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Ofertas pelo Pecado e pela Culpa (Outubro de 2020)

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Revista mensal publicada originalmente em outubro/2020 pela pela Bible Truth Publishers

 

ÍNDICE


J. N. Darby

W. J. Prost

W. Kelly (adaptado)

R. Thonney

J. N. Darby (adaptado)

J. T. Mawson (adaptado)

E. Datcu

Bible Treasury, vol. 12 (adaptado)

Bible Treasury, vol. 8

Bible Treasury, vol. 18

H. F. Witherby

Paul Wilson

J. G. Deck

 

Ofertas pelo Pecado e pela Culpa


Há quatro sacrifícios que podem ser classificados como ofertas pelo pecado, nos quais o corpo dos animais em questão era queimado fora do arraial: a oferta pelo pecado oferecida pelo pecado de um sacerdote (Lv 4:1-12), a oferta pelo pecado oferecida por um pecado de toda a congregação (Lv 4:13-21), a novilha vermelha (Nm 19 – ARA) e o sacrifício no grande dia da expiação (Lv 16).


Havia uma diferença entre o sacrifício do grande dia da expiação e as ofertas pelo pecado do sacerdote e por toda a congregação. No sacrifício do grande dia da expiação, o sangue era levado para dentro do véu, pois essa era a base de todos os outros sacrifícios – de todo o relacionamento entre Deus e Israel – e permitia que Deus habitasse entre eles para receber os outros [sacrifícios]. A sua eficácia durava o ano todo, e para nós é para sempre, como conclui o apóstolo em Hebreus. Nele se baseava toda a relação entre Deus e o povo. Daí a razão de o sangue ser aspergido no propiciatório, para estar para sempre diante dos olhos d’Ele, para quem aquele propiciatório seria o Seu trono de graça e justiça. A perfeita aceitação de Cristo em Sua obra era preservada na queima da gordura no altar do holocausto. Ele de fato foi feito pecado, mas também não conheceu pecado, e Sua oferta em Seus pensamentos mais íntimos e em Sua natureza foi, na prova do juízo de Deus, perfeitamente agradável.


J. N. Darby

 

A Oferta pelo Pecado


Em uma edição anterior de O Cristão, consideramos as ofertas de cheiro suave. Agora chegamos ao que poderíamos chamar de ofertas obrigatórias – aquelas que não eram voluntárias, como eram as ofertas de cheiro suave, mas sim mandatórias. Nesta categoria temos as ofertas (ou expiações) pelo pecado e pela culpa, embora a oferta pela culpa fosse, em certo sentido, uma subdivisão da oferta pelo pecado. Assim, toda oferta pela culpa era uma oferta pelo pecado, embora nem toda oferta pelo pecado fosse uma oferta pela culpa. Enquanto as ofertas de cheiro suave nos ocupam com a excelência do sacrifício e, portanto, falam de adoração, a oferta pelo pecado nos ocupa com o cumprimento das reivindicações da natureza santa de Deus e com a aniquilação do pecado. Mas devemos lembrar que todas essas distinções das várias ofertas se fundem em Cristo, pois n’Ele é tudo uma única oferta. No entanto, ao examinar a obra de Cristo (em figura) nessas diferentes ofertas, o Espírito de Deus nos capacita a entender e valorizar mais os detalhes desse sacrifício supremo – o próprio Cristo.


Uma distinção importante entre as ofertas voluntárias (e particularmente o holocausto) e a oferta pelo pecado deve ser mencionada desde já, pois é crucial para o entendimento das duas categorias. Nas ofertas voluntárias, quando o ofertante colocava a mão sobre a cabeça do animal, toda a excelência da oferta era transferida para o ofertante. Isso tipifica para nós a preciosa verdade de que não apenas o crente hoje é purificado de seus pecados, mas ele também é visto como “em Cristo”. Ele está diante de Deus em toda a perfeição do próprio Cristo.


No entanto, quando o ofertante colocava a mão sobre a cabeça da oferta pelo pecado, a transferência acontecia em outra direção: todos os pecados do ofertante eram transferidos para a oferta. Assim, o animal, em figura, tomava sobre si o pecado do ofertante, e sendo o animal sacrificado, o ofertante era purificado daquele pecado.


Três tipos de ofertas pelo pecado

Havia na verdade três tipos diferentes de oferta pelo pecado – a oferta pelo pecado e pela culpa, o grande dia da expiação e a novilha vermelha. Não vamos nos deter no tipo da novilha vermelha, já que isso é para nós a figura da restauração da comunhão em vez da aniquilação absoluta do pecado. Para uma discussão mais completa sobre a novilha vermelha e o assunto do arrependimento e restauração, o leitor pode consultar a edição de janeiro de 2007 da revista O Cristão.


O dia da expiação

Considerando o grande dia da expiação, novamente, não entraremos em detalhes aqui neste artigo, uma vez que não é, estritamente falando, uma das ofertas que é abordada nesta edição. No entanto, pode ser suficiente dizer que há uma diferença entre o grande dia da expiação e as ofertas pelo pecado e pela culpa. O dia da expiação era feito anualmente e era a base sobre a qual Deus poderia continuar com Seu povo Israel. Como tal, ele era a base para todas as outras ofertas, pois no dia da expiação era lançado o fundamento para o relacionamento de Deus com Seu povo escolhido. Um novilho era primeiro oferecido pelo sacerdote, pois ele também era um pecador e precisava de perdão. Por outro lado, pelo povo, havia dois bodes. Um deles era sacrificado como oferta pelo pecado, o que nos fala de propiciação – satisfazendo as exigências da natureza santa de Deus. O outro era levado para o deserto e solto, e nos fala de substituição. O bode vivo “levará sobre si todas as iniquidades deles à terra solitária” (Lv 16:22). Assim eram perdoados os pecados dos filhos de Israel perante o Senhor.


Pecados por ignorância

Mas agora temos a oferta pelo pecado – uma oferta que era necessária de tempos em tempos, quando pecados por ignorância eram cometidos. Da mesma forma, a oferta pela culpa era instituída onde um mandamento conhecido havia sido violado e onde ofensas específicas são mencionadas. Era por causa da posição do povo diante de Deus, com base no dia da expiação, que essas outras ofertas pelo pecado podiam ser aceitas. Assim, as ofertas pelo pecado e pela culpa assumiam mais o caráter de restauração do que de aniquilação absoluta do pecado. Nem é preciso dizer que todos esses sacrifícios eram feitos porque “ainda o caminho do santuário [Santo dos Santos – JND] não estava descoberto [ou manifesto] (Hb 9:8).


Além disso, notamos, com a oferta pelo pecado, que nenhuma provisão foi feita para o pecado “à mão levantada” (Nm 15:30), isto é, desobediência voluntária. O perdão era apenas para pecados por ignorância. Nisto percebemos que “a lei nenhuma coisa aperfeiçoou” (Hb 7:19), pois certamente precisávamos de perdão para os pecados por vontade própria, bem como para os pecados por ignorância. Quatro categorias diferentes de oferta pelo pecado nos são dadas, dependendo de quem pecou.


Quatro categorias

Nas duas primeiras categorias, temos o pecado do “sacerdote ungido” e um pecado que envolvia toda a congregação. Em tais tipos de pecado, a comunhão de toda a congregação era interrompida e, em ambos os casos, um novilho – uma oferta grande – era necessário. Vários detalhes são dignos de nota.


Em primeiro lugar, o sangue em ambos os casos deve ser aspergido sete vezes “perante o SENHOR, diante do véu do santuário” (Lv 4:6, 17). “Sem derramamento de sangue não há remissão” (Hb 9:22). Aspergido sete vezes, o sangue fala da perfeição da obra de Cristo aos olhos de Deus.


Em segundo lugar, um pouco do sangue devia ser colocado sobre as “pontas do altar do incenso aromático, perante o SENHOR” (Lv 4:7, 18). O altar de incenso falava de adoração, e o sangue ali preservava a base da adoração, que era interrompida pelo pecado de um sacerdote ou de toda a congregação.


Terceiro, o sangue do novilho era derramado à “base do altar do holocausto, que está à porta da tenda da congregação” (Lv 4:7, 18), o que fala de aproximação individual a Deus. Era desse altar que as pessoas podiam se aproximar como indivíduos e, assim, a consciência individual era satisfeita.


Por fim, todo o novilho era levado para fora do arraial e queimado ali. Isso era necessário, pois o pecado jamais será, em si, de cheiro suave para Deus. Aquilo que era figura de nosso bendito Senhor sendo feito “pecado por nós” devia ser levado para fora do arraial e queimado lá. Assim também lemos em Hebreus 13:11-12: “os corpos dos animais cujo sangue é, pelo pecado, trazido pelo sumo sacerdote para o Santuário [Santo dos Santos – JND], são queimados fora do arraial. E, por isso, também Jesus, para santificar o povo pelo Seu próprio sangue, padeceu fora da porta”.


A conexão entre a oferta pelo pecado e o holocausto

No entanto, na oferta pelo pecado, o Espírito de Deus nos mostra de três maneiras como o holocausto e a oferta pelo pecado são uma só. Primeiro, em ambas os animais eram mortos no mesmo lugar – à porta do tabernáculo, perto do altar do holocausto (Lv 6:25). Segundo, a gordura da oferta pelo pecado deveria ser queimada no altar, “por cheiro suave ao Senhor” (Lv 4:31). Terceiro, as cinzas do holocausto e da oferta pelo pecado eram misturadas umas com as outras, uma vez que ambas eram no final colocadas no mesmo lugar fora do arraial, “onde se lança a cinza” (Lv 4:12; Lv 6:9-11). É somente neste versículo (Lv 4:31) que as palavras “por um cheiro suave” são usadas com uma oferta pelo pecado, pois na cruz de Cristo não houve apenas a aniquilação do pecado, mas também glória e honra foram trazidas a Deus pela perfeita obediência d’Aquele que levou nossos pecados. Isso trouxe um cheiro suave e nos mostra que a oferta é toda uma só – centrada em Cristo.


Para o governante, para o povo

Há duas outras ofertas pelo pecado que são mencionadas: aquela oferecida quando um governante [ou príncipe] pecava e, por fim, quando uma das pessoas comuns pecava. Em nenhuma delas a comunhão de toda a congregação era interrompida, por isso o sangue era colocado, não nas pontas do altar do incenso, mas nas pontas do altar do holocausto. Como já salientamos, era a este altar que o povo vinha, e era ali que podiam ver o sangue nas pontas do altar, mostrando que o sacrifício havia sido feito. Eles não conseguiriam ver caso o sangue estivesse nas pontas do altar de incenso dentro do primeiro véu.


Além disso, notamos, nestas duas últimas ofertas pelo pecado, que o próprio ofertante é quem devia matar o animal, mostrando assim que ele deveria estar total e completamente identificado com sua oferta. Precisava ser pessoal; ele tinha que colocar a mão na cabeça do animal e depois matá-lo.


Vemos também que, enquanto a oferta por um governante devia ser um macho, a oferta por uma pessoa comum era fêmea, mostrando-nos que maior energia era necessária para um governante, de acordo com a maior responsabilidade em seu pecado.


Levando em conta a pobreza

Finalmente, e mais precioso, vemos no pecado das pessoas comuns como Deus levava em conta a pobreza. A pessoa poderia trazer uma cabra, mas talvez pudesse comprar apenas um cordeiro; isso era aceitável. No caso de uma oferta pelo pecado por causa de uma transgressão, a concessão para a pobreza ia ainda mais longe, para rolas ou pombinhos, ou talvez apenas uma pequena quantidade de flor de farinha.


A estimativa e o valor da obra de Cristo variam consideravelmente de um crente para outro. Alguns têm um amplo entendimento dessa obra, enquanto outros têm uma visão muito simples e limitada dela. Deus faz provisão para isso, e Ele a ilustra por meio da pobreza material no Velho Testamento; no Novo Testamento alguns podem ser pobres espiritualmente. Mas os olhos de Deus repousam em Cristo, e é a avaliação de Deus dessa obra que é importante. Assim, no Novo Testamento há apenas alguns versículos que conectam nossa fé e crença com a obra de Cristo, enquanto há muitos versículos que conectam a fé com a Pessoa de Cristo. A obra de Cristo é importante, pois um entendimento de Sua obra dá maior paz e descanso à alma e uma apreciação mais rica de tudo o que Ele fez por nós. Mas, se um crente se apropria somente de Cristo, com muito pouco entendimento de Sua obra, Deus aceita isso, pois, tendo o próprio Cristo, o crente tem todo o valor de Sua obra diante de Deus.


Ao tratar da oferta pelo pecado, por uma questão de espaço, tivemos que passar por alguns detalhes bem superficialmente. Lamentamos por isso, mas confiamos que uma referência a alguns desses detalhes pode nos estimular a examiná-los mais profundamente e, assim, apreciar mais o valor d’Aquele de Quem se pôde dizer: “Quando a Sua alma se puser por expiação do pecado” (Is 53:10).


W. J. Prost

 

A Lei da Oferta pelo Pecado


“Falou mais o SENHOR a Moisés, dizendo: Fala a Arão e a seus filhos, dizendo: Esta é a lei da expiação [oferta – ARA] do pecado” (Lv 6:24-25). “No lugar onde se degola o holocausto, se degolará a oferta pela expiação do pecado, perante o SENHOR; coisa santíssima é. O sacerdote que a oferecer pelo pecado a comerá; no lugar santo se comerá, no pátio da tenda da congregação. Tudo o que tocar a sua carne será santo; se espargir alguém do seu sangue sobre a sua veste, lavarás aquilo sobre que caiu, no lugar santo. E o vaso de barro em que for cozida será quebrado; porém, se for cozida num vaso de cobre, esfregar-se-á e lavar-se-á na água. Todo varão entre os sacerdotes a comerá; coisa santíssima é. Porém nenhuma oferta pela expiação de pecado, cujo sangue se traz à tenda da congregação, para expiar no santuário, se comerá; no fogo será queimada” (Lv 6:25-30).


Nenhum deslize, mesmo na aparência, poderia ser tolerado na oferta pelo pecado. Sem dúvida, ela tinha um caráter tão distante quanto possível do holocausto, pois o holocausto era para dar aceitação, enquanto a oferta pelo pecado lidava com o pecado real. Mas a oferta pelo pecado devia ser imolada perante Jeová no lugar onde era imolado o holocausto. Então, de fato, somente Cristo foi o adequado cumprimento de ambas em Sua morte na cruz.


Ele foi feito pecado por nós

Somente a graça de Deus pôde dá-Lo – Um com o Pai e Seu objeto mais querido por toda a eternidade. Na Terra, também, Ele Se tornou carne, contudo Ele era o Santo de Deus. Mas nunca a santidade ficou tão provada como quando Deus O fez pecado por nós, Ele que não conheceu pecado. Sempre absolutamente separado, para Deus, de todos os males e não fazendo nada além das coisas que agradavam a Seu Pai, na cruz Ele Se entregou sem reservas a Deus e à Sua glória, para sofrer o julgamento do pecado, custasse o que custasse. Custou-Lhe tudo, até o mais extremo horror para Aquele que, sendo Seu Filho amado, Se tornou Seu Servo justo, a verdadeira e fiel Testemunha. O que foi, para Ele, abandonado pelos discípulos, rejeitado por Israel, crucificado pelos gentios, clamar: “Deus Meu, Deus Meu, por que Me desamparaste?” A única resposta é: Ele foi feito “pecado por nós”.


O sacerdote a comia

“O sacerdote que a oferecer pelo pecado a comerá.” A oferta aponta para ninguém menos que Cristo, e Ele comer a oferta pelo pecado significa Sua identificação com aquele por quem a oferta foi apresentada. Se a santidade era visível na vítima e a justiça no juízo executado, que graça havia em Cristo, tornando assim o pecado do ofertante em Seu! O sacerdote que fazia a oferta pelo pecado comer dela é algo realizado em Cristo, mas ela está tão viva novamente – na ressurreição – como aqui foi instruído a ser comida em lugar santo, no pátio da tenda da congregação.


Mas o versículo 29 nos leva a uma verdade muito maior do que o versículo 26, embora não seja comparável quanto à sua profundidade. “Todo varão entre os sacerdotes a comerá”; não se limitava ao sacerdote que oferecia. Todos os sacerdotes deviam comê-la. Quem tem acesso a Deus é chamado a identificar-se com o pecado de um irmão; tal como Cristo faz preeminentemente, eles devem seguir – fortificados na graça que está n’Ele, confessando o pecado de outro como seu próprio. Aqui também se observará que temos a repetição de “coisa santíssima é”. Como isso é importante! Muitos varões entre os sacerdotes poderiam, por um lado, esquecer de comer, como fizeram Eleazar e Itamar (Lv 10:16-18); outros mais profanos ainda poderiam transgredir gravemente ao comerem, como fizeram os filhos de Eli (1 Sm 2:12-17), mostrando que os homens desprezaram a oferta de Jeová. De fato, “coisa santíssima é” e deve ser comida apenas em lugar santo.


Toda a congregação

O versículo 30 faz a separação entre essas ofertas comuns pelo pecado, onde os sacerdotes comiam delas, e os casos mais solenes em que a vítima era queimada em um lugar limpo fora do arraial, sendo o sangue levado ao santuário para propiciação. Assim era feito, se o sacerdote ungido pecasse ou toda a congregação, como nos casos anteriores de Levítico 4. Em nenhuma das duas situações, os sacerdotes comiam, pois em ambas a comunhão para todos era interrompida e devia ser restaurada. E o contraste é ainda mais marcante no dia da expiação, quando se lançava o fundamento para todos, sacerdotes e povo, durante o ano. Todos jejuavam, ninguém comia naquele dia. Havia outra exceção, característica do deserto e, portanto, dada apenas em Números 19, a da novilha vermelha. Ela era totalmente queimada fora do arraial, e as cinzas eram guardadas como purificação pelo pecado. Ela tem seus próprios traços característicos, cheios de instrução espiritual para nós sobre vocação celestial, por estarmos expostos à contaminação do mundo de deserto pelo qual passamos até o descanso de Deus.


Quando, portanto, se tratava de sangue da propiciação que era trazido para o santuário, os sacerdotes não comiam. A vítima era queimada fora do arraial. Quão brilhantemente e em ambos os lados isso foi cumprido em Cristo, glorificado dentro, crucificado fora! Nosso lugar é com Ele em ambos os aspectos. Onde era a restauração de um indivíduo, os sacerdotes eram chamados para comer da oferta pelo pecado, assim como agora simpatizamos em amorosa intercessão.


W. Kelly (adaptado)

 

Comer a Oferta pelo Pecado em um Lugar Santo


Levítico 6:24-30

Em Levítico 4, havia duas maneiras pelas quais uma oferta pelo pecado era oferecida:


1. No caso da oferta pelo pecado por um sacerdote ou por toda a congregação, o sangue do animal era levado ao lugar santo e aspergido perante o Senhor, diante do véu do santuário. Do sangue, uma parte era aspergida sete vezes perante o Senhor, uma parte era colocada nas pontas do altar de incenso e o restante era derramado na base do altar de cobre . Os corpos desses animais eram levados para fora do arraial e queimados depois que certas partes eram retiradas e queimadas no altar de cobre.


2. No caso de um governante ou de uma pessoa comum, o sangue era colocado nas pontas do altar do holocausto, e todo o sangue era derramado na base do altar. Na lei da oferta na passagem acima mencionada, é mencionado outro detalhe importante. A oferta deveria ser morta no lugar onde o animal oferecido em holocausto era morto, e então o sacerdote que a oferecia deveria comê-la em lugar santo – no pátio. Mais tarde é mencionado que todos os varões entre os sacerdotes tinham que comer dela.


No primeiro caso (com o sacerdote ou com toda a congregação), o assunto era mais sério, pois a comunhão com o povo de Deus como um todo era interrompida. No caso do sacerdote era porque ele era o elo do povo com Deus.


O sacerdote levava a iniquidade

É particularmente sobre o segundo caso que desejamos meditar agora. Neste caso, a oferta tinha que ser comida pelo sacerdote em lugar santo – o pátio do tabernáculo. Em Levítico 10:17, Moisés pergunta aos filhos de Arão: “Por que não comestes a oferta pelo pecado em lugar santo, visto que é coisa santíssima, e o Senhor a deu a vós para levardes a iniquidade da congregação, para fazerdes expiação por eles diante do Senhor?” (AIBB) O sacerdote não era o culpado do pecado diante de Deus, mas, ao comer da oferta, ele tornava sua a questão e assim levava a iniquidade da congregação, para fazer expiação por eles perante o Senhor. Era somente por meio dessa atividade sacerdotal que a expiação poderia ser feita. “Os sacrifícios para Deus são o espírito quebrantado; a um coração quebrantado e contrito não desprezarás, ó Deus” (Sl 51:17).


Quando há falha no outro, é fácil ver o que pensamos ser o pecado ou a dificuldade e lavar as mãos quanto ao assunto, pensando dessa forma que não somos culpados. Mas se professamos um relacionamento com Deus, nossa responsabilidade vai além. Comer algo o torna nosso – aquilo torna-se parte de nós. Quando nós, em espírito, comemos a oferta pelo pecado no lugar santo, nos identificamos totalmente com o pecado e, na santa presença de Deus, percebemos o que custou ao nosso Senhor Jesus fazer expiação por aquele pecado. Não é nos isolarmos, mas nos identificarmos assim com os culpados.


Daniel se identificando com os culpados

Daniel, em espírito, embora não fosse sacerdote, fez isso ao se identificar com seu povo culpado. Não havia justificação própria ali, apenas ele justificando a Deus e confessando “o meu pecado e o pecado do meu povo Israel” (Dn 9:20). Era algo acompanhado de verdadeira aflição de alma, como indicado pelo jejum, pano de saco e cinza. Certamente isso deve acompanhar tal atividade sacerdotal: não tristeza fingida, mas tristeza real, produzida ao se mensurar, na santa presença de Deus, o que isso significou para nosso Salvador no Calvário. O jejum é a atitude de negar a nós mesmos. Pano de saco era o sinal de luto interior. As cinzas falam do juízo que foi consumado.


O Espírito do Senhor Jesus

Nosso bendito Senhor Jesus Cristo carregava Consigo o mesmo espírito. Como Filho de Deus, Ele era santo, inocente, imaculado e separado dos pecadores. No entanto, ao iniciar Seu ministério público, Ele veio a João Batista para ser batizado com o batismo de arrependimento. João, reconhecendo em Jesus o Santo e imaculado Cordeiro de Deus, se Lhe opunha. Mas Jesus respondeu: “Deixa por agora, porque assim nos convém cumprir toda a justiça” (Mt 3:15). Desta forma, Ele Se identificou com aquelas pessoas culpadas que haviam se arrependido. Que beleza de perfeição moral em nosso Senhor Jesus contemplamos aqui! Quanto será que correspondemos em espírito a isso? Então, quando Ele estava naquela terrível cruz fazendo expiação, Ele tomou nossos pecados tão completamente que os chamou de Seus (Sl 69:5). Só assim a expiação poderia ser feita.


Precisamos esclarecer que qualquer atividade sacerdotal em que possamos estar ocupados não é para expiação. Essa obra foi feita de uma vez por todas por nosso Senhor Jesus na cruz. Mas, em espírito, precisamos saber o que significa identificar-se com alguém que é culpado e comer a oferta pelo pecado em pleno reconhecimento da santidade de Deus. Se houvesse mais dessas atividades sacerdotais sozinhos diante de Deus, será que não haveria menos da confusão, vergonha e divisão que surgiram entre Seus remidos, que são responsáveis por Seu testemunho aqui na Terra?


R. Thonney

 

Queimando e Comendo os Sacrifícios


Havia um duplo caráter nas ofertas que possui seu correspondente para nós em Cristo, e isso é apresentado em Hebreus 13:7-19. É preciso distinguir cada caráter e, ao mesmo tempo, mantê-los unidos, ou haverá fraqueza nos filhos de Deus e muita falta de gozo. O primeiro ponto, e mais fundamental, era que nas ofertas havia aquilo que era consumido. Uma vez identificado com o pecado do homem, ou o sacrifício era consumido sob a ira de Deus, como na oferta pelo pecado, ou subia como cheiro suave, como, por exemplo, no holocausto. Mas, além disso, havia outro caráter que entrava nos sacrifícios; em muitos casos, homens comiam deles. Na oferta de manjares e na oferta pacífica, o fato era esse, e até na oferta pelo pecado o sacerdote tinha uma porção.


É a isso que Hebreus 13 se refere aqui. Esses Cristãos judeus corriam um grande risco de esquecer seus privilégios. Eles haviam abandonado tudo o que antes reverenciavam como a religião dada a eles por Deus. A grandeza, a magnificência, a glória das instituições levíticas – tudo foi deixado para trás. Deus não estava agora trovejando do céu, pois havia operado com glória moral infinitamente maior. Ele havia enviado Seu Filho do céu: foram trazidos perdão e paz, com alegria e liberdade no Espírito Santo, mas tudo isso era invisível, exceto pela fé.


Fidelidade em um tempo de apostasia

Uma coisa é entrar no conforto da verdade quando tudo é radiante e fresco, e outra coisa é mantê-la firme em tempos de vitupério, vergonha e escárnio, acompanhados da apostasia de alguns. Quando o primeiro gozo diminui um pouco, o coração retorna naturalmente àquilo em que antes repousava. Sempre existe esse perigo para nós, de que, quando o mal é sentido, a bênção não esteja tão presente na alma. Quem de nós que há muito conhece a Cristo e conhece Seus caminhos nunca sentiu essa armadilha?


E qual é o remédio divino? É exatamente aquilo que o Espírito Santo aqui usa: “Jesus Cristo, o mesmo ontem, e hoje, e eternamente” (Hb 13:8 – KJV). Não devemos separar este versículo do seguinte: “Não vos deixeis levar em redor por doutrinas várias e estranhas”. O Espírito Santo guardaria esses crentes judeus contra aquilo que, comparado com as bênçãos Cristãs que nos são próprias, é mero lixo – tal como sacerdócio terrenal, lugares sagrados, ofertas e dízimos. Essas coisas, afinal, eram apenas quinquilharia em comparação com Jesus.


Jesus Cristo o mesmo

Olhando historicamente, o Cristianismo pode parecer uma coisa nova. Cristo havia Se manifestado recentemente, mas Quem era Ele? E de onde Ele vinha? Ele era “o Primogênito de toda criação” – o Criador! “Tudo foi criado por Ele e para Ele: e Ele é antes de todas as coisas, e todas as coisas subsistem por Ele” (Cl 1:15-17). Ele era Aquele a Quem Deus pretendia manifestar desde toda a eternidade. E aqui nós O vemos em Sua Pessoa completa – “Jesus Cristo, o mesmo ontem, e hoje, e eternamente”. Por meio d’Ele, Deus poderia abençoar, e Deus queria que nos ocupássemos com Ele.


No início do capítulo, somos instruídos a lembrar daqueles que foram guias sobre nós – a seguir sua fé, mesmo que eles próprios já tenham partido. Mas tudo isso sai de cena enquanto “Jesus Cristo é o mesmo ontem, e hoje, e eternamente”. Esta é a única coisa que permanece e também estabelece. Cristo era a substância: tudo o mais era sombra. Portanto, Ele prossegue dizendo: “Temos um altar do qual não têm direito de comer os que servem ao tabernáculo” (v. 10), pois o “tabernáculo” foi usado para expressar o sistema judaico. Se outros têm a casca, nós estamos nos alimentando do miolo. Tudo havia cessado em Cristo. Em Filipenses também, o apóstolo podia falar com desdém da circuncisão em contraste com ter a Cristo, embora a circuncisão fosse de Deus. Estar ocupado com ela, agora que Cristo havia vindo, era estar do lado de fora, ser da “circuncisão”.


Comer os sacrifícios

Comer o sacrifício não era apenas queimar a oferta, mas participar dela. Temos o próprio Cristo e nossos pecados perdoados, pois o pecado – raiz e ramo – foi tratado por Deus. Agora não há nenhuma questão incerta para nós que cremos. No sistema judaico, Deus e o ofertante tinham sua porção nos sacrifícios, e agora podemos dizer que Deus tem Sua própria porção no mesmo Cristo de Quem nos alimentamos. A entrada neste pensamento extremamente abençoado é uma das coisas em que os filhos de Deus falham grandemente – de que estamos assentados pelo próprio Deus na mesma mesa onde Ele tem o Seu gozo e porção. Claro, há aquilo de que não podemos participar. No holocausto tudo subia para Deus. O cheiro suave de tudo o que Cristo era sobe até Ele. Devemos lembrar que Deus tem Seu infinito gozo em Cristo, e não apenas pelo que Ele é em Si, mas pelo que Ele fez pelos meus pecados. Quando pensamos nisso, todo o eu é absorvido e deve afundar diante d’Ele. A velha natureza nós ainda temos, mas ela está em nós para ser esmagada. Temos que tratar tudo, o que a agrada e o que a desagrada, como algo detestável. Mas a nova vida precisa de sustento; ela cresce alimentando-se. Assim como na vida natural, a mera posse de riquezas não sustentará a vida; a vida tem que ser alimentada. Assim, na vida espiritual, não é apenas verdade que Cristo é minha vida na presença de Deus, mas devo fazer de Cristo o meu próprio alimento – comendo d’Ele dia após dia (Jo 6:57). Ele realmente nos é dado para ser transformado pela fé em alimento para nós. E o doce é que temos direito de pensar em Cristo dessa maneira, dado por Deus para ser este Alimento para nós. Não é apenas que Cristo é de Deus, mas Ele também é nosso: nossa comunhão é com o Pai e com Seu Filho Jesus Cristo.


J. N. Darby (adaptado)

 

A Oferta pela Culpa


“Então, restituí o que não furtei” (Sl 69:4).

A oferta pela culpa (Lv 5-6) é às vezes considerada como uma espécie de oferta pelo pecado secundária, mas há características nela que lhe conferem um caráter inteiramente próprio. Na oferta pelo pecado aprendemos a culpa do pecado, mas a oferta pela culpa nos ensina o dano que o pecado causou; o pecador não apenas sofre ele mesmo, mas seu pecado faz com que outros sofram. Três direções são indicadas nas quais o pecado opera; “nas coisas sagradas do Senhor” (Lv 5:15); contra “os mandamentos do Senhor” (Lv 5:17); “contra o Senhor” em uma ofensa contra “o seu próximo” (Lv 6:2).


Contra a santidade de Deus

Para ter uma visão correta desses diferentes aspectos do pecado, devemos voltar ao início da história do homem. Quando Adão pecou, Deus foi o primeiro a sofrer, pois Adão cometeu uma transgressão e pecado nas coisas santas do Senhor. Deus formou o homem à Sua própria imagem e semelhança, mas Satanás planejava estragar tudo e ofender a Deus. Ele conseguiu, e Deus perdeu o melhor de Sua criação – a coroa de toda a Sua obra. O pecado de Adão foi uma punhalada no próprio coração de Deus, pois Deus foi o primeiro a sofrer.


Contra os mandamentos

O pecado de Adão também foi contra os mandamentos do Senhor. Seu ato de desobediência foi uma rebelião e um desafio à supremacia de Deus. O pecado destronaria Deus Todo-Poderoso se pudesse, pois o pecado não é apenas uma punhalada no coração de Deus, mas também uma tentativa de atingir Seu trono. A natureza de Deus é amor, mas Seu caráter é luz; tanto Sua natureza quanto Seu caráter foram desafiados pelo pecado de Adão, e ainda são desafiados por todo o pecado de sua raça.


Transgressão contra o próximo

Como o pecado foi rápido em avançar para transgredir contra o próximo do homem, o que é considerado uma transgressão contra o Senhor! Tão logo houve um homem contra quem pecar, a transgressão foi cometida, e de irmão contra irmão. No homicídio de Abel, Caim transgrediu naquilo “que lhe foi entregue para guardar” (KJV) e havia “tirado por meio de violência” (KJV) a vida de seu irmão.


A próxima coisa a notar é que não era o transgressor quem estimava a extensão do dano causado por sua transgressão. Moisés, que representava a Deus, tinha que mensurá-la segundo o siclo do santuário (Lv 5:15). Quão prontamente estabelecemos nosso próprio padrão, ou nos comparamos com os outros e justificamos a nós mesmos! É somente na presença de Deus que aprendemos a excessiva pecaminosidade do pecado ao desafiar a Deus e o dano que ele causa aos outros, e só então percebemos a necessidade de um grande sacrifício expiatório.


Um carneiro sem defeito

Embora as ofertas pelo pecado fossem graduadas, variando de um novilho até a décima parte de um efa de flor de farinha, havia apenas uma oferta que poderia atender adequadamente à transgressão – um carneiro sem defeito. A primeira vez que um carneiro aparece no quadro divino é em Gênesis 22, onde um, preso pelos chifres entre os arbustos, morreu no lugar de Isaque. Isso dá a ideia de substituição, mas quem poderia ser um substituto adequado para homens pecadores? Só há uma resposta para isso – o Filho do Homem. Na grandeza de Seu amor, Ele tomou este lugar.


O carneiro também significa força e determinação. Ele é figura do Senhor vindo do céu dizendo: “Eis que venho para fazer, ó Deus, a Tua vontade” (Hb 10:9). Nada poderia desviá-lo dessa vontade. Mas o carneiro, além disso, indicava completo crescimento e maturidade. Não havia imaturidade ou falta de conhecimento no Senhor. Ele veio com pleno conhecimento da avaliação que Deus faz do pecado, e das exigências que a justiça eterna deve fazer Àquele que Se colocou como substituto do transgressor.


Restituição da quinta parte

Chegamos agora àquela parte da figura [representada por esta oferta] que deve encher de gozo cada um dos filhos de Deus, pois encherá o céu com louvor eterno. A restituição devia ser feita para cada transgressão e uma quinta parte acrescentada a ela. A parte lesada tinha de ser recompensada com muito mais do que havia perdido. Certamente nenhum pecador poderia fazer isso, mas Aquele que faz isso acontecer é Aquele que fez expiação pelo pecado. É a voz de Jesus que diz no Salmo 69:4: “Então, restituí o que não furtei”. Considere o dano feito a Deus, quando o Senhor teve que dizer: “não somente viram, mas também odiaram tanto a Mim como a Meu Pai” (Jo 15:24 – AIBB). Poderia essa inimizade profundamente enraizada ser removida e os inimigos reconciliados? A resposta é: “sendo inimigos, fomos reconciliados com Deus pela morte de Seu Filho”, e lemos agora sobre aqueles “que amam a Deus” (Rm 5:10; 8:28). Dessa forma, o próprio Deus foi enriquecido e será glorificado para sempre, pois a própria transgressão deu ao Filho de Deus a oportunidade de suportar o juízo e acrescentar infinita glória para Deus, contra Quem a transgressão foi cometida.


Quando tudo isso foi feito, a transgressão contra os mandamentos do Senhor foi resolvida, e a quinta parte foi acrescentada a ela. O resultado é que nós, que antes “não éramos” sujeitos “à lei de Deus” (Rm 8:7), agora descobrimos que temos, “segundo o homem interior ... prazer na lei Deus” (Rm 7:22). Somos chamados de “filhos obedientes”, e é maravilhoso como a obediência voluntária a Deus é frequentemente mencionada nas epístolas. É bom que estejamos em contínuo exercício de coração para não falharmos nisso, para não sermos achados retendo de Deus aquilo que Jesus morreu para garantir em nós para Ele.


Transgressão contra o nosso próximo

Finalmente, quanto à transgressão contra nosso próximo. “Quando estávamos na carne”, influenciávamos os outros com nossas palavras e ações e vivíamos no espírito de Caim, dizendo: “Sou eu guardador do meu irmão?” Vivíamos para agradar a nós mesmos, muitas vezes até ferindo os outros. Na figura que estamos estudando, um homem poderia transgredir contra seu próximo mentindo para ele, mas qual deve ser a resposta para isso em nós agora? “Pelo que deixai a mentira e falai a verdade cada um com o seu próximo; porque somos membros uns dos outros” (Ef 4:25). Um homem poderia transgredir contra o seu próximo ao negar que algo lhe foi entregue para guardar, como Caim negou sua responsabilidade por Abel. A resposta para isso em nós é: “tenham os membros igual cuidado uns dos outros” (1 Co 12:25).


Desta forma Deus triunfou e triunfa quando nós, a quem a própria vida de Cristo foi concedida, manifestamos essa vida na vida prática. “Revesti-vos, pois, como eleitos de Deus, santos e amados, de entranhas de misericórdia, de benignidade, humildade, mansidão, longanimidade, suportando-vos uns aos outros e perdoando-vos uns aos outros, se algum tiver queixa contra outro; assim como Cristo vos perdoou, assim fazei vós também. E, sobre tudo isto, revesti-vos de caridade, que é o vínculo da perfeição. E a paz de Deus, para a qual também fostes chamados em um corpo, domine em vossos corações; e sede agradecidos. A palavra de Cristo habite em vós abundantemente, em toda a sabedoria, ensinando-vos e admoestando-vos uns aos outros, com salmos, hinos e cânticos espirituais; cantando ao Senhor com graça em vosso coração. E, quanto fizerdes por palavras ou por obras, fazei tudo em nome do Senhor Jesus, dando por Ele graças a Deus Pai.” (Cl 3:12-17). Que glória para Deus há em uma vida assim!


J. T. Mawson (adaptado)

 

A Oferta pela Culpa


A oferta pela culpa (encontramos os detalhes dela em Levítico 5; 6:1-7; 7:1-10) é uma oferta compulsória, não voluntária, e pode ser corretamente considerada como uma subdivisão da oferta pelo pecado. No entanto, existem algumas características distinguíveis pertencentes à oferta pela culpa que a tornam distinta e a diferenciam da oferta pelo pecado. Sabendo que a Palavra de Deus nunca é redundante, tentarei explicar algumas das características distintivas desta oferta, com algum benefício espiritual para todos nós, espero eu. A oferta pelo pecado já foi bem explicada em detalhes, portanto, em relação a ela, apenas apontarei aqui que nada pode manter em nosso coração o sentimento correto do que é o pecado e do que é a santidade de Deus a não ser um real entendimento do significado da oferta pelo pecado. Precisamos entender o que aconteceu no Calvário, quando nosso Senhor e Salvador foi feito pecado por nós, carregou nossos pecados em Seu corpo no madeiro e fez total expiação por todos e cada um deles.


O governo de Deus e a santidade de Deus

Ao considerar a oferta pelo pecado, vemos que atos específicos não são mencionados, visto que o principal pensamento dessa oferta é a condenação daquilo que é totalmente abominável à santidade de Deus, e o homem se mostra pecador quanto à sua natureza. Mas com a oferta pela culpa são enumeradas ofensas específicas, e o homem é considerado um transgressor quanto aos seus atos. Isso revela um duplo efeito do pecado e lança luz adicional sobre a diferença entre a oferta pelo pecado e a oferta pela culpa. Primeiro, por causa do nosso pecado, não fomos capazes de alcançar o padrão estabelecido por Deus: “Todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus” (Rm 3:23), e esse aspecto é apresentado na oferta pelo pecado. Segundo, por causa do mesmo pecado, não apenas falhamos em alcançar o padrão de Deus, mas continuamos a nos alienar d’Ele cada vez mais: “A vós também, que noutro tempo éreis estranhos e inimigos no entendimento pelas vossas obras más” (Cl 1:21); esse aspecto encontramos na oferta pela culpa. Por um lado, o pecado é uma grave afronta à santidade de Deus e, por outro lado, é também uma transgressão, quando cometido contra um mandamento conhecido. Podemos dizer que toda transgressão é um pecado, mas nem todo pecado é uma transgressão. A oferta pela culpa está, dessa forma, relacionada com o governo de Deus, e não com a santidade de Deus.


Três categorias de transgressões

Como podemos ver claramente, lendo Levítico 5-6, há três categorias principais de transgressões apresentadas: transgressões contra o Senhor (Lv 5:1-13), transgressões contra as coisas sagradas do Senhor (Lv 5:14-19) e transgressões contra o próximo (Lv 6:1-7). Em todos os três casos, mesmo quando as exigências humanas eram plenamente atendidas, o perdão e a expiação só poderiam ser obtidos por meio da morte da vítima, pois “sem derramamento de sangue não há remissão” (Hb 9:22). O próprio Deus, por Sua Palavra, estabelece o padrão para o julgamento do pecado, e esta é uma verdade muito importante que não devemos jamais esquecer. Também notamos o fato de que a ignorância em cometer uma transgressão não pode ser invocada como desculpa. Todos sabemos que os precursores da ignorância são, na maioria das vezes, a negligência, a preguiça espiritual ou a indiferença às exigências de Deus.


Restituição

Em alguns dos casos, também havia restituição envolvida na oferta pela culpa. Assim, a restituição devia ser feita e devia ser acrescentada a quinta parte. Não só a expiação era feita, como também a graça entrava para permitir que se fizesse reparação completa; o que era devido a Deus ou ao próximo era devolvido integralmente e com uma quinta parte adicionada. Além disso, não somente era perdoado aquele que transgrediu as coisas de Deus ou do próximo, mas também aquele cujos direitos haviam sido infringidos agora estava mais rico do que antes. Por exemplo, mesmo se, infelizmente, eu tiver ferido um irmão de alguma forma, tanto eu serei restaurado como também farei restauração por completo trazendo, por assim dizer, a oferta pela culpa de acordo com a avaliação do Senhor. Humilhar-me e reconhecer minha falha, seja ela qual for, pode não só restaurar meu relacionamento com o ofendido, mas a demonstração da graça que operou em meu coração também trará gozo e benefício espiritual ao ofendido. Maravilhosa obra da graça divina, que sempre se eleva acima do nosso pecado!


Mas, mais importante, temos aqui um belo traço da obra de Cristo na cruz: Ele restituiu a Deus mais do que aquilo que o erro do pecado do homem tirou, como lemos no Salmo 69:4: “Então, restituí o que não furtei”. Tínhamos roubado de Deus o que Lhe era devido. O Senhor Jesus, ao Se tornar nossa oferta pela culpa, fez restituição a Deus por todo o mal que havíamos feito e acrescentou a quinta parte. Quando Seu coração estava partido pelo opróbrio, Ele entregou Sua causa Àquele que julga retamente e pagou nossa dívida por completo. Ele também acrescentou a quinta parte, e isso porque Sua obra na cruz tem um valor infinito, que não apenas fez provisão para os pecados de todos os que creriam n’Ele, mas também glorificou plenamente a Deus por toda a eternidade. O Senhor Jesus Cristo foi capaz de realizar a vontade de Deus perfeitamente, de modo que Deus foi glorificado e o homem foi trazido à bênção. Como H. A. Ironside escreveu: “A graça de Deus foi magnificada na grande oferta pela culpa realizada na cruz, de uma maneira que jamais poderia ser conhecida se o pecado nunca tivesse entrado”.


Vemos, portanto, que a oferta pela culpa apresenta várias lições importantes e distintas para nós, revelando uma preciosa dimensão da obra de Cristo na cruz. Certamente, a apreciação das fragrantes perfeições de Sua Pessoa e obra apresentadas por ela, bem como pelas outras ofertas em Levítico, sobe como cheiro suave para nosso Deus e Pai.


Ensino prático

Permita-me aqui mais uma observação. Às vezes ouvimos Cristãos falando de “verdade prática”. O fato é que TODA verdade envolve aquilo que é prático. Não há uma única verdade na revelação divina que Deus não tenha pretendido produzir, aqui e agora, um efeito prático na vida dos Seus. Menciono isso porque as muitas figuras apresentadas no Velho Testamento, em geral, e as ofertas do livro de Levítico, em particular, parecem bastante obscuros e difíceis de entender e, consequentemente, de pouco ou nenhum interesse para a grande maioria dos Cristãos. Mas Deus nos deu todas essas várias ofertas para que possamos ter uma apreensão mais profunda e melhor da obra única de nosso Senhor Jesus na cruz. Essa obra é tão vasta, tão abençoada e tão abrangente que precisou de várias figuras no livro de Levítico para que ela fosse apresentada a nós adequadamente. Que Deus nos dê a graça de, em oração, considerar todas elas e, dessa forma, ter uma apreensão cada vez maior da glória e bem-aventurança tanto da Pessoa quanto da obra de nosso Senhor na cruz, para que possamos valorizá-Lo mais e ter aumentado o desejo de agradá-Lo em nosso andar e conduta aqui.


E. Datcu

 

O Devido Espírito de Disciplina


“Sabe, pois, no teu coração, que, como um homem disciplina a seu filho, assim te disciplina o SENHOR, teu Deus” (Dt 8:5). Esta abençoada palavra é válida em todos os momentos e em todas as circunstâncias, tanto para a disciplina aplicada individualmente quanto coletivamente. Aplica-se com base no Novo Testamento, seja em 1 Coríntios 5 ou Hebreus 12. Nosso Pai nunca Se afasta desse princípio, nunca usa a vara, a não ser movido pelo perfeito amor. A santidade é o fim e o amor a motivação. Além disso, a verdadeira disciplina é apenas uma das formas da atividade do verdadeiro amor. É bom ter isso em mente. Julgamento correto e ternura de coração são coisas que devem estar combinadas em nós, assim como estão em nosso Deus. Tudo o que é correto deve ser aprendido com os caminhos d’Ele, e nós em sujeição, para que não neutralizemos aquilo que é d’Ele pelo acréscimo daquilo que é nosso. Mesmo “neutralizar” não é uma expressão adequada, pois um dano positivo pode ser produzido ao se fazerem as coisas certas de uma maneira errada.


A forma de disciplina

A maneira pela qual a disciplina deve ser exercida na assembleia está claramente estabelecida em 1 Coríntios 5, mas devemos olhar por trás dos bastidores para ver o espírito que convém a tal ato. Somente quando chegamos a 2 Coríntios 2 é que aprendemos o que custou ao apóstolo escrever 1 Coríntios 5, sob a inspiração do Espírito Santo. Enquanto os próprios santos não estivessem quebrantados pela tristeza, ele não poderia fazê-los entender o quanto ele próprio havia sofrido. Não é apenas uma questão de os coríntios se humilharem por causa do grosseiro mal imediatamente associado a eles. Existe uma verdade mais profunda e mais ampla – de que aqueles que estão certos devem ensinar aos que estão errados o seu devido lugar, assumindo eles mesmos esse lugar. Paulo – o certo – é o primeiro a entrar na tristeza, com o coração quebrantado, para poder atrair os coríntios para onde ele estava e para que estes, por sua vez, atraíssem o culpado para o mesmo lugar. Paulo interagiu com os santos coríntios; era para que eles agissem em relação ao próprio ofensor, a fim de que a dor que sentiam, mais do que qualquer outra coisa, pudesse ensinar a consciência deste e reconquistar o coração dele para o Senhor. Jamais pode ser apenas um ato de afastamento, embora deva haver isso, devido à santidade do Senhor, mas nesse ato está envolvida uma questão de comer a oferta pelo pecado no lugar santo, confessando o pecado em julgamento próprio e sempre tendo em vista a restauração final da alma. Se separarmos 2 Coríntios 2 e 7 de 1 Coríntios 5, muito dano irá surgir. Os santos se transformarão em um tribunal de justiça, para proferir sentenças a torto e a direito, sem a consciência de que cada sentença os atinge de volta e os leva à punição. Estas são as palavras do Apóstolo, quanto ao que ele sentiu no momento em que escreveu a primeira epístola: “Em muita tribulação e angústia de coração, vos escrevi, com muitas lágrimas” (2 Co 2:4). Este é o registro do efeito produzido nos santos pelo espírito de sua carta: “Vede quanto cuidado não produziu em vós isto mesmo, o serdes contristados segundo Deus! Sim, que defesa própria, que indignação, que temor, que saudades, que zelo, que vingança!” (2 Co 7:11 – AIBB). A única maneira de mostrar pureza piedosa em algum assunto é pela tristeza piedosa.


Cuidado

Este é um princípio imutável com Deus. Quando Israel já tinha cruzado o Jordão e visto, na queda de Jericó, como Jeová lidou com o inimigo, eles chegaram depois a Ai, onde foram derrotados. Assim como os coríntios mais tarde, faltou “cuidado” da parte deles, e, por conta de sua indiferença ao mal que estava dentro, foi deixado espaço para Acã tomar do anátema. Observe que não diz “Acã”, mas “os filhos de Israel cometeram uma transgressão” (AIBB). Todos foram envolvidos no feito, e o povo foi julgado antes do próprio culpado. Isso não foi facilmente aceito nem admitido, nem mesmo por Josué. Realmente tristes foram suas palavras na ocasião: “Antes nos tivéssemos contentado em ficar além do Jordão!” (Js 7:7 – ACF). Não gostamos do princípio da disciplina que atinge a maioria antes mesmo que o culpado seja atingido.


Reto aos seus próprios olhos

Do mesmo modo, no final de Juízes, “não havia rei em Israel, porém cada um fazia o que parecia reto aos seus olhos” (Jz 21:25). Este é um princípio que leva a um terrível erro. Uma imagem de fundição na casa de Mica e, pior ainda, a conivência de um levita com a adoração de ídolos já eram algo bastante triste. No entanto, só após ser confrontado o absoluto mal da apostasia, que foi o pecado de Sodoma e aquilo que trouxe o dilúvio sobre a Terra (Gn 6:12), é que o senso moral de Israel foi despertado. Então “a congregação se ajuntou, perante o SENHOR em Mizpá, como se fora um só homem” (Jz 20:1 – ACF). E agora que Jeová os reuniu mais uma vez, Ele precisa cumprir o antigo princípio – atingir muitos antes de [atingir] poucos, ao custo de 40.000 deles. Só então conseguiram ver sua ligação com a iniquidade de Benjamim, pois “todos os filhos de Israel, todo o povo, subiram, e vieram a Betel, e choraram, e estiveram ali perante o SENHOR, e jejuaram aquele dia até à tarde, e ofereceram holocaustos e ofertas pacíficas perante o SENHOR” (Jz 20:26). Somente depois dessa dolorosa, porém necessária, provação é que Deus pôde ficar do lado deles e prepará-los para lidar em justiça com “Benjamin, meu irmão”.


Os Cristãos da banda do Jordão que está para o deserto não conseguem ver nem reconhecer esse princípio; eles não estão no lugar onde ele é aplicado. Mas quando nos firmamos na verdade de Éfeso, quer a Igreja tenha sido fiel ou não ao seu chamado, devemos ter em mente que Deus agirá conosco de acordo com o que Ele é e também com o que devemos ser.


Bible Treasury, vol. 12 (adaptado)

 

O Perdão para o Sacerdote


Com referência à oferta pelo pecado, em um caso é notável que o perdão não seja declarado. Em que circunstâncias é isso? O sacerdote que é ungido. Pode haver algo mais impressionante? A grande questão era prover adequadamente para alguém como Arão e apresentar Cristo sem desonrar a mente espiritual. Ora, visto que Cristo não tinha nada a ser perdoado, podemos entender que isso deveria ser deixado de fora. No entanto, como Cristo Se fez responsável por nossos pecados neste sentido, Ele não poderia ser perdoado, mas precisava passar pelo juízo de Deus pelos pecados que Ele aceitou levar. Assim, de maneira dupla, a falta de menção do perdão neste caso parece ainda mais notável. Em Sua própria Pessoa, Ele, é claro, não tinha nenhum pecado a ser expiado ou perdoado; por outro lado, ao Se tornar responsável por nós, Ele deve suportar tudo e não pode ser perdoado. Ele deve sofrer pelos pecados, o Justo pelos injustos. Dessa forma, o Espírito de Deus uniu a mais plena guarda da glória de Cristo e o mais pleno conforto para a alma que crê, para que possamos conhecer que nossos pecados foram levados por uma verdadeira expiação por eles e que nós fomos perdoados. A graça reina pela justiça para a vida eterna, por Jesus Cristo, nosso Senhor.


Bible Treasury, vol. 8

 

A Oferta de Abel


“Abel ofereceu a Deus mais excelente sacrifício do que Caim” (Hb 11:4 – ARA). Em que consistia a excelência do sacrifício?


A oferta de Abel era inteiramente diferente em princípio e adequada ao caráter e relacionamento em que o homem se encontrava diante de Deus. A oferta dos primogênitos de seu rebanho, e da gordura do mesmo, reconhecia a necessidade de derramamento de sangue, como propiciação por seu pecado. Ele tinha fé naquilo que poderia expiar o pecado, e pelo qual ele, um pecador, poderia encontrar Deus em verdade e ser aceito por causa de sua oferta. Assim, ele garantiu glória para Deus e bênção gratuita para si, um pecador; pois certamente Abel era um pecador, assim como seu irmão Caim. Sua ocupação pastoral, como “pastor de ovelhas”, não tornava seu estado moral melhor do que o de Caim, como lavrador da terra. Aos olhos de Deus não havia diferença; ambos eram pecadores. Abel reconheceu isso na oferta que ele trouxe ao SENHOR, Caim na verdade negou seu pecado e as santas demandas de um Deus que odeia o pecado, mas, por outro lado, um Deus que aceitaria uma oferta pelo pecado, como Ele aceitou nas mãos de Abel.


Abel não trouxe nenhum fruto que suas próprias mãos produziram; nenhum trabalho cansativo, nenhum trabalho seu resultou na oferta que ele trouxe ao SENHOR. Foi uma vítima, cuja vida precisou ser tirada por seu pecado. “Porque sem derramamento de sangue não há remissão”. Isso é mostrado desde o princípio.


Bible Treasury, vol. 18

 

A Oferta para os Pobres


Quando consideramos a oferta pela culpa, descobrimos que havia provisão para o caso de um homem que fosse muito pobre para apresentar um animal como a oferta que seu pecado demandava. Sua oferta era tomada do reino das aves. Uma delas era tratada de maneira semelhante a um holocausto – a outra era uma oferta pelo pecado. Dessa forma, a pobreza privava a oferta pelo pecado de metade de sua ênfase. Seu caráter firme e decisivo desaparecia. No entanto, havia provisão para uma situação de pobreza ainda maior. Dez efas de farinha – apenas farinha sem sequer azeite – eram apresentadas diante do altar. Nesta oferta pelo pecado, notáveis ausências são perceptíveis. A vida, que estava no sangue, não estava ali; a mão não podia ser colocada sobre a vítima e, portanto, nenhuma transferência de pecado era possível. O caráter elevado da oferta em sua relação com Deus, simbolizado nas ofertas do sumo sacerdote e do povo coletivamente, não poderia, é claro, entrar nesta oferta: consequentemente, a expressão tríplice do sangue não era ouvida, e a voz das pontas do altar ficava em silêncio. As figuras da oferta sendo feita pecado e sendo consumida pelo fogo fora do arraial estavam ausentes. Em resumo, as grandes características da oferta pelo pecado não eram encontradas. Era uma oferta e não um sacrifício.


Como oferta de manjares

Tudo o que era oferecido era farinha, mas Deus Se encurvava e a recebia. No entanto, Deus inflexivelmente exigia uma oferta pelo pecado. Agora, nesta oferta pelo pecado, que atendia à reivindicação de Deus, o sacerdote colocava a mão e tirava o seu punho cheio. Isso ele queimava sobre o holocausto que estava sobre o altar aspergido com sangue; a oferta era aceita e o homem recebia o perdão.


Talvez não haja nenhum outro aspecto de Cristo oferecendo-Se a Si mesmo a Deus acerca do qual o pensamento do homem tenha gerado visões mais pobres espiritualmente quanto o aspecto de Seu sacrifício pelo pecado. A grandeza do Seu sacrifício pelo pecado em trazer glória ao trono e majestade de Deus está encoberta. O poder de Sua obra em aniquilar o pecado pelo sacrifício de Si mesmo e o Seu comparecimento por nós na presença de Deus como Sumo Sacerdote no céu muitas vezes dificilmente podem ser rastreados. E, porque a glória da obra de Cristo direcionada a Deus é tão mal apreendida, os efeitos de Sua obra direcionados ao homem são tão pouco regozijados. Como a oferta pelo pecado, Ele “padeceu fora da porta” e foi feito “pecado por nós”. A medida mais completa que as figuras de sacrifício pelo pecado retratam foi toda realizada n’Ele quando Ele foi abandonado por Deus. Como a oferta pelo pecado, Ele levou “em Seu corpo os nossos pecados sobre o madeiro” (1 Pe 2:24), de modo que eles se foram e nós somos n’Ele “feitos justiça de Deus” (2 Co 5:21).


H. F. Witherby

 

A Quinta Parte Acrescentada


Na oferta pela culpa, aprendemos que “transgressão” está ligada a um caso em que Deus é desonrado, mesmo que seja um mero homem que foi defraudado. Também não é suficiente que um sacrifício seja oferecido a Deus, mas o dano feito ao homem deveria ser reembolsado, e não apenas na íntegra, mas, de acordo com o valor estimado pelo sacerdote, um quinto a mais deveria ser acrescentado ao montante da recompensa.


Agora, se abrirmos o Salmo 69, temos o próprio Senhor falando profeticamente: “Então, restituí o que não furtei” (v. 4). Este é outro aspecto da oferta pelo pecado. A oferta pela culpa leva em conta o dano ocasionado a uma pessoa pelo pecado de outra. E, se considerarmos como o pecado desonrou a Deus, o opróbrio lançado sobre Ele pelo pecado do homem, vemos como o Senhor não apenas sofreu na cruz no lugar do pecador por seus pecados, mas também glorificou a Deus em todo o opróbrio e desonra trazidos a Ele pelo pecado. O Senhor Jesus Cristo não apenas respondeu a Deus pelos pecados do homem, mas também trouxe glória e honra a Deus, de modo que (falando com reverência) a natureza de Deus foi glorificada. A quinta parte foi assim acrescentada, de modo que Deus é mais rico do que se o pecado nunca tivesse se introduzido em Sua bela criação. Na cruz de Cristo vemos como a santidade de Deus – santidade intrínseca –, Sua justiça, Sua graça, Seu amor e todos os Seus atributos se encontram. Verdadeiramente Ele foi glorificado!


“Iniquidade” costumava estar ligada ao pecado em relação às “coisas santas”. Nosso Grande Sumo Sacerdote carrega a iniquidade de nossas coisas santas (Êx. 28:38). Quanto do eu, do orgulho e da satisfação carnal muitas vezes entram em nossa adoração, que deve ser em espírito e em verdade! Portanto, precisamos do ofício gracioso de nosso Grande Sumo Sacerdote, o qual nós temos, de acordo com Hebreus 10:21.


Paul Wilson

 

O Sangue da Aspersão


Quando cheguei à cruz de Jesus pela primeira vez,

Meu coração oprimido de pecado e vergonha,

Ciente da culpa e cheio de medo,

Ainda assim, atraído pelo amor, me aventurei a me aproximar;

E encontrei perdão e paz com Deus,

No sangue rico e expiatório de Jesus.


Meu pecado se foi; meus medos acabaram;

Já não mais me afasto da presença de Deus:

Com fé de criança busco Sua face,

O Deus de toda graça abundante:

Aspergido perante o trono de Deus,

Vejo esse rico e expiatório sangue.


Diante de meu Deus, meu Sacerdote comparece –

Meu Advogado, o Pai ouve;

se sangue está sempre diante de Seus olhos,

E dia e noite por misericórdia clama;

Ela fala, sempre fala a Deus,

A voz desse sangue expiatório.


Pela fé também ouço essa voz;

Ele responde a dúvida; acalma cada medo:

O acusador em vão se esforça para mover

A ira d’Aquele cujo nome é amor:

Cada acusação contra o eleito de Deus

É silenciada pelo sangue expiatório.


Aqui posso descansar sem medo;

Com isso de Deus agora me aproximo;

Com isso eu triunfo sobre o pecado,

Pois isso me deixou e me mantém limpo;

E quando eu chegar ao trono de Deus,

Ainda cantarei o sangue expiatório.


J. G. Deck

 

“Quando a Sua alma Se puser por expiação do pecado”

(Is 53:10)

 




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