar, a entrada de Noé na arca. Mas isso era uma loucura. Aprisionar a si mesmo e a tudo o que tinha dentro de um navio encalhado era loucura. Mas a inundação veio num momento de segurança imaginária e levou todos embora. Eles “voluntariamente” ignoraram a Palavra de Deus, do testemunho do “pregador da justiça”; alguém que se dirigiu a eles no poder e no princípio da esperança da ressurreição (1 Pedro 3).
Destruição repentina e certa para todos os que estão fora, mas segurança divina e infalível para todos os que estão dentro. A cidade de refúgio foi designada por Deus, e seus muros devem ser de salvação. Impossível ser menos. A mesma justiça que tinha pronunciado uma maldição sobre todo aquele que não permanece em todas as coisas escritas no livro da lei para cumpri-las, também tinha pronunciado uma maldição sobre todo aquele que fosse pendurado no madeiro (Gálatas 3). Pode Ele então negar Seu próprio remédio ao pecador, amaldiçoado sob a lei, quando ele implora, pela fé, ao Salvador amaldiçoado no madeiro? Da mesma maneira, é impossível.
Segurança total
“O Senhor o fechou dentro” (ACF). A mão do Senhor transmitiu sua própria força e segurança à condição de Noé. Não é ousado dizer que todos dentro da porta da arca estavam tão seguros quanto o próprio Senhor. O Senhor retornou, podemos dizer, aos Seus próprios céus, ou ao Seu trono, que está estabelecido para sempre, e Noé foi deixado na Terra, no lugar e no dia do julgamento. Mas Noé estava tão seguro quanto o Senhor. “Para que no Dia do Juízo tenhamos confiança; porque, qual Ele é, somos nós também neste mundo”. Jesus voltou para o céu e ainda estamos neste mundo, cujo julgamento está marcado diante de Deus; mas temos a ousadia que é própria de Jesus. Maravilhoso proferir isso! E ainda assim toda aquela segurança misteriosa e gloriosa está representada naquela pequena ação: “O Senhor o fechou dentro”. A própria mão de Deus transmitiu Sua força à condição de Noé antes de Ele retornar aos céus.
Alguns de todas as espécies são levados com Noé do local da morte para a arca da salvação. As “oito almas”, como Pedro fala, mas com elas, remanescentes dos animais da Terra, pequenos e grandes, aves aladas e répteis, todos são alojados e redimidos junto com Noé.
O mesmo aconteceu depois no Egito. Nem uma unha (casco) foi deixada para trás. A grande redenção daquele dia, da mesma maneira, foi proporcionada a todos – Moisés e os 600.000, com suas esposas e filhos pequenos, e também todo o seu gado; todos novamente conheceram e manifestaram a força salvadora de Deus. Como nos dias de Nínive, muito tempo depois, “muitos animais” é o pensamento do Senhor, como as 120.000 pessoas que não conseguiam discernir entre a mão direita e a esquerda.
E no dia vindouro da herança de Cristo, Seus domínios apreciarão todas as obras da mão de Deus: “todas as ovelhas e bois, assim como os animais do campo; as aves dos céus, e os peixes do mar” (Sl 8:7); e os campos e “os rios” baterão “palmas e juntos”, se regozijarão “também as montanhas” (Sl 98) e “jubilarão as árvores dos bosques perante o SENHOR” (1 Cr 16:13).
Que mistério bem-vindo! Não são todas Suas criaturas? Sua mão antigamente não os formou, e Seus olhos e Seu coração descansaram e se deleitaram neles? E isso está perdido para Ele? Pode Jonas sofrer por sua aboboreira murcha, e o Senhor poupar as obras de Suas próprias mãos para Seu gozo permanente? Ele renovará a face da Terra, como está escrito: “A glória do SENHOR durará para sempre; o SENHOR Se alegrará nas Suas obras” (Sl 104:31 – ACF). “Porque a ardente expectação da criatura espera a manifestação dos filhos de Deus. Porque a criação ficou sujeita à vaidade, não por sua vontade, mas por causa do que a sujeitou na esperança de que também a mesma criatura será libertada da servidão da corrupção, para a liberdade da glória dos filhos de Deus” (Rm 8:19-21).
Caráter dispensacional dos dias de Noé
Mas é aqui que posso fazer uma pausa por um momento, para observar o caráter dispensacional destes dias de Noé.
A Terra, como cenário do deleite de Deus e da cidadania de Seu povo, foi perdida pela apostasia de Adão; e as esperanças e a herança dos santos, durante todos os dias anteriores ao dilúvio, eram celestiais – o Senhor revelando assim, embora vagamente, certas porções dos grandes segredos de Seu próprio seio – os segredos do bom prazer proposto em Si mesmo antes da fundação do mundo, de que tanto o céu assim como a Terra deveriam estar conectados com os destinos do homem. Os céus foram abertos ao homem, quando Adão, o homem da Terra, falhou (Gn 5:24).
E assim aconteceu. Mas a Terra não foi fechada porque o céu foi assim aberto. O conselho divino foi diferente. Era isto – que Deus reuniria em Cristo todas as coisas, “tanto as que estão nos céus como as que estão na Terra”. E tendo o chamado celestial já sido revelado na história dos santos antes do dilúvio, o tempo devido havia chegado agora para a revelação do grande propósito de Deus em relação à Terra, e para tornar conhecido que Ele não havia desistido dela, porque, em Seus caminhos dispensacionais, Ele havia adotado os céus.
Como em Apocalipse 4. Quando os santos celestiais, “a plenitude dos gentios”, os místicos anciãos e as criaturas vivas, são vistos assentados em seus lugares celestiais, os pensamentos d’Aquele que estava assentado no trono ali retornam à Terra. O arco-íris é imediatamente visto ao redor do trono – o testemunho disso, que a aliança que dá segurança à Terra estava prestes a ser a fonte de ação no céu. E então agora nestes dias de Noé. Quando a família celestial terminou sua carreira e Enoque foi trasladado, os pensamentos do Senhor retornaram à Terra, e isso, posso dizer, imediatamente; pois a próxima coisa de caráter no progresso da mão, ou do Espírito de Deus, é a profecia de Lameque, prometendo Deus e Suas misericórdias à Terra novamente, e apresentando Noé: “Este (Noé) nos consolará acerca de nossas obras e do trabalho de nossas mãos, por causa da terra que o SENHOR amaldiçoou”.
Tudo isso é simples – dificilmente capaz de ser mal entendido. A profecia de Lameque, que nos apresenta isso, diz-nos o que devemos esperar e encontrar no mistério de Noé. A chave da parábola “jaz à porta”. A recuperação da Terra, o retorno do descanso de Deus e o deleite nele, tudo isso será concretizado nos tempos vindouros do verdadeiro Noé, em Quem, e somente em Quem, todas as promessas de Deus são sim e amém.
Uma grande ação, no entanto, deve ser anunciada nesses tempos. O chamado do povo celestial é bem diferente, como no chamado dos santos antediluvianos. Naquela época não havia interferência na cena ao redor. A família de Caim ficou na posse – posse mansa e indisputada – de suas cidades e de suas riquezas. A visitação de Deus então, como sempre sob tal chamado, apenas separou um povo sem influenciar, ordenar ou julgar o mundo. Deixou-o como o encontrou. Mas a reivindicação de Deus sobre a Terra e Seu propósito de retomá-la são necessariamente diferentes. Lá Ele está interferindo tão completamente em tudo, assim como de outro modo de Sua “multiforme sabedoria” Ele estava deixando-a completamente sozinha. Pois pelo julgamento Ele purificará a Terra e a tornará adequada para ser Seu escabelo.
Refúgio em um dia de julgamento
Tudo isto é a verdade dispensacional que aprendemos aqui, nesta parábola, ou nestes tempos de Noé. A Terra foi lembrada e agora é retomada, mas por meio de julgamentos purificadores. Tudo leva em si a sentença de morte, para que possa ser algo novo, na força e na graça d’Aquele que vivifica os mortos. A própria Terra estava na água, ou debaixo da água, e o remanescente eleito foi salvo – como na cidade de refúgio designada – da mão do vingador; e tudo, portanto, aparece novamente, como na ressurreição.
Animais, aves e répteis, alguns de toda espécie, entram na arca; e ali, dentro daquele refúgio, que manteve seus protegidos em paz, longe do medo do mal, os resgatados passaram os dias de sua paciência.
Lembrados
Mas eles estavam mais do que seguros. Eles foram lembrados – “E lembrou-Se Deus de Noé, e de todo animal, e de toda rês que com ele estava na arca”. Josué também, em outros dias, lembrou-se de Raabe. A cena da morte e do julgamento envolveu nosso patriarca. Era uma ruína vasta, profunda e poderosa – uma extensa Jericó, a amaldiçoada – outra e mais ampla do que a terra de Faraó, com a condenação do Senhor repousando sombria e pesadamente sobre ela. Mas Aquele que já havia fechado o Seu remanescente dentro, agora Se lembra deles; e nessa lembrança havia vida presente e, em perspectiva, uma boa herança.
Será assim com outro remanescente eleito, em dias vindouros. Diante do mesmo Deus da aliança, que agora tinha Noé em mente, um livro de memória será escrito para aqueles que temem ao Senhor e se lembram de Seu nome (Ml 3). E deles o Senhor diz: “naquele dia que farei, serão para Mim particular tesouro”; como agora, em virtude desta lembrança da aliança, o Senhor faz um vento passar sobre a Terra, as águas diminuem e a arca repousa nas montanhas de Arará.
Essa lembrança de Deus era muito preciosa. Mas Noé, na sua cidade de refúgio, tinha outras consolações. A lembrança divina era o conforto oculto da fé; mas ele também tinha abençoados exercícios conscientes de espírito.
A janela da arca
A arca tinha uma janela. A porta estava sob a guarda do Senhor, mas a janela era para uso de Noé. Somente Aquele que o trancou poderia deixá-lo sair – os tempos e as estações estavam em Suas mãos. Mas embora o tempo de sua peregrinação, como prisioneiro da esperança, não possa ser abreviado, ainda assim as esperanças de tal prisioneiro podem ser nutridas de maneira muito preciosa e seu espírito dentro dele abençoadamente exercitado. Noé pode abrir a janela, remover a cobertura, olhar para fora e enviar seus mensageiros, seu Calebe e Josué e seus companheiros, para espiar a Terra e relatar-lhe o que ela é, seja ela gorda ou magra, boa ou má, e trazer-lhe o fruto dela.
Que beleza e que sabedoria atingem os olhos e o coração em tudo isso! Esta janela na arca e seu uso são muito significativos! Os métodos divinos são tão dignos das comunicações divinas! “Maçãs de ouro em salvas de prata” são as Palavras do Espírito.
O ensino típico, simbólico e em parábolas é muito aceitável ao coração e nele entra prontamente. Todos nós provamos isso, assim como as crianças gostam de imagens e histórias. Gostaria de observar aqui que não apenas as doutrinas são ensinadas dessa maneira – não apenas os grandes mistérios da glória, mas as experiências da alma, as operações pessoais interiores do Espírito, são ilustradas por esses mesmos métodos. A convicção do pecado, por exemplo, foi expressa quando Adão se afastou da voz do Senhor Deus, entre as árvores do jardim. Os anseios e indagações de uma alma desperta para o sentido de sua condição, se por acaso ela pudesse encontrar seu caminho, são-nos dados no israelita parado na porta de sua tenda, despojado de seus ornamentos, e cuidando do Mediador quando ele entrou no Tabernáculo (Êx 33). E Moisés, com seu rosto velado e descoberto, poderia ter falado de exercícios e experiências de coração para nós, mesmo que o Espírito, por Sua luz no apóstolo, não tivesse ajudado nosso entendimento (2 Coríntios 3).
Poderíamos passar por milhares de casos assim. E por esse método as grandes coisas de Deus são gravadas no coração. Por meio dessas figuras, o Senhor está bem perto do coração e bate ali. Não é Sua graça se manifestando à distância ou brilhando de longe, mas é o próprio Senhor e Sua bênção chegando muito perto para nossa plena aceitação. Podemos admirar, mas se não desfrutarmos também, o propósito da revelação não será atendido.
Agora, este método está maravilhosamente preservado nestes dias de Noé. Na verdade, todo o Gênesis está repleto disso. É um livro de “parábolas”, como fala Paulo – histórias divinas escritas para a escola de Deus.
Carne e Espírito
A arca, como já observei, tinha sua porta e sua janela, e Noé tinha seus espias para enviar à terra prometida – e a missão desses espias, o corvo e a pomba, expressam a experiência do santo nas obras contraditórias da carne e do Espírito, que contendem nele.
O corvo nunca retorna. A Terra pode ainda não ter sido purificada, mas a natureza impura pode se ocupar com ela. O “presente século mau” será bastante bom para o homem caído e degradado. Na verdade, para o corvo impuro, a arca era mais um lugar de cativeiro do que de segurança. Ele nunca retorna à arca quando escapou. Mas Noé não confiará nele. Bela inteligência santa! O corvo pode permanecer do lado de fora; mas isso não é prova para Noé de que a Terra esteja limpa ou adequada para a planta do seu pé. Noé não confiará nele, mas enviará uma criatura limpa atrás dele. E realmente diferentes são as notícias que esta traz. É, em princípio, a disputa entre Calebe e Josué e seus companheiros espias. A pomba retorna instintivamente. Não houve descanso para ela em um lugar ainda sob julgamento de Deus e sem purificação. E Noé, consciente de que pode confiar nela e submeter a questão ao seu assentamento, envia-a uma segunda e uma terceira vez. E bem, na verdade ele pode confiar nela. A sua única empatia é com as promessas de paz e de uma nova criação. No segundo retorno ela traz uma folha de oliveira no bico e depois da terceira missão ela nunca mais volta.
Belo mistério! A Terra foi redimida da maldição agora, e em seu estado de nova criação a pomba pode deleitar-se. Tudo é ar nativo para ela. Agora é a Terra da pomba e da oliveira, e Noé entende a ausência desta criatura limpa. Ele imediatamente remove a cobertura da arca e olha para fora; e o Deus da glória logo o deixa sair, como o Deus de toda graça o havia fechado dentro antes.
Fé terminando em glória
Certamente os caminhos de um santo, os caminhos da mente de Cristo, estão aqui! Não sei se qualquer ação pode ser mais carregada de significado. Ali estava a arca, e sua janela, e sua porta. A própria arca era para segurança, a janela para uma perspectiva e a porta para um êxodo, no devido tempo. Tudo isso foi fé e esperança encerrando sua peregrinação no lugar da glória prometida.
Noé não suspeitou da arca; ele não se preocupou em apalpar suas madeiras, para saber se elas de fato mantinham as águas do lado de fora – disso ele não tinha dúvidas. Ele não tinha uma bomba d’água em seu navio, se me permite a figura; e posso pronunciá-lo, pois, por mais simples que seja, glorifica Jesus na segurança que Ele dá ao pecador; pois esse é o próprio estilo da Escritura.
Escola de Deus
A lição que nos é ensinada pode ser a mais profunda na mente do Espírito, mas a escola onde é aprendida pode ser um lugar desprezado. Veja, por exemplo, Gênesis 48. Você está ao lado da cama de um velho moribundo – um lugar comum e caseiro. Mas ali, alguns dos segredos mais profundos e ricos da mente de Deus são, em figura, transmitidos a nós – o grande mistério de nossa adoção, de acordo com o beneplácito divino; e então nossa recepção na família de Deus, no dia de nossa manifestação ou conversão. E que conselhos de graça mais ricos existem do que esses? E, no entanto, em que escola mais comum ou caseira eles poderiam ter sido ensinados?
Como em dias ainda anteriores, em Gênesis 16. Lá você é apresentado ao arranjo doméstico da família de Abraão quanto à serva e sua senhora, e suas disputas; e ainda assim, em tudo isso, você obtém o profundo mistério dos dois concertos (Gálatas 4). E novamente, no ato, o ato comum, de dispensar um servo, outra característica do mesmo mistério nos é apresentada, no capítulo 21. A sabedoria de Deus deleita-Se nessas cenas e materiais; eles repreendem o pensamento errôneo do coração do homem, de que coisas importantes devem ser feitas ou ditas por métodos imponentes – que o profeta deve aparecer e passar a mão sobre o lugar (2 Reis 5:11). Mas é com instrumentos rudes e não artificiais que tanto a sabedoria de Deus quanto o poder de Deus são comumente vistos. As trombetas de chifres de carneiros derrubaram Jericó e os pescadores haviam alvoroçado o mundo, como foi dito deles. Mas esses métodos caseiros da sabedoria de Deus ajudam a levar a instrução para o íntimo e a alojá-la profundamente nas intimidades e lembranças do coração. Posso, portanto, ainda dizer que a embarcação de Noé não tinha uma bomba d’água. Na verdade, não poderia. Tal coisa teria testemunhado contra ela. As provisões de Deus teriam declarado sua própria insuficiência. Isso nunca poderia ter acontecido. As provisões de Deus e as obras de Deus sempre dizem de Quem são, sendo o que elas são. A simplicidade e, ainda assim, a suficiência, conferem-lhes o seu carácter. “Haja luz, e houve luz.”. “Crê no Senhor Jesus Cristo e serás salvo”; e o pecador, “na sua crença em Deus, alegrou-se com toda a sua casa”.
Assim, com a mesma simplicidade, nestes primeiros dias. O coração de Noé não foi manchado por suspeitas. Ele descansou na navegabilidade de sua embarcação, por causa da designação e aprovação de Deus a respeito dela – e não, posso dizer, por causa da construção dela por Deus. A fé mantém seu coração tranquilo e seguro quanto ao julgamento, a esperança o preenche quanto à glória vindoura.
Prisioneiro da esperança
Tal é o belo caminho deste “prisioneiro da esperança”. Prisioneiro da esperança é um dos títulos do Espírito, posso dizer, para todos os santos de Deus. Jeremias foi tal em seus dias. Jeremias foi encerrado “no pátio da guarda que estava na casa do rei de Judá”, e isto também por causa de Cristo. Ele era prisioneiro de Deus, e um tal assim é sempre prisioneiro da esperança. Jeremias é instruído a comprar o campo de Hananias, e isso foi alimento para a esperança, como a folha de oliveira no bico da pomba. Isso falava ao profeta dos bons dias que viriam, embora naquele momento ele estivesse na prisão, o exército caldeu nos portões da cidade e toda a terra deserta. As águas estavam novamente por toda parte; mas a arca do profeta, como a do patriarca, tinha uma janela.
Assim foi Israel um prisioneiro da esperança na noite da Páscoa. Com os sapatos nos pés, o cajado na mão e os lombos cingidos, Israel esperou em meio aos próprios julgamentos do Senhor; mas, como nosso patriarca, eles esperaram ali apenas para passar para a herança do Senhor. E tendo a preeminência em todas as coisas, Jesus repetidamente nos mostra o caminho perfeito de um Prisioneiro de esperança, em busca de uma porção de ressurreição. Como quando Ele entrou em Jerusalém, em João 12, as multidões judaicas e os estrangeiros gentios sendo atraídos para lá para perguntar por Ele, e todas as dignidades e alegrias do Filho de Davi parecendo esperar por Ele, Seu coração ainda espera na esperança da ressurreição, “o gozo que Lhe estava proposto”, e a partir dessa atitude de alma, ou lugar de expectativa, Ele fala do grão de trigo caindo na terra e morrendo. Constante e desejadamente Seus olhos pousaram na glória que havia, não naquela hora, mas além dela. Em um espírito de inteira consagração e sacrifício, Ele entrega aquela hora (brilhante para Ele no mundo como era, e grande com a promessa de todos os seus reinos e sua glória) ao Pai: e a voz do céu então visita este perfeito e abençoado “Prisioneiro da esperança”, com garantias de que, no devido tempo, até mesmo nos tempos da ressurreição, Seu nome, vitória e honra seriam todos providos e garantidos.
Jesus incomparável! – Esta voz do céu foi novamente o alimento do Prisioneiro da esperança. E o que foi a transfiguração no monte santo senão a mesma voz? Jesus estava falando aos discípulos sobre Sua morte, e encorajando-os (como Ele faria conosco, amados) a não amarem sua vida neste mundo, quando, logo depois, seis ou oito dias, como lemos, o monte santo brilha de repente com a luz da ressurreição ou regiões milenares. E o que foi toda aquela visitação de glória, senão as uvas de Escol trazidas de Canaã para o arraial de Deus no deserto; ou como o retorno da pomba a Noé, com a folha de oliveira no bico?
O momento, porém, de recompensar “em dobro” (Zc 9:12) a este “Prisioneiro da esperança”, chega ao devido tempo. “Então, falou Deus a Noé, dizendo: Sai da arca tu, e tua mulher, e teus filhos, e as mulheres de teus filhos contigo. Todo animal que está contigo, de toda carne, de ave, e de gado, e de todo réptil que se roja sobre a terra, traze fora contigo”. E Noé saiu. Ele pousou na Terra renovada, onde, naquele momento místico, tudo estava, em grande sentido, de acordo com a mente de Deus novamente, não mais corrompido, como quando ele a pisou pela última vez em seu antigo estado, mas limpo, sob o refinamento do julgamento.
Pequeno e grande
Nada havia entrado na arca treze meses antes, que não saísse agora. Os pequenos e os grandes estiveram nela, e os pequenos estavam tão seguros quanto os grandes; a coisa rastejante da vala ou da cerca viva, tão livre de qualquer perigo ou dano quanto o próprio Noé. Mistério precioso! Podemos ser pequenos, e somos pequenos, como o coração sabe muito bem; mas o céu, ou o sistema de glória vindouro, preparou-se como a arca, para receber tanto os pequenos como os grandes. “E saiu uma voz do trono, que dizia: Louvai o nosso Deus, vós, todos os Seus servos, e vós que O temeis, tanto pequenos como grandes”. Podemos ficar tranquilos, embora saibamos que somos “pequenos” em todos os sentidos, assim como o animal rastejante que entrou com Noé – pois tal pequenino estava igualmente no concerto, ou “pacto familiar”, que fez com que cada um e todos, à sua maneira e medida, herdeiros do novo mundo. A casa do Pai no alto certamente fez o seu cálculo de acordo com essas diferenças de “pequeno e grande”. Como nos antigos dias de glória típica, toda a congregação de Israel, os distantes de Dã e Naftali, bem como os príncipes de Judá, uniram-se num grito de triunfo quando o fogo desceu e, em mistério, o reino foi inaugurado. (Lv 9). Clemente e outros não eram Paulo na medida de seus trabalhos ou na energia do Espírito; mas eles eram como Paulo tendo seus nomes, igualmente como ele, no livro da vida (Fp 4:3). O Pai construiu Sua casa nos céus, com base no próprio plano de receber os santos e também o próprio Jesus. Fazia parte do projeto original antes mesmo que as fundações fossem lançadas, esse plano e propósito foram estabelecidos. Em conselhos de amor eterno, foi providenciado que a casa fosse grande, com muitos cômodos ou uma mansão, para que todos os filhos pudessem estar lá.
O que dizemos nós, amados? Nossos pensamentos e olhares sobre isso fazem justiça a esse amor de Deus? Como você poderia dizer que sua perspectiva do mais alto dos montes poderia fazer justiça à criação de Deus? Poderia então o seu olhar medir a décima milésima parte da Terra? O comprimento, a profundidade, a largura, a altura – o amor de Cristo que excede todo conhecimento?
J. G. Bellett
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